O Estado de São Paulo – Metrópole
10 de janeiro de 2014
por Vanessa Barbara
Colunista do Estado
Estávamos na rabeira da manifestação contra o aumento da tarifa, que reuniu cerca de 5 mil pessoas em São Paulo. Depois de sair do Teatro Municipal, o protesto seguiu pela rua da Consolação rumo à Paulista. Na altura do cemitério, começamos a ouvir bombas sendo arremessadas lá na frente, e muita fumaça. Boa parte dos manifestantes correu desesperada para as ruas laterais, a fim de fugir do gás. A turma do fundo continuou parada, segurando uma faixa comprida.
Havia um cordão de policiais bem atrás de nós, fortemente armados, que se colocaram a postos. Levantei as mãos diante deles e disse que ninguém estava fazendo nada ali – o grupo que restou naquele trecho era composto basicamente por pessoas caminhando. Pedi calma. Ainda assim, eles atiraram bombas de gás contra nós. Enquanto fugíamos pela calçada, um policial mirou e lançou duas granadas de gás aos nossos pés – entre os presentes, uma senhora de 60 anos que por acaso é minha mãe.
Também atiraram uma bala de borracha no cotovelo de uma socorrista e três bombas em um homem de muletas que tinha uma perna só. (Não estou brincando.)
Enquanto corríamos pelas ruas laterais, víamos tênis e chinelos pelo caminho – deixados para trás pela multidão em fuga. Vi muros pichados, lixos pegando fogo e uma vidraça de banco quebrada. Mais de 50 pessoas foram detidas e pelo menos 6 feridas, segundo os socorristas do GAPP (Grupo de Apoio ao Protesto Popular).
Um policial justificou a ação da tropa dizendo que “infelizmente meia dúzia de vagabundos começa a quebrar e aí todo mundo tem que pagar”.
Incluindo manifestantes pacíficos, socorristas, jornalistas, idosas e deficientes físicos que em nenhum momento representaram um perigo para as forças da ordem.