Os textos a seguir foram publicados no caderno Metrópole dO Estado de São Paulo, domingo sim domingo não, a despeito dos virulentos protestos em frente à redação do jornal. vanessa.barbara@grupoestado.com.br
Lições de habilidade Um a um, eles encostam as pernas mecânicas no banco de reservas e se arrastam em direção à quadra, onde dão início ao aquecimento. São jogadores de vôlei paraolímpico da equipe Cruz de Malta, que veio jogar contra o meu time no Sesc Consolação. Nós: cerca de quinze elementos neuróticos que reclamam o tempo todo de dor nas juntas, preguiça e unhas lascadas. Eles: 14 atletas com membros inferiores amputados ou deficiência locomotora (sequelas de poliomelite, por exemplo). Meu próprio histórico não era animador: anos atrás, perdi uma partida de xadrez para um deficiente visual. A principal regra do voleibol paraolímpico sentado é a chamada “bunda no chão”, ou seja, o atleta não pode tirar os glúteos da quadra ou, em caso de peixinhos mais ousados, o tórax. Só na hora da movimentação é que pode perder o contato para se deslocar com as mãos. Em relação à modalidade regular, a quadra é um pouco menor (10 por 6 metros) e a rede é baixa: na categoria masculina, fica a 1,15m do solo, pouco acima da altura oficial da rede de tênis. Em geral, o esquema é 4x2 (quatro atacantes e dois levantadores) ou até 3x3, devido à dificuldade em infiltrar dentro da quadra. O aquecimento é intenso e meu time começa a passar vergonha. No vôlei adaptado, o fundamento principal é o toque (sentado, fica mais difícil encaixar a manchete), mas as bolas de ataque são furiosas e às vezes é preciso proteger a própria vida. Eles nos ensinam a manter as pernas pra frente, e não cruzadas ou pra trás, e então percebemos que elas só atrapalham. Deslocar-se é difícil, pois é preciso se arrastar com as mãos antes de tocar na bola, o que provoca a ocorrência de cenas ridículas. Nosso técnico não ignora o vexame e tenta esconder o rosto da provação pública. A rede baixa empolga alguns dos nossos: “É a primeira vez que eu consigo bloquear na vida!”, exclamou uma baixinha, extasiada. A diferença é que, no vôlei tradicional, pode-se compensar falta de altura com boa impulsão, ao passo que no vôlei sentado dá pra contar apenas com o biotipo ou, vá lá, a capacidade de se esticar bastante. Os baixinhos abrem os braços, indignados. Quanta discriminação. Agora os times já se misturaram e nosso objetivo maior é silenciar os apupos da arquibancada, seguindo as dicas de um sujeito que consegue dar bicicletas, como no futebol, sem ter as duas pernas. “É pra se mexer!”, eles gritam, perdendo a paciência e nos comparando a joões-bobos. O resultado é patético. Perdemos em todas as instâncias, menos na abundância de manchas roxas. E também trapaceamos: no fim do jogo, um dos nossos tenta se apoiar matreiramente no joelho para apanhar uma bola. Eles dão uma bronca: “Isso não pode fazer, né? Sem pernas, você cai de cara”. Nosso técnico sai de fininho e, desconsolado, pensa seriamente em mudar para o futebol.
O mais ilustre dos pedestres Ele tinha uma tática própria: inclinava-se para frente, jogava o peso nos joelhos, dava passos curtos e erguia o pé apenas poucos centímetros do chão. Há duzentos anos, em junho de 1809, o capitão escocês Robert Barclay-Allardice ganhou uma aposta. De cartola, gravata, roupa de lã e meias até o joelho, ele caminhou por mil milhas (1,6 mil quilômetros) em mil horas sucessivas para ganhar mil guinéus, na pacata localidade de Newmarket, em Suffolk, no leste da Inglaterra. Durante os 42 dias da aposta, que se estendeu de 1 de junho a 12 de julho daquele ano, ele perdeu quase 15 quilos e fez um tempo médio de 18,5 minutos por milha. A única regra é que devia andar uma milha a cada hora. Para aumentar o tempo de repouso, sua técnica era começar a percorrer a milha nos últimos vinte minutos de uma determinada hora, por exemplo, às 11h40. Assim ele completava a milha obrigatória antes do meio-dia e já emendava na milha da hora seguinte, computando duas milhas até as 12h20, quando ia descansar até as 13h40. Não podia dormir por mais tempo, embora tenha cochilado em pé durante a 607a milha, quando seu assistente o cutucou com um graveto. Segundo relatos, o bom capitão “acordou e despejou uma porção de impropérios ao assistente, pouco antes de retomar a caminhada e completar a milha necessária”. Na terceira semana de sua diligente excursão, Robert Barclay-Allardice teve problemas com o ligamento do joelho direito, e na semana seguinte registrou uma incômoda dor de dente. Mas o que mais o irritava era a aglomeração de populares que teimava em ficar no caminho. A aposta foi notícia nos principais jornais do país e muita gente tomou parte dela, incluindo o próprio príncipe de Gales. Estima-se que o pedestre tenha angariado um valor equivalente a 5 milhões de libras. Nos últimos dias da caminhada, a turba era tão grande (aproximadamente 10 mil pessoas) que foi preciso contê-la com um cordão de isolamento. Por conta da mudança do clima, o ilustre transeunte trocou seu pesado casaco de chuva por uma jaqueta de flanela. Também calçou um par de sapatos mais robustos como preparação para a grande vitória, que chegaria a passos largos na milésima hora da jornada. No dia 12 de julho, às 15h27, ele concluiu as mil milhas com certa indiferença, ao som dos sinos da igreja de Newmarket e sob os aplausos de uma multidão de espectadores, entre duques, condes, lordes e cavaleiros do Império Britânico. Não há dados que confirmem, na linha de chegada, a presença de James Wedderburn-Webster, o “Bravo Webster”, pobre sujeito que desafiou o capitão. Sabe-se apenas que Robert Barclay-Allardice foi dormir e que, no dia seguinte, perambulou pelas ruas de Newmarket. Ele entrou para a história com a alcunha de “Célebre Pedestre” e morreu aos 74 anos, atingido pelo coice de um cavalo.
Lagartas e outras distrações No meio do fechamento de uma matéria, ou de um prazo apertadíssimo, meu pai abria a porta do quarto e interrompia tudo para mostrar uma joaninha. Ele coletava os animais no jardim e vinha me mostrar nos horários mais inconvenientes, oferecendo um relatório dos hábitos diurnos dos bichos. Dava preferência às lagartas: acompanhava a evolução dos casulos, aparecia para contar as novidades e às vezes abrigava algum bom lepidóptero debaixo de uma folha, quando estava chovendo. Em casa, surgiam vizinhos no meio da tarde pedindo para passar um fax a respeito de um álbum incompleto de figurinhas da Barbie. Ou um desconhecido vinha trocar sacolas de supermercado por pães de mel, sabe-se lá com que intenções. Alguns pediam ajuda para imprimir o currículo. Tocava-se a campainha pelos motivos mais diversos, e a gente emprestava escadas, livros, cebolas e chaves de fenda, às vezes nessa ordem, no mesmo dia e para a mesma pessoa. Com isso, minha mãe acabou inaugurando um novo sistema de troca entre os habitantes locais – ela é uma espécie de Centro Local de Necessidades do Cidadão. Fulano está precisando de uma placa de rede para o PC ou de uma pedicure, ela encaminha às instâncias cabíveis e cuida para que todos fiquem satisfeitos. Sicrano não sabe o que fazer com quinze sachês de molho agridoce, ela encontra alguém que está precisando. Um dia deixaram um espelho no nosso jardim. A gente arrumou um destinatário imediatamente. Ela também coleta computadores de dez anos atrás, tenta consertá-los e implora peças com os profissionais do ramo, que ainda lhe dão dicas de eletricidade. E funciona 24 horas, vejam só. Às vezes ela recebe um pão de calabresa em agradecimento, plantas, abacates ou uma posta de peixe. Já as freiras da região pagam em dinheiro e em orações – que ela pode pedir para terceirizar, quando sabe que outra pessoa está precisando. Acabei me desviando do assunto; a questão é que, lá em casa, era difícil se concentrar em qualquer tarefa. A tarde era um constante ir-e-vir de gente descarregando coisas e telefonando, o que pode ser edificante quando não se tem que entregar um texto para anteontem. Trocavam-se incessantemente pilhas, panquecas, santinhos, agulhas de vitrola e programas de computador. Além disso, meu pai passava de lá pra cá com um radinho de pilhas colado ao ouvido esquerdo, desde a época da invenção do aparelho ou desde as 5 da manhã. Hoje, com a mudança para um bairro menos movimentado, há que se acostumar com o silêncio. Mas nem tudo está perdido: minha nova vizinha acaba de ganhar um cachorro e vai precisar de jornais velhos para absorver os pormenores intestinais do animal – com todo respeito à perenidade e à relevância do trabalho periodístico –, portanto, agora teremos que montar um esquema diário para a exportação e importação dos jornais. Boa notícia. Espero que a vizinha de baixo goste de falar de lagartinhas.
O legado de Kudno Mojesic “Foi demais para Kudno Mojesic”, anunciou o jornal Sunday Mirror. Em janeiro de 1976, em Belgrado, Kudno foi preso por atacar os automóveis da rua com um machado, aos berros: “Acabem com todos os carros, eles são obras do diabo!”. Daí pra frente, a situação só piorou: hoje os automóveis são a forma de vida dominante no planeta Terra, segundo O Guia do mochileiro das galáxias, e não há nada que o diligente Kudno possa fazer. Em São Paulo, a frota de automóveis particulares chegou a 4,76 milhões, com uma taxa de ocupação de uma pessoa e meia por veículo. A cada mês, milhares de novos carros entram em circulação. Toda essa multidão, atordoada, decide dispor de seu direito de ir e vir geralmente ao mesmo tempo, provocando congestionamentos que já chegaram a 266 quilômetros, em maio de 2008 – a distância equivale a 3,325 milhões de potes de Yakult. Já a frota de ônibus não chega a 15 mil unidades, a oferta de linhas do metrô é insuficiente, andar de bicicleta é para gente ousada e os pedestres não fariam feio numa violenta partida de queimada. A vida de quem não tem carro oscila entre longos trechos a pé e o “vai descer no próximo?”, num ônibus lotado que não avança há dez minutos. É verdade que às vezes grudamos a cara no vidro e damos bananas aos motoristas de carro, ao passarmos velozmente num corredor exclusivo. Mas isso é raro, e ninguém pode nos culpar. A média de tempo gasto com o deslocamento diário é de 33 minutos nos veículos individuais e 69 no transporte coletivo. Há casos em que o tempo de viagem no coletivo triplica, o que pode ficar realmente incômodo se você estiver de pé num 118C – Jardim Pery Alto, com uma sacola na mão direita e um vizinho decididamente tísico. É por isso que, na esteira de Kudno, alguns tentam reconquistar as ruas. “Não estamos atrapalhando o tráfego, nós SOMOS o tráfego”, diz um movimento antiautomóveis. Há gente que veste os carros de porco para protestar, como ocorreu em Frankfurt, em 2007. Outros pedalam pelados pela avenida Paulista. Há ainda quem acople estruturas de arame em torno das bicicletas, ocupando o mesmo espaço de um carro. E há um alemão chamado Michael Hartmann, que se denomina o primeiro atropelador de automóveis do mundo. Ele sai pisando nas máquinas estacionadas na calçada, recusando-se a contornar os carros que estão no caminho. Levado aos tribunais, em 1995, foi sentenciado a pagar uma multa, porque, segundo o juiz, poderia desviar dos carros pela direita ou pela esquerda. Foi então que, para orgulho de Kudno, ele resolveu andar no meio da rua e comer um pão em plena avenida, num ponto onde os automóveis também pudessem contorná-lo. Naturalmente, não foi bem recebido. “Não sou popular em Munique”, confessou, antes de ser internado num hospital psiquiátrico.
O carteiro Gigante É uma tarde de verão no interior da zona norte de São Paulo. O asfalto do chão frita com o calor de 35 graus. De bermuda azul, óculos Ray-Ban e pochete, sem boné, o carteiro Vitor Donizetti Silva, 51 anos, vai trançando os dois lados da rua, distribuindo cartas como se estivesse de olhos fechados. Conhece todos os moradores da área e anuncia sua chegada com um vozeirão que ecoa pelos quintais: “Correio!”. De vez em quando, acrescenta: “Tem que assinar”. As pessoas vão saindo às portas, uma a uma, no ritmo da entrega das cartas. Conhecido como “Gigante”, Vitor passa pela rua cantando hits variados e cumprimentando as pombas. Aos moradores, dá “Boa Páscoa”. É dezembro. “Quando é Páscoa mesmo, aí é ‘Feliz Natal’”, ele explica, muito sério, arrastando cinco quilos de papéis na mala. Carteiro há trinta anos, trabalha nessa região há seis. Mora no bairro da Cachoeirinha, perto do cemitério. Entrega “desde cartinha de amor até intimação”, embora o impresso mais comum seja a mundana conta de luz. Acorda às seis todos os dias, entra às 8h30 na central, em Santana, e fica até a hora do almoço fazendo triagem das cartas. Depois começa a jornada pelas ruas do bairro, subindo e descendo morros até escurecer. Gosta muito do frio, porque é menos cansativo. Mas solzão, “peloamordeDeus”, ele diz, maldizendo a chegada do alto verão. “Imagina a hora que o calor pegar”, comenta, entregando um catálogo na casa de duas crianças que nadavam numa piscina de plástico. Ele ameaça entrar na água, mas já está atrasado e tem que apertar o passo. “Gigante” é um dos nomes que usa para saudar as pessoas na rua. Também utiliza “mister” e “hello”, além de patentes militares ou o próprio sobrenome do morador. Vitor, que tem o exato timbre de voz do cantor Louis Armstrong, sai anunciando: “Ô, coronel! Aqui tem uns dólares, ok?”. E, para outro: “Vai chover. Está aqui na planta”, diz, ao deixar a encomenda em cima de um vaso. Diligente, Vitor sabe de cor quem mora em cada casa. “É do 26, né?”, ele acerta, quando um ilustre mandaquiense passa de carro e abre o vidro para receber a correspondência. Entre as inquietações do ofício, estão os carros que quase o atropelam, os cães bravos e os chicletes no chão. “Já viu ele com a lanterninha na cabeça?”, pergunta um morador, referindo-se à ousada lanterna de espeleologia. “Eu quase bati o carro quando vi aquela luzinha ali no escuro.” Trata-se de uma das maiores atrações da rua: quando escurece, o Gigante põe uma lanterna na cabeça e sai distribuindo as cartas. “Foi presente do 124”, diz o vaga-lume carteiro, avançando por um dos lados da rua. Falta pouco tempo para o Gigante se aposentar. Ao que tudo indica, vai ser um silêncio nas tardes de calor.
Tardes no mosteiro Às quintas-feiras à tarde, havia aula de francês na faculdade do Mosteiro de São Bento. Lá fora, o sol batia em cheio nos camelôs, os executivos saíam para almoçar e as estátuas vivas escorriam tinta do rosto. As pessoas comiam cachorro-quente com purê de batatas, enquanto um bar era fechado pela vigilância sanitária. Lá dentro, porém, era século dezenove: a sala de aula dava para o jardim do mosteiro e a gente aprendia os partitivos, o futuro próximo e os pronomes “en” e “y”.
Luzes acesas Todas as noites, ele chega do trabalho, acende a luz da cozinha e põe o cachorro em cima da bancada, perto da janela. Todas as noites, ele escova o animal, que fica encostado no vidro, espichado, morrendo de cócegas. “Amor, ele está penteando a loira bizarra de novo”, diz a vizinha míope, espantada. Todas as noites, o casal do apartamento da frente bota o bebê pelado no sofá e liga a televisão. Da janela vê-se a mulher passar a roupa vagarosamente, enquanto ele abre uma cerveja e vigia o filho. A vizinha míope acha que a criança é do mal. Eles assistem tevê sem pular os reclames e ficam horas sem se mover. Há outro casal que veste o pijama às quatro da tarde, um pijama engomado de gola e bolsinho, listrado ou xadrez. “Amor, eles já estão de pijama”, diz a mesma vizinha, tomando certas providências quanto ao próprio vestuário. Já o advogado da janela de baixo passa as madrugadas de camisa social, cochilando em frente à tevê, e às três da manhã acorda sem saber qual é a capital da Alemanha, quanto tempo a água leva para ferver e se já é hora do almoço. Às vezes ele passa um pano no chão da cozinha, às vezes discute procedimentos jurídicos ao celular. Outro dia estava lendo um livro sobre a China. A velhinha do lado assiste a programas de culinária no volume máximo e nunca trocou a maçaneta dourada da casa. Às vezes ela fica espiando o corredor pelo olho mágico, quando está sem sono ou quando é sábado à noite. As luzes estão acesas em todos os apartamentos da vizinhança, e há no ar um cheiro de feijão. É sempre tarde. As moças chegam do trabalho com seus sapatos de salto, os homens largam as pastas na mesa e abrem a geladeira. As crianças vão dormir cedo por causa da escola, os cachorros se enrolam no canto da sala, resmungando palavras em francês. A esposa se põe a contar o que aconteceu no escritório, sem poupar o marido dos mais vívidos detalhes, por exemplo: ela espirrou três vezes antes de assinar o contrato, ela comeu um abacate inteiro, outro dia pensou em pintar a unha de vermelho, mas acha melhor não. O marido bota um filme no aparelho de DVD e os dois dormem antes de descobrirem que é dublado. Amanhã é preciso lavar a roupa, jogar as batatas fora, pagar a conta do gás. Amanhã é preciso acordar cedo, fazer o café, limpar o umbigo. A vizinha míope anda o dia todo de pantufas, às vezes senta perto da janela e corta as unhas do pé. Ainda não sabe direito trocar as lâmpadas, mas lava a louça como ninguém. Quando chega a madrugada, ela senta no sofá e começa a ler um livro bem grosso, de capa dura, em companhia das luzes que vão se apagando, uma a uma, até sobrarem o barulho dos caminhões de lixo e o porteiro lá embaixo, assistindo a uma reprise do Pica-Pau.
701-U, a Transiberiana paulista "Hoje eu consertei o zíper da minha blusa no 701-U", declara uma jovem passageira. "Espero encontrar meu grande amor nessa linha", afirma outro rapaz, sonhador. O trajeto coerente do 701-U, Jaçanã–Butantã USP, é até hoje um modelo de racionalidade no tráfego. Em seus 163 minutos de percurso, segundo informações oficiais da SPTrans, o coletivo passa pelas ermas ladeiras do Tucuruvi (assim como os 177H e P, que espantam galinhas pelo caminho), chega portentosamente às principais ruas de Santana, às nem tão principais assim, a uma certa viela chamada Perpétuo Jr. e vai além, sempre atrás de um Corsa, pela avenida Tiradentes, Ipiranga, Consolação e Cardeal Arcoverde, onde é cercado de carros por todos os lados e acolhido em uma alegre e estanque quermesse local. (Segundo relatos, em certos trechos dá pra ver o mar.) Durante essa jornada, muitos passageiros optam por escutar música, papear ou falar ao celular. O fundo do ônibus se transforma em dormitório, onde os peregrinos encostam-se ao vidro e usam as blusas como travesseiro. Outros cochilam de boca aberta e há sempre uma moça que descasca o esmalte das unhas. De pé, os estudantes lêem folhas de xerox, com canetas marca-texto presas na boca. Pensando nisso, e diante da evidente escassez de ocupações alternativas, elaboramos uma lista de atividades para exercer a bordo desse coletivo. Segundo fontes, a Prefeitura de São Paulo pretende transformar o 701-U num centro cultural e desportivo. Nele, a população nômade terá acesso a palestras, atividades lúdicas e cursos profissionalizantes. Ao passar pela catraca, será possível jogar tênis, ter uma animada aula de rumba, assistir ao curso prático "O que podemos aprender com os gansos?", realizar caminhadas e assistir na íntegra os discursos de José Sarney.
Mulheres notáveis Em 8 de março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher, um momento para celebrar as conquistas políticas, sociais e econômicas do sexo feminino desde o doloroso tempo das cavernas, passando pela época dos aventais e a era das polainas na aula de aeróbica. Ao longo da história, foram muitas as mulheres que se destacaram pela audácia e pioneirismo. Algumas permanecem anônimas. Por exemplo, Sandra Luchian, de 15 anos, da Moldávia, que não tinha dinheiro para comprar o livro do Harry Potter e passou as férias do verão de 2005 copiando-o à mão. Ela preencheu cinco cadernos com o texto de 607 páginas, discriminando os diálogos em azul e as narrações em preto, para facilitar a leitura. Ou a americana Leslie Tipton, a pessoa que escapou mais rápido de uma mala fechada. A contorcionista conseguiu sair da bagagem em apenas 13,31 segundos e entrou para o Guinness Book. Há mulheres que carregam imensos fardos na cabeça, mulheres com onze filhos, mulheres matemáticas, mulheres santas, mulheres fãs de Star Trek e até mulheres barbadas. Há mulheres como a sul-coreana Cha, de 68 anos, que tentou tirar a carteira de motorista 772 vezes, ou a búlgara Daniela Simidchieva, considerada a pessoa mais inteligente do mundo, com um Q.I. de 192, mas que não consegue arrumar emprego. Simidchieva é mãe de três crianças e possui cinco títulos Ph.D.: em economia, engenharia eletrotécnica, engenharia industrial, inglês e sociologia. Trinta e cinco mulheres já ganharam prêmios Nobel, e mais de quinhentas foram eleitas prefeitas de cidades brasileiras nas últimas eleições. Há mulheres astronautas, mulheres-bomba, mulheres mecânicas, mulheres gordinhas e mulheres que andam o dia todo de galochas por opção profissional. São do sexo feminino as inventoras do pára-brisa, do liquid paper, do filtro de papel, das fraldas descartáveis, da lava-louças e das primeiras lentes de óculos. Também foi uma mulher, lady Mary Montagu, que introduziu no mundo a vacina contra a varíola, e foi a filha de lord Byron a primeira programadora de computadores da história. No caso, Ada Lovelace utilizou seus conhecimentos de matemática avançada para ajudar Charles Babbage, inventor de um artefato analítico que é considerado o primeiro computador. Também uma mulher projetou o primeiro cinto de castidade canino, em 1903, para manter a pureza do pedigree de seus cães. Não podemos esquecer da sueca que passou 27 dias com uma aranha dentro da orelha, "grande como a unha de um dedão", e da senhora inglesa que atacou um intruso com seu gnomo de jardim. "Ele ficou estirado no chão e comecei a gritar. Voltei para a cozinha e peguei um rolo de macarrão, caso ele acordasse. Não queria quebrar outro gnomo", disse a heroína. E, por fim, lembremos da sueca idosa que vivia com onze cisnes em seu apartamento de 25 metros quadrados.
Gente de esquerda Eis que Barack Obama é um presidente canhoto. É o oitavo líder do mundo livre a escrever com a mão esquerda, e, além disso, gosta de chá gelado de amora - o que não vem ao caso. O fato é que a vitória de Obama traz à tona uma série de questões pertinentes sobre a categoria. Por exemplo: uma das conotações de canhoto é "sinistro", que em latim significa tanto pernicioso quanto agourento. E "canhoto" é sinônimo de demônio. Nos tempos da Inquisição, eles eram considerados mensageiros da morte, praticantes de bruxarias e enviados do Diabo. Está na Bíblia: "A mão direita de Javé faz proezas! A mão direita de Javé é excelsa!", e assim o termo "direito" se relaciona ao correto, ao justo e ao bom, e o "destro" à destreza. Para piorar, há quem acredite que Alá tem duas mãos direitas.
A nossa rua No Mandaqui, a gente comia tatu-bola, tomava banho de chuva e tinha medo da Ana Paula, que batia nas meninas só porque elas eram mais altas. A gente vestia todas as roupas do armário para brincar de Elefantinho Colorido e dava voltas no quarteirão de meias para comemorar uma vitória no futebol. A gente esnobava as crianças mais novas e falava mal da Cássia, que nunca fez nada de mal pra ninguém, desculpa aí, Cássia, você não é orelhuda — foi mal. A gente brigava feio a cada quinze dias, arrumava novos amigos na rua de baixo e jogava ovos no quintal dos outros, por represália. Na rua 2, a gente estendia uma rede de vôlei no portão dos Pessoa e da Mariângela, e ficava jogando até escurecer ou a mãe de alguém chamar para tomar Nescau, causando constrangimento na vítima e duas semanas ininterruptas de troça. Quando passava carro, a gente saía correndo com uma vassoura para erguer a rede bem alto, senão a antena do veículo enroscava e todo mundo começava a gritar como se o universo fosse acabar ali mesmo, num vórtice laranja de cacos de vidro, bambolês e pitangas. Quando descia caminhão na rua, o Gustavo se arremessava no portão para desamarrar a rede, enquanto os outros se estendiam no asfalto para impedir a passagem do bólido automobilístico, mártires do vôlei mambembe numa rua pouco movimentada, em descida, que é para dificultar ainda mais o esporte tupiniquim. Nos dias de frio, ficávamos sentados na calçada enrolados num cobertor, discutindo sobre coisas muito importantes. A gente roubava no truco, no taco e furtava luzinhas de Natal dos nossos desafetos. A gente idolatrava o Menelau, um cão que viveu cem anos e que não latia nunca. A gente morria de medo da Selma: quando a bola caía no telhado do 136, o time se evaporava em dois segundos, mergulhava atrás dos arbustos, descia correndo o escadão, corria até Parelheiros e pensava que aquele era o momento mais perigoso de toda a nossa existência — a Selma saía no portão com a bola na mão, gritando, eu sei que vocês estão aí, enquanto a gente encomendava nossa alma ao Criador e rezava baixinho. A Selma era brava. Nas férias de julho, a gente brincava de escritório: o Bernardo era o chefe e a Paula era uma das secretárias. Furtávamos uma dezena de aparelhos velhos das nossas casas ou de antiquários de quinta categoria, tipo telefones quebrados, grampeadores industriais, fichários, cadeiras de rodinhas e, um dia, chegou um computador 386 no qual a gente fazia fichas cadastrais dos funcionários usando o Bloco de Notas. Às vezes a gente derrubava o chefe e promovia todo mundo, ou rolava alguma briga com o pessoal do sindicato e uma turma de dissidentes abria concorrência na casa do lado. Hoje o meu irmão tem uma mesa só dele no Banco do Brasil, sai de casa cedo pra brincar de escritório e não chama ninguém.
O Dia da Fantasia de Gorila No Dia Mundial da Fantasia de Gorila, comemorado no próximo 31 de janeiro, pessoas de todas as crenças e nacionalidades resgatam suas roupas de gorila do armário, vestem-nas com garbo e saem batendo de porta em porta, a fim de festejar esse feriado tão peculiar. À diferença das efemérides de fim de ano, não há troca de presentes, ceia com frutas secas, reencenações dramáticas, guloseimas típicas ou sentido moral de qualquer naipe. O Dia da Fantasia de Gorila não traz renovação aos homens de boa vontade, esperança ou paz interior - trata-se apenas de uma confraternização para gente vestida de gorila, ou gorilas vestidos de gente. A data foi criada pelo cartunista Don Martin, da revista Mad, em 1964. Na tirinha, o personagem Fester Bestertester acusa o feriado de ser um embuste criado pelos fabricantes de fantasia de gorila para nos empurrar mercadoria. Na sequência, ele é repetidamente surrado por macacos que batem à sua porta - quer dizer, todos os seres que surgem para vê-lo, sejam mulheres ou bananas, abrem o zíper de cima a baixo para revelarem um gorila homicida. Até um gorila homicida pode abrir o zíper para revelar um igual. O emprego indumentário da fantasia de gorila é considerado uma das grandes tradições ocidentais deste século, perdendo apenas para o Dia de Falar Como Um Pirata (19 de setembro) e o hábito de usar pochetes. Um dos motes da comemoração é o seguinte: "Festeje o Dia da Fantasia de Gorila - Porque você não tem nada melhor para fazer." Trata-se de um bom argumento para divulgar a impersonalização símia. Celebridades como o cantor Robbie Williams já saíram às ruas na pele de um macaco, além do piloto de Fórmula 1 Kimi Raikkonen e o diretor do time de beisebol dos Red Sox, Theo Epstein, que a utilizou para despistar a imprensa. Até o músico Bono, vocalista do U2, foi flagrado em Nova York vestindo uma máscara de macaco, por razões insondáveis. As massas também costumam aderir aos folguedos: nos últimos cinco anos, mais de 3 mil cidadãos já correram pelas ruas de Londres na Grande Corrida dos Gorilas, que este ano acontecerá em setembro. É um evento beneficente que une o incomparável prazer de correr numa fantasia de macaco à urgente causa de proteger os gorilas-da-montanha em extinção. Como se não bastasse, é a maior aglomeração de pessoas em fantasia de gorila do mundo. Na internet, é possível encontrar vídeos amadores de sujeitos cortando a grama ou fazendo apresentações de negócios vestidos à caráter. Por aqui, até o momento, a Prefeitura de São Paulo não divulgou um calendário de eventos específico para a data. Tampouco o governador do Estado se pronunciou a respeito. Ainda não ficou claro se as autoridades locais pretendem boicotar a data ou se, quem sabe, irão finalmente abrir o zíper da cabeça aos pés e se juntar à festa.
O bar do Firmo Firmo de Faria, 83 anos, dono de um lendário bar no Mandaqui (à Rua Ires Leonor, 181), é um senhor de movimentos lentos e olhar de quem já viu de tudo. Há quase 60 anos, todos os dias, ele está atrás do balcão servindo bebidas, cigarros, pãezinhos, balas e até canetas. O bar é um pouco escuro, mas acolhedor, e existe no bairro desde março de 1950 - até antes do restaurante nordestino O Mocofava, na mesma rua desde 1976. Alguns o tratam de "seu Firmo", outros só usam "seu Faria" (há polêmicas), mas o fato é que todos o conhecem e passam acenando. Seu Firmo às vezes parece triste, outras vezes se engaja numa conversa inflamada sobre algum acontecimento local. Tem dias que usa boina, tem dias que fica apenas sentado no balcão, cansado de olhar o relógio.
O alfabeto das ruas Na Rua Almofada, em Perus, foi encontrado um laboratório de refino de cocaína em 2007. Na Rua Alpercata, no Jardim Robru, há uma loja de conserto de máquinas de costura. Na Rua das Antas, em Sapopemba, há uma moça chamada Marisa que quer ser secretária. Na Rua Antípodas, no Jardim Boulougne, há uma empresa que fornece serviço de brigadistas e cursos de bombeiros. Há cultos todos os domingos às 19 horas na Igreja do Arrebatamento da Rua Antíoco, no Imirim. Há uma casa de 140 metros quadrados para vender na Avenida Apólogos Orientais, no Jardim Marciano, por R$ 60 mil. O imóvel tem dois quartos, sala, cozinha, banheiro, lavanderia, varanda e garagem coberta para dois automóveis. Na Rua Apreciando a Cidade, em Cidade Tiradentes, há uma mercearia de nome “Serve Sempre”. A Rua Aves ao Vento, no Capão Redondo, se inspirou no filme de Yasujiro Ozu de 1948, Kaze no Naka no Mendori. Há três ruas Avestruz na Grande São Paulo: uma em Osasco, outra em Vila Rica (Brasilândia) e a terceira no Recanto do Paraíso (Perus). Reparem: há uma Rua Avestruz em Perus. É dos vereadores e prefeitos a competência de dar nomes a vias e logradouros públicos. Os moradores só podem solicitar as alterações quando se tratar de denominações homônimas ou, não sendo homônimas, similares na ortografia, fonética ou fator de outra natureza, gerando ambigüidade de identificação. Também podem pedir a mudança de denominações consideradas ridículas, desde que dois terços dos domiciliados concordem. Nos últimos anos, cerca de 35% dos projetos na Câmara foram destinados a alterar nomes de vias da cidade. Assim é que se mudou o nome de locais consagrados, como a ponte Cidade Jardim (atual Engenheiro Roberto Rossi Zuccolo), o Túnel 9 de Julho (que já se chamou Daher Elias Cutait), a Avenida Águas Espraiadas (atual Jornalista Roberto Marinho) e o Viaduto Aricanduva (atual Engenheiro Alberto Badra). De 1927 a 1930, a Avenida Paulista levou o nome de Avenida Carlos de Campos, ex-governador do Estado, mas o povo não aprovou a medida e a denominação voltou ao normal. Há nomes de ruas para todos os gostos, do começo ao fim do alfabeto - existe um morador de sobrenome Maluf na Rua Zabelê, no Parque Paulistano, e uma loja de decorações chamada Rique na Rua Zavuvus, na Vila Missionária (Cidade Ademar). Na Rua Zike Tuma, no Jardim Ubirajara, há um apartamento à venda “sem problema de gente passando na janela”. Na Grande São Paulo, há duas Ruas Zíngaras e uma Rua Zircão, onde se pode visitar uma empresa desentupidora chamada A Poderosa. Ainda não se sabe o motivo do nome da Rua Zo Wada, em Vila Friburgo. E, por último: há um sujeito de sobrenome Zizza que mora na Rua Zuzarte Lopes, na Vila Nívi, via que leva o nome de um sertanista que morreu devendo trinta patacas pro primo Bartolomeu em 1635.
O jardineiro fiel Há oito anos, o mineiro Pedro Marcelino Filho, de 73 anos, é jardineiro-chefe de quatro áreas públicas na Praça Joaquim Lopes, no Lauzane, zona norte de São Paulo. Ele não recebe nada da Prefeitura para cultivar lírios, íris, magnólias, primaveras e jacarandás num terreno em declive que antes vivia cheio de entulho.
Banco Imobiliário radical Número de participantes: cinco a dez. Tabuleiro: Banco Imobiliário. Objetivo: Conquistar Itaim, Pinheiros, Berrini e mais três territórios à escolha. Categoria: Gestão de Negócios Imobiliários. Local: Cidade de São Paulo.
Te espero no pato “Um ponto amarelo surge no horizonte. As pessoas ao redor param, observam e se aproximam do gigante pato de borracha amarelo. Os espectadores são cumprimentados pelo pato, que lentamente move sua cabeça. O Pato de Borracha não conhece fronteiras, não discrimina ninguém e não tem conotação política. Este gigante amigável e flutuante tem propriedades curativo-sociais: pode amenizar tensões por onde passa. O Pato de Borracha é leve, amigo e apropriado para todas as idades e lugares do planeta.” É essa a proposta de uma instalação artística que flutua no lago do SESC Interlagos só até hoje, 9 de novembro. Trata-se de um gigantesco pato inflável de nylon e borracha, com 12 metros de altura, 12 de largura e 15 de comprimento, criado pelo artista holandês Florentijn Hofman para a Mostra SESC de Artes. Ele é exatamente o que um pato de borracha deve ser: amarelo, contente e sincero, só que tem o tamanho de um pequeno edifício. Na entrada do SESC, quando se pergunta onde fica o lago, a resposta da funcionária é clara: “Para ir ao lago você desce a ladeira por aqui, vai descendo, descendo até ver um pato”. A instalação conquistou a simpatia dos usuários do clube, que gostariam de vê-lo para sempre naquelas águas. “Está muito bonitinho esse pato”, afirma uma senhora. “Pensei que fosse um pinto”, diz outra. Nos dias de sol, a criatura de borracha fica ainda mais alegre e o povo aproveita para tirar fotos. “Tira uma de mim do lado do pato”, pede Daiane Cibele da Silva, de 21 anos, que foi visitar a obra com as amigas. “Acho até que tem que virar um ponto de encontro, tipo: ‘estou te esperando lá no pato’.” A ave de borracha já esteve no estuário do rio Loire, na França, em dimensões ainda maiores. O mesmo artista também criou um coelho doce de 6 metros de altura, um piano gigante e um corvo em Rotterdam. Pintou de azul todo um quarteirão de edifícios e uma rua de amarelo. Confeccionou um rato almiscarado de palha, madeira e metal, que serve de mascote de um vilarejo e fica deitado de barriga para cima com seus 30 metros de altura. E fez um porco inflável entalar no corredor do menor museu do mundo, o Museum van Nagsael, em Rotterdam. Com essa proposta humanitária, é a segunda vez que um pato de borracha faz história na geopolítica mundial. Em 1992, um navio chinês a caminho de Seattle tombou, lançando ao mar 30 mil patinhos de borracha, além de sapinhos e tartarugas infláveis. A partir de então, a IMO (International Maritime Organization) rastreia a carga perdida com o objetivo de estudar as correntes marítimas. A odisséia dos patinhos começou no Ártico, passou pelo mar de Bering, Groenlândia e Islândia, com muitas baixas registradas na frota. Depois de doze anos, os patos aportaram na costa norte-americana, embora desbotados e livres das embalagens originais que os juntavam em grupos de quatro.
Vai, Beethoven Com o cotovelo não pode", grita um popular. "Tá saindo música aí?", pergunta uma senhora, em meio à roda de curiosos. São duas da tarde de uma sexta-feira no Largo de Santa Cecília, em frente à estação de metrô, e há um piano à disposição dos passantes. "Isso aí é mais brinquedo do que instrumento", repara uma baixinha de óculos, criticando impiedosamente a técnica dos músicos.
O Mandaqui e a sua lógica O distrito do Mandaqui fica na zona norte de São Paulo, tem 13 km², 24 bairros, 103 mil habitantes, 39 favelas, uma pedreira, duas escolas de balé, oito paróquias, uma biblioteca, moradores confusos e um fuso horário diferente. De ônibus, seu bairro principal, o Alto do Mandaqui, fica a uma hora e meia da civilização e a 20 minutos das estações de metrô mais próximas, Santana e Jardim São Paulo. Talvez por isso seja um universo à parte, onde as coisas não seguem a mesma lógica do resto da cidade.
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2005
Vanessa Barbara |