Folha de S.Paulo – Revista sãopaulo
13 de abril de 2014

por Vanessa Barbara

Há poucas semanas, a revista sãopaulo publicou uma matéria sobre tartarugas abandonadas no lago do parque Piqueri. Seriam cerca de 150 animais que cresceram demais e foram despachados por seus donos, o que configura grave crime ambiental.

Não se pode abandonar uma tartaruga na natureza por vários motivos: primeiro porque, se ela foi criada em cativeiro, terá problemas em se adaptar à vida selvagem e pode morrer. Segundo porque irá desequilibrar o ecossistema local, sobretudo se for um tigre d’água americano, tartaruga nativa do sul dos Estados Unidos, com listras vermelhas abaixo dos olhos.

Muito populares no Brasil, as “orelhas vermelhas” são consideradas pela União Internacional de Conservação da Natureza uma das cem maiores espécies invasoras do mundo. Em matéria publicada no New York Times do dia 22/3, falo da caçada internacional a essa espécie, bem mais esperta e agressiva do que as nativas.

Algumas coisas que aprendi após a pesquisa, sendo dona de duas tartarugas legalizadas (e muito garbosas):

1. Não comprem tartarugas aquáticas como animais de estimação. Legais ou ilegais. São animais que dão trabalho, crescem rapidamente e fazem sujeira; é preciso ter um aquário de 100 litros para que elas tenham uma vida minimamente aceitável. Embora eu goste muitíssimo de Napoleão e Jacinto, não recomendo a compra e sou cada vez mais contrária à comercialização.

2. Embora os criadouros autorizados pelo Ibama façam um bom trabalho na comercialização de tigres d’água brasileiros, pregando o discurso de que assim estariam combatendo o tráfico de espécies invasoras, melhor seria se parassem de se dedicar ao negócio. Porque tartaruga não é pra ser bicho de estimação. Elas merecem viver em seu hábitat de origem.

3. Por último, sobre as infames orelhas vermelhas: que culpa tem a espécie de ter sido exportada? Sei que elas podem destruir um ecossistema, mas precisa decapitá-las, como fazem na Austrália? E depois esmagar o cérebro ainda ativo do animal, que segue consciente e demora para morrer? Precisa congelar as tartarugas até a morte, como no Japão, numa eutanásia considerada cruel, já que elas têm metabolismo lento e sentem as próprias células explodindo? Precisa executá-las com um tiro na cabeça?

As tartarugas, enfim, não têm culpa. Não deviam pagar pela estultice dos seres humanos.

Ps. Se você tem uma orelha vermelha, deve entregá-la ao Ibama ou a um CRAS (Centro de Recuperação de Animais Silvestres), como o do Parque Ecológico do Tietê (tel.: 2958-1477 ramal 226). Se não tem mais condições de criar sua tartaruga nativa, procure alguém que possa adotá-la ou a devolva ao criadouro de origem. Se quiser mesmo ter uma tartaruga, adote (http://mundodastartarugas.forumpratodos.com).