Banco Imobiliário radical

Posted: 23rd novembro 2008 by Vanessa Barbara in Crônicas, Metrópole, O Estado de São Paulo
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Número de participantes: cinco a dez. Tabuleiro: Banco Imobiliário. Objetivo: Conquistar Itaim, Pinheiros, Berrini e mais três territórios à escolha. Categoria: Gestão de Negócios Imobiliários. Local: Cidade de São Paulo.

Como jogar: Cada empreiteiro corrupto começa com 500 dinheiros, quatro notas de 100 e um cheque nominal para um deputado. Ao cair numa casa do tabuleiro, deve ir até o local, comprá-lo e erguer um guindaste. O referido empreiteiro poderá instalar seguranças fortemente armados para espantar os outros jogadores, durante os cinco anos que vai demorar para concluir a obra. Em cada terreno, um mapa mostrará o nostálgico histórico de escândalos da região, como “Primo de Maluf cobra R$ 6 milhões do município”, “MP denuncia empreiteiros envolvidos no escândalo da educação” e “A lista de Zuleido”.

A partida: O jogador lança os dados, mas pode contratar um contador para abafar o resultado. Além de logradouros como Santa Cecília, Perdizes e Jova Rural, é possível comprar a Companhia do Metrô – nesse caso, o sujeito entra numa licitação fraudulenta e se compromete a entregar três estações nos próximos 20 anos. Pode até mesmo alegar que serão estações da Linha Ocre, que ligam o nada a uma plataforma deserta. Se anunciar a integração “Jardim São Paulo-Mandaqui”, ganha a admiração da banca.

Tirando sete, o executivo pode arrematar a Avenida 9 de Julho e demolir instantaneamente os corredores de ônibus. Com dez no dado, tem direito a escolher um cartão de Sorte/Revés. Algumas das opções são: “Você fraudou a Previdência, receba $45 milhões”, “Você errou no botox, perca $10 em direitos de imagem”, “Você fotografou uma imagem santa no azulejo da cozinha, receba $5” ou “A polícia matou os seus rivais no tráfico, receba $100”.

Lembrem-se: mesmo os jogadores mais poderosos podem acabar na prisão, mas só ficam se não tiverem advogados. De lá, saem direto para uma Concessionária de Importados Alemães ($500) e podem fazer uma bela terraplenagem na região do Itaim por apenas 300 dinheiros. Outras opções de Sorte/Revés são: “Você encontrou um esquilo morto no seu refrigerante. Receba $600 em indenizações”, “Você foi cassado por decoro parlamentar, mas continua na Comissão de Ética do Senado. Receba $400”.

Em vez de irem à falência, os jogadores vão à Europa. Término do jogo: ganha aquele que tiver mais obras pela metade e falir os transportes públicos. Como alternativa, ganha aquele que roubar a banca sem chamar a atenção da imprensa.

Te espero no pato

Posted: 9th novembro 2008 by Vanessa Barbara in Crônicas, Metrópole, O Estado de São Paulo
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“Um ponto amarelo surge no horizonte. As pessoas ao redor param, observam e se aproximam do gigante pato de borracha amarelo. Os espectadores são cumprimentados pelo pato, que lentamente move sua cabeça. O Pato de Borracha não conhece fronteiras, não discrimina ninguém e não tem conotação política. Este gigante amigável e flutuante tem propriedades curativo-sociais: pode amenizar tensões por onde passa. O Pato de Borracha é leve, amigo e apropriado para todas as idades e lugares do planeta.”

É essa a proposta de uma instalação artística que flutua no lago do SESC Interlagos só até hoje, 9 de novembro. Trata-se de um gigantesco pato inflável de nylon e borracha, com 12 metros de altura, 12 de largura e 15 de comprimento, criado pelo artista holandês Florentijn Hofman para a Mostra SESC de Artes.

Ele é exatamente o que um pato de borracha deve ser: amarelo, contente e sincero, só que tem o tamanho de um pequeno edifício. Na entrada do SESC, quando se pergunta onde fica o lago, a resposta da funcionária é clara: “Para ir ao lago você desce a ladeira por aqui, vai descendo, descendo até ver um pato”. A instalação conquistou a simpatia dos usuários do clube, que gostariam de vê-lo para sempre naquelas águas. “Está muito bonitinho esse pato”, afirma uma senhora. “Pensei que fosse um pinto”, diz outra. Nos dias de sol, a criatura de borracha fica ainda mais alegre e o povo aproveita para tirar fotos. “Tira uma de mim do lado do pato”, pede Daiane Cibele da Silva, de 21 anos, que foi visitar a obra com as amigas. “Acho até que tem que virar um ponto de encontro, tipo: ‘estou te esperando lá no pato’.”

A ave de borracha já esteve no estuário do rio Loire, na França, em dimensões ainda maiores. O mesmo artista também criou um coelho doce de 6 metros de altura, um piano gigante e um corvo em Rotterdam. Pintou de azul todo um quarteirão de edifícios e uma rua de amarelo. Confeccionou um rato almiscarado de palha, madeira e metal, que serve de mascote de um vilarejo e fica deitado de barriga para cima com seus 30 metros de altura. E fez um porco inflável entalar no corredor do menor museu do mundo, o Museum van Nagsael, em Rotterdam.

Com essa proposta humanitária, é a segunda vez que um pato de borracha faz história na geopolítica mundial. Em 1992, um navio chinês a caminho de Seattle tombou, lançando ao mar 30 mil patinhos de borracha, além de sapinhos e tartarugas infláveis. A partir de então, a IMO (International Maritime Organization) rastreia a carga perdida com o objetivo de estudar as correntes marítimas. A odisséia dos patinhos começou no Ártico, passou pelo mar de Bering, Groenlândia e Islândia, com muitas baixas registradas na frota. Depois de doze anos, os patos aportaram na costa norte-americana, embora desbotados e livres das embalagens originais que os juntavam em grupos de quatro.

O mapa da incontinência

Posted: 1st novembro 2008 by Vanessa Barbara in esquinas, Reportagens, Revista piauí
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AH1295550752x0234Piauí n. 26
Novembro de 2008

por Vanessa Barbara

São Paulo para bexigas hiperativas

Em Dinajpur, Bangladesh, o sujeito se agacha atrás de um arbusto e começa a fazer suas necessidades. É interrompido por um agitado grupo de crianças com apitos e bandeirolas vermelhas. Enquanto o homem sai correndo segurando as calças, eles fincam uma bandeira no monte de excremento: “Seu cocô está marcado”, gritam, num documentário transmitido pela rede BBC sobre as condições de saneamento na região.

Para a ONU, 2008 é o Ano Internacional do Saneamento. Alguns projetos não-governamentais, como o Saneamento Total Liderado Pela Comunidade, eliminaram a defecação a céu aberto em centenas de vilarejos de Terceiro Mundo. Seu líder, o indiano Kamal Kar, contou com a mobilização dos grupos comunitários para a construção de latrinas. As crianças lideraram passeatas e inventaram slogans contra a livre defecação. Seus pais ergueram banheiros públicos.

Em São Paulo, praticamente não há sanitários públicos para a população em estado de emergência. Os banheiros do centro foram fechados devido à prostituição, ao vandalismo e ao tráfico de drogas. No caso do toalete localizado no vale do Anhangabaú, a prefeitura chegou a fazer uma licitação para privatizar as instalações, mas ninguém se interessou. O lugar fica trancado e só a guarda metropolitana o utiliza. No metrô, por causa das mesmas alegações (vandalismo, tráfico), a operação dos toaletes foi terceirizada; hoje a maioria é paga. Na rua, o paulistano fica vulnerável ao xixi na calça e à dor de barriga.

Por aqui, impera a ditadura das chaves nas padarias e do “banheiro exclusivo para clientes”. No centro, onde a revolução dos bexigas-fracas chegou antes, os bares vivem cheios de gente que só entra para usar o banheiro. Nas áreas mais nobres, é preciso pedir alguma coisa para comer e retirar a chave no balcão.

Pensando no cidadão apertado e na ausência de matinho na cidade, piauí, ciosa que é das grandes questões humanitárias, prestou um serviço social elaborando o mapa dos principais banheiros femininos gratuitos na região da avenida Paulista (os masculinos ficam para uma edição por vir, ampliada e com capa dura). Tal qual um guia Michelin, os onze estabelecimentos sanitários foram classificados segundo higiene, odor, funcionalidade, conforto e materiais de apoio (papel higiênico e sabão), em notas de um a cinco. Outros requisitos também foram levados em conta, como o acesso irrestrito e a pressão da descarga.

As grandes revelações desse ranking foram os banheiros dos shoppings e do McDonald’s, tradicionalmente acessíveis à plebe com dificuldades renais. O campeão absoluto foi o do Shopping Paulista, que, asseado e suntuoso, ganhou nota máxima do júri. O reservado tem hall de entrada com quatro majestosas poltronas, espelho de corpo inteiro, mesa de mármore para anotações, vaso de flores e lustre de pingentes. O banheiro é limpo, possui vastas quantidades de papel higiênico, pendurador de bolsas, sabonete líquido em sistema de espuma (cada acionamento libera 0,4 ml, permitindo uma economia três vezes maior em comparação ao sistema convencional), máquina de papel para limpar as mãos com sensor automático e descarga de ótima pressão.

Desempenho louvável teve, também, o espaço cultural Casa das Rosas, do outro lado da rua, em cuja espaçosa cabine é possível assentar uma família de sem-terra. Mas como tamanho não é documento, o banheiro ganhou três estrelas, pois é unissex, não está sinalizado e não tem sabonete para lavar as mãos. Mesmo assim, no momento do teste, um senhor coreano saiu do reservado com ar satisfeito. Pudera: trata-se de um enorme banheiro com duas pias (uma delas com torneiras antigas), quadros, acesso para deficientes e porta com maçaneta dourada.

***

Como o alívio emergencial desconhece hora ou local apropriados, avaliou-se também o banheiro do Hospital Santa Catarina. Apesar do olhar desconfiado dos seguranças, o que se encontrou foi um recinto quatro estrelas, que estava sendo higienizado no momento exato da pesquisa. Além disso, o hospital conta com um bebedouro de galão, conveniente em termos de retroalimentação das bexigas.

Outro banheiro analisado foi o do Shopping Boulevard Monti Mare, também conhecido como “o novo Stand Center”, antiga meca de muambas eletrônicas fechada pela Justiça e que distava a 500 metros dali. O estabelecimento fica no número 392 da Paulista e possui um banheiro novo, de três estrelas. Embora a descarga peque pela pressão baixa, o recinto é limpo, com seis pias.

Uma das piores latrinas analisadas na via-sacra urinária foi a do Shopping Veneza, já próximo à avenida Brigadeiro Luís Antônio. Ganhou uma mísera estrela, porque é escuro, sujo e malcheiroso. As portas das cabines não fecham e o papel higiênico, que fica junto à pia, deve ser coletado antes do ato. O sabonete líquido possui um estranho cheiro ocre e sai em poucas quantidades. Em suma, o ideal é andar mais uma quadra e visitar o banheiro do Top Cine, um dos mais tradicionais da cidade.

O toalete em questão está localizado no 1º andar da galeria, junto a caixas eletrônicos e bebedouros. Embora seja um sanitário de duas estrelas (três cabines estreitas, desconfortáveis e malcheirosas), ganha menção honrosa por estar sempre disponível a quem precisa. O secador de mãos é um pouco lento para quem tem pressa.

Ao lado do Top Cine, no 900 da avenida Paulista, estão os cinemas da Reserva Cultural. Os toaletes localizam-se a um lance de escadas, no subsolo, e aparentam ser mais do que são: o vidro fumê das portas, o toque cítrico do sabonete e a cor branca das suntuosas pias disfarçam o fato de ser um banheiro apenas mediano, de três estrelas. Do outro lado da rua, fica o banheiro da Fnac, no 1º andar da megastore, ao lado do café e de um purificador de água. O acesso é ruim e o sanitário, quase escolar, com lixo lotado de papel. Duas estrelas.

Na frente do antigo Stand Center, há outro novo estabelecimento de venda de produtos eletrônicos, sem nome e sem placa. A galeria localiza-se ao lado da Drogaria São Paulo (no número 1227). É um dos piores banheiros analisados, com cabines depredadas e um buraco no teto, encaixando-se na categoria decadente de bathroom and breakfast.

No que tange à avenida Paulista, é melhor ter problemas na bexiga antes do Trianon. Da metade para o fim, o público conta com uma escassez de banheiros: um deles é o do Bob’s, duas estrelas por estar no fundo da lanchonete. Muito distinto do rival McDonald’s, a meca do alívio urinário, seja aqui ou na China. O líder de oferta sanitária cumpre seu papel histórico e apresenta um banheiro padronizado, de dinâmica fácil e acessível ao cidadão de qualquer nacionalidade. Ainda assim, rígido que é, o comitê julgador lhe dedica apenas duas estrelas: pecou pela tampa de privada quebrada e pela decoração de pastilhas vermelhas e amarelas. Mas justiça seja feita: os demais McDonald’s da cidade possuem toaletes bem respeitáveis.

Em suma, se você está em São Paulo e precisa atender ao chamado da natureza, não hesite: vá a Bangladesh.

Paisagens da crítica – Amarelo

Posted: 27th outubro 2008 by Vanessa Barbara in Clipping
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Paisagens da crítica
27 de outubro de 2008

por Júlio Pimentel Pinto

O Livro Amarelo do Terminal inverte o célebre ditado. Há males que vêm para bem – sabemos. E há bens que vêm para mal – aprendemos.

O bem que veio para mal, no caso, é o projeto gráfico do livro. Ele é quase todo impresso sobre papel amarelo, de baixíssima gramatura, com tipos pequenos dispostos em espaço duplo. A parte histórica sugere carbono roxo sobre papel branco. Intervenções no mesmo padrão-carbono, ou mimeógrafo, preenchem e diversificam o visual, junto com outros elementos gráficos salpicados aqui e ali.

O projeto sem dúvida é criativo e tenta ampliar os significados do texto. Peca, porém, pelo excesso. No lugar de auxiliar, polui. A boa intenção acaba por atrapalhar a leitura.

E é uma pena, porque o livro de Vanessa Barbara é muito bom. Não precisava do apoio que o design tenta dar e que acaba por nublar o texto fluido e divertido que mostra a pesquisa da autora sobre o caos instaurado na Rodoviária do Tietê. Porque O Livro Amarelo se dispõe a mapear o maior terminal de ônibus de São Paulo e, para tanto, segue os caminhos de suas gentes e coisas.

Vanessa Barbara é boa jornalista. Escreve na Piauí e, mais recentemente, no Estado. Também escreveu um bom romance em parceria com Emilio Fraia. Sobretudo sabe combinar leveza e densidade. Na origem, fez O Livro Amarelo como monografia acadêmica. Sem nada do enfado que a academia oferece. Vanessa é sutil. Seu texto mistura registros variados: passa do relato de observação à análise psicológica, da sátira ao lirismo que alguns personagens inspiram, da crítica política ao desvendamento da intimidade.

A organização do livro é também engenhosa: associa temas e espaços, percorre itinerários (nos vários sentidos), perscruta o lugar e, de algum jeito cifrado, pergunta: o Terminal tem alma? Para responder, nostalgicamente, que sua única alma é mutante na aparência.

Não, não precisava sobrecarregar o visual do livro. Bastava expor a escrita aguda do tempo presente. Porque O Livro Amarelo trouxe de volta a crônica, atualizando-a numa época em que a supúnhamos quase morta e sepultada – com raras e honrosas exceções.

Ao subir e descer nos níveis da Rodoviária, Vanessa B. também associa tempos: o passado-tão-presente da construção e das transformações da Rodoviária ao presente-tão-antigo do movimento atual. De ambos ao futuro incerto e, não paradoxalmente, previsível, em que seus personagens estão fadados à repetição das mesmas cenas, presos no mesmo labirinto de corredores que tentou fixá-la e foi rompido pela boa escrita e, diria Cabral, por sua agulha do instante.

Vanessa Barbara. O Livro Amarelo do Terminal. São Paulo: Cosac Naify, 2008


Paisagens da Crítica já comentou o romance de Vanessa Barbara (em parceria com Emilio Fraia), O verão do Chibo (28 de julho de 2008).

Vai, Beethoven

Posted: 26th outubro 2008 by Vanessa Barbara in Crônicas, Metrópole, O Estado de São Paulo
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Com o cotovelo não pode”, grita um popular. “Tá saindo música aí?”, pergunta uma senhora, em meio à roda de curiosos. São duas da tarde de uma sexta-feira no Largo de Santa Cecília, em frente à estação de metrô, e há um piano à disposição dos passantes. “Isso aí é mais brinquedo do que instrumento”, repara uma baixinha de óculos, criticando impiedosamente a técnica dos músicos.

O projeto se chama “Play Me I’m Yours” (toque-me, sou teu) e faz parte da Mostra SESC de Artes 2008, que distribuiu oito pianos em pontos estratégicos da cidade, como o Pátio do Colégio, o Poupatempo da Sé e a Estação da Luz. Durante dez dias, a população pôde apreciar e usar o instrumento à vontade. Alguns ficaram tímidos e só observaram de longe, como uma moça, que justificou: “É que eu toco muito bem, daí iria aglomerar muita gente e obstruir a entrada do Metrô.”

Nesse dia, muitos cruzaram com o piano e tentaram dar sua contribuição à música mundial. Daniel, jovem morador de rua, castigou as teclas envolto numa manta xadrez. Na seqüência, veio a jovem Rebeca Prudente, que “faz isso quase sempre”, e um sujeito chamado Daniel, que tentou tocar a música-tema do filme Caça-Fantasmas, mas só o que conseguiu foi uma canção não identificada. O transeunte Severino Galdino também se aventurou, e uma moça lhe perguntou: “Você sabe tocar o Bife?” Ali mesmo, diante da igreja de Santa Cecília, padroeira dos músicos, veio também um senhor de gorro marrom e mochila nas costas, perguntando se o piano estava à venda. Disse que conhecia a marca do instrumento (Fritz Dobbert) e, ajeitando os óculos, perguntou se podia fazer as honras. Sentou-se na banqueta e tocou habilidosamente Beguin the Beguine e Águas de Março. Seu nome era Ideval Araújo e ele foi ovacionado pelo público, que gritava: “Vai, Beethoven.”

Quem também apareceu para tocar foi uma figura lendária em Santa Cecília, Daniel Brasileiro, que se diz autor da música Fogo e Paixão, cantada pelo Wando. Ele mora há 23 anos na região e é conhecido como compositor. Daniel age como protetor do piano e, às vezes receoso das cinzas, confisca o cigarro dos músicos. Ele toca Fascinação, Gracias a La Vida e dá lições de piano aos curiosos. Vez ou outra, faz uma pausa e vira para a platéia: “Quando toquei para 10 mil pessoas, era só eu e o piano.”

Alguns tocam com dois dedos, outros só passam e martelam as teclas. Em Santa Cecília, tocou a garota de vermelho, o amigo de boné, o moleque de uniforme. Tocou gente de madrugada, como Alexandre Piacsek e seu Acácio, que ficaram amigos. Tocou pianista clássico, professor de música, deficiente visual e criança. Tocou um senhor barbudo que abriu caminho entre os mendigos e improvisou o Hino do Corinthians. Teve até gente que tocou Raul Seixas e um sujeito que admitiu: “Bebi tanto que não sei como estou acertando as notas.”

Entre livros e desgostos

Posted: 15th outubro 2008 by Vanessa Barbara in Clipping
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Site de jornalismo/Cásper Líbero
15 de outubro de 2008 – 15h05

Por Larissa Morgato, 1º ano de Jornalismo

Vanessa Barbara fala da produção de livros e diz que se sente “um legume”

Repórter especial de “assuntos tolos” da revista piauí, Vanessa Barbara, 26 anos, escreve quinzenalmente sobre “doenças infecciosas do baço” para o jornal O Estado de S. Paulo, é seguidora convicta de Borges, Beckett e Talese e ácida quando se trata da postura, segundo ela, irritante, dos jornalistas.

O Livro Amarelo do Terminal (Cosac Naify, 2008) e O Verão de Chibo (Objetiva, 2008) foram as obras que projetaram a jornalista à “fama”. O primeiro é fruto de seu trabalho de conclusão de curso (TCC) de Jornalismo e, junto ao segundo, rendeu-lhe o convite para participar da Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP) deste ano.

Barbara, formada pela Faculdade Cásper Líbero, embora conteste os cursos de jornalismo, afirma que foi “apresentada” a alguns dos seus autores de referência por professores da instituição. Crítica e irônica, a jornalista, nesta entrevista concedida por e-mail, fala do que carregou da sua formação, das dificuldades e delícias da apuração para o Livro Amarelo e da produção de livros – estes que, como ela afirma, nunca começam a ser escritos quando começam “de fato” a ser escritos.

Adendo: devido a tamanho assédio, a entrevistada afirma se sentir um legume.

Em seu almanaque virtual A Hortaliça, há trechos de livros do escritor Julio Cortázar. A professora Nanami Sato [docente de Língua Portuguesa na Cásper Líbero] nos contou que, provavelmente, o seu primeiro contato com a obra do escritor foi em suas aulas. Há outras contribuições importantes que a Faculdade trouxe para a sua vida pessoal e profissional?
Não. A faculdade só me trouxe desgosto e raízes brancas. Algumas exceções: a Nanami me apresentouO Jogo da Amarelinha e Todos os Fogos o Fogo, além de Zola, Camus e Poe. O Welington [Andrade, professor de Técnica de Redação e vice-diretor da Cásper] me apresentou Alice e Beckett. Alguns professores foram importantes e valeram a pena, como o Marcelo Coelho [ex-professor de Jornalismo Cultural] e o Sergio Amadeu [hoje docente da pós-graduação da Faculdade]. O resto é Jornalismo Básico I, II e III (quando é que vem o Jornalismo Avançado?) e disciplinas que falam sobre a eletrizante rotina nas grandes redações, além de professores ensinando lead, alunos deslumbrados e estagiários querendo trabalhar na Folha. A Cásper Líbero é um colegial que não serve pra muita coisa.

Na imprensa muitos a apontam como um novo expoente do jornalismo literário brasileiro. O seu estilo, principalmente na revista piauí e no seu almanaque, está situado entre o jornalismo e a literatura do fantástico. Quais foram as suas influências, além de Cortázar, na formação de sua bagagem cultural?
Flaubert, Borges, Sterne, Salinger, Poe, Kafka, Cervantes, Campos de Carvalho, Carroll, Beckett. No jornalismo, Gay Talese, Joseph Mitchell, Truman Capote, Hemingway, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, John dos Passos, Lilian Ross.

Como surgiu a idéia de realizar o Trabalho de Conclusão de Curso na Rodoviária do Tietê? O objetivo sempre foi relatar histórias curiosas daqueles que transitavam pelo Terminal? Queria fazer um livro sobre as ruas de São Paulo, mas teria que falar de calçadas, semáforos e meios-fios, então acabei escolhendo a rodoviária porque é o lugar que mais se parece com a rua. O terminal traz histórias que ilustram contradições da metrópole: a modernização, o movimento repetitivo das pessoas que vão-e-vêm sem pensar, a inconstância, a idéia de massas; e, por outro lado, a sensação de não-pertencimento, a vontade de retornar ao lugar de partida, o anacronismo dos personagens, a permanência – aquilo que nunca muda.

Em seu livro, há muitas histórias surpreendentes e que não só fazem rir, mas nos mostram uma parte desconhecida da Rodoviária. Na elaboração do Livro Amarelo alguma história apurada no Terminal foi retirada do trabalho final?
Sim, várias. Deixei de fora um capítulo sobre os bandeirantes que escrevem cartões de Natal e outro escrito em forma de peça de teatro. Da edição final, saiu um capítulo de que eu gosto muito, o da viagem ao Chile (o destino mais distante do Tietê), que cortamos por ser um relato de segunda mão, ou seja, eu não cheguei a fazer essa viagem, só conversei com gente que tinha feito. O Cassiano Elek Machado, meu editor, fez umas sugestões precisas que me ajudaram bastante nesse tom amarelo final.

A burocracia da Socicam (empresa que administra os Terminais Rodoviários) a impediu de conseguir informações importantes. Quais foram as outras dificuldades enfrentadas na apuração dos dados do livro?
Conseguir os documentos da Companhia do Metrô e as reportagens dos jornais antigos sobre a construção e a inauguração do terminal. É muito mais difícil do que parece: encomendei uma pesquisa no arquivo da Folha de S.Paulo e microfilmei exemplares do Estadão no Arquivo do Estado. Encontrei edições de A Gazeta da Zona Norte numa biblioteca municipal em Santana. Copiei outras coisas e fui achando clippings do Jornal da Tarde e da revista A Construção de São Paulo na Casa da Memória Paulistana. Foi um processo lento e difícil, com ofícios e telefonemas para todos os lados. Passei por maus bocados para atualizar os valores monetários e me perdi em calculadoras e contadores solícitos.

Como relatado no livro, ao contrário da administração da Rodoviária, os funcionários lhe contavam histórias de suas vidas, fatos corriqueiros etc. Como era a relação de entrevistador-entrevistado mantida com essas pessoas  e como eram as abordagens e as reações das pessoas entrevistadas para o Livro Amarelo?
Eu sentava, me apresentava e puxava conversa. A coisa mais abominável no jornalismo é abordar as pessoas do alto, com câmera, microfone e carteirinha (eu sou Fulano de Tal e trabalho para a revista Queijos), e sair fazendo perguntas ruins com respostas óbvias (como você se sente ao perder a passagem?). O legal é sentar e ir conversando sobre qualquer coisa. Essa superioridade de jornalista é irritante e só produz reportagens ruins.

A impressão que fica ao terminarmos a leitura do Livro Amarelo é que ele foi resultado de uma grande serendipidade [grandes descobertas feitas por acaso]. Qual a sua opinião a respeito de entrevistas feitas com perguntas pré-definidas e fechadas em oposição à técnica da tradição oral?
Na faculdade, fiz uma monografia sobre inclusão digital usando a técnica das histórias de vida, que permite ao entrevistado falar o quanto quiser, sobre o que quiser. As perguntas eram bem abertas, para deixar o entrevistado dizer o que lhe era importante. O objetivo dessa técnica é obter registros da experiência efetiva dos narradores, tradições e crenças, narrativas de ficção etc. Segundo a pesquisadora Maria Isaura Pereira de Queiroz, “a história de vida se define como o relato de um narrador sobre sua existência através do tempo, tentando reconstituir os acontecimentos que vivenciou e transmitir a experiência que adquiriu. (…) Porém, o relato em si mesmo contém o que o informante houve por bem oferecer, para dar idéia do que foi sua vida e do que ele mesmo é. Avanços e recuos marcam as histórias de vida; e o bom pesquisador não interfere para restabelecer cronologias, pois sabe que também estas variações no tempo podem constituir indícios de algo que permitirá a formulação de inferências; na coleta de histórias de vida, a interferência do pesquisador seria preferencialmente mínima”.

Jornalistas como Talese e Capote acreditam que não se deve utilizar gravadores ao se realizar uma entrevista para que o entrevistado se sinta à vontade e possa revelar o que realmente interessa. Qual a sua opinião a respeito e qual é o seu método: a memória, o gravador ou o bloco de anotações?
Um pouco de cada, depende do entrevistado. No Amarelo, usei só o bloco e a memória, por isso às vezes tinha que sair correndo e despejar tudo no papel antes de esquecer ou me distrair com sorvetes. Continuo adepta do papel e gosto muito de deixar o gravador do iPod ligado, preso no cinto.

Desde o começo do curso de Jornalismo você se identificou com a profissão?
Eu queria desistir desde a primeira semana, mas a matrícula foi cara e fui empurrando com a barriga… Na verdade, sou contra o curso de jornalismo e preferia ter feito qualquer outra coisa, História, Letras, Ciências Sociais, Física, Botânica, qualquer outra disciplina que tenha realmente o que ensinar – com bibliografia e pesquisa decente, disciplinas optativas e professores de verdade. Fora que no curso de jornalismo todo mundo se leva muito a sério. Estudante de jornalismo se leva muito a sério.

Com apenas 26 anos e dois livros publicados por editoras de prestígio, como é sentir-se nessa posição de destaque no mercado?
Eu me sinto um legume.

Quais são os seus projetos futuros? Existe alguma idéia ou assunto para o seu próximo livro?
Meu próximo romance se chama O Livro Negro da Cócora e é sobre uma menina que perdeu a nuca. Pretendo continuar como tradutora da Companhia das Letras e repórter especial de assuntos tolos napiauí. No Estadão, vou escrever quinzenalmente sobre o bairro do Mandaqui e as doenças infecciosas do baço.

Como surgiu a parceria de escrever um livro a quatro mãos com o jornalista Emilio Fraia? Vocês têm algum projeto para outro livro?
Nós tínhamos lido uma frase do Kafka, de um conto chamado “Comunidade”, e ela dizia que “além do mais somos cinco e não queremos ser seis”. Isso foi mais ou menos ao mesmo tempo em que a gente pensou em escrever uma história cujo início fosse num tiroteio de balas de goma. Não tem muita lógica (e não sabemos exatamente como surgiu a coisa da plantação). O que nos faz pensar também que um livro não começa a ser escrito quando começa (de fato) a ser escrito. Ele começa antes e depois, e por muitas vezes — caolho, com sono, dor de barriga, soluço, apendicite, dor de dente. O Verão, que começou quando a gente se conheceu e começou de novo quando o Chibo não desceu do carro pra brincar com os amigos, começou muitas outras vezes, e quando descobrimos que os personagens não se entendiam muito bem e que tínhamos ali algo sobre a dificuldade de expressar certas coisas, sobretudo as mais importantes.

O Mandaqui e sua lógica

Posted: 12th outubro 2008 by Vanessa Barbara in Crônicas, Metrópole, O Estado de São Paulo
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O distrito do Mandaqui fica na zona norte de São Paulo, tem 13 km², 24 bairros, 103 mil habitantes, 39 favelas, uma pedreira, duas escolas de balé, oito paróquias, uma biblioteca, moradores confusos e um fuso horário diferente. De ônibus, seu bairro principal, o Alto do Mandaqui, fica a uma hora e meia da civilização e a 20 minutos das estações de metrô mais próximas, Santana e Jardim São Paulo. Talvez por isso seja um universo à parte, onde as coisas não seguem a mesma lógica do resto da cidade.

É um bairro onde costuma faltar luz e a bocha é um esporte respeitável. No Mandaqui, as lojas têm nomes de pessoas, e não epítetos comerciais: quem vai à papelaria, diz: “Vou na Vanilda”, quem precisa ir à farmácia, diz: “Vou no Seu Décio”; para comprar verduras é no Seu Eliseu, para consertar a televisão é no Akira, a podóloga é a Sandra, e a dentista é simplesmente “a dentista”. No Mandaqui, quando um ônibus se perde do itinerário, o povo sai na rua para conferir. Já é lendária a história de um 178L – Lauzane/Hospital das Clínicas que desceu uma pequena rua residencial, inexplicavelmente longe de seu trajeto normal, e provocou comoção nos nativos.

No Mandaqui há cavalo desgovernado, tiroteio na praça, santa encontrada no córrego, gente de pijama na rua e carteiros cantores que ajudam os amigos a vender mandioca. Às vezes, os motoristas de ônibus desviam da rota para levar um passageiro até a porta de casa ou para tomar um suco na cozinha de alguém. De vez em quando, um cadáver é encontrado no córrego e um brechó abre em alguma esquina. Há estabelecimentos com nomes sugestivos, como a choperia Mandacá e a veterinária Mandacão. Há a maior piscina de bolinhas da América Latina, a Amazing Balls, que abriga 310 mil esferas multicoloridas e promoveu, em 2005, uma comemoração ao Dia da Madrasta.

No último dia 6, o Mandaqui completou 120 anos de fundação. Seu nome vem do tupi “rio dos bagres”, o que dispensa comentários, mas há também outras versões. Uma delas remete a um antigo morador, que, ao encontrar em sua propriedade os funcionários da Companhia da Cantareira, disse que quem mandava ali era o “filho do meu pai”, ou seja, ele mesmo. Com o tempo, os vizinhos passaram a se referir à área como a terra do Mandaqui.

Nesse peculiar vilarejo, às vezes caem barras de ferro do céu (como num dia, em 1990, fato que ainda não teve explicação) e praças surgem da noite para o dia, como a saudosa Praça Tito. Situada num ponto da Rua Cel. Joaquim Ferreira de Souza, a praça foi criada por um nativo e consistia numa área repleta de ervas daninhas e arbustos venenosos. Naquele pequeno espaço, havia uma cadeira carcomida de cor bege e um cartaz de papelão, onde se lia: “PRAÇA TITO. Favor não estragar a mobília.” Infelizmente, o logradouro não existe mais.

O dia-a-dia da cidade e outros causos

Posted: 11th outubro 2008 by Vanessa Barbara in Clipping
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O Estado de S. Paulo
11 de outubro de 2008

Novos colunistas, Vanessa e Martins se debruçam sobre a metrópole

Amanhã e segunda-feira, dois novos colunistas passam a ocupar a contracapa do caderno Metrópole. Eles se juntam a Tutty Vasques, que desde abril assina coluna de humor de terça a sábado. Amanhã, quem estréia é a jornalista Vanessa Barbara, apontada como escritora-revelação e também repórter da revista Piauí. Na segunda-feira, é a vez do sociólogo José de Souza Martins, autor de 25 livros e colaborador do caderno Aliás. As colunas serão quinzenais – a cada semana, eles se revezam com o escritor Antonio Prata e o jornalista Fred Melo Paiva, respectivamente.

Vanessa Barbara, autora de O Verão do Chibo (em parceria com Emilio Fraia) e de O Livro Amarelo do Terminal, diz que pretende escrever, em sua coluna, pequenas reportagens e perfis ‘com tom de crônica’. ‘Quero contar ao leitor um pouco do que ouvi no ônibus, no metrô, mostrar uma cidade que eles conhecem, mas não se dão conta’, diz a escritora, paulistana, de 26 anos. A inspiração, conta Vanessa, virá do que lhe chamar a atenção nos passeios que costuma fazer pela cidade. ‘Outro dia, por exemplo, me deparei com um pato de borracha gigante boiando no lago do Sesc Interlagos. Não seria interessante ler sobre algo assim?’, adianta, aos risos.

Em sua primeira coluna, Vanessa vai logo escrevendo sobre algo que lhe é caro – o bairro paulistano do Mandaqui, na zona norte, onde nasceu e viveu até o mês passado. ‘Serve para apresentar ao leitor um pouco do meu mundo, mas o motivo principal é que o Mandaqui é um bairro tão surreal que merece ter um pouco da sua história contada’, diz. ‘É um lugar onde os alunos ainda têm estojos de lata na aula, um lugar esquisito onde o tempo parou.’

Leitora desde a adolescência de cronistas de renome – uma de suas influências é o escritor Luis Fernando Verissimo, colunista do Caderno 2/Cultura aos domingos -, Vanessa se diz empolgada com a nova coluna. ‘Serão histórias de pessoas que você vê na rua, chamam a atenção, mas com quem você não pára para conversar’, diz a jornalista, formada pela Faculdade Casper Líbero em 2003.

O sociólogo José de Souza Martins, de 70 anos, autor de 25 livros e co-autor de outros 57, diz que sua coluna virá para corrigir o que chama de ‘terrorismo metropolitano’. ‘São Paulo é incrivelmente maltratada. Todos falam que morar aqui é um inferno, que não é possível mais viver na cidade. Nas minhas colunas, vou convidar o leitor a amar e desfrutar a

cidade’, afirma Martins. ‘É a beleza de morar bem longe, pegar um ônibus ou o metrô, descer e assistir a um concerto, ler um livro raro na biblioteca. Essa é a São Paulo que quero mostrar.’ Em suas colunas, afirma o sociólogo, o leitor será convidado a embarcar nos seus ‘causos’. ‘Sou essencialmente um contador de causos. Serão textos explicativos e coloquiais, que convidam o leitor a conhecer um pouco mais a história da cidade’, afirma Martins, que já teve seus livros traduzidos em nove países.

Na sua primeira coluna, a ser publicada na segunda-feira, Martins discute a influência da ‘língua brasileira’, o nheengatu, nos nomes de lugares e no sotaque dos paulistanos. ‘Achei uma boa iniciar uma coluna num caderno que trata de assuntos das cidades, especialmente sobre São Paulo, com uma homenagem às origens do sotaque paulistano.’”

 

Terra Tecnologia
1 de outubro de 2008

Enquanto que para algumas pessoas vinte e poucos anos ainda é muito cedo para se lançar em uma carreira literária, para outros a idade é mais do que propícia. Que o digam os jovens escritores da “geração Internet”, que, sem se deixar levar pela dúvida e pela apreensão, entraram no mundo dos livros e agora começam a desfrutar o reconhecimento. Conheça algumas das novas caras da literatura brasileira e veja dicas para escrever boas histórias.

Geralmente o gosto por histórias e livros dos jovens escritores vem desde criança, como no caso do paulistano Emilio Fraia, 26 anos, co-autor de ‘O Verão do Chibo’ (ed. Alfaguara, 2008) ao lado da escritora e jornalista Vanessa Bárbara. “Aos 7 anos, escrevi meu primeiro livro, sobre uma rena motorizada. Foi uma edição familiar: foi feito na máquina de escrever do meu pai e grampeado pela minha mãe, numa tiragem de dois exemplares”, brinca Fraia, cujo atual projeto é uma graphic novel em parceria com o desenhista curitibano DW.

Apesar de poder parecer cedo para se começar uma carreira de escritor, para Vanessa, 26 anos, que, além de ‘O Verão do Chibo’ também tem no currículo ‘O Livro Amarelo do Terminal’ (ed. Cosac Naify, 2008), sobre o Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo, a idade é uma questão relativa e depende muito do espírito do autor.

“Tenho 26 anos, mas a mentalidade é de 80, o que me classifica como a mais idosa das escritoras”, explica Vanessa. “A parte boa é que meu período de terceira idade deve durar ainda uns cinqüenta anos, portanto poderei publicar livros sobre todos os assuntos que quiser’, conclui a jovem autora.

A gaúcha Carol Bensimon, 26 anos, autora de ‘Pó de Parede’ (ed. Não Editora, 2008), também acredita que estreou na hora certa. “Até acho que demorei. Quer dizer, tenho 26 anos e isso pode parecer cedo, mas eu já estava escrevendo com alguma seriedade desde os 20. Nesse meio tempo, ganhei uns concursos literários, publiquei contos em revistas e jornais, mas ainda não me sentia no ponto para uma estréia. Além do mais, eu não queria simplesmente pegar um monte de histórias e colocar num livro, queria que o conjunto de textos fizesse algum sentido”, explica Carol, que atualmente trabalha na sua segunda obra, ‘Sinuca Embaixo D’Água’.

Além da idade, muito desses escritores têm em comum a influência de certos autores renomados da literatura mundial. Gustave Flaubert, J. D. Salinger, Franz Kafka, Julio Cortázar, Jorge Luis Borges, Edgar Allan Poe, Miguel de Cervantes, Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald são alguns dos nomes mais citados nas listas de favoritos dos jovens escritores. Cinema, artes e música também servem de referência para esses autores, como é o caso da poetisa carioca Bruna Beber, 24 anos, que cita Beatles, Roberto Carlos, Tim Maia, Bob Dylan e Neil Young como algumas das principais influências na sua formação.

Bruna publicou seu livro de estréia ‘A Fila Sem Fim dos Demônios Descontentes’, em 2006, pela editora 7 Letras, e planeja o lançamento de seu segundo livro, ‘Balés’, para o ano que vem. Para a carioca, a Internet ajudou muito a divulgar o trabalho de escritores jovens.

“A gente tem mais espaço do que tinham nos anos 70, por exemplo, quando os mimeógrafos foram um grande meio pra que a poesia circulasse. Mas a Internet abriu um espaço maior ainda, e a minha geração apareceu por meio da Internet e soube usá-la da melhor maneira”, explica Bruna.

A autora acredita que publicar seu trabalho é a melhor atitude que um jovem escritor pode tomar. “A partir do momento que você percebe que tem um livro, mesmo que venha saber mais tarde que não estava na hora, você deve publicar, fazer com que as palavras circulem. É um risco abrir a gaveta pela primeira vez, mas também não é uma prova de fogo, é só o começo”, aconselha. “Os erros aparecem, é normal, mas você corrige com o tempo”, conclui Bruna, dando uma dica a todos aqueles que desejam ingressar no mundo da literatura.

O mundo em um terminal

Posted: 30th setembro 2008 by Vanessa Barbara in Clipping
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Revista Paradoxo
30 de setembro de 2008

por Alysson Oliveira