The International New York Times
5 de fevereiro de 2015
por Vanessa Barbara
Trad. George El Khouri Andolfato (Uol Notícias)
Um antigo lugar-comum em Hollywood diz que se você roubou um banco ou vendeu segredos de guerra para o inimigo, ou mesmo se apenas desviou fundos de alguma empresa, então você deve fazer as malas e fugir para o Brasil.
Segundo meu breve trabalho de detetive, talvez o primeiro filme a fazer referência a essa atração peculiar exercida pelo Brasil sobre os fugitivos internacionais foi “O Mistério da Torre”, uma comédia britânica de 1951 estrelada por Alec Guinness. Seu personagem rouba 1 milhão de libras em ouro do Banco da Inglaterra, derrete as barras em miniaturas da Torre Eiffel e vai “direto para o Rio de Janeiro. Uma terra alegre e animada de jovialidade e desembaraço social”.
Um ano depois, o drama de Hollywood “5 Dedos” apresentava um ambicioso serviçal da embaixada britânica que decide vender segredos aos nazistas. O personagem de James Mason pretende receber 200 mil libras em 12 semanas, então correr para uma “nova vida. Um novo nome”. Juntamente com sua parceira, uma condessa arruinada interpretada por Danielle Darrieux, ele planeja fugir das “guerras, intrigas e medos” e se tornar como o homem elegante que certa vez viu na sacada de uma casa brasileira, no alto da encosta acima do porto. “Ele parecia próximo o bastante para ser tocado, mas estava fora do alcance de todos.”
Não causa surpresa que tantas histórias de ficção envolvam personagens fugindo para cá para escapar da lei. Hoje o Brasil conta com um tratado de extradição com os Estados Unidos, mas ele entrou em vigor apenas em 1964. Nós não tínhamos um tratado semelhante com o Reino Unido até 1997, permitindo assim a Ronald Biggs – que teve participação secundária no Grande Assalto ao Trem Pagador de 1963 e escapou de uma prisão em Londres em 1965 – viver aqui em liberdade por décadas.
Como colocou o personagem de Tom Hanks em “Um Dia a Casa Cai” (1986): “Eles não têm leis no Brasil? Eles não têm polícia?” E há o golpista em “A Máquina de Fazer Milhões” (1968), que entra no país com uma bolsa cheia de dinheiro. Quando ele chega à alfândega, ele abre a bolsa e diz exatamente o que contém – “dinheiro” – com a autoridade alfandegária apenas respondendo: “Desfrute sua estadia no Brasil”.
Segundo “Olhar Estrangeiro”, um documentário de 2006 de Lúcia Murat, mais de 40 filmes não brasileiros envolvem fora-da-lei expressando um desejo de fugir para o Brasil. Mas apenas poucos são bem-sucedidos. Talvez o exemplo mais famoso seja “Primavera para Hitler” (1968), no qual Max Bialystock e seu contador, Leo Bloom, planejam pegar seus milhão de dólares e voar para o Rio, mas acabam na prisão.
Ao longo dos anos, se esses personagens não olham para o Brasil por causa de sua má reputação de leis frouxas ou reputação de paraíso ensolarado, eles vêm à procura de aventura em uma terra “primitiva”, cheia de riscos desconhecidos. Eles podem se referir à América do Sul como se fosse um único país, e misturar Brasil e México. Em “Fu Manchu e o Beijo da Morte” (1968), o diabólico gênio do crime Fu Manchu (interpretado por Christopher Lee) se esconde na selva brasileira e planeja usar um antigo veneno inca em seu plano maligno para conquistar o mundo. (Não importa que o Império Inca estivesse localizado no Peru moderno.)
Naquele mesmo ano, o sofisticado e belo Thomas Crown (Steve McQueen) deu pistas para Vicki Anderson (Faye Dunaway) sobre seu destino final em “Crown, o Magnífico”: “Samba, Pão de Açúcar, selva, piranha”.
Mal sabem eles.
Quando se trata de estereótipos, o Brasil é acima de tudo uma selva exótica, tropical, cheia de mulheres bonitas usando biquíni. Muitos fora-da-lei sonham em terminar suas vidas na praia de Copacabana bebendo piña coladas, assim como o protagonista de “A Volta de Max Dugan” (1983). Na vasta filmografia de fugitivos para o Brasil, Michael Keaton dança um samba depois de fraudar a loteria (“Os Trapaceiros da Loto”, 1987), Eric Idle e Robbie Coltrane se disfarçam de freiras para se aposentarem da máfia (“Freiras em Fuga”, 1990), Val Kilmer e Kim Basinger fogem para cá com US$ 3 milhões (“O Grande Assalto”, 1993), e Kerry Fox compra uma passagem só de ida para o Brasil após deixar seus melhores amigos morrerem (“Cova Rasa”, 1994).
Por anos, esse clichê de paraíso permaneceu notavelmente consistente. Há menos de uma década, nós tínhamos Philip Seymour Hoffman roubando seus próprios pais para financiar sua fuga para o Rio com sua esposa (“Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto”, 2007), enquanto o Hulk se esconde dos militares americanos em uma favela brasileira (“O Incrível Hulk”, 2008). Um pouco depois, Johnny Depp, como John Dillinger, planeja tomar um avião para Caracas e depois para o Rio, “para um pouco de diversão ao sol” (“Inimigos Públicos”, 2009).
O filme mais recente dessa linhagem é “Velozes & Furiosos 5: Operação Rio”. Ele mostra o personagem de Vin Diesel fugindo da prisão e então indo para o Rio para roubar US$ 100 milhões de um empresário corrupto.
Mas dessa vez, a imagem do Brasil mudou. Ele é descrito como uma terra de narcotraficantes armados e mulheres fáceis. Estranhamente, muitas pessoas falam espanhol. Um personagem diz que todo mundo no Rio pode ser comprado; outro chama o lugar de um “buraco infernal”.
Do céu ao inferno em apenas poucos quadros.