La Marseillaise (France)
06 Septembre 2015
Il faisaient bien la paire (clipping)
Posted: 19th setembro 2015 by Vanessa Barbara in ClippingTags: França, France, Les Nuits de Laitue, Noites de Alface
Le Progrès (clipping)
Posted: 18th setembro 2015 by Vanessa Barbara in ClippingTags: França, France, Les Nuits de Laitue, Noites de Alface
Le Progrès (France)
07 Juil 2015
Biblioteca (clipping)
Posted: 18th setembro 2015 by Vanessa Barbara in ClippingTags: França, France, Les Nuits de Laitue, Noites de Alface
Page des libraires (clipping)
Posted: 18th setembro 2015 by Vanessa Barbara in ClippingTags: França, France, Les Nuits de Laitue, Noites de Alface
Lorsque Ada est morte (clipping)
Posted: 18th setembro 2015 by Vanessa Barbara in ClippingTags: França, France, Les Nuits de Laitue, Noites de Alface
Books – Le Magazine (France)
Octobre 2015
Desculpa qualquer coisa
Posted: 14th setembro 2015 by Vanessa Barbara in Caderno 2, Crônicas, O Estado de São PauloTags: desculpa qualquer coisa, fazer desfeita, sagu
O Estado de São Paulo – Caderno 2
14 de setembro de 2015
por Vanessa Barbara
Pode acontecer após um jantar na casa de amigos, quando o anfitrião se despede das visitas e solta:
– Obrigado por ter vindo, hein. E desculpa qualquer coisa.
No inventário das gentilezas sociais e da etiqueta cotidiana, não há expressão mais insólita. Criada em meados do século passado por uma tia insegura, “Desculpa qualquer coisa” é o epítome da vontade de agradar; é uma expressão-curinga utilizada sempre que a noite foi perfeita, mas se reconhece a tênue possibilidade de alguém ter se ofendido com aquele seu abridor de lata em forma de sardinha, com a quantidade excessiva de cebola na comida ou com um comentário mal colocado que soou como se você estivesse justificando o extermínio do povo cigano.
Por via das dúvidas, na hora da despedida, o anfitrião faz um apelo geral pela anistia: “Desculpa qualquer coisa”. Como se a visitante horrorizada com a quantidade de piadas machistas praticadas durante a refeição voltasse assim apaziguada para casa, depois do vago pedido de armistício quanto à ofensa perpetrada contra si e todos os 3,5 bilhões de mulheres que sofrem violência diariamente e são vítimas de agressões do patriarcado desde o início dos tempos.
No caso, o diálogo mais provável é o seguinte:
– Desculpa qualquer coisa. [Na verdade, me importo tão pouco com você que nem saberia dizer o que fiz de errado.]
– Imagina. Foi um prazer! [Seu canalha. Colei meleca embaixo da mesa.]
*
Outra expressão que simula preocupação com o bem-estar coletivo, mas denota profundo desdém pelos sentimentos alheios é a temida “fazer desfeita”. A ameaça da desfeita já obrigou seres humanos, outrora dignos, a consumir meio quilo de galantina de frango, uma porção de chouriço, dois pratos de sopa creme de nabo, pé de galinha e sagu, só para agradar um anfitrião insistente. O fato de você já ter almoçado ou ser vegetariano não influi absolutamente em nada na chantagem emocional, que é a um só tempo hostil e choramingante. Se por acaso a vítima apela para o clássico: “Eu tenho alergia”, o carrasco da sociabilidade pode argumentar que “só um pouquinho não vai fazer mal”, enquanto serve, à revelia, uma porção generosa de ensopadinho de choque anafilático.
“Eu não gosto” está absolutamente fora de questão.
A coação sob a lógica do constrangimento serve também para eventos sociais mandatórios, como aniversários, formaturas, festas de debutante, chás de bebê, batizados e casamentos. Quem não pode ou não deseja comparecer entra automaticamente no âmbito da afronta, e por lá permanece para toda a eternidade.
Uma boa pedida é levar, sempre, uma vida de desfeitas.
Uma crônica meio brega
Posted: 7th setembro 2015 by Vanessa Barbara in Caderno 2, Crônicas, O Estado de São PauloTags: Gigio, Kant, paradoxo de Olbers, sorvete
O Estado de São Paulo – Caderno 2
7 de setembro de 2015
por Vanessa Barbara
Nós começamos falando de sorvetes: eu recomendei um de pistache e ele achou que tinha gosto de antibiótico, mas tomou até o fim, e eu revelei sem pudor a minha total incapacidade de apreciar um gelado sem terminar a noite com pingos de chocolate até naquela dobrinha de dentro do braço. (Pingos esses que permaneceriam, em forma de crosta, até um encontro no dia seguinte, num episódio revelador das nossas diferenças higiênicas e na técnica de tomar sorvetes.)
Não sei bem como tudo se deu cronologicamente, mas emendamos numa conversa longuíssima sobre feminismo, na qual se revelaram certas divergências, e em outra sobre o paradoxo de Olbers, na qual se discutiu por que a noite é escura. Eu tentei mostrar a constelação de Scorpius no céu de inverno, mas quase fomos atropelados e ele não acreditou que eu entendesse patavinas de astronomia. Um dia, quase o cooptei para a luta armada e por pouco ele não conseguiu fazer com que eu entendesse como funciona um acelerador de partículas.
Nos anos que se seguiram, ampliamos ainda mais o leque de temas para debate: mercado financeiro, lasanha, eleições, relatividade geral, Kant, música pop, legalização das drogas, pipoca doce, baiacus, corrida espacial. A existência de Deus poderia ser debatida pouco antes da exibição de um gif animado de cabras montanhesas escalando em ângulos impossíveis ou de um vídeo de gatos dando voadoras em bebês. Já cheguei a acordá-lo no meio da madrugada com argumentos novos sobre um assunto. Ele revelou que não gostava muito de crônicas e eu disse que não achava graça em ficção científica; ele não sabia que Neil Armstrong foi escoteiro e que Buzz Aldrin foi o primeiro homem a fazer xixi na Lua. Calmo e racional, ele me ensinou frases em árabe e em alemão, e nós passamos horas brincando de testar coisas bizarras no Google Trends.
Certa vez, critiquei-o severamente pela leviandade na hifenização das palavras e insinuei que ele precisava de um dicionário de regências nominais. Quanto a mim, fui fonte de inomináveis decepções: em um período de poucos dias, confundi Sagan com Asimov, falei que cobras eram anfíbios e achei que um fóssil de mamute fosse o de um “dinossauro com chifre”.
Não raro, costumo procurá-lo com o pedido: “Me ajuda a pensar numa coisa?”, e passamos o jantar em animada assembleia. Defendemos posições opostas com a mesma facilidade com que trocamos de lado, ou então com que admitimos estar pensando naquilo pela primeira vez.
Acho que, até hoje, ainda estamos numa acalorada continuação daquela primeira conversa sobre sorvetes, como se os mistérios do Universo estivessem ao nosso alcance e representassem a extensão de uma casquinha; sendo estes infinitos, declaro interminável a nossa fonte de assuntos a discutir.
Ele vai achar meio brega essa crônica e eu vou contra-argumentar com uma série de raciocínios falaciosos e sem fundamento, mas ainda assim ele vai guardar o jornal.
Caindo em desgraça nas horas vagas
Posted: 31st agosto 2015 by Vanessa Barbara in Caderno 2, Crônicas, O Estado de São PauloTags: catastrofização, New York Times, New Yorker, NSA
O Estado de São Paulo – Caderno 2
31 de agosto de 2015
por Vanessa Barbara
Tempos atrás, escrevi um artigo sobre a agência de segurança americana, a NSA, para o New York Times (“Have a Good Day, N.S.A.”). Foi na época em que se descobriu que o governo americano estava espionando cidadãos estrangeiros, inclusive a presidente do Brasil. Entreguei o texto à tarde e passei horas esperando a resposta, mesmo porque eu estava de férias em Cingapura e o fuso horário de lá fica doze horas à frente do americano.
Nesse período de espera, um cenário de desgraças foi se desenrolando na minha mente. Primeiro, a editora leria o texto e ficaria ultrajada. Não só pediria a minha demissão sumária como acionaria as autoridades, que emitiriam um alerta a todas as embaixadas me classificando como ameaça absoluta à segurança do planeta – procurada viva ou morta. Enquanto isso, a Polícia Federal invadiria a minha casa no Brasil, possivelmente confiscando meus répteis e detendo meus pais para interrogatório. (A tartaruga Napoleão não sobreviveria ao estresse e faleceria.) A despeito das providências, Obama acabaria capitulando à pressão popular e declararia guerra ao Brasil, dando a entender, em uma coletiva de imprensa, que não descartava a possibilidade de lançar a bomba H no Mandaqui.
Minha editora acabou respondendo de madrugada dizendo que o texto estava bom e me convidando para ser colunista do jornal, para o qual continuo escrevendo há dois anos, de modo que a certeza da catástrofe iminente se repete agora em periodicidade mensal.
Quem sofre de ansiedade conhece bem essa sensação de que as coisas não só vão dar errado, mas vão dar muito errado. Na teoria cognitivo-comportamental, o exercício de “catastrofização” é inclusive usado como forma de terapia: o paciente imagina o pior cenário possível e vai até o fim nessa idealização da tragédia. É uma forma de, primeiro, conscientizar-se de que a probabilidade de acontecer o pior é mínima e que os seus temores são ridículos. Segundo, de acostumar-se com imprevistos e perceber que o pior nem é tão ruim assim. Afinal, é possível viver após cair em desgraça e virar meme de internet, ainda que sua tartaruga possa perecer no processo.
É um exercício morbidamente divertido que costumo praticar sempre que fico nervosa por antecipação. Outro dia, um projeto meu parecia tão fadado ao fracasso que fatalmente arruinaria todos os avanços do feminismo nos últimos cem anos, incluindo aí o direito ao voto.
Mês passado, a escritora Hallie Cantor escreveu na New Yorker um texto com o título: “Tudo O Que Tenho Medo Que Aconteça Se Eu Convidar Algum Novo Amigo Para Tomar Um Café”. Um dos itens: “Eu vou me apaixonar e me casar com essa pessoa e teremos três filhos, mas ambos iremos continuar trabalhando, então não daremos muita atenção a eles e haverá tensão em casa, e anos depois uma das crianças vai matar a outra e eu ficarei repleta de luto e culpa e me afogarei no lago da nossa casa de verão.”
Les nuits de laitue, premier roman chaotique de VB (clipping)
Posted: 25th agosto 2015 by Vanessa Barbara in ClippingTags: França, France, Les Nuits de Laitue, Noites de Alface
Small Things
20 Août 2015
Les nuits de laitue, premier roman de la portugaise Vanessa Barbara, paraît ce jour aux éditions Zulma. Il semble d’abord désordonné, sans tête ni queue. D’autant plus qu’il commence par la fin : la mort d’un de ses personnages principaux, Ada, la femme d’Otto. Et que Vanessa Barbara, loin de créer l’atmosphère de deuil qui sied bien, embarque immédiatement le lecteur dans un périple mouvementé au sein du voisinage.
Ada et Otto ont pour voisins une femme, avec trois chiens tous plus dingues les uns que les autres, dont ils entendent les hurlements adressés à son fils depuis leur chambre à coucher ; un facteur qui fait exprès de ne pas distribuer le courrier aux bons destinataires et chante des chansons absurdes ; un préparateur de pharmacie obsédé par les effets secondaires les plus délirants possibles des médicaments ; une femme férue d’anthropologie fascinée par l’Inuit Nanouk… Et l’auteur passe d’un portrait à l’autre au gré des rencontres et des croisements des uns et des autres, avec un tel brio que le lecteur se retrouve submergé par les détails plus loufoques les uns que les autres de toutes ces vies et de leurs univers.
On se noie dans cette absurdité baroque, presque ubuesque, qui crie, qui rit, qui s’invective, qui se bouscule, qui tient des discours tous plus frappés les uns que les autres… Si bien qu’on n’est pas loin d’adopter l’attitude de repli complet d’Otto qui n’a plus la patience ni l’envie de les supporter depuis la mort de sa femme, et de vouloir refermer le livre. D’autant plus que les allers-retours dans la chronologie, entre le temps où Ada était vivante et celui où elle est morte, donnent l’impression que Les nuits de laitue saute en permanence du coq à l’âne.
Mais, peu à peu, on se laisse emporter dans ce microcosme cocasse, dans lequel apparaissent parfois, en filigrane, les indices d’un fil rouge étrange. Est-ce de la paranoïa de la part d’Otto, lecteur ardent de romans policiers ? Un pur concours de coïncidences, dû à la folie douce de Iolanda ou de Teresa ? Ou faut-il vraiment y voir une énigme ? Alors on creuse ; on guette ; on cherche à trouver une cohérence. Et assez incroyablement, lors des dernières pages, tout tombe enfin en place, se dénoue : au beau milieu de cette invraisemblance surgit la vraisemblance, comme un petit bijou inattendu, inespéré, qui tire son éclat précisément de toute cette absurdité qui l’entoure. Comme l’attitude terre-à-terre d’Otto qui est rehaussée, rendue originale par le comportement diamétralement opposé de ses voisins.
Les nuits de laitue est un roman policier qui se cache sous des airs de fable baroque et excentrique, qui se sert du chaos de la vie pour mieux camoufler les ficelles de son intrigue. Et c’est réussi.
Ce qui empêche le lecteur de lâcher prise avant ce dénouement qui rachète tout, c’est aussi la belle énergie du récit et ce ton amusé de l’auteur, comme si elle ne se prenait elle-même pas au sérieux devant la loufoquerie de ses personnages et de son univers. Cela aide à jouer le jeu et à se laisser aller plus facilement, sans s’évertuer à garder à toute force un bon sens qui gâcherait finalement le plaisir de la lecture. Alors, oui, certains aspects sont encore esquissés plutôt que maîtrisés, quelques fils de la trame ne sont jamais noués et la tapisserie d’ensemble reste inachevée en plusieurs endroits à la fin du récit. Mais l’esprit, l’allant de l’auteur traverse le récit de bout en bout ; si bien que le récit ne peut que suivre, porté jusqu’à son dénouement d’un seul élan, toutes voiles déployées. Et Les nuits de laitue se trouve tant et si bien rehaussé qu’il finit par contaminer le lecteur et l’entraîner dans son univers.
Ne serait-ce que pour ce tour de force, et cette bonne humeur exubérante, Les nuits de laitue mérite le détour.
« Dernièrement, il lui venait d’étranges pensées. Il apercevait, de temps en temps, un garçon roux et ténébreux qui déambulait dans le quartier, tel un spectre. Otto avait la sensation que quelque chose clochait autour de lui, comme dans ces films à suspense qu’il regardait : des voisins anxieux, une repasseuse incompétente, un remède qui accroissait la force musculaire, une invasion de cafards. Une agrafeuse sortie de nulle part au fond d’un seau. Sa femme au centre de tout cela. Des pistes aléatoires sans qu’il y ait de narrateur en voix off pour les rassembler en une histoire sanglante de dissimulation et de mort, grâce à une trame complexe dont tous les points seraient finalement reliés, permettant ainsi au spectateur d’aller dormir tranquille. »
Insomnies brésiliennes (clipping)
Posted: 24th agosto 2015 by Vanessa Barbara in ClippingTags: França, France, Les Nuits de Laitue, Noites de Alface