Suécia, terra da alegria

Posted: 30th janeiro 2011 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Chega de detetives geniais, excêntricos ou espirituosos. Agora a moda é inspetores enfadonhos, depressivos e sem nenhum dote intelectual extraordinário.

O mais insigne deles, se é que podemos dizer assim, é o britânico Inspetor Morse, da série homônima da ITV exibida entre 1987 a 2000. (Falaremos dele em outra ocasião, a fim de evitar que os leitores cochilem.)

O mais recente é Kurt Wallander, aclamado detetive criado pelo escritor sueco Henning Mankell. Diante do sucesso dos livros, uma produtora escandinava lançou em 2005 a série de TV “Wallander”, exibida pela BBC4 e, no Brasil, pela Film&Arts, com duas temporadas de treze episódios cada.

Wallander é um policial de meia-idade solitário, divorciado e alcoólatra, com hábitos de vida pouco recomendáveis. Nas investigações, é dado a rompantes de raiva. Não se dá bem com a família, nem com os colegas de trabalho.

Fascinado pelo alto-astral do escandinavo, o ator shakespeariano Kenneth Branagh resolveu interpretá-lo numa nova adaptação para a BBC escocesa. Em 2008, estreou o “Wallander” britânico, com duas ótimas temporadas de três episódios – a primeira saiu em DVD no Brasil.

A julgar pela ficção, a pacata cidade de Ystad é uma espécie de Bronx dos países nórdicos. Não se deixe enganar pelo que dizem da Suécia: lá existem seitas satânicas, homicídios ritualísticos, espancamento de velhinhos, gangues neonazistas, psicopatas sádicos, tráfico de órgãos e brutalidade sexual. Numa mesma semana.

(Na dúvida, é só consultar a trilogia “Millenium”, do conterrâneo Stieg Larsson. Dizem que os suecos têm tantos subsídios e assistência estatal que, quando perdem as chaves do carro, desistem de viver.)

Wallander é obstinado, mas revela uma certa demora para desvendar os mistérios, ao contrário da maioria dos detetives ficcionais. É um inspetor existencialista com dúvidas sobre a profissão, que vive decepcionando a filha e que, como o inspetor Morse, adora ouvir ópera.

É difícil gostar dele, e aí é que está o atrativo de “Wallander” – isso e a desgovernada criminalidade sueca. “Ótimo. Só fica melhor e melhor”, exclama o policial, diante de um cadáver enforcado numa igreja.

Wallander, dizem, nunca sorriu.

Um monge do barulho

Posted: 25th janeiro 2011 by Vanessa Barbara in esquinas, Reportagens, Revista piauí
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Um monge do barulho
Sábio hindu ergue a voz interior e cala paulistanos por 15 minutos

por Vanessa Barbara

Piauí n. 52
Janeiro de 2011

No começo da noite de 22 de outubro, uma sexta-feira, a Companhia de Engenharia de Tráfego registrou 100 quilômetros de congestionamento nas ruas de São Paulo. Representando 11,5% do total de vias monitoradas, o índice não era exatamente um recorde, mas já inviabilizava qualquer esperança de alcançar a iluminação e o nirvana em plena rua da Consolação.

Encravado na balbúrdia de carros, ônibus, buzinas e bafo de carburador, o Sesc do bairro promovia um workshop de meditação vedanta. Às 19h30, na Sala Ômega, a coordenadora do evento apresentou o palestrante – swami Nirmalatmananda – um indiano baixinho de túnica ocre que vinha “adoçar a noite com suas palavras”. Swami Nirmalatmananda, desde 1999 no Brasil, formou-se em matemática, física e química e trabalhou dezessete anos em Calcutá, na sede da ordem Ramakrishna, antes de ser transferido para São Paulo, onde é diretor espiritual de um templo dessa corrente hinduísta.

A princípio, o monge – swami, em sânscrito – se mostra em desacordo com o microfone, mas logo chega a um entendimento com o objeto inanimado e inicia o evento puxando um mantra de paz. Depois, toca a dissertar sobre a unidade da existência, a natureza divina da alma e a filosofia vedanta em geral, trazendo à luz verdades profundas que, para desafio espiritual dos circunstantes, são vazadas num idioma sincrético anglo-lusitano.

***

Um intérprete está ali para ajudá-lo nos momentos de maior complexidade expositiva. Trata-se de um sujeito que traz um molho de chaves pendurado no cinto e que passa o tempo todo analisando as próprias unhas, tarefa na qual visivelmente se concentra. Às vezes, distraindo-se, traduz do português para o português. O monge diz: “Concentração é o controle da energia de toda substância mental pela força de vontade.” Chacoalhando as chaves, o intérprete traduz: “Ele disse que concentração é o controle da energia de toda substância mental pela força de vontade.”

Conforme explica Nirmalatmananda, a meditação é um método para chegar ao âmago do Ser Supremo, realidade transcendente e impessoal, subjacente a tudo o que existe – a nós, inclusive, daí a expressão “autoconhecimento do Ser Supremo”. Etimologicamente, veda significa “conhecimento” e anta é a essência dos Vedas, os quatro livros que funcionam como a bíblia do hinduísmo. Esse conhecimento, todavia, não é de ordem intelectual, mas, sim, espiritual, em correspondência com a nossa própria natureza divina. É simples.

“Por que devemos buscar isso?”, indaga Nirmalatmananda à plateia de umas cinquenta pessoas, muitas das quais estão ali com a finalidade expressa de passar o tempo enquanto o trânsito não se desafoga. “Porque coloca um fim a todos os sofrimentos para sempre”, esclarece ele. “Liberta de todos os medos, inclusive o da morte. Elimina para sempre todas as dúvidas da vida. Realizando-o, nada mais resta a buscar.”

Evidentemente ansiando por coisa melhor, duas meninas passam a cochichar sobre o que pretendem fazer mais tarde. “Você dorme tarde?”, pergunta uma delas. “Não muito”, responde a outra. O sábio não faz caso e aponta para a tela do PowerPoint, na qual estão arrolados alguns aspectos da natureza do Ser: existência plena, conhecimento infinito, bem-aventurança e unidade. “Existe algo que perpassa todos nós, mas não estamos conscientes”, ele diz. “Quando essa Existência Única é vista em sua essência, é chamada de Ser Uno e Infinito.”

***

Um celular toca, alguém sai da sala para atender. A fim de tornar mais acessíveis os conceitos, o monge escolhe um exemplo: “Pense numa guirlanda. Você a aprecia, mas o que mantém essas plantas juntas? Um fio fino que geralmente não vemos.” A meditação, portanto, seria o fluxo constante e ininterrupto de energia mental que conduz à absorção total e à união com o Ser Uno e Infinito. É o mais elevado estágio de concentração. (Nesse instante, o monge enquadra as adolescentes com um olhar  fulminante.) “Onde tem concentração tudo floresce”, afirma swami. (As meninas resistem.)

Num último esforço, o santo homem recorre à imagem de uma abelha que, para sugar o néctar, fica zumbindo e dando voltas em torno da flor, sempre assim, girando e zumbindo – bela alegoria da concentração. Quando ela consegue atingir o miolo, o zumbido some e não há mais abelha separada de flor, existe apenas comunhão, um pleno indistinto de bicho-e-planta.

Na meditação profunda, o estado mental de concentração torna-se um fluxo sem interrupção ou distinção, esclarece melhor swami Nirmalatmananda. Donde, pois, qualquer um dos presentes poderia extrair o corolário de que semelhante estado elimina toda manifestação fenomenológica de celulares e cochichos paralelos. Donde, também, a conclusão irreprochável: naquele momento, a Sala Ômega podia se encontrar em muitos estados, menos o da concentração.

Derrotado pelos risinhos das moças, swami Nirmalatmananda resolveu partir para a ignorância: conduziria ali mesmo, no ato, uma sessão de meditação. Chegou a cogitar a hipótese de promover a experiência ao longo de meia hora, mas a funcionária do Sesc achou graça e avisou que ninguém ali conseguiria ficar mais de quinze minutos em silêncio. Que fossem quinze, então.

E assim foi. As luzes se apagaram e, monotonamente, swami recitou o mantra Om – o som primordial, o purificador do ego, a súmula da sabedoria, a representação sonora do Universo, o corpo do Absoluto –, seguido da repetição de shanti, o mantra da paz, e de um minucioso controle do ritmo respiratório. De início, ainda se ouviram tossidos e pigarros ou guinchos de cadeiras arrastadas, mas logo só se distinguiu alguma rara intervenção do monge, nada mais. (As meninas viraram estátuas de sal.)

De modo que naquela noite, ao longo de infindáveis quinze minutos, swami Nirmalatmananda subjugou o rush paulistano, a excitação de duas adolescentes eufóricas, a falta de educação dos celulares e o chacoalhar de chaves do intérprete. Terminada a sessão, agradeceu a presença de todos e foi comer docinhos.

No próximo bloco, insânia

Posted: 23rd janeiro 2011 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Quando a TV paga chegou ao Brasil, espalhou-se o idílico boato de que seus canais não teriam intervalos comerciais – afinal, a mensalidade dos assinantes serviria para sustentar as emissoras.

Era tudo brincadeirinha. Em 2010, uma pesquisa da Associação de Consumidores Proteste mostrou que a grade da TV paga contém 15% de comerciais, na média. Em canais como a Fox, a conta é de 23%.

E o pior: se na TV aberta ainda é possível se divertir com anúncios de purgante ou de pomadas para micose em que modelos discutem casualmente suas frieiras, na TV paga a coisa não tem tanta graça. Ali, os comerciais falam da própria programação e se repetem num looping maquiavélico.

Um dos campeões no quesito, a Warner Channel reserva-se o requinte de interromper os episódios de séries na última cena e amarrar o espectador só para exibir os créditos e a piada final. O canal também costuma manter o áudio dos programas baixíssimo e aumentar o volume em 40% nos comerciais, para que os tímpanos da vítima sejam devidamente massacrados pela veemência publicitária.

A atração “Warner Movies” já virou uma lenda. O filme começa bem, mas vai sendo interrompido progressivamente conforme o final se anuncia.

Um longa de 110 minutos de duração leva 3 horas para passar, totalizando 70 minutos de comerciais – sempre os mesmos. A conta pode chegar a 63% do total da atração, gerando boatos de que, em 2011, os canais terão novos comerciais com menos intervalos de programas.

Houve uma épica madrugada de 2003 em que a MGM levou quatro horas para exibir o especial “AFI: 100 anos… 100 filmes”, de 145 minutos de duração. A cada dez títulos citados, amargava-se uma pausa em que os mesmos comerciais se sucediam, talvez procurando levar os espectadores à absoluta e irreversível demência. Conforme os vencedores se aproximavam, a pausa era de três em três.

O documentário acabou pela manhã. Os sobreviventes até hoje se gabam, feito veteranos da campanha na Itália.

A repetição de propagandas em canais como Sony, TNT, Warner, Fox, AXN e Universal ainda será questão de saúde pública. Daí a grandeza das séries em DVD, do gravador digital, da tecla “mudo” e de um providencial cochilo.

Não complicarás

Posted: 16th janeiro 2011 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Nos últimos dez anos, o “Jornal Nacional” (Globo, 20h30) perdeu 24% de sua audiência. A velha fórmula, que em 1993 chegou a render 80 pontos no Ibope (com o primeiro depoimento de PC Farias após sua fuga), parece enfim ter se desgastado.

De todos os telejornais brasileiros, o “JN” é o mais temente aos mandamentos do gênero. Para começar, a notícia é sempre curta, objetiva e simples, mas não pode ser excessivamente fria e impessoal, sob pena de distanciar o público. Ao apresentador cabe humanizá-la com sorrisos, mudanças de tom e olhares compungidos.

Em segundo lugar, utilizam-se apenas frases incisivas e curtas no tempo presente, a fim de afetar urgência.

No sábado passado, o jornal começou com o anúncio: “Tiros à queima-roupa”. No mesmo tom de quem está em pleno front, o outro apresentador completou, em jogral: “Dezoito pessoas são baleadas por um jovem nos EUA”. Por pouco, os dois não se abaixaram para se proteger.

O texto falado deve dirigir-se a um hipotético telespectador médio –– para Bonner, uma espécie de Homer Simpson que tem dificuldade em compreender notícias mais complexas. Num episódio que causou polêmica, em 2005, o editor-chefe do “JN” chegou a rejeitar uma pauta dizendo: “Essa o Homer não vai entender”.

Outro preceito do telejornalismo padrão é personificar as notícias, remetendo-as a personagens pitorescos ou à opinião de populares. As declarações espirituosas dos anônimos servem para dar leveza ao texto e fazer rir o singelo Homer.

Assuntos como consumo popular, curiosidades tecnológicas, futebol e o florescimento de dicotiledôneas servem para intercalar cenas de desastres ou de crimes hediondos.

É inevitável: o apresentador conclui um dossiê sobre o colapso do sistema de saúde de Rondônia, como na segunda-feira passada, toma novo fôlego e diz: “No zoológico de Brasília, uma fêmea de lobo-guará conseguiu sobreviver a um atropelamento e voltar à natureza”. Sorri.

Uma anedota corrente no mundo dos telejornais diz que, se o Velho Testamento fosse televisionado, a apresentadora o anunciaria desta forma: “Moisés acaba de receber a tábua com uma série de mandamentos”. Entra infográfico explicativo: “Dentre eles, podemos destacar dois…”.

Napoleão do crime

Posted: 9th janeiro 2011 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Fica difícil condenar a pirataria quando uma série como “Sherlock” (2010), da BBC inglesa, não tem a menor previsão de ser exibida no Brasil.

A primeira temporada contou com apenas três capítulos de 90 minutos cada, chegando ao fim em agosto de 2010. Trata-se de um folhetim de ação e suspense que transporta o detetive Sherlock Holmes (interpretado por Benedict Cumberbatch) para os tempos contemporâneos.

Na minissérie, Holmes é fã de tecnologia, não desgruda do celular e gosta de provocar o inspetor Lestrade tumultuando coletivas de imprensa com torpedos SMS. Seu lendário parceiro, o dr. Watson (Martin Freeman, de “O Guia do Mochileiro das Galáxias), registra os casos num blog.

Holmes passa o tempo todo agindo feito um maestro louco, insultando os policiais e rebatendo as acusações de que seria um psicopata (“Sou um sociopata funcional”, diz).

Em vez de cachimbos, ele é usuário ostensivo de adesivos de nicotina: “Este é um problema de três adesivos!”, exclama no episódio-piloto, “Um estudo em rosa”, que trata de suicídios seriais.

O visual da série acompanha o ritmo multitarefa do herói: numa cena de crime, letreiros se sobrepõem na tela para destrinchar as evidências encontradas, enquanto Holmes pesquisa simultaneamente em seu smartphone dados meteorológicos, rotas de trem, informações avulsas e recados pessoais.

Embora saiba rastrear endereços de email e tenha alma de hacker, o Holmes da BBC não é tão diferente do original. A um suspeito, diz: “Além dos indícios óbvios de que você é solteiro, maçom e asmático, não sei nada a seu respeito”. Ao médico legista, pede que não enuncie seus pensamentos em voz alta, pois está diminuindo o QI de toda a rua.

Ele também observa que deve ser “muito relaxante não ser eu” e aproveita cada novo assassinato, alegando que não dá para ficar em casa quando algo divertido assim acontece.

No final da temporada, Holmes sai ao encalço de seu arqui-inimigo prof. Moriarty, o “Napoleão do crime, organizador de tudo o que há de mal nesta cidade”. Houve polêmica quanto ao desfecho da série, que atraiu 7,3 milhões de espectadores na Inglaterra, mas a segunda temporada já foi confirmada para o fim deste ano.

Olha! Uma salsicha falante!
Artifícios suaves e estrambóticos para você mesmo espantar o chamado demônio do meio-dia

Revista Vida Simples
n. 101 – Janeiro de 2011

por Vanessa Barbara

 

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a depressão é a maior causa de incapacitação de adultos e afeta 120 milhões de pessoas em todo o mundo (17 milhões no Brasil). Na literatura médica, as diretrizes para o tratamento de primeira linha são os antidepressivos de última geração, mais seletivos farmacologicamente, com melhores índices terapêuticos e menor incidência de efeitos colaterais. Uma opção comum é o uso de inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRSs), como sertralina ou fluoxetina, associados ou não à psicoterapia comportamental.

Dependendo da resposta do paciente, o passo seguinte é a manutenção, o aumento da dose ou a troca de medicamento. Cerca de 30 a 50% dos casos não reagem suficientemente à primeira tentativa farmacológica. Os tricíclicos e os inibidores da monoamina oxidase (IMAOs), além de outros inibidores e antagonistas diversos, podem ser prescritos nessa fase, com ou sem a potencialização de outros agentes (lítio, hormônio da tireóide, estrogênio, buspirona).

Na maioria dos casos, é preciso no mínimo duas semanas para o remédio fazer efeito. Alguns pacientes só melhoram após 6 semanas, e, pior ainda, há os que vão aumentando a dose, aguardam meses e finalmente desistem, por falta absoluta de resposta. Esses irão recorrer a um segundo, a um terceiro e a um quarto tipo de medicamento – as estatísticas mostram que até 50% dos pacientes não respondedores a uma primeira tentativa também não responderão a um segundo curso de tratamento diferente. De fato, a probabilidade de reagir a um antidepressivo declina num fator de aproximadamente 15% a 20% para cada tratamento anterior que tenha falhado.

Pensando nessas pobres almas é que efetuamos um guia com técnicas pitorescas para afastar a depressão, atenuantes temporários para aquelas duas semanas de espera ou após a décima consulta fracassada, enquanto a cura não vem. Essas soluções mambembes não substituem nenhum tipo de intervenção medicamentosa ou psicoterapêutica e se destinam apenas a gerar distração em pacientes para os quais cada gole d’água é excessivamente trabalhoso.

Andrew Solomon, autor de O demônio do meio-dia, um dos melhores tratados existentes sobre a depressão, conta a história de uma sobrevivente de Dachau que, para não enlouquecer, decidiu pensar apenas em seus cabelos. “Pensava em quando poderia lavá-los; em tentar penteá-los com meus dedos. Passava horas combatendo os piolhos. Isso fazia com que minha mente se concentrasse em algo sobre o qual eu podia exercer algum controle, e preenchia minha mente de tal modo que me permitisse deixar de fora a realidade dos acontecimentos à minha volta, possibilitando que eu atravessasse aquele período.”

Além de saudavelmente dispersivas, essas técnicas servem para que os pacientes aprendam comportamentos que possam protegê-los contra uma piora ou recidiva.

***

Um dos princípios fundamentais da terapia cognitivo-comportamental é a relação existente entre situação, pensamento, sentimento e comportamento, de modo que a mudança de só um desses itens influenciaria todos os outros. A estratégia subjacente da TCC, portanto, seria forçar o pensamento a seguir certos padrões e assim evitar os caminhos habituais que levam à depressão.

Ou vice-versa. Nesse caso, uma das táticas possíveis é monitorar as atividades diárias e estimular as que são geradoras de prazer, acrescentando sempre algo de muito agradável ao longo do dia. Além de teoricamente válida, essa estratégia tem lá seus atrativos.

Na depressão, o paciente perde o gosto pelas coisas, e a chave é encontrar algo que ainda conserve em si um fiapo de diversão, como um sorvete esperando na geladeira ou a foto de um bebê envolto numa margarida, e assim começar a resgatar os prazeres, um a um. “Os estudos não estão disponíveis, mas uma boa dieta de lagosta e mousse de chocolate pode fazer muito para melhorar o ânimo de alguém”, garante Solomon.

O benefício adicional dessas tarefas é ativar o circuito estímulo–recompensa associado a atividades manuais. Na doença, há falta de gratificações, de concentração, de movimento, de estímulos. Experimentos liderados pela psicóloga Kelly Lambert, da faculdade Randolph-Macon, na Virgínia, mostraram que tarefas prosaicas como limpar o chão, tricotar ou organizar as gavetas incentivam a produção de substâncias que deixam o sujeito mais persistente e concentrado. A questão não é o que se faz, mas onde se chega com o esforço.

Em O demônio do meio-dia, Solomon fala de uma mulher que mantém na parede do quarto uma lista de coisas a fazer quando está começando a se sentir desanimada e entediada. A lista começa assim: “Ler cinco poemas infantis. Fazer uma colagem. Olhar fotografias. Comer um pouco de chocolate”.

A seguir, apresentamos dez sugestões para despistar a depressão, sem necessariamente ter que apontar alguma coisa à distância e gritar: “Olha lá! Uma salsicha falante!”.

1. Fazer coisas com fios

No livro de Solomon, uma moça conta que passou anos trocando de medicação, sem sucesso, até que finalmente descobriu a solução verdadeira para curar a depressão: “fazer coisas com fios”. Taí a primeira sugestão.

Nessa categoria, incluem-se trabalhos artesanais que tragam relaxamento e satisfação, como costurar, tricotar, pintar, desenhar, esculpir, espremer gelatina, consertar um radinho de pilhas, martelar a esmo, pintar as unhas dos pés (dos outros), montar uma armadilha de dominós, assar um porco-pizza e cobrir as paredes de tinta amarela. É importante usar as mãos, pois elas dão uma importante sensação de controle. Sujar-se é igualmente recomendado.

Limpar, esfregar e organizar também se enquadram nesse item. As grandes empreitadas são as mais auspiciosas: organizar todas as gavetas do escritório, separando os documentos por cor e utilizando caixas transparentes com etiquetas, post-its e cola colorida.

2.  Arrumar um professor de sapateado

Um leitor de Andrew Solomon ofereceu-se para ajudá-lo a encontrar um bom professor de sapateado. Nesse campo, vale tudo: inscrever-se em aulas de rockabilly, aprender o cha-cha-cha, fazer ioga, comprar uma cama elástica, pular corda, inscrever-se num curso para terceira idade no Sesc, assistir uma videoaula de artes marciais, jogar badminton, andar de bicicleta, balançar, chutar, girar e empurrar à vontade. Vale optar por videogames bruscos como o Wii.

3. Mexer com terra

Aqui se inclui todo tipo de contato com o chão, seja na jardinagem, na escultura de areia, rolando ou deitando na grama do parque. Esticar-se para acompanhar o passeio de suas tartarugas sob o ponto de vista dos quelônios também vale. O fator sujeira está implícito na atividade e é mandatório. Ainda que não haja comprovação estatística, é certo que sentar no chão sem motivos específicos ajuda a tratar moléstias do humor.

4. Render-se ao videoquê

Escolher as músicas mais bregas no Guitar Hero ou num bar de videoquê pode ser vital para a recuperação de um deprimido reincidente. Entre as sugestões mais sensatas podemos destacar o heavy metal melódico, os refrões estridentes de clássicos do rock, os Twisted Sisters e, é claro, o Ney Matogrosso. Quanto mais gritaria, melhor. Quanto mais desafinado, também.

5. Solucionar grandes mistérios

Lançar-se em busca de uma caneta perdida, um quebra-cabeças de 4 mil peças, os extras de um filme ruim, um livro de palavras cruzadas, a vida do vizinho da frente, um crime imaginário. O importante é se envolver pela coisa: procurar tudo sobre Joseph Mengele, Bob Esponja, as guerras púnicas, “Perdidos no Espaço” e o cozimento das alcachofras. Jogos de tabuleiro se incluem nesta categoria.

6. Estabelecer uma trilha sonora

Em The anatomy of melancholy, Robert Burton diz que não há remédio melhor do que a música para aliviar um coração melancólico. Em muitos casos, só ela consegue penetrar no estado de anedonia e conferir uma sensação de prazer e de estar vivo, mesmo que temporariamente.

O neurologista Oliver Sacks, em Alucinações musicais, acrescenta que há determinadas composições com o poder de produzir efeitos cruciais num dado indivíduo, em um momento específico. Ele cita o exemplo de um suicida que ouviu por acaso uma passagem de Rapsódia para contralto, de Brahms, e o som que antes lhe era indiferente perfurou seu coração como uma adaga. “Numa torrente de rápidas recordações pensei em todas as alegrias que a casa conhecera: as crianças que haviam corrido por seus cômodos, as festas, o amor e o trabalho”, diz ele. “Algo dentro de mim aqueceu-se e me amoleceu”, conta outra paciente de Sacks.

Não dá para prever o tipo de música capaz de vencer a barreira e liberar os sentimentos obstruídos de alguém. O poder da música, para trazer alegria ou catarse, tem de insinuar-se sem ser percebido, “chegar espontaneamente como uma bênção”, diz Sacks.

Isso não nos impede de elaborar uma trilha sonora específica para os momentos de crise – podem ser faixas alegres, trágicas, evocativas, enfim, que possam causar algum tipo de impressão. Convém testar a reação pessoal a diferentes tipos de música, pois às vezes a chave está na batida – a bossa-nova, por exemplo, costuma dar certo com os mais apáticos. O punk rock pode aliviar espíritos mais melancólicos, ao passo que o rockabilly tem o benefício adicional de incentivar o ouvinte a arriscar uns passos de dança. Há quem tenha superado a depressão com uma hora diária de remelexo ao som de ritmos caribenhos.

Alguns títulos que não têm como dar errado: “On The Sunny Side of the Street”, Louis Armstrong; “I Feel Good”, James Brown; “Good Vibrations”, Beach Boys; “Here Comes The Sun”, Beatles; “O Jumento”, Chico Buarque; “Cheek to Cheek”, Fred Astaire; “I Got Rhythm”, Ella Fitzgerald; “Rock And Roll All Nite”, Kiss; “Hallelujah”, Leonard Cohen; “Potato Head Blues”, Louis Armstrong; “Lithium”, Nirvana; “Alive”, Pearl Jam; “Do You Wanna Dance?”, Ramones; “Today”, Smashing Pumpkins; “So Happy Together”, The Turtles; “Island in the Sun”, Weezer; “Beautiful Day”, U2; “Song 2”, Blur; “Don’t Worry Be Happy”, Bobby MacFerrin; “Shiny Happy People”, R.E.M.; “Paradise City”, Guns N’Roses, “Blue Skies”, Ella Fitzgerald; e, por fim, “O Pato” e “Bolinha de Papel”, João Gilberto.

Só tome cuidado para não ouvir sem querer “I Am a Man of Constant Sorrow”, do Bob Dylan, e nem o último álbum do Radiohead, para não invalidar todo o tratamento.

7. Apegar-se ao radinho de pilha

Em O demônio do meio-dia, o pesquisador Seth Roberts, do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia, sustenta a teoria de que há um tipo de depressão vinculada a acordar sozinho, e que a experiência de assistir a um apresentador de TV falando por uma hora no início do dia pode ajudar. Acrescentamos a isso a presença constante de um radinho de pilha, sintonizado na faixa AM, de preferência num programa de esportes ou de trânsito. Também serve ir puxar conversa com o porteiro.


8. Preparar coletâneas

Pode ser uma lista de sobremesas distribuídas pelos dias da semana. Ou um catálogo pessoal de livros, poemas ou contos favoritos. Pode ser uma coletânea dos melhores amigos (segunda é dia do Cabelo, terça é do Bruno e do Bob). Ou de programas tolos para planejar (ir ao zoológico, ao planetário, ao pico do Jaraguá, ao sítio da incrível morsa turca que dança). É importante registrar seu “best of” pessoal, a fim de evocá-lo em momentos de angústia.


9. Ensinar alguém a descascar pepinos

Em O demônio do meio-dia, Solomon fala de uma moça que passou horas sem conta tentando ensinar à companheira de quarto como descascar um pepino. Nessa categoria, são válidas todas as interações sociais, por mais fugazes que sejam, sobretudo com desconhecidos.

Nesse mesmo livro, há o relato de uma sobrevivente do massacre cambojano que praticava a psicologia com esmaltes coloridos, empurradores de cutícula, toalhas e lixas de unha. Ela começou a fazer as mãos e os pés das amigas, que pouco a pouco se puseram a conversar e a dividir suas experiências.

10. Apelar

Se nada disso funcionar, é hora de partir para a ignorância. Filmes dos Irmãos Marx, livros de piadas do Costinha, trocadilhos tolos, stand-ups do Richard Pryor, músicas do Mario Lanza, romances do Douglas Adams, textos do Woody Allen, palhaços, mágicos, trapezistas, engolidores de fogo e a piada mortal, que é a seguinte:

“Era uma vez um porquinho que tinha uma perna só. Ele foi se coçar e caiu.”

Para Solomon, o senso de humor é o maior indicativo de que o indivíduo se recuperará. “Aguente o tempo de espera e ocupe esse tempo tão plenamente quanto puder”, ele recomenda.

E termina com uma nota esperançosa: “Pessoas que atravessaram uma depressão e estão estabilizadas frequentemente têm uma aguda consciência da alegria da existência cotidiana. Mostram-se capazes de uma espécie de êxtase imediato e de uma intensa apreciação por tudo que é bom em suas vidas”. Ou seja: valorizam o chocolate, o tricô, as tartarugas, a ginástica rítmica, o desenho do Bob Esponja, o rádio de pilha, o mar, o glorioso time do Olaria e o vizinho da frente, que, dizem, é a cara do Dudley Moore.

Bada-Bing, Bada-Beakman

Posted: 2nd janeiro 2011 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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“Tranquem as portas! Fechem as janelas! O seu cientista particular está aqui para responder as suas perguntas. Eu sou Beakman, e você acaba de entrar no…”

Com essas palavras, será retomada amanhã a exibição de “O Mundo de Beakman”, na TV Cultura (seg.-sex. às 19h15).

Nesse clássico dos anos 90, um cientista de jaleco verde e cabelo espetado responde perguntas de telespectadores fictícios, que servem de gancho para experiências bizarras e explicações de leis da física.

“Pergunta: por que os frangos ficam engraçados quando piscam? Resposta: porque fecham os olhos de baixo pra cima.”

O episódio-piloto parte da questão: “Se a Terra é redonda, por que as pessoas que estão do lado de baixo não caem?”. Com a ajuda de uma melancia, um boneco de testes, sua assistente Rose e um ator fantasiado de rato (Lester), Beakman fala de gravidade e inércia.

Do Polo Sul, dois pinguins diante da TV interrompem vez ou outra para comentar. “O que a gente acha que acha?”, pergunta Dan. “A gente acha que adorou”, retruca Léo.

No programa seguinte, Beakman chafurda num túnel de muco para responder a pergunta: “O que é ranho?”. Diante da objeção dos companheiros, diz: “É para isso que a gente está aqui”. E Lester: “A gente está aqui para ranho?”.

Após desfiar uma série de sinônimos de catota (meleca, ostra, geleia de nariz, comida de dedo), ele explica para que serve essa substância viscosa. Comentário dos pinguins: “Faz pensar na expressão ‘mau gosto’”. E o outro: “É nojento. Tô adorando.”

Um dado curioso é que Lester nunca é identificado como um rato, mas como um cara fantasiado de rato, ou um ator dramático com um péssimo agente. O ator, Mark Ritts, estudou literatura inglesa em Harvard e morreu em 2009 de câncer nos rins.

Já Paul Zaloom (Beakman) continua na ativa como titereiro, ventríloquo, ator e militante gay. Nos EUA, comanda o espetáculo “Beakman ao Vivo”, em que faz um rolo de papel higiênico levitar e fala de movimentos peristálticos.

Ao todo, são 91 episódios cheios de efeitos sonoros e explosões – o último é sobre flatulência –, todos apresentados pelo mestre das respostas, o guru da massa cinzenta, o emir do enigmático, o único, o incomparável…

Legal essa parada rude

Posted: 26th dezembro 2010 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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Na última terça-feira, 21 de dezembro, a Record exibiu a final do reality show “A Fazenda”. Após três meses de confinamento num sítio, o modelo Daniel Bueno, de 33 anos, ganhou o prêmio de 2 milhões de reais.

É quase o mesmo valor que recebeu o embriologista britânico Robert G. Edwards, de 85 anos, vencedor do Prêmio Nobel na categoria Medicina ou Fisiologia. Ele faturou 10 milhões de coroas suecas (2,5 milhões de reais) por duas décadas de pesquisa que tornou possível a fertilização in vitro.

A carreira de Daniel Bueno começou na seleção gaúcha de caratê, na qual foi faixa preta. Aos 22 anos, foi contratado por uma agência de modelos e trabalhou para grifes como Calvin Klein e Giorgio Armani. É mais conhecido, porém, por ter namorado a atriz Luana Piovani.

Já Edwards começou seus estudos nos anos 50. Seu esforço possibilitou o nascimento de 4 milhões de pessoas e representou uma revolução no tratamento da infertilidade. Para a comissão do Nobel, o britânico conseguiu vencer “desafios monumentais” no campo da ciência. Mesmo com a dificuldade de obter patrocínio, Edwards conseguiu elucidar grandes incógnitas da biologia, como o momento certo para a extração do óvulo e sua fertilização e fecundação.

Bueno, por sua vez, demonstrou comprometimento com os afazeres rurais, sobretudo no cuidado com os equinos. Durante os 86 dias de programa, destacou-se pela diligência e por tomar para si a ordenha da vaca Estrela, proferindo frases como: “Dona Estrelinha! Como é bom ver a senhora!”.

Logo de início, ele admitiu: “Pra ser sincero, eu não me acho um cara talentoso. Mas sou muito esforçado.” Um de seus maiores momentos foi quando teve de tomar um banho gelado e exclamou: “Legal essa parada rude”.

Mas o melhor diálogo do reality não foi obra dele e de nenhum dos outros finalistas (o ator Sergio Abreu e a assistente de palco Lisi Benitez, a “Piu-Piu”). Foi Luiza Gottschalk que perguntou ao cabeleireiro Carlos Carrasco: “Milho é verdura?”. Ao que ele respondeu: “Não. É um amido”.

Este mês, Daniel Bueno mostrou os peitorais na tevê e comemorou a vitória com Sérgio Mallandro. Robert Edwards não pôde comparecer à cerimônia do Nobel por problemas de saúde.

Folha de S. Paulo – revista sãopaulo
19 de dezembro de 2010 – 12h02

por Vanessa Barbara

Para as tartarugas Napoleão e Jacinto,

Quando 2010 começou, vocês eram do tamanho de uma moedinha. Chegaram assustadas, com as cabeças encolhidas pra dentro do casco, e dormiam o dia inteiro. Achei que o ano seria assim, tartaruguento.

Mas logo vocês foram tirando os narizes pra fora e conheceram o sol, o sashimi, a água morna e a gula sem limites. Aprenderam a comer cocô. Começaram a crescer, a bocejar acintosamente e a passear pela casa.

No ano de 2010, Jacinto passou três semanas sem comer, descobriu a dor de barriga e ficou gripado. Napoleão virou de ponta-cabeça, entalou debaixo da geladeira e tentou comer as plantas de plástico.

Ambas fizeram contatos imediatos com um sabiá, um mosquito e a tartaruga Moisés. Foram apresentadas à pitanga, à formiga, ao filé de pescada e à banana, além de experimentarem o dedo das visitas.

Um ano depois, vocês estão mais parecidas com calotas de Fusca. Sabem derrubar o termostato para chamar a atenção e protegem os olhos com a pata quando alguém acende a luz.

Em 2010, Jacinto descobriu que era fêmea. Napoleão, o contrário.

Assim sendo, gostaria de desejar um 2011 mais tranquilo para os meus quelônios.


VANESSA BARBARA, autora de “O Livro Amarelo do Terminal”, é colunista de TV da Folha

O que Bo quer, Bo ganha

Posted: 19th dezembro 2010 by Vanessa Barbara in Crônicas, Folha de S. Paulo, TV
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A julgar pela audiência desta casa, composta por uma parcela equivalente de humanos e quelônios, o melhor programa deste ano não foi “CQC” (Band), “O Aprendiz” (Record) ou “Superpop” (RedeTV!). Também não foi a nova série de Martin Scorcese (“O Império do Contrabando”, HBO), nem a reprise de “A Próxima Vítima” (Viva).

O melhor da TV em 2010 foi “Obsessão por Animais”, do Animal Planet, uma série de quatro documentários veiculada em novembro.

O primeiro episódio falou de exageros, como um sujeito que divide a casa com 70 corujas. Depois vieram os bichos exóticos: um rapaz que toma banho com seu tigre-de-bengala, uma moça que mantém uma girafa de 3,6 m de altura no jardim (e oito zebras), e um senhor que possui oito jacarés em sua residência. “Ele vem quando quer”, declara, apontando para o réptil de 70 kg paralisado no chão da sala. “Eles passeiam casualmente, cuidando de suas vidas.”

No especial sobre animais obesos, a protagonista foi Bo, uma Rotweiller gorda de 92 kg que parece um leão-marinho. Ela anda como se estivesse gingando, come 7 kg de carne fresca e dorme a hora que dá na telha.

“Ela é obesa”, diz a veterinária. “Ela é linda”, responde a dona, rechaçando as insinuações de que sua cadela seria uma porca leiteira. “Eu não a trouxe aqui para ser insultada”, dispara. “O que Bo quer, Bo ganha.”

Outras revelações foram Archie, o gato de 10 kg que precisava se exercitar, mas olhava cinicamente as bolinhas de borracha que lhe atiravam, e Max, um cão que comia linguiça e sanduíche de bacon.

Mas nada superou “Cirurgia Plástica Animal”. Diante das câmeras, um mastim napolitano corrigiu a flacidez das pálpebras. Na sequência, um lagarto de 15 cm tomou anestesia geral para retirar um cisto que lhe prejudicava a carreira de modelo. Um peixinho japonês com uma protuberância suspeita se submeteu a uma abdominoplastia cosmética, enquanto a enfermeira esguichava água em suas guelras.

Por fim, um pato que teve o bico destroçado por um guaxinim passou por um procedimento de reconstrução. Donald, o pato de 3 dólares, ganhou um bico horrendo, mas funcional, feito de cimento ósseo cor de laranja. “Nunca pensei que amaria tanto um pato”, disse a dona.