Flavia Lobo | ||
Folha de S. Paulo – Revista Serafina
30 de julho de 2017
por Vanessa Barbara
Em matéria de moda, convém escolher os ídolos certos. A minha é Claudia Silvano, diretora do Procon do Paraná, que causou comoção há semanas ao aparecer na TV vestindo uma roupa que muitos julgaram ser um pijama.
Claudia é professora universitária especialista em direito do consumidor, trabalha como funcionária pública há 30 anos e está à frente do Procon estadual desde 2011, onde os índices de resolução de problemas chegam a 86%.
“Não é pijama!”, ela explicou no Facebook. “É só uma roupinha megacolorida e superconfortável, porque a vida tem que ser assim.”
Para a entrevista no telejornal matutino, ela vestiu uma camisa de flanela xadrez vermelha e preta, um cachecol listrado e uma calça soltinha de losangos multicoloridos. Respondeu dúvidas sobre consórcios e ganhou o absoluto respeito da internet. Ela afirmou que as roupas são feitas por uma costureira, sob encomenda, e que gosta de estampas alegres.
Claudia foi alçada instantaneamente ao suprassumo da lacração e tornou-se o modelo feminino máximo em meu círculo social: competente, confiante, alegre, gosta de cachorros e não dá a mínima para a opinião alheia.
Meu próprio guarda-roupa de trabalho consiste em duas gavetas com múltiplas combinações do que eu chamo de “pijama social completo”: calça de flanela, blusa de moletom, uma meia de lã que parece um texugo, um gorrinho e um par de pantufas. É assim que eu costumo destroçar a reputação dos poderosos na imprensa internacional e ditar os rumos da literatura latino-americana, quando não estou ocupada tomando sol com as tartarugas.
Minha indumentária “de sair” inclui uma miríade de blusinhas de brechó, inclusive uma branca com a inscrição “João Pessoa Paraíba Brasil”, ainda que eu nunca tenha ido para João Pessoa, e uma outra que eu descobri esses dias que era da H&M Gestantes. As calças jeans são as mesmas de sempre e quase não há sapatos de salto.
(Na minha adolescência de acampamentos, uma amiga apareceu uma vez calçando uma chocante galocha azul de salto alto e bico fino. Segundo ela, a peça é perfeita para “matar baratas nos cantinhos”. E combina com tudo.)
Usar a roupa que bem entende é, afinal, uma espécie de teste do caráter alheio: se alguém não nos respeita porque estamos “malvestidos”, isso diz mais sobre essa pessoa do que sobre nós. Fora que esmagar o patriarcado vestindo um tailleur não é tão notável quanto com um pijama de pezinhos…