A Hortaliça

www.hortifruti.org

Pombas!
Edição #006, de 6 de fevereiro de 2002.
Classificação: quê??!
Periodicidade: de tanto em tanto
Tiragem: 100 exemplares

hortalica@gmail.com
Veja! A coerência está se esvaindo, mamãe

 

"O que eu penso da Mafalda não importa.
Importante mesmo é o que a Mafalda pensa de mim"
(Julio Cortázar)

 

EDITORIAL
Vanessa Barbara
 

Pois é, agora temos 100 assinantes. Ninguém se mova!! Um suspiro, e a ordem natural das coisas estará ameaçada.

A existência de 100 leitores desta... ahm, digamos, publicação, me leva a crer que a humanidade vai ser sugada a qualquer momento por um grande buraco de tédio e ociosidade, e se tornará uma colossal massa disforme de Falta de Coerência. A qualquer momento. É a velha história: garota está entediada e cheia de aftas, vai à feira comprar pepinos, conhece um Zine precisando existir, eles se olham, trocam telefones, combinam uma pescaria e zás!: logo estão morando na Louisiana, criando moluscos raros e acabam por devastar 30 acres de um campo repleto de batatas, tudo por causa das malditas aftas. É sempre assim. Mas não vai se repetir, não dessa vez.

Bom, eu teria que dizer o que há de bom e ruim nesta edição, mas deixa pra lá. Se você encontrar algum sentido na disposição das letras, na colocação das frases, no mérito comunicativo de algum desses artigos aí embaixo, já é um avanço considerável. Como disse a saudosa Stephanie (diga alô para os seus amiguinhos da Casa de Saúde): "droga, novamente a coerência se afasta deste local! A congruência de assuntos não existe!".

Fazemos nossas as palavras dela, ou dela as palavras nossas, ou nossa! cadê as palavras dela?, e terminamos por aqui este emaranhado de bobagens. Vida longa e próspera a nossa centena de comparsas, e que vocês procriem logo (entre si) e alfabetizem seus filhos, pra que possamos crescer ainda mais, sem qualquer esforço. Saudações.


:: HISTÓRIA ::
Julio Cortázar

O cronópio pequenininho procurava a chave da porta da rua na mesa de cabeceira, a mesa de cabeceira no quarto de dormir, o quarto de dormir na casa, a casa na rua. Por aqui parava o cronópio, pois para sair à rua precisava da chave da porta.


:: O VELHO::
por Mário Quintana (reverenciem), mquintana@me-mimem.com.br

O que eu mais temo – escrevi eu em um dos meus agás – não é o Sono Eterno, mas a possibilidade de uma insônia eterna – o que seria uma verdadeira estopada, um suplício sem fim. Porém, em uma das minhas costumeiras noites de sonho acordado, o meu amigo morto me pediu um cigarro, e disse-me:

– Não é como tu pensas, todos nós trabalhamos numa série infinita de escritórios (cada geração de mortos num deles) onde a gente se entrega a um sério trabalho de estatística: tem-se de anotar a chegada de cada um e comunicar-lhe o respectivo número, pois isso de nomes é mera convenção terrena. O pior são os que atrapalham a escrita, morrendo antes do tempo – ou porque se mataram ou por culpa dos médicos, e estes ainda são culpados quando fazem os doentes morrer depois da hora, numa espécie de sobrevida artificial, já que os médicos (diga-se em sua honra) julgam criminosa a prática da eutanásia... Uma pena!
- E fora do expediente, o que fazem vocês?
– Bem, a hora do almoço não deixa de ser divertida por causa dos Santos: põem-se a discutir acaloradamente qual deles fez na Terra o maior número de milagres e outras futilidades.
– E nos serões, eles jogam prenda?
– Mais respeito, seu vivo!... Bem! Nos serões eles fazem concursos para ver quem é que diz de cor mais versículos da Bíblia. Uma bobagem! Todo mundo sabe que o único que sabe a Bíblia de cor, tintim por tintim, é o Diabo.
- E Deus? Me conta como é Ele...
- Ah, o Velho? Desconfio que certa vez O vi...
- Só certa vez? Ele não está sempre no céu?
– Bem, tu deves compreender que Ele se preocupa principalmente com os vivos. O Velho está quase sempre é na Terra, lidando com os assuntos humanos. Ele e o Diabo, Sim, os dois vivem a maior parte do tempo na Terra.
– Ora, eu pensava que vocês soubessem mais do que nós... Mas conta-me lá como foi que desconfiaste de ter visto o Velho?
– Foi há tempos, eu era recém-chegado, quando uma tarde apareceu de surpresa no escritório um velhinho muito simpático. Com as mãos às costas, curvava-se sobre cada mesa, inspecionando o nosso trabalho, por sinal que me atrapalhei, errei uma palavra. Ele bateu-me confortadoramente no ombro, como quem diz: "Não foi nada... não foi nada..." Ao retirar-se, já com a mão no trinco da porta, virou-se para nós e abanou: "Até outra vez se Eu quiser!".


:: PAVÊ DE CATALUPO COZIDO ::
disponível em www.catalupo.hpg.com.br

Ingredientes

- 1 pacote de bolacha de bife "Mabel"
- 250 gramas de banha de porco
- 2 latas de palmito
- 5 colheres de mel
- 3 talos de acelga
- 1 bife de fígado frito sem nervos
- 10 catalupos selvagens desidratados e sem casca
- gelatina de atum
- 2 filés de anchovas
- cominho a gosto

Modo de preparo

Misture tudo em uma panela resistente a corrosão e leve ao fogo. Certifique-se de não haver ninguém asmático dentro de casa. À medida que o cheiro se desprende do sistema, observe a consistência da massa. Se estiver verde musgo, com tonalidades pegajosas, mexa mais um pouco até o limite da repugnância. Não vomite para que a massa permaneça aquosa. Alguns talos de brócolis podem ser adicionados e cuidadosamente salpicados, a fim de ressaltar o tom esverdeado do concentrado e conferir-lhe um aroma agradável. Não se preocupe com as labaredas e continue adicionando cominho. Quando ouvir uma explosão, desligue o fogo e limpe os pedaços de anchova que grudaram no exaustor. Peça para os bombeiros esperarem e coloque a massa pastosa em forminhas, untando-as com corante para que pareçam saudáveis. Salpique com gergelim e sirva quente. Se o fogo ainda não tiver atingido os bujões de gás, corra.


:: O ZINE ACABOU. VAMOS CAÇAR BALEIAS! ::
por Herman Melville

Sempre que sinto na boca uma amargura crescente, sempre que há em minha alma um novembro úmido e chuvoso, sempre que dou comigo parando involuntariamente diante de empresas funerárias ou formando fila em qualquer enterro e, especialmente, sempre que a minha hipocondria me domina a tal ponto que necessito apelar para um forte princípio de moral a fim de não sair deliberadamente à rua e atirar ao chão, sistematicamente, os chapéus das pessoas que passam... então, calculo que é tempo de fazer-me ao mar, e o mais depressa possível.


:: CORRESPONDÊNCIA ::
e-mails aterrorizantes interceptados por uma escrivaninha de mogno

... e se falássemos em javanês? Ou uma língua comum pelo menos.

Levei anos construindo uma barca de moer catalupos, e mesmo assim choveu por 40 dias e 40 noites. Almocei todos os dias na cantina da Dona Iolanda, mas mesmo assim os pudins amoleceram e as batatas (já percebeu como é legal escrever batatas?), ó, as batatas, ficaram elas, as batatas, todas ensopadas.

Acabo de colocar um grande Sol e uma grande Lua na minha janela. E mesmo assim amanhece todo dia.

A natureza não quer cooperar, ó grande Ananás. Terei que destruí-la.

Estou cansada disso tudo. Acho melhor abandonar essa carcaça e viver em forma de besouro. Forma de um besouro gigante. Forma de um cubo de gelo.

Aguardo seu sinal para iniciarmos destruição da Terra. Ou pelo menos a bagunça do coreto.

com valescente,
Ananias

PS: E ah, deliz fia mas dães. Se cor o faso, claro.


:: LIÇÃO TOON ::
Com o patrocínio de Bunny, o Coelhinho Calado

Nunca confie num arbusto. É sério.


:: A OUSADA AVENTURA DO ENCANAMENTO FLUTUANTE ::
da Redação do DamnZine infiltrada no Reader's Digest

Chamai-me "Encanamento", e não atenderei. Meu nome é Astrogildo, e sinto um gosto de acelga frita desde sábado à tarde.

Eu estava ali, parado desde 1986, apenas vertendo água e pensando na vida, quando percebi que as coisas não mudavam de lugar - os telefones, as gardênias, as estantes de cerejeira e os dicionários, principalmente. Então resolvi me lançar ao mar, para caçar baleias, digo, meias. Digo, bolinhas. Digo, por mil demônios, o que seja.

[Neste momento o texto, extremamente intimista, faz uma pausa para a nota de rodapé. Conta-se a história de um garoto que tinha boas soluções para tudo, e quando sua bolinha de ping-pong caiu dentro do cano de PVC ele simplesmente encheu o cano de água e zás!, a bolinha apareceu. Comovente. Vou me lembrar disso mais tarde.]

Meti uma ou duas camisas dentro de uma inexistente bolsa de viagem, enfiei-a debaixo do braço e parti em direção a qualquer lugar. Peguei a primeira correnteza e dentro de 10 minutos já estava velejando em uma poça, no meio de uma avenida movimentada, a céu aberto. A bolinha de ping-pong também estava lá, bem como um pedaço de estopa, minhas meias 3/4, o volume Choupo-Dicotiledônia do dicionário e, é claro, o encanador, que me ameaçava com uma chave Philipps de cabo vermelho.

Voltei para meu enfadonho lugar de origem, ajudado por uma massa disforme de Durepox e marteladas nos lugares certos. Hoje sou casado, tenho um plano de saúde, 3 paletós para ir à missa e uma bola de boliche autografada pelo Dudley Moore. Aparo minhas costeletas todos os dias mas ainda olho com nostalgia para aquela avenida, que tantas emoções me trouxe e que um dia me sugará novamente pelas vielas tortuosas da liberdade. [Adicionar, em itálico, para os vovôs que não enxergam direito, ou para os lerdos que ainda não entenderam]: Todo americano médio devia sonhar com uma poça cheia de vida, bem à sua frente, chamando para a aventura quando se acha que a vida acabou.

[Essa história foi publicada no best-seller de K. R. Guggleheim, "Acredite Nos Seus Sonhos Ó Vendedora de Fósforos", que brevemente vai virar um filme protagonizado por Sylvester Stallone e (claro) pelo Dudley Moore]


:: UMA FRASE É UMA FRASE ::
de Marcelo Firpo, que é realmente um ser esquisito

Se o doutor disser que é agudo, pode ter certeza que é grave.


:: ISSO EXPLICA MUITA COISA! ::
"Seu colega de trabalho pode ser um Alien", dizem os Experts

Aqui está como VOCÊ pode distinguir!

Muitas pessoas trabalham lado-a-lado com aliens que se parecem humanos -- mas você pode desmascarar estes visitantes procurando por certos detalhes, dizem os experts. Eles listaram alguns sinais para serem observados.

1. Roupas estranhas ou mal-combinadas. "Freqüentemente, Aliens não entendem bem os diferentes estilos, então eles vestem combinações que são de insólito mal gosto, tal como calças xadrez com uma camisa listrada ou uma jaqueta de paletó com jeans ou alpercatas", apontou Brad Steiger, um renomado investigador de UFOs.

2. Estranha alimentação ou hábitos alimentícios incomuns. "Aliens poderiam comer batatas fritas com colher ou engolir grandes quantias de comprimidos com queijo", dizem os experts. "Cheddar", acrescentam.

3. Senso de humor bizarro. "Aliens não entendem o humor terrestre e poderiam rir durante um filme de treinamento da empresa ou contar piadas que ninguém entende", disse Steiger. (Droga.)

4. Desconhecimento total sobre o uso do grampeador.

5. Poder de concentração acima do normal (ficar horas e horas imóvel), seguido por um ataque de siricutico sem motivo algum, no meio de uma conferência qualquer.

6. Mal-uso de items comuns, "Um alien pode usar líquido corretor para pintar suas unhas", diz Steiger.

7. Está constantemente perguntando sobre costumes de colegas de trabalho. "Aliens estão tentando aprender sobre a cultura terrestre e poderiam fazer perguntas que parecem estúpidas", Easton disse. "Por exemplo, um colega de trabalho poderia perguntar porque é que as pessoas mastigam", apontou Steiger.

8. Mantêm segredo sobre o estilo de vida pessoal e sua casa. "Um alien não discutirá detalhes domésticos ou falará o que ele faz à noite ou nos fins de semana", disse Steiger.

9. Freqüentemente fala consigo mesmo. "Um alien pode não estar habituado a falar como nós falamos, então ele deve praticar falando", Steiger apontou.

10. Demonstra uma mudança de humor ou uma reação física quando perto de certos equipamentos modernos. "Um alien poderia mudar de humor quando um liquidificador está ligado", disse Steiger.

Os experts afirmaram que seu colega deveria demonstrar a maioria (se não todos) destes traços antes de você poder, positivamente, identificá-lo como um alien. E deixem o Gui fora disso, ele é normal.


:: LIVROS QUE EU GOSTARIA DE TER ESCRITO ::
Mande sua resposta para cá, sem limite de tamanho ou coerência

Todo mundo cita livros. Todo mundo cita filmes, músicas, peças de teatro e palmilhas ortopédicas na ordem de importância pessoal. Marisa de Moraes, nossa fiel representante das minorias cronópias, não acha que é o bastante e propõe questões mais significativas (tipo "os melhores livros de escritores albinos de capa azul e sem orelhas" - os livros, não os escritores). A questão desta edição é: "Livros que eu gostaria de ter escrito, e por quê". Mande suas respostas!!

Algumas já estão aqui:

>> (G. Y. Acelga, SP): Queria ter escrito a Cartilha da Alegria, com a qual me alfabetizei no Maternal e tive minhas primeiras frustrações mundanas, ao perceber que o rato nunca teria o queijo se eu resolvesse amassar e comer a página em questão. Gostaria de ter criado, também, O Grande Livro de Perguntas e Respostas do Charlie Brown, que me acompanha por onde quer que eu vá, com esclarecimentos sobre "o que é o pretzel?", "pra que servem os parafusos?" e "por que umbigos são sujos?". Outra obra que seria minha é o Livro-Cofre, aquele recipiente oco que os espiões usam para guardar armas, chaves-mestras e microcâmeras, sob a capa do A Insustentável Leveza do Ser ou algo que o valha.

>> (Anônimo, por e-mail): Queria ter escrito Fenomenologia da Percepção, um livro colorido de contos de fadas para crianças de 5 anos. (pausa prolongada) ... Hã?

E você, que livros gostaria de ter escrito? Mande suas respostas: vmbarbara@yahoo.com.


:: ESCLARECEDOR ::
Algumas respostas para a pergunta: "Se vc fosse um legume, qual seria?"

"Se eu fosse um legume, seria uma catalônia, pq elas são ruins e muitas pessoas não gostam de catalônias, e eu viveria muito mais tempo do que o super-popular chuchu, ou a doce beterraba!" (Stephanie, SP, realmente uma criatura astuta)

"Ah, que pena, eu perdi a promoção dos legumes.. Tb eu não saberia oq ser, pq eu não conheço muitos legumes e os que eu conheço não vêm ao caso porque as batatinhas são muito populares e os chuchus, apesar de nunca serem fritos, rebolam :Þ. Quiabos são babões e abóboras, hum abóboras e beterrabas.. hmmm... Ah, eu jah sei, se acelgas forem legumes eu gostaria de ser uma." (Venância, SP, no ápice da crise de identidade)

Ainda tá valendo essa aqui --> "Se você pudesse ficar amigo de um eletrodoméstico, qual deles você escolheria?"


:: VOCÊ PERGUNTA, NÓS NÃO DAMOS A MÍNIMA ::
Questionamentos sadios de uma sociedade doente

??? Por que os aviões não são feitos do mesmo material das caixas pretas? (colaboração do Zé)

- Porque se os aviões fossem tão resistentes quanto as caixas pretas não haveria a necessidade da existência das mesmas, logo, nunca teriam sido inventadas e, conseqüentemente, o material do qual são feitas não existiria... aí os aviões não seriam resistentes e alguém inventaria as caixas pretas, pra depois aparecer alguém pra fazer essa mesma pergunta idiota... deu pra ter uma idéia?

??? Por quanto tempo vou continuar recebendo este monte de lixo? (P. Bone, Boneville)

- Até você efetivar um depósito de 800 mil dólares na minha conta;
- Até que o sertão vire mar, o mar vire sertão e a Argentina vire um grande Donut;
- Até que vc elimine os redatores, colocando 30ml de estricnina no suco de abacaxi;
- Até que ele(s) arranje(m) algo melhor pra fazer;
- Até que a Stephanie vire uma acelga;
- Até que o Bruno volte para casa;
- Até que eu consiga uma casa em Acapulco;
- Até o inverno. Quando você receberá A Hortaliça, três vezes maior que isto aqui.
- Desculpe.


EXPEDIENTE

Este Zine é impessoal. Computadores meticulosamente programados desenvolvem os textos, se emocionam com eles, revisam e publicam a visão neutra e imparcial da coisa toda. O único responsável possível é a instituição "Da Redação".

 

... Para ser lido na maldita hora da noite em que tudo é engraçado (que vem logo após a hora em que nada faz sentido e antes daquela em que tudo faz sentido) - Stephanie Avari

Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque (bem feito!) estava na lista de indivíduos suspeitos do catálogo de endereço dos Illuminati. Caso não queira voltar a receber esse monte de lixo, mande um e-mail para vmbarbara@yahoo.com, e escreva na linha de assunto: "Me deixem em paz, por Tutatis!". Se quiser que mais vítimas recebam o Zine, também escreva para cá mandando o endereço dos condenados e o número e senha de suas contas bancárias.

!!DAMN!! Zine - o zine das coisas que eram, das coisas que são o que são, das que não são o que não são e das que poderiam vir a ser o que não foram. Parceiro do tablóide norte-americano "O Sol da Meia Noite", mas não olhe pra trás porque tem uma girafa fungando na sua nuca. "Tão bom como pizza de chocolate", declarou nosso leitor Avatar. "Imperdível!" (New York Times). "Único!" (New York Nicks).


God is coming.
Look busy.



2005 Vanessa Barbara