Brazil’s most pathetic profession

Posted: 17th dezembro 2013 by Vanessa Barbara in New York Times, Reportagens

International New York Times
December 16th, 2013

by Vanessa Barbara
Contributing Op-Ed Writer

SÃO PAULO, Brazil — First came “Granta 121: The Best of Young Brazilian Novelists,” a 2012 edition of the British literary magazine. Then Brazil was the guest of honor at this year’s Frankfurt Book Fair, held in October and attended by some 90 authors representing the country’s literary diversity. Next year we will perform a similar role at the Goteborg Book Fair in Sweden and at the Bologna Children’s Book Fair in Italy.

Tim Lahan

And yet, despite all this fanfare, when in Brazil, do not tell anyone you’re a writer. Not only will they deny you credit at the grocery store, but almost certainly they will laugh at you, asking right away: “No, seriously. What do you do for a living?”

Unless your name is Paulo Coelho, writing is seen as about as useful and profitable as whale-snot collecting.

At least writers are not alone in their disgrace. According to the 2013 Global Teacher Status Index, Brazil ranks next to last in a list of 21 countries regarding the social status of teachers. Our average teacher salary is $18,550 per year (compared with $44,917 in the United States), but the actual annual base salary at public schools is around $8,000. Only 2 percent of secondary students want to pursue a career in teaching.

Like in the United States, entertainers, athletes and business executives are among our highest earners. Unlike in the United States, here the average mathematician, philosopher or historian earns less than $12,000 per year. Don’t ask about writing; it’s not considered a career at all.

One explanation is this: The average Brazilian reads just over four books a year, two of them only partially. The main reasons people don’t read: lack of time (53 percent), lack of interest (30 percent) and preference for other activities (21 percent) — overwhelmingly, for watching television.

In line with this general shortage of readers, the initial print run for new novels in Brazil is often 3,000 copies, and it’s unusual to sell that many.

Let me give you some personal numbers. I wrote a book in 2008 that won a literary prize and recently sold its 3,000th copy. The book retails for around $15, the author’s royalty rate is 5 percent, so I earned $0.75 from each copy. So for the book that took me one year to write and four more years to sell, I earned a total of around $2,250 (and a bout of depression). I’d have done better donating my body to science.

But if, as I have, you decide that writing is still your dream and eating isn’t that important, then you’d better find some other source of income.

So you decide to be a journalist. Not the wisest of ideas at the moment, since lots of publications are being closed. We have almost no titles publishing short stories or excerpts from novels, and every magazine and newspaper seems to be reducing the size of its articles to an average of 350 words, allegedly because the reader doesn’t have the patience to read anything longer.

Those who are still lucky enough to be employed are increasingly being turned into temporary or freelance workers. Only 59.8 percent of Brazilian journalists are formally employed with proper registration under the labor laws, while 26.8 percent work as various kinds of freelancers or independent contractors — as I do. The average salary for journalists is around $19,000 a year, although I never seem to be paid that much. I have never been formally employed, either.

An alternative is working for a publishing house. I started as a copy editor, making $3.44 per page, which for a standard 200-page novel could result in $688 for three weeks of work. Later I became a translator — and got $2,552 for the three months I spent translating “The Great Gatsby” into Portuguese. More recently I’ve earned $1,144 for working on “Alice’s Adventures in Wonderland,” which is full of puns and untranslatable rhymes.

But there are plenty of other ways to use a flexible mind. In one adult decade of surviving, I’ve managed to correct movie subtitles (especially those translated from languages I don’t speak, like Polish); rewrite celebrity gossip news; produce various types of essays for lazy students; create publicity pieces on ice creams; answer sentimental questions on a website using a Russian persona; and make up short and funny quizzes for an entertainment website.

I wrote a children’s book about bellybutton lint; a graphic novel on Rube Goldberg machines; and lots of reported articles about subjects no one else wanted to approach. I did a hypnosis course, went to a samba marathon, met palindromists, watermelon sculptors and the world’s smallest couple. I traveled to China twice and got to learn about astronomy, depression, sleep disorders, turtle caring, tap dancing and grief.

That last one was easy; every Brazilian writer is an expert in it.


Vanessa Barbara, a novelist and columnist for the Brazilian newspaper Folha de São Paulo, edits the literary website A Hortaliça.

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A version of this op-ed appears in print on December 16, 2013, in The International New York Times.

A marcha dos satisfeitos

Posted: 10th dezembro 2013 by Vanessa Barbara in Crônicas, Revista Piauí

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A hora e a vez daqueles que não têm do que reclamar

Revista piauí – n. 87
Dezembro de 2013

por Vanessa Barbara e Paulo Henrique Martins

Desde junho, o Brasil tem visto um incontável número de manifestações com as mais diversas justificativas e reivindicações. Tudo começou com os protestos contra o aumento da tarifa do transporte público, mas logo surgiram outras demandas como o fim da corrupção, a necessidade de reforma política, o repúdio à pec 37, a desmilitarização da polícia e a democratização dos meios de comunicação, passando por questões petrolíferas, financeiras, educacionais e caninas. Nunca foi tão fácil ser um Popular Exaltado (piauí_55, abril 2011), aquele sujeito que cospe, xinga e faz discurso em cima do caixote, julgando-se permanentemente ultrajado.

Nos últimos meses, tivemos uma passeata pela volta dos militares, uma marcha da família contra o comunismo, uma tentativa de levitação do Palácio dos Bandeirantes e um ato contra a Copa de 1954.

Só nos faltou uma coisa, e é o que viemos aqui reivindicar: uma passeata que contemple a discreta (e sempre excluída) minoria satisfeita.

Não estamos nos referindo aqui aos latifundiários, aos banqueiros, aos donos de empresas de ônibus e aos que gastam 50 mil reais por noite numa balada, já que estes têm cada vez mais do que reclamar: o aumento do iptu, a ameaça do metrô em Higienópolis, a popularização da rúcula com tomate seco, a revista Veja que passou a vir fora do plástico; tudo isso é fonte de stress e incerteza para a fatia mais abonada da população, que vem perdendo seu lugar ao sol para os beneficiários do Bolsa Família.

Falamos daqueles cinco ou seis indivíduos que nunca têm do que reclamar, que estão sempre contentes com a vida em termos gerais e não se deixam abalar por congestionamentos, filas e vazamentos nucleares. Oriundos dos mais diversos estratos sociais, o que não parece fazer diferença, são sujeitos tranquilos e sempre sorridentes, absolutamente confortáveis com sua condição sobre a Terra. Eles não possuem porta-voz, não têm agenda de reivindicações e nem motivo para protestar. Por isso mesmo devem sair à rua, precisamente para dar amplidão à sua distinta voz, incompreendida e marginalizada pelos que estão sempre achando sarna para se coçar.

Isso não quer dizer que sejam alienados e reacionários; apenas não veem necessidade de se cansar com infinitas demandas e embates hostis. São estoicos e não botam a culpa em ninguém; acham graça em tudo o que veem e riem diante das dificuldades.

A marcha dos satisfeitos acontecerá numa tarde de sol, de chuva ou de terremoto (tanto faz) e até o momento conta com as presenças confirmadas do meu sobrinho de 4 anos, um programador de computadores, um carteiro, uma jovem francesinha e três senhoras nipônicas plenas de serenidade existencial. (Taxistas e barbeiros estão intrinsecamente impossibilitados de participar.) Será uma marcha pacífica, amigável e unânime, repleta de cartazes com os dizeres: “Estamos satisfeitos”, “Nada a reclamar”, “Estou bem, e você?”, entre outros.

Ninguém se queixará de fome, sede, joanete, vontade de fazer xixi. Alguns caminharão com as mãos nos bolsos, chutando pedrinhas e assobiando uma velha canção. Outros, mais combativos, repetirão bordões como: “Eu já falei, vou repetir/ Eu já falei, vou repetir.”

Em vez de Black Blocs, a linha de frente será formada por uma célula de hare krishnas tocando mrdanga e dançando de sandálias, felizes da vida. Logo atrás, um grupo de monges franciscanos e de idosos em excursão, seguidos por seus cachorros.

O trajeto da passeata não será previamente definido, mas para onde for está bom. Rumores darão conta de que o grupo pretende andar até Pouso Alegre ou Várzea Feliz. Eles caminharão pela calçada e apreciarão o belo trabalho efetuado em termos de manta asfáltica.

Contudo, o cansaço irá provocar baixas. Uma simples bolha no pé pode incomodar certo passante que, uma vez insatisfeito, será forçado pela própria consciência a ir embora. Braços cansados de erguer cartazes ameaçarão durante todo o trajeto a resistência física dos participantes, que não cederão sequer a um inconveniente fraquejar do bíceps. Não haverá queixumes constrangedores como o registrado numa manifestação recente, em que um militante exaurido pediu à linha de frente: “Ô, pessoal, vamos parar por aqui, fechar a rua num protesto sentado… Sério que vocês querem andar mais?”

Não haverá dissidências, discordância de pautas e nem líderes do movimento. A massa acatará com alegria toda sugestão de rota indicada pela polícia. Ao passarem diante de hospitais, todos farão silêncio e rezarão pelos enfermos.

Durante a passeata, aliás, ninguém será hostil com os transeuntes. Em vez de: “Quem não pula quer tarifa”, a turba irá ponderar: “Quem não pula, tudo bem! E quem pula, bom também!”

Partidarismo não será um problema: a marcha contará com a presença apenas de partidos políticos totalmente satisfeitos, o que não deve existir na sociedade atual.

A grande imprensa irá registrar uma única ocorrência de discórdia: um sujeito que, convenhamos, começou a elogiar demais tudo o que estava aí, cruzando perigosamente a linha de quem possui uma reivindicação. Ele portava um cartaz com os dizeres: “Estou tão feliz que não me importaria se piorassem um pouco a situação econômica.”

Sua postura causou celeuma imediata e convidaram-no a se retirar do ato, junto com os que reclamaram do cartaz.

A polícia estará presente, e terá seu trabalho efusivamente elogiado. Se houver repressão, será recebida com grande disposição de espírito. “Este gás lacrimogênio realmente limpou minhas vias aéreas”, dirá um. “Mais pra esquerda”, dirá outro, enquanto apanha com o cassetete nas costas. A manifestação se dispersará por caminhos que manterão todos satisfeitos, e terminará na hora em que acabar.

Numa época em que reclamar e odiar é algo tão popular, nossos bravos satisfeitos estarão por aí, verdadeiros heróis da sociedade. Serão criticados, chacoteados por humoristas e receberão títulos ofensivos, mas não se importarão. Ao contrário: ficarão lisonjeados.

No dia seguinte, o prefeito mencionará o ato em pronunciamento à tevê e afirmará enfaticamente que suas portas estão abertas para toda e qualquer crítica do grupo.

Gerador de notícias

Posted: 10th dezembro 2013 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, Revista

Folha de S.Paulo – revista sãopaulo
8 de dezembro de 2013

por Vanessa Barbara

No blog “Brasil do quê?” (brasildoque.wordpress.com), o geógrafo Rafael Galeoti montou um esquema para lides jornalísticos sobre os protestos populares. É mais ou menos assim:

 

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Aqui vai minha ideia para um gerador de notícias, com o título: “Protesto termina em confronto e vandalismo em SP”. Serve para várias ocasiões e pode ser copiado e colado quantas vezes forem necessárias:

Nesta quinta-feira (24), em ato contra o Dia Estadual do Ovo instituído pelo governador Geraldo Alckmin, cerca de ____ manifestantes de diversas filiações políticas fecharam o trânsito da avenida _______, uma das principais artérias financeiras/comerciais/entupidas da capital, deixando um rastro de depredação e medo.

Por volta das __ horas, a passeata descia a avenida _______ quando o tumulto começou. Segundo a PM, um grupo de mascarados arremessou uma pedra/tijolo/garrafa/graveto/beagle contra a vidraça de uma agência bancária. Policiais militares entraram em ação e dispersaram o grupo com bombas de gás lacrimogêneo/ spray de pimenta/ balas de borracha/ golpes de cassetete/ bombas de efeito moral/ jatos de água/ todos os anteriores.

Na sequência, os vândalos se sentaram numa faixa de pedestres e bloquearam o tráfego, aos gritos de “Joga mais, joga mais/ Fiquei nóia deste gás” (sic). Foram cercados por hostes de policiais, helicópteros e pela tropa de choque.

Durante o ato, os baderneiros queimaram catracas e gritaram palavras de ordem contra o governador, o prefeito, o Magneto e a dupla de âncoras do Jornal Hoje.

Às __ horas, houve um princípio de tumulto e nova reação da PM. O cenário era de guerra. [Entra declaração de dono de banca de jornal.]

No local, adeptos da tática Black Bloc foram presos em depredação ao patrimônio público e flagrante delito à brancura dos muros. Foram apreendidos uma lata de spray, uma garrafa de leite de magnésia, um compasso escolar, um isqueiro, um sachê de vinagre, 200 pesos cubanos, uma bomba de chocolate, um código de processo penal (capa dura) e um lápis 2B excessivamente apontado.

Em nota, o governador prometeu endurecer as ações contra os arruaceiros, que poderão ser denunciados por formação de quadrilha e associação criminosa. 

 

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Na trilha dos pés peludos

Posted: 5th dezembro 2013 by Vanessa Barbara in Folha de S. Paulo, Reportagens
As tocas de Hobbiton. Foto: Ian Brodie/Divulgação

As tocas de Hobbiton. Foto: Ian Brodie/Divulgação

Governo da Nova Zelândia investe em novo efeito “Senhor dos Anéis”

Folha de S.Paulo – Turismo
5 de dezembro de 2013

por Vanessa Barbara

Quando o diretor neozelandês Peter Jackson escolheu seu país natal para filmar a trilogia “O Senhor dos Anéis”, baseada no romance de fantasia de J. R. R. Tolkien, a decisão foi certeira: para ele, nenhum outro lugar no mundo reunia uma variedade tão grande de paisagens num território reduzido.

Inspirado numa mítica era pré-histórica com traços da Inglaterra rural, o universo da Terra Média (Middle-Earth) é composto de vales profundos, desfiladeiros, desertos pedregosos, colinas, vulcões, florestas, lagos, cordilheiras, picos nevados, cascatas, geleiras, rios e planícies.

Na Nova Zelândia, o diretor encontrou tudo isso numa nação jovem e ainda pouco modificada pelo homem, um território que evocava a Europa medieval, mas sem a evidência acumulada de séculos de habitação e industrialização. Ao mesmo tempo, a equipe aproveitou-se da proximidade com a civilização e de recursos de metrópoles como Auckland e Wellington, sede da companhia de efeitos especiais Weta Digital.

Segundo Jackson, na Nova Zelândia há pontos onde é possível posicionar a câmera e “enxergar 50 km à frente sem postes de luz, casas, estradas, só imensidão. Isso dá ao filme aquela qualidade épica de figuras pequenas numa paisagem imensa”. Lá, muitos cenários proporcionavam um ângulo limpo de 360 graus em qualquer direção.

A primeira trilogia foi filmada de outubro de 1999 a dezembro de 2000 em mais de 150 locações, incluindo a região vulcânica do monte Ruapehu, na ilha norte, que fez as vezes da Montanha da Perdição, onde Sauron forjou o Anel, e as suaves colinas de Matamata no papel de Condado, terra dos hobbits.

Onze anos depois, em março de 2011, teve início o processo de filmagem da nova trilogia, que durou 266 dias, durante os quais Jackson utilizou localidades como o lago Tekapo (de um azul-turquesa vivo) e o gélido monte Cook, o mais alto do país.

No próximo dia 13, estreia nos cinemas o segundo filme da nova série. Em “O Hobbit 2: A desolação de Smaug”, Bilbo Bolseiro retoma sua aventura com um grupo de anões em busca do tesouro roubado por um dragão.

Mais uma vez, a Nova Zelândia faz questão de explorar o potencial turístico dos filmes tolkenianos. Em 2001, antes mesmo do estrondoso sucesso de bilheteria e das estatuetas do Oscar que estavam por vir, o governo fundou um Ministério do Senhor dos Anéis, com a atribuição de auferir vantagens econômicas a partir da franquia. Na mesma época, um dos principais jornais de Wellington mudou temporariamente o nome para “Middle Earth Evening Post”.

Em 2004, 6% dos turistas citaram os filmes como um dos principais motivos da visita ao país.

Ano passado, pouco antes da estreia do primeiro capítulo da nova trilogia, o Departamento de Turismo lançou a campanha “100% Nova Zelândia, 100% Terra Média”. Já a companhia aérea Air New Zealand produziu um vídeo temático de procedimentos de emergência com magos e trolls apertando os cintos.

Hoje incontáveis empresas oferecem tours temáticos para fãs da obra, que vão de passeios tradicionais liderados por guias vestidos de orcs a experiências de aventura, passeios de caiaque, de bicicleta e de helicóptero.


A casa de Bilbo (Bag End) no cenário de Hobbiton, em Matamata. Foto: Vanessa Barbara/Folhapress

A casa de Bilbo (Bag End) no cenário de Hobbiton, em Matamata. Foto: Vanessa Barbara/Folhapress


Jornada pela Terra Média: Ilha norte

Um dos poucos cenários que restaram intactos das filmagens de “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit” pode ser visitado em Matamata, a 73 km de Rotorua, na ilha norte. É lá que se encontra Hobbiton (hobbitontours.com), fazenda que serviu de base para o Condado.

São 44 tocas coloridas encravadas nas montanhas, um moinho, um lago, uma ponte, uma enorme tenda de festa, um carvalho e a taverna Green Dragon, onde se pode descansar os pés peludos e tomar uma caneca de cerveja artesanal. Os passeios guiados saem a cada meia hora do restaurante Shire’s Rest, que a propósito oferece café da manhã o dia inteiro, na melhor tradição hobbit. O ponto alto do tour é a imponente Bag End, a casa de Bilbo.

Mais ao sul, em Hamilton, uma empresa com o sugestivo nome de Hairy Feet (Pés Peludos) oferece excursões guiadas pelo vale Mangaotaki, a floresta Trollshaw, onde Bilbo recebe a espada das mãos de Gandalf e os três trolls fazem uma fogueira para cozinhar os anões, entre outras cenas-chave de “O Hobbit”. Os tours ocorrem duas vezes ao dia, têm 1 hora e meia de duração e custam R$ 93 por pessoa (www.hairyfeetwaitomo.co.nz).

A Nova Zelândia oferece nove famosas trilhas para caminhada, chamadas de Great Walks (greatwalks.co.nz). Uma das mais evocativas para os fãs é a Tongariro Northern Circuit (49 km, três dias), com vulcões, poças de lava, lagos cor de esmeralda e vista para o monte Ngauruhoe – ou seja, a Montanha da Perdição. Para imitar Frodo e Sam nessa sugestiva caminhada rumo ao inferno, o turista deve comprar um passe de R$ 84 que dá direito a passar a noite em pontos de acampamento.

Já na capital, Wellington, uma atração obrigatória é a Weta Cave (wetanz.com/cave), que fica ao lado do estúdio de efeitos especiais Weta Workshop. Lá existe um museu de entrada gratuita que exibe bonecos, maquetes, máscaras e espadas utilizados na produção dos filmes. A cada meia hora há tours pagos que explicam melhor a parte técnica do processo e mostram setores do ateliê. Foi lá que se confeccionou a estátua de doze metros da criatura Gollum que se encontra no aeroporto de Wellington, e também das águias – uma delas com Gandalf – apresentadas ao público no início desta semana, em comemoração ao lançamento de “O Hobbit 2”.

Ainda no subúrbio da metrópole, as trilhas do monte Victoria aparecem no cinema como as cercanias do Condado, onde, no primeiro filme, os hobbits vão apanhar cogumelos e se esconder dos nazgûl, antes de conseguirem pegar a balsa para Bree. Em monte Victoria há também uma pedreira que foi usada como acampamento dos Rohirrim.

A meia hora de distância fica o Kaitoke Regional Park, em Upper Hutt, onde foram rodadas as cenas da terra élfica de Rivendell. Hoje é um bom lugar para fazer piqueniques, caminhar e nadar.

Mais quinze minutos de estrada e chega-se ao Harcourt Park, cenário para os jardins de Isengard e para o campo de árvores derrubadas pelos orcs. (O parque abriga também um ponto da Falha de Wellington, área crítica de atividades tectônicas que resultaram num desnível de 5 metros.) O rio Hutt foi usado em inúmeras ocasiões para retratar os rios Anduin e Rohan.


Vista para o rio Kawarau, que no filme fez as vezes de rio Anduin. Ali foram erguidos digitalmente os Argonautas, ou pilares dos reis. Foto: Vanessa Barbara/Folhapress

Vista para o rio Kawarau, que no filme fez as vezes de rio Anduin. Ali foram erguidos digitalmente os Argonautas, ou pilares dos reis. Foto: Vanessa Barbara/Folhapress


Jornada pela Terra Média: Ilha sul

A despeito dos atrativos geotermais e do ar idílico da ilha norte, as locações mais impressionantes se encontram na ilha sul, um território menos habitado e tomado por florestas alpinas, fiordes, lagos glaciais e cachoeiras de gelar o sangue. (Esta repórter chegou a chorar de frio durante um passeio de jet boat.)

Entre os cenários deste próximo filme está o rio Pelorus, onde os anões são arremessados dentro de barris na tentativa de fugir de um grupo de elfos. A Pelorus Eco Adventures oferece passeios de caiaque pela região onde a cena foi filmada, com águas esverdeadas e rochas brancas. (A aventura de três horas e meia custa R$ 180 por pessoa e deve ser agendada no site: kayak-newzealand.com.)

Saindo de Nelson, quem deseja alcançar o ponto onde a Sociedade do Anel se esconde dos corvos de Sauron e chora a perda de Gandalf deve contratar os serviços da Nelson Helicopters (nelsonhelicopters.co.nz) ou da Tasman Helicopters (tasmanhelicopters.co.nz), com motoristas que efetivamente ajudaram nas filmagens. Os tours aéreos custam R$ 660 por pessoa e sobrevoam estranhas formações rochosas de áreas como o monte Owen, monte Olympus, lago Boulder, Canaan Down e Harwood’s Hole.

Para visitar o local onde se construiu Edoras, capital de Rohan, os turistas podem contratar a empresa Hassle-Free Tours (hasslefree.co.nz), que sai do centro de Christchurch. O passeio de jipe pela região do monte Potts tem a duração de 8,5 horas e custa R$ 460 por pessoa, com direito a uma vista de 360 graus sob a mesma perspectiva da personagem Eowyn, além de panorâmicas das Montanhas da Névoa e do Abismo de Helm.

Vista para o lago Wakatipu, em Queenstown, ponto de partida de vários tours temáticos. Foto: Vanessa Barbara/Folhapress.

Vista para o lago Wakatipu, em Queenstown, ponto de partida de vários tours temáticos. Foto: Vanessa Barbara/Folhapress.

A partir de Queenstown, a capital da aventura, as ofertas de atividades surgem às dezenas.

Os fãs mais radicais podem fazer bungee jumping na ponte do rio Kawarau, que no filme fez as vezes de rio Anduin (bungy.co.nz/kawarau-bungy-centre). A altura da queda é de 43 metros, neste que é considerado o primeiro bungee do mundo – o salto inaugural foi há 25 anos, em novembro de 1988. Fazendo pouquíssimo caso de seu instinto evolucionário de autoconservação e perpetuação da espécie, esta repórter passou pela experiência e teve a incômoda sensação de que o cérebro estava se descolando do crânio a uma velocidade de 80 km/h. A despeito do aneurisma iminente, é possível apreciar a paisagem, sobretudo quando se sobrevive. O primeiro salto custa R$ 336, o segundo R$ 90.

Saindo (ileso) de lá, a sinuosa estrada que leva até a vinícola Chard Farm (chardfarm.co.nz) contém uma vista espetacular para o rio esverdeado, no ponto preciso onde foram erguidos digitalmente os pilares dos Argonautas. A Chard Farm oferece uma degustação de pinot noirs e outros vinhos produzidos no local, com interessantes explicações do simpático Dave Laurent.

Para aqueles que, por questões de sensatez ou evolucionismo, não aprovam o arremesso de si próprio em cima de uma ponte, mas gostariam de chegar mais perto do rio Kawarau, uma opção é fazer rafting. A empresa Extreme Green Rafting (extremegreenrafting.co.nz) organiza passeios que custam R$ 365 por pessoa, com equipamento incluso (trajes impermeáveis, botas, coletes, capacetes e remos).

A partir do centro de Queenstown, é possível fazer uma série de excursões temáticas de um dia inteiro ou metade do dia, como as promovidas pela Nomad Safaris (nomadsafaris.co.nz). Os passeios de jipe sobem através das Remarkables, cordilheira que serviu de inspiração para as Montanhas da Névoa, e oferecem uma vista panorâmica de Deer Park Heights, utilizada nas cenas dos refugiados de Rohan e na batalha contra os wargs. Depois passam por Arrowtown, onde Isildur perdeu o anel, e Skippers Canyon, onde Arwen cavalga com Frodo para longe dos vilões.

Também é possível ir pelo ar com empresas como a Glacier Southern Lakes Helicopters (glaciersouthernlakes.co.nz), cujo piloto Alfie Speight ajudou nas tomadas áreas dos filmes. Nesse caso, não deixe de sobrevoar o monte Earnslaw, onde, em “O Hobbit”, Bilbo continua sua jornada após sair de Rivendell. Vale a pena conhecer toda a área montanhosa e gélida de Te Anau, com destaque para os estreitos de Milford e Doubtful, além do lago Manapouri, que serviu de base para os territórios ao sul de Rivendell.

Outra boa forma de explorar essa região ­– de clima inóspito e difícil acesso – é fazer um passeio de caiaque pelo rio Dart (dartriver.co.nz/funyaks), saindo de Glenorchy. Pode-se remar como um elfo através de riachos escondidos, lagos cristalinos e piscinas rochosas do Parque Nacional de Monte Aspiring, ainda que a experiência seja às vezes cansativa. Durante a jornada dá para vislumbrar as imponentes montanhas que serviram como cenário para Isengard.

Na volta a Glenorchy, o guia vai mostrando uma região compreensivelmente chamada de Paradise (Paraíso), onde foram filmados o território de entrada de Lothlórien (terra de Galadriel) e Amon Hen, onde Merry e Pippin são capturados pelos orcs. Há também a opção de fazer um passeio a cavalo pela área, promovido pela Dart Stables (dartstables.com).

Saindo da cidade de Alexandra, no extremo sul da ilha, a dica para os que sobreviveram à jornada e ainda têm energia é alugar uma bicicleta e seguir a Otago Central Rail Trail (otagocentralrailtrail.co.nz). O ponto final é Poolburn Dam, um lago muito azul com vista para Rohan, que é também uma das locações preferidas de Peter Jackson.

Piscina natural no rio Dart, em Glenorchy, local de inúmeras cenas do filme. Foto: Vanessa Barbara/Folhapress

Piscina natural no rio Dart, em Glenorchy, local de inúmeras cenas do filme. Foto: Vanessa Barbara/Folhapress


Box:
Kiwis tentam afastar crise na indústria do cinema

Nem só de Tolkien vive a Nova Zelândia. Entre as últimas produções cinematográficas que elegeram o país como locação principal estão: “O Último Samurai” (2004), “As Crônicas de Nárnia: O Leão, a feiticeira e o guarda-roupa” (2005), “King Kong” (2005), “Príncipe Caspian” (2008) e “Avatar” (2009).

Porém, nos últimos meses, há fortes indícios de uma crise no setor, conforme superproduções vão migrando para outros países em busca de melhores incentivos do governo. Na Nova Zelândia, uma lei garante aos filmes estrangeiros de grande porte um retorno de 15% sobre o valor gasto no país. Países como Grã-Bretanha, Austrália, Canadá e África do Sul já oferecem 25%, e a Irlanda, 32%. Outro fator que tem afastado possíveis interessados é o valor do dólar neozelandês, que está em alta.

O cenário é crítico quando se considera que 80% dos empregos na indústria de cinema do país vêm de produções estrangeiras.

Há dois anos, Peter Jackson quase levou “O Hobbit” para o leste Europeu, mas acabou mudando de ideia após acordos trabalhistas e aumento de incentivos fiscais. Desde que a série de TV “Spartacus” foi cancelada e as filmagens terminaram, em outubro do ano passado, muitos atores kiwis (como são chamados os neozelandeses) se queixam de não haver mais oportunidades de trabalho.

Para piorar, a continuação de “Avatar” não foi confirmada, e há rumores de que será rodada na Austrália ou no México.


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EXCURSÕES PARA A TERRA MÉDIA

Sem aéreo nem refeições, pacote por pessoa em quarto duplo (cotação do dia)

R$ 9.650
Quatorze noites pela Nova Zelândia com acesso exclusivo a propriedades particulares usadas nas filmagens, sendo uma noite em Auckland (The Spencer on Byron), uma em Rotorua (The Millennium Hotel), uma em Ohakune (The Powderhorn Chateau), três em Wellington (The Amora Hotel), uma em Nelson (Trailways Hotel), uma em Blenhein (The Quality Hotel), uma em Christchurch (The Sudima Hotel), uma em Twizel (Mackenzie Country Inn), uma em Cromwell (The Golden Gate Lodge) e três em Queenstown (Novotel Lakeside Hotel). É o mais abrangente da categoria. Há também uma opção de dez noites por R$ 8.120. Na Red Carpet Tours; redcarpet-tours.com.

R$ 10.290
Doze noites em um tour criado em parceria com Ian Brodie, autor dos guias “The Lord of the Rings Location Guidebook” (2002, HarperCollins) e “The Hobbit Location Guidebook” (2013, HarperCollins). Uma noite em Auckland (Rendezvous Hotel), uma em Hamilton (Novotel Tainui), uma em Ohakune (Powderhorn Chateau), três em Wellington (James Cook Hotel Grand Chancellor), uma em Nelson (Trailways Hotel), uma em Methven (Methven Resort), uma em Twizel (Mackenzie Country Hotel), uma em Cromwell (Golden Gate Lodge), duas em Queenstown (Copthorne Hotel and Resort Queenstown Lakefront). Saída em 10 de fevereiro de 2014. “Long Expected Journey to New Zealand”. Na Leisure Times Tours; leisuretimetours.co.nz.

R$ 8.970
Nove noites em hotéis quatro estrelas, num tour guiado por atores que interpretaram os anões da comitiva de “O Hobbit”: Nori, Dori ou Dwalin. Uma noite em Auckland, uma em Rotorua, uma em Waitomo, duas em Wellington, uma em Dunedin, duas em Queenstown, uma em Twizel e término em Christchurch. Inclui algumas refeições. “Hobbit Road Trip”, na Odyssey Traveller; odysseytraveller.com/tours/the-hobbit-road-trip-4/tourDetail.

R$ 5.650
Oito noites, sendo uma em Rotorua, duas em Christchurch, quatro em Queenstown e uma em Te Anau. “Land of the Rings Tour”. Na Thrifty Tours; thriftytours.co.nz/land-of-the-rings

R$ 5.390
Sete noites, sendo duas em Rotorua, duas em Wellington e três em Queenstown, com passeio a Milford Sound. O tour termina em Christchurch. “Middle-Earth Discovered”. Na Thrifty Tours; thriftytours.co.nz/middle-earth-discovered.

Rafting na Pompeia

Posted: 24th novembro 2013 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, Revista
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Folha de S.Paulo – revista sãopaulo
24 de novembro de 2013

por Vanessa Barbara

Este artigo dá prosseguimento a uma série sobre fitness nas grandes cidades, iniciada há duas semanas com um texto dedicado à ginástica das manifestações.

O verão está chegando e, com ele, a temporada de esportes aquáticos.

Como toda boa cidade turística, São Paulo oferece uma gama de opções para os amantes de práticas subaquáticas, como o snorkelling de enchentes e o mergulho livre com leptospirose. Cortada pelos rios Tietê e Pinheiros, que costumam transbordar nos períodos mais chuvosos, a cidade proporciona ao visitante o contato com espécies da fauna local, como a capivara, o jacaré, as garrafas PET e um ou outro cadáver. 

Mesmo para os paulistanos mais sedentários, rafting pode ser uma prática cotidiana, com obstáculos realmente letais e corredeiras que desembocam em apavorantes bueiros quebrados.

Nas ladeiras mais íngremes de bairros como Perdizes e Pompeia, o morador é presenteado com generosas cachoeiras, embora o rapel ainda não seja um esporte tão popular.

Com tantas atrações e oportunidades à disposição, São Paulo deveria seguir o exemplo de cidades de aventura como Brotas e Queenstown, generalizando o acesso a equipamentos esportivos e profissionalizando a prática das atividades. Por meio da SP Turis, a prefeitura poderia facilitar a compra de galochas, botas, trajes de neoprene, máscaras de mergulho, cilindro de oxigênio e, por que não, pés de pato. Tais acessórios tornariam mais viável a vida na metrópole.

Tementes à lei que tornou compulsório o uso do cinto de segurança nos automóveis, todos os cidadãos seriam obrigados a sair de casa com coletes salva-vidas, sob pena de multa. Para ir ao trabalho, canoas e catamarãs comporiam a nova frota do transporte público, sendo que os mais egoístas sairiam do estacionamento do prédio com seus próprios jet skis. Nos fins de semana, veríamos jovens indo para a balada a bordo de festivos banana boats.

Além do inglês, as escolas ofereceriam aulas de natação, com ênfase em técnicas de “treading water” (manter-se parado com a cabeça fora da água, em posição vertical). E o ocasional alagamento do pátio no horário da educação física pode propiciar aos infantes a descoberta de novos esportes, como o polo aquático.

Jamais me esquecerei do carioca que, em 2010, remou pelas ruas e entrevistou motoristas parados na enchente, a bordo de um bote salva-vidas. E do gaúcho que, semana passada, foi fotografado fazendo “stand up paddle” em cima de uma prancha de surfe, durante um alagamento em Porto Alegre.

Mais uma vez, os donos de academia prometem reagir. 

Mais Amores Inexpressivos

Posted: 13th novembro 2013 by Vanessa Barbara in Sem categoria
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Blog Posfácio
13 de novembro de 2013

por Vanessa Barbara

Sai nesta terça-feira o novo título da coleção “Amores Inexpressivos”, que bancou jovens ficcionistas em temporadas de pesquisa por diversas cidades do mundo. Agora é a vez de Encontrei meu grande avô em Seropédica, do escritor mineiro Nuno Mascarenhas,vencedor do prêmio Maitê Proença de Literatura e publicado em edição independente do autor.

Trata-se de uma novela polifônica e ambiciosa, que dialoga com a memória e a culpa num duplo movimento narrativo, evocando os fluxos internos de consciência do narrador na melhor tradição introspectiva da literatura pós-clariceana.

A trama se concentra em Fátima, uma jovem operadora de caixa de supermercado que decide sair em excursão pelo mundo em busca de suas raízes, mas só tem dinheiro para chegar até Seropédica (RJ). Abandonada na infância pelo pai, pela mãe e pelo avô, Fátima julga ser herdeira de uma proeminente cadeia de lava-rápido, o que prova ser um delírio de grandeza absolutamente injustificado e que inclusive escapa de maiores elaborações (e menções) no restante do livro.

Sem dinheiro e perspectivas, ela vaga pela cidade em busca de emprego. Logo conhece Orestes, um impetuoso empacotador de verduraria que convence Fátima a gastar seus últimos centavos jogando na quina.

Ainda que não tenha sido sorteada, ela acaba se apaixonando por Orestes e arruma uma vaga num pensionato na região de Vassouras.

O restante do livro conta, em detalhes, a saga diária da heroína, que gasta aproximadamente duas horas por dia a bordo de um ônibus intermunicipal, enquanto aproveita para analisar sua sofrida história familiar. Há um capítulo inteiramente dedicado aos sons do ambiente: um bebê chora na fileira de trás e um senhor gordo decide cochilar em seu ombro, ressonando ruidosamente. Por meio de extensos e palavrosos monólogos interiores, Fátima percebe que não gosta muito de Orestes, pois este, além de deixar a desejar em matéria de beleza, dá um baita azar para o Vasco, mas decide que ainda assim continuará com ele. A narradora não revela textualmente, mas percebemos que Orestes é um substituto perfeito para o avô ausente de Fátima. Lá pelas últimas páginas descobrimos que, além de feio e azarado, Orestes é velho.

A trama termina com uma despropositada descrição da quermesse local, em que o casal acumula uma pequena fortuna na barraca da pescaria (R$ 33,74) e decide ir até Miguel Pereira só para jogar sinuca.

Ainda que bem intencionado, o autor peca pela excessiva adjetivação, pela desnecessária abundância de advérbios terminados em -ente e revela, além disso, um desconhecimento absoluto das regras de concordância verbal. Também sua caracterização dos personagens é falha, a ponto de muitas vezes chamar Orestes de Nuno, confundindo o personagem consigo mesmo.

Em suma, mais um título significativo da coleção “Amores inexpressivos”, que promete emplacar até o fim do ano outros dois romances: Tardes de pupunha, de Silas Linhares, inspirado na cidade de Nova Iguaçu, e A saga de Josef, o anão, de Barcos Lopes, uma homenagem a Pirenópolis.

Os prefeitos dos respectivos municípios prometem recorrer.

  • Autor: Nuno Mascarenhas
  • Editora: do autor
  • Páginas: 242
  • Ano de Lançamento: 2013
  • Preço Sugerido: Cr$1.000,00

Learning to speak Brazinglish

Posted: 13th novembro 2013 by Vanessa Barbara in New York Times, Reportagens
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New York Times
November 11st, 2013

by Vanessa Barbara 

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Joao Fazenda

 

Brazilians are trying hard to get ready to host the 2014 FIFA World Cup.

Despite having a big territory rich with natural scenery, Brazil is not accustomed to many international visitors. The World Tourism Organization, which ranks tourist spending in different countries, puts it 39th on the list, behind much smaller countries like Lebanon, Croatia and Malaysia. Next year, the government expects tourism spending in Brazil to grow by 55 percent, thanks largely to the World Cup.

But as that time draws near, the general feeling among my compatriots is one of disbelief, as if somebody was expecting to see a turtle fly or explain the Schrödinger equation. The prevailing feeling is captured by the expression “Imagina na Copa …” — Imagine during the Cup — spoken every time we see a 112-mile-long traffic jam, an overcrowded airport or the rising prices of hotels and flights. If things are already bad, imagine what they’ll be like during the World Cup.

Such pre-tournament pessimism is common. Last year the British were skeptical about the Olympics, which turned out to be O.K. So were the South Africans, who, after the last World Cup, celebrated the fact that “Armageddon did not happen,” in the words of the Africa correspondent for The Guardian, David Smith: “No one died. No one was stabbed, no one was kidnapped and no one took a wrong turn into the clutches of a gang of garrotters.”

But Brazilians are especially apocalyptic in our expectations. We belong to a country where corruption costs $28.7 billion to $47.7 billion a year, according to an estimate from the Industrial Federation of São Paulo State; that’s between 1.4 percent and 2.3 percent of the gross domestic product in 2010. We have poor infrastructure and serious social inequity. We worry about violence from drug trafficking and organized crime — last month, one gang from São Paulo threatened to unleash “a World Cup of terror” if the government didn’t agree to its demands.

And yet Brazilians are doing what we can to welcome tourists.

There’s a school teaching English on almost every corner, seeming as common as bakeries, hair salons and evangelical churches. The Brazilian Association of Franchising estimates that there are a total of 6,088 franchises of 77 language schools with names like Wizard, Yes! and Wise Up. Some schools guarantee that a student will learn English in 18 months, six months, eight weeks and, yes, 24 hours. The Ministry of Tourism has created a program to increase access to English classes called Hello, Tourist!

Nevertheless, the Education First English Proficiency Index places Brazil at No. 46 of 54 countries. Even some of the official efforts to further English translations of public signs are clumsy; six months ago, a giant football stadium in Salvador, in northeastern Brazil, opened with exit gates marked “Entrace” — both mislabeled and misspelled. On the streets of the capital, Brasília, a sign pointing to “Setor Hoteleiro Norte” (Northern Hotel Sector) had the translation, “Southern Hotel Sector.”

In the great tradition of Brazilians making fun of ourselves, this set off a fad of nonsensical English translations of Brazilian locations on social networks. One of my favorite translations: “Santos Dumont the True Airplane Inventor and Not The Wright Brothers Avenue” (for Avenida Santos Dumont). More than an effort to communicate, these inside jokes are a way of strengthening our bonds against outsiders.

Shortly before the 2008 Olympic Games, in Beijing, the world was presented with a new language: Chinglish. A blend of Chinese and English, the term was commonly applied to ungrammatical or nonsensical English in local contexts.

One particularity of Chinglish is its straightforwardness, as in examples like: “Deformed man toilet” and “Keep it carefully to avoid gangster.” It’s a way to ignore Western euphemisms when talking about sensitive topics. As Oliver Lutz Radtke, the author of “Chinglish: Found in Translation,” puts it, “Chinglish is right in your face.”

Brazinglish, on the other hand, is very casual and reckless, and often chooses to go literal just to avoid making the effort to explain better. The results are word-by-word translations with an unintelligible (or quite strange) content, sometimes nothing more than playing with sounds. Imagine, for instance, translating “Manhattan” (Man-hat-tan) to “Guy with an embrowning cap, as by exposure to the rays of the sun.”

Some great examples can be seen in restaurant menus. To Americanize some foods, we could write “Barbie Kill Sauce” instead of “Barbecue Sauce.” Trying to explain some typical food to foreigners, we often create nonsensical expression such as: “Meat of the Sun with Friend Potato” (Carne de Sol com Batatas Fritas), “Crazy Meat” (Carne Louca), “Sleeve Juice” (Suco de Manga), “Chicken to the Bird” (Frango à Passarinho) and “Against the Brazilian Steak” (Contra-filé à Brasileira).

Brazilians have also adopted plenty of English words, though we often change the meaning in the process. We have begun using “outdoor” to designate a billboard, and “folder” instead of brochure. Claire Rigby, the editor of Time Out São Paulo, has written about these curious words. “We speak roughly half English and half Portuguese in the office — and then descend into a world of hybrid language,” she writes.

Brazinglish can be poetic, but it’s not nearly so lyrical as Chinglish. Some of the best known phrases in Chinglish are substitutes for a well-known sign in parks: “Little grass has life, please watch your step,” “Show your tender heart by leaving the green leaves untouched” and “Show mercy to the slender grass.”

Brazilians are so nervous about what will happen when tourists descend for the World Cup, we’re practically wishing we could call it all off. Perhaps we can plant a new sign at our stadiums. It would be a perfect translation, and it would be placed in the middle of the soccer field: “Keep off the grass.”


Vanessa Barbara, a novelist and columnist for the Brazilian newspaper Folha de São Paulo, edits the literary website A Hortaliça.

A version of this op-ed appears in print on November 11, 2013, on page A25 of the New York edition with the headline: How to Speak Brazinglish.

A nova geração saúde

Posted: 10th novembro 2013 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, Revista
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Folha de S.Paulo – revista sãopaulo
10 de novembro de 2013

por Vanessa Barbara

A Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude ainda não fez um pronunciamento oficial, mas a notícia não há de tardar: as manifestações são saudáveis para o povo, e seus benefícios vão muito além do aspecto político, englobando a esfera do fitness e do bem-estar físico e espiritual.

Primeiro, incentivam o trekking, ou as caminhadas de fôlego ­– um protesto padrão que siga do Masp até a Secretaria da Educação, na Praça da República, como o que ocorreu no último dia 21, percorre ao todo 3,8 km. Meses atrás, uma passeata chegou a 11 km, num caminho ziguezagueante que saiu do Largo da Batata e chegou à avenida Paulista.

Alguns roteiros comuns são o trecho Anhangabaú ­– Palácio dos Bandeirantes (10,2 km) e Câmara Municipal – Delegacia de Pinheiros (6,9 km), o que de quebra dá ao manifestante o privilégio de fazer um tour a pé pela cidade, sem o inconveniente dos congestionamentos.

Como se não bastasse, os protestos são bons para soltar as articulações (literal ou metaforicamente), promovendo o alongamento da coluna enquanto o cidadão desvia de possíveis golpes de cassetete. Esse tipo de queimada revolucionária conta ainda com sprints (corridas de arrancada) que fortalecem os músculos e auxiliam no condicionamento cardiovascular.

Aos gritos de “Quem não pula quer tarifa”, voluntários promovem uma aula grátis de jump. Outros preferem se dedicar ao chute livre de bombas de gás, a fim de tonificar o quadríceps.

Certa vez, fugindo das bombas durante uma marcha (até então) pacífica, garanto ter ouvido um estalo praticamente quiroprático que há de ter curado um problema crônico em minha coluna lombar.

Os protestos de rua incentivam a prática de RPG, capoeira, ioga (quando os cidadãos se sentam no meio da rua e precisam entrar em nirvana para não recuar), pilates, artes acrobáticas, arremesso de peso, krav magá e treinamento da capacidade respiratória (gás lacrimogêneo, spray de pimenta, fumaça, pum de P2).

As manifestações entram na categoria de esporte coletivo, em que os mais fortes ajudam os mais fracos, enquanto um dos lados segue as ordens imprevisíveis dos donos da bola.

Com a chegada do verão, os manifestantes ainda terão outro benefício advindo da adesão às passeatas: o calor ajuda a abrir os poros, favorecendo tratamentos de pele (como o peeling promovido por nuvens de gás provenientes de cilindros vencidos) e promovendo um emagrecimento saudável e engajado.

Alguns médicos já pensam em prescrever uma dose de manifestações três vezes por semana, nos ritmos moderado a intenso (de acordo com a repressão).

Os donos de academias prometem fazer oposição.

Unidos do lacrimogêneo

Posted: 27th outubro 2013 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, Revista
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Folha de S. Paulo – revista sãopaulo
27 de outubro de 2013

por Vanessa Barbara

Há quem critique as manifestações populares porque atrapalham o trânsito – sobretudo quando são realizadas em locais como a avenida Paulista, “uma das principais artérias da cidade, repleta de hospitais e centros de negócios”, como se costuma dizer.

Para estes, os protestos deveriam se dar em um lugar delimitado e afastado do centro. As autoridades, alertadas com antecedência, marcariam a data num período à prova de importunação – domingo de manhã, quarta de madrugada ou no meio de um feriado prolongado.

A melhor ideia até agora veio da carioca Letícia Vargas de Oliveira Brito, que postou em seu blog (Livro da Lelê) as regras para uma passeata “organizada e bem limpinha” no Sambódromo.

Aqui vão algumas das propostas, com adendos de minha lavra.

Cada protesto terá 65 minutos para se apresentar. Os jurados avaliarão quesitos como: evolução, conjunto, harmonia e análise de conjuntura marxista.

Marcas de cerveja irão patrocinar o ato, que contará com a presença de celebridades nos camarotes VIP. Adereços como máscaras e óculos de natação serão obrigatórios, pois a cenografia vai demandar muito gás lacrimogêneo. Correntistas premium e portadores de cartões platinum terão 20% de desconto e prioridade na fila de entrada. Consumo de vinagre, só com moderação.

Servindo simultaneamente como abre-alas e saco de pancadas, a comissão de frente formada pelos black blocs será avaliada em quesitos como pirotecnia e vandalismo.

No início do desfile, o puxador de samba poderá gritar ao megafone: “Incendeia, black bloc”, e não será metafórico.

Na sequência, o bloco do Passe Livre entrará na avenida com um busão alegórico representando o sucateamento dos transportes. Logo atrás virá a ala dos Anonymous, que será julgada (sem direito a habeas corpus) pelos adereços e harmonia.

O bloco dos partidos vai levantar a arquibancada com palavras de ordem e terá direito a 32 casais de mestre-sala e porta-bandeira. As alas dos professores, dos bancários e dos estudantes da USP darão prosseguimento ao espetáculo, acompanhados por uma equipe de apoio formada por advogados ativistas e o GAPP (Grupo de Apoio ao Protesto Popular).

O bloco dos coxinhas terá passistas de camisa branca cantando o Hino Nacional, e a ala dos P2 marcará presença plantando provas ao longo do Sambódromo.

O desfile será televisionado pela Globo, com narração de Cléber Machado e comentários de Lecy Brandão.

(A Mídia Ninja perdeu os direitos da transmissão e só poderá filmar do lado de fora.)

A ala do Choque ficará posicionada no recuo da bateria e promete terminar o desfile arrastando a multidão.

O enredo será: “De Cabral a Cabral, nada muda na Geral”.

Folha de S.Paulo – Revista sãopaulo
13 de outubro de 2013

por Vanessa Barbara

Sou entusiasta das reuniões de condomínio, esses congraçamentos buliçosos que ocorrem em edifícios e conjuntos residenciais, em geral marcados pela cizânia, pela falta de objetividade e pelas disputas de poder.

A assembleia de moradores é um microcosmo da sociedade, revelando muito da natureza humana quando em estreita convivência com seus pares – mais do que isso, pode ser vista como uma releitura, em pleno salão de festas, do clássico O Senhor das Moscas.

Há, por exemplo, a luta de classes entre “proprietário” e “inquilino”, em que o último não tem direito a voto e é tratado como um turista inconsequente e sem comprometimento com os interesses do imóvel.

Existe o pequeno poder exercido pelo síndico e a arrogância do morador entendido de questões administrativas, jurídicas ou de segurança, que faz questão de ironizar as decisões tomadas pelo conselho deliberativo, mas não propõe nada de concreto no lugar.

As principais características das reuniões são quatro: o desinteresse, a falta de quórum, a obsessão pela troca de azulejos do hall e, claro, a postura presunçosa de classe média que foi tão bem retratada no filme pernambucano O Som ao Redor.

Na cena, os condôminos discutem a demissão por justa causa de um dos empregados mais antigos do prédio, que se tornou “o pior porteiro da região metropolitana do Recife”.

Alguns dos argumentos a favor de dispensá-lo sem benefícios: “Eu tenho recebido a minha Veja fora do plástico” e “Aqui não é instituição de caridade”.

A maioria faz de tudo para não comparecer às reuniões, consideradas perdas de tempo. Só aparece quem tem alguma demanda ou questão a resolver, ou quem pretende recorrer de uma multa.

Como, por exemplo, as universitárias penalizadas em R$ 600 por facilitarem a “circulação de homens seminus pelo corredor”. Aconteceu num prédio onde morei e onde havia uma perpétua batalha entre a nova e a velha guarda. O argumento das meninas: “… Mas era uma festa da toga!”.

Ou o sujeito que queria usar a vaga de garagem para estacionar um cavalo, segundo o relato de um amigo que mora em Perdizes. “Como não aceitaram, ele tentou colocar um barco; como também não aceitaram, levantou, se disse perseguido por forças ocultas e nunca mais apareceu em reunião alguma.”

Inúmeras assembleias terminam em pancadaria. Ao ser menosprezado por sua condição de locatário, um morador partiu para as vias de fato com o síndico. Como o prédio estava em obras, houve até perseguição com uma barra de ferro.

E o que dizer de uma senhora que, após empreender um discurso confuso, terminou com a ameaça: “Cuidado comigo. Eu faço pilates”.