O Estado de S. Paulo – Caderno 2
29 de dezembro de 2014
por Vanessa Barbara
Cabe frisar que o objetivo desta crônica não é gabar-se da genialidade de minha família e amigos, tampouco acabrunhar os leitores que porventura não compreenderem o escopo e a grandiosidade dessas maravilhas inventivas que irei aqui descrever.
Meu único intuito é presentear a humanidade com ideias revolucionárias que irão proporcionar-lhes conforto, praticidade e talvez a paz mundial, não nesta ordem, mas com razoáveis chances de sucesso. Se não estiverem sentados, por favor tomem seus assentos para evitar síncopes emocionais.
A primeira invenção foi desenvolvida pelo meu irmão Marcos, autor de “Anão vestido de palhaço mata oito” (editora Rocco). Ele é idealizador de um produto chamado Marcondas, o micro-ondas que gela. Trata-se de um segredo industrial que dispensa maiores detalhes.
Ainda no âmbito doméstico – “Antes de iniciares a tarefa de mudar o mundo, dê três voltas dentro de sua casa” –, temos aqui outra invenção de um membro da família. Ele nos deu a graça de apresentar-nos o Gigio Home Chicken Roaster, um produto de design clean, com uma porta de vidro (pense num climatizador de vinhos), que traz para o conforto de sua casa as TVs de frango assado das padarias. Aos donos de cães, a oportunidade adicional de fornecer entretenimento hipnótico e exclusivo ao elemento canino. O slogan: “Diversão para o seu pet, nutrição para a sua família”.
De minha própria e genial lavra temos algo que vai abalar o turismo tal qual o conhecemos: trata-se do Marcúnico, o bilhete único europeu. (O nome surgiu da certeza de que o meu irmão irá fatalmente apoderar-se dos royalties, então já vamos facilitar e botar tudo em seu nome.)
O Marcúnico (Le Marcunique, Mark-o-nic, Il Marconico, Das Markeinzige) é um bilhete de transporte compatível com todas as capitais europeias, incluindo Bratislava, Nicósia e Tbilisi. O turista adquire seu Marcúnico e o carrega em euros; daí pra frente, não precisa mais se preocupar em descobrir quais as tarifas e como funciona o sistema de transporte público da cidade onde se encontra. Basta encostar seu Marcúnico nas catracas de ônibus ou trens e debitar a quantia equivalente a uma passagem. (Alguns invejosos observaram que “isso já existe e se chama cartão de crédito”, mas não vamos nos deixar abalar pelo derrotismo daqueles que não creem.)
O comercial do Marcúnico mostraria um mochileiro com ar exploratório (trilha sonora do The Doors) andando por uma rua europeia, enquanto portas automáticas se abrem conforme ele passa.
Já a franquia “Sorvetes Que Parecem Perucas” foi criada em parceria com meu amigo Paulo e pretende aniquilar o conceito de bola de sorvete, transmutando-a em topetes, black power e moicanos. E o restaurante por quilo “Coma o Quanto Quiser em Sete Minutos” é exatamente o que diz ser.
Acho que já basta de ideias novas para 2015.