O Estado de São Paulo – Especial Olimpíada
5 de agosto de 2016
por Vanessa Barbara
De que forma épica a pira olímpica será acesa hoje à noite? Quem será o escolhido para executar o ato: Pelé ou Torben Grael? Haverá revoada de pombos brancos? Alguém vai conseguir infiltrar uma faixa de protesto no estádio? Até agora, mesmo após o vazamento de fotos do ensaio geral, ninguém sabe exatamente como será a abertura da Olimpíada e se haverá comparações com uma quermesse de pré-escola, como aconteceu na Copa do Mundo. Mas algumas coisas são garantidas.
A cerimônia terá quase quatro horas de duração e será vista na televisão por 3 bilhões de pessoas. Gilberto Gil, Elza Soares e Anitta são atrações musicais confirmadas, e entre as canções estão “Garota de Ipanema”, “Aquarela do Brasil” e “País Tropical”. O tema é a formação da sociedade brasileira, e esperam-se enormes blocos festivos de voluntários fantasiados de indígenas, europeus e africanos, e quem sabe uma ala só de gente vestida de samambaia representando as belezas tropicais. Gisele Bündchen e Regina Casé não irão faltar, bem como uma réplica do 14-Bis. Haverá o tradicional desfile das delegações e inúmeras menções ao brasileiro como um povo alegre e hospitaleiro. Talvez aconteça uma mesóclise de Temer. Segundo os organizadores, o evento será uma “experiência sensorial” para o público.
É claro que eu já tenho as minhas apostas. Por exemplo: acho que a pira olímpica será acesa por meio de um complexo mecanismo de bueiros explosivos. Ou que o gari do Carnaval irá arremessar uma vassoura incendiária de um canto do campo, como se fosse um dardo. Ou mesmo que alguém totalmente inesperado será eleito como o portador da tocha nos metros finais da corrida – penso em personalidades como Yago Pikachu, do Vasco, ou então Maguila ou Roberto Pupo Moreno. Pela primeira vez haverá duas piras olímpicas, uma no Maracanã e outra no centro, e ninguém sabe como a segunda será acesa. Eu aposto, de novo, em bueiros explosivos.
Não tenho nenhuma dúvida de que Vanusa será escolhida para entoar o Hino Nacional, em vez de Caetano Veloso ou Paulinho da Viola. Já meu amigo, o entendido Márcio Garoni, discorda da previsão e acredita que subirá ao palco ninguém menos que MC Bin Laden ft Wesley Safadão ft MC Carol para mandar um medley de Hino Nacional + “Tá Tranquilo, Tá Favorável” + “Aquele 1%” + “Não Foi Cabral”. O público irá ao delírio, sobretudo quando as luzes se apagarem. De repente, surgem os primeiros acordes de “Baile de Favela”.
Será o ponto alto da noite: no gramado, entra em campo o maior Trenzinho Carreta Furacão do planeta, uma movimentação épica que contará com 3 mil bonecos do Fofão fazendo parkour, oitocentos Capitães América só no quadradinho de oito e mais uns seiscentos Popeyes sambando. (A ideia é do Victor Txe, do canal de YouTube Saruê, ressalvando que ainda é pouca a muvuca.) Com olho clínico para esse tipo de cerimônia, Garoni acredita que o momento inesquecível poderia acontecer logo após o desfile das delegações, quando a organização destacaria um representante de cada nacionalidade e colocaria todos pra fazer o passinho do romano. “Iraniano com americano, judeu com muçulmano, petralha com golpista, vamos reunificar o mundo num grande baile funk, com a bênção do Mr. Catra”, afirma, sonhador.
Enquanto me preparo para assistir à cerimônia, penso em outra possibilidade. No momento representativo da formação da sociedade brasileira, um grupo de indígenas vai entrar em campo. Serão integrantes de dezessete etnias da Aldeia Maracanã que resolveram ocupar o estádio enquanto suas terras ancestrais não forem homologadas. Na sequência, a Tropa de Choque da Polícia Militar, chamada para fazer a reintegração de posse, irá soltar bombas de gás lacrimogêneo, enquanto no telão surge a palavra #PAS. (O internetês é obrigatório.)
Acho que é isso que os organizadores chamam de “experiência sensorial”.