O Estado de São Paulo – Caderno 2
8 de agosto de 2016
por Vanessa Barbara
Às onze da noite, numa rua próxima ao Central Park, populares abandonam seus carros e saem correndo. Uma multidão com o celular na mão segue na mesma direção. A comoção é visível. Alguém explica: um Vaporeon apareceu no meio do parque e a turba estava tentando capturá-lo. Há inúmeros outros vídeos no YouTube de pessoas hipnotizadas nas ruas, com os smartphones em riste, e do cantor Justin Bieber tentando pegar um Gyarados à meia-noite em frente à loja da Apple.
Se essas informações já não te convenceram a desistir dessa crônica, meus parabéns pela persistência. A boa notícia é que provavelmente em pouco tempo a febre do Pokémon Go vai passar. A má notícia é que talvez seja substituída por algo mais tolo ainda, por exemplo: um aplicativo que calcula o quão alto você consegue jogar seu telefone no ar, ou outro que simula um grampeador, ou ainda um que manda a mensagem “Yo” para seus contatos. (Todos eles existem.)
Para os que estão por fora, o Pokémon Go é um aplicativo de realidade aumentada para smartphones que faz o jogador sair por aí procurando, capturando e treinando criaturas Pokémon (tipo o Vaporeon, o Gyarados e o Pikachu) que aparecem na tela do aparelho como se estivessem no mundo real. O jogo usa o GPS e a câmera, e obriga o usuário a se deslocar fisicamente em busca de novas aquisições.
Na quarta-feira, após quase um mês de espera, o aplicativo foi lançado no Brasil. Como jornalista ciente dos meus deveres de informar o público, baixei na hora e comecei a experimentar. O problema: eu estava na zona rural de Juiz de Fora, onde mal chega o sinal de GPS, e só o que pude capturar foram grilos. Ou melhor: joguei a minha Pokebola no quintal e peguei um Squirtle, que fazia parte do pacote de boas-vindas, mas não havia mais nenhuma criatura no raio de vários quilômetros. Depois de um tempo, frustrada e tomada pelo desespero jornalístico, usei um incenso especial para atraí-los, e foi quando consegui um Magmar, um Meowth e um Rhyhorn de 116 quilos.
O cenário era bem diferente na capital do Rio de Janeiro, onde uma porção de criaturas virtuais flanava pelas ruas em meio a turistas estrangeiros, e onde a cada esquina era possível encontrar Pokéstops. Os Pokéstops são pontos fixos – como monumentos, igrejas, hotéis – onde o jogador pode ganhar itens para a caçada.
Todo o propósito de capturar Pokémons é colocá-los para brigar uns com os outros, em batalhas que acontecem em ginásios espalhados pela cidade. Perdi uma infinidade de lutas, mas ganhei uma ou outra e, por questão de segundos, quase consegui tomar posse do ginásio do Copacabana Palace, onde entrei com a cara, a coragem e uns Pokémons desnutridos. Lá derrotei um Machoke musculoso usando um Hitmonlee parecido com uma minhoca. Depois entoei o Hino Nacional e tirei selfies com os meus esquisitos atletas.
Aparentemente temos um novo esporte olímpico.