Folha de S.Paulo – revista sãopaulo
22 de junho de 2014
por Vanessa Barbara
Com vistas a complementar o Manual de Procedimentos elaborado pela prefeitura carioca e o Manual do Estrangeiro Assaltado, emitido pela Polícia Civil de São Paulo, aqui vão algumas medidas de precaução voltadas ao torcedor que deseja aproveitar melhor o Mundial no Brasil.
Primeiro: deve-se cogitar a instalação de um bunker caseiro, onde se possam armazenar víveres (amendoins), líquidos (cerveja), um gerador de energia, uma tevê sobressalente, um chinelo da sorte e um desfibrilador programado para agir de forma automática nas disputas de pênaltis. Pedir demissão do emprego é uma opção válida, porém custosa.
Caso o torcedor pretenda comparecer a uma partida no estádio, a estratégia deve ser a de guerrilha urbana. Munido de um capacete, cotoveleiras, vinagre e ingresso, o fã deve estar preparado para encarar não só os congestionamentos como também a equipe de “turismo receptivo” da Copa, que consiste em funcionários altamente treinados (e armados) para conter distúrbios.
Jamais saia de casa vestido de preto, a não ser que queira ser confundido com um torcedor de rúgbi neozelandês ou adepto da tática black bloc.
Se houver ação da polícia ou do Exército, cumpre-se observar uma recomendação dos tempos da Guerra Fria diante da ameaça de hecatombe nuclear: na dúvida, “duck and cover” (abaixe-se e proteja-se). Abstenha-se, portanto, de correr tresloucadamente das bombas, feito um morador depauperado das áreas de remoção da Copa; tampouco procure abrigo em locais fechados.
Prefira encostar nas laterais e se proteger atrás de postes ou bancas de jornal, de preferência com as mãos para cima a fim de parecer mais alto.
O torcedor precavido deve sair de casa com antecedência, dar comida para os peixes e conferir a localização do portão de entrada. Segundo o ex-presidente Lula, são três as opções oficiais de transporte: a pé (descalço), de bicicleta e de jegue.
Tome cuidado ao portar objetos ilegais como vuvuzela, caxirola e camisas falsificadas, mas não se esqueça da máscara de gás modelo GMC-2 com filtro para gases ácidos e vapores orgânicos, além do telefone de um advogado.
Lembrando que a organização do evento precisa de voluntários para efetuar a tradução simultânea dos gritos das ruas aos turistas estrangeiros. Uma proposta de cartilha a ser distribuída pela Fifa dá conta de alguns bordões, como: “Ei, Dilma, vai tomar no…”, que pode ser vertido para o idioma anglo-saxão de forma mais precisa e elegante: “They’re suggesting some curious and specific new hobbies to the President”.
O grito “Não, não, mais aumento não/ O Fernando Haddad é um cabeça de melão” dá espaço para liberdade poética e metrificação a gosto.
Já “Quem não pula quer a Fifa” será oficialmente traduzido da seguinte forma: “They’re exercising for the 2016 Olympics”.