O Estado de São Paulo – Caderno 2
25 de abril de 2016
por Vanessa Barbara
Estou viciada nos testes de associação do “Project Implicit” (https://implicit.harvard.edu/implicit/brazil). São experimentos de psicologia social que visam a detectar associações cognitivas implícitas em diversas categorias como faixa etária, raça, gênero e sexualidade – por exemplo, você pode inconscientemente relacionar pessoas negras a sentimentos negativos e pessoas brancas a coisas boas, mesmo que se considere alguém sem preconceitos.
Cada um dos testes apresenta duas categorias opostas (jovem ou idoso, homossexual ou heterossexual, magro ou obeso) que o participante deve associar de forma rápida a termos positivos (feliz, glorioso) ou negativos (terrível, medo). Em diferentes etapas, as duas possibilidades de combinação são avaliadas, por exemplo, jovem-positivo e idoso-negativo ou jovem-negativo e idoso-positivo. O problema é que, pressionado diante de duas tarefas distintas, o cérebro tende a aglutiná-las, podendo cometer erros como mandar a palavra “paz” para um grupo branco-negativo, expondo assim um julgamento implícito. Quanto mais rápido isso se dá, mais forte seria essa associação no processo mnemônico.
O resultado? Por fora eu posso parecer legal, mas por dentro sou racista, sexista, gordofóbica, etarista e até um pouco nacionalista e homofóbica. (Podem me xingar, desta vez eu mereço.)
Através do Implicit, descobri como às vezes é necessário fazer esforço a fim de não relacionar mecanicamente o rosto de pessoas jovens a palavras como “alegria” e “amor”. Fiquei horrorizada com a minha disposição em cravar “malvado” quando surge um rosto de uma pessoa negra, e “agonia” quando aparece uma pessoa obesa na tela.
“Fiquei profundamente envergonhada”, declarou uma dos pesquisadoras do projeto, a dra. Mahzarin Banaji, da Universidade de Harvard, ao descobrir que ela mesma apresentava uma preferência automática por brancos. “Senti-me arrasada de uma forma que poucas experiências na vida me fizeram sentir.”
Segundo os resultados do site, a maioria dos participantes (70%) demonstra algum tipo de preferência por brancos, sendo que em 27% deles essa propensão é considerada forte. Apenas 2% preferem negros a brancos. No campo do gênero e da aparência, 72% fazem uma correlação direta entre homens e ciência, e mais ou menos a mesma porcentagem prefere pessoas magras a obesas. A categoria mais discriminada é a dos idosos, que tem rejeição de 80% dos participantes.
A boa notícia é que essas preferências, em geral reforçadas pela sociedade e pela mídia, são maleáveis. E que, ao termos ciência delas, podemos fazer esforços concretos para impedir que produzam comportamentos discriminatórios. Eu diria até que, quanto mais cientes e envergonhados estivermos de nossas inclinações, mais perto estaremos da necessária igualdade.
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Esta cronista entra de férias semana que vem. Comportem-se na minha ausência. Volto em junho.