O Estado de São Paulo – Caderno 2
16 de janeiro de 2016
por Vanessa Barbara
Em dezembro, estreou nos cinemas Star Wars: O Despertar da Força, o título mais recente da clássica franquia que conta com fãs devotos e toneladas de bonequinhos temáticos. Antes mesmo do lançamento, o filme já tinha arrecadado 100 milhões de dólares em ingressos antecipados, o que obrigou os mais atrasados a uma perigosa e indesejável espera.
Nas semanas que se seguiram, a principal preocupação de muita gente na vida era a de evitar spoilers (revelação de fatos importantes da trama). A angústia era palpável; afinal, em qualquer fila de supermercado se podia entreouvir que o verdadeiro vilão da saga era o Chewbacca, ou que Tatooine era o planeta Terra, ou que Han Solo deixou crescer o bigode. Houve quem abandonasse as redes sociais, faltasse ao trabalho, estocasse mantimentos e renunciasse a todo tipo de convívio até que enfim conseguisse assistir ao filme. (Então essas pessoas retornaram à vida e começaram imediatamente a espalhar spoilers.)
Todo mundo já teve a experiência de ler ou ouvir algo que prejudicou a apreciação de um filme, livro ou série. Às vezes, o estraga-prazer não tinha má intenção, mas o resultado é sempre catastrófico. Daí vem a dúvida: depois de quanto tempo uma revelação deixa de ser spoiler?
Por exemplo: ainda é spoiler quando falamos sobre a mãe em Psicose (1960)? E sobre o final de O Planeta dos Macacos (1968)? E sobre certo personagem de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa? Ainda faz sentido que os atores peçam sigilo quanto ao desfecho da peça A Ratoeira, que estreou em 1952? E se eu revelar o que acontece com a baleia em Moby Dick, de Melville?
Assisti à série Twin Peaks com décadas de atraso e, enquanto estava no meio, morria de medo de ler spoilers sobre o assassino de Laura Palmer. Às vezes basta uma espiada para arruinar tudo. O IMDb (Internet Movie Database), por exemplo, mostra abertamente em quantos episódios cada ator aparece, do que dá para inferir com razoável precisão se seu personagem favorito morre e quando isso acontece.
Há poucas semanas, terminei Guerra e Paz, de Tolstói, e fiquei na dúvida se podia revelar aos amigos que Napoleão perdeu em 1812. (Peço desculpas aos leitores desavisados.) Não resisti e escrevi, sem fôlego, um típico spoiler de rede social: O NAPOLEÃO PERDEU, GENTE! BAFÃO, e fui duramente repreendida pelos mais ortodoxos.
O spoiler de fatos históricos é uma questão delicada, sobretudo para quem tem memória curta: outro dia revi Os Eleitos (1983) e fiquei na expectativa de saber qual dos astronautas americanos teria sido mandado ao espaço primeiro; na série The Americans, fiquei surpresa ao saber que Ronald Reagan sofreu um atentado.
Tenho uma amiga que quase foi linchada virtualmente após mencionar num fórum da série The Tudors que Ana Bolena tinha sido decapitada.