Sente-se, abra uma lata de sardinhas,
coloque o pé no balde de salmoura, relaxe e desfrute do nosso
DamnZine #008. Nesta edição, temos um artigo de e.e.
cummings sobre o ocaso da pontuação gramatical, uma
crônica da sempre original J. K. Rowling sobre o um garoto que
tem o dedo – ahum – azul, um ensaio de Lucíolo
Mascarenhas sobre o significado do significado, um panfleto descaradamente
cominho a favor do diploma no curso de jornalismo e, vejam só,
o testemunho de um quibe frito sobre sua experiência extrassensorial
com o Nilson Lage, que Alá preserve suas suíças.
Nesse instante, um vizinho me olhou
estranho e tentou se certificar que eu era eu mesma e não a
outra que estava tocando a campainha, mas não teve sucesso
e decidiu então passar o resto de sua existência conversando
com o lustre da sala. Mas voltando. Descemos para me dar as boas vindas,
mas não havia ninguém lá embaixo, exceto o pobre
jardineiro gagá, engolindo uns botões azuis e brincando
de perseguir tatus com o ancinho. Bom, os zines continuam na ordem normal, nada de estranho aconteceu com o Urso Cramps, chequei as redondezas e eu não tinha dançado cha-cha-cha em lugar algum (não dessa vez). Mas fiquem avisados, um dia vocês receberão um maldito Zine totalmente esquisito e não terá sido eu quem o fez, e um dia encontrarão sua avó fazendo compras na rua (com um estranho pacote amarelo na mão) e igualmente não será ela, até que os srs. forcem a entrada do porão e lá estará o presidente pálido e cheio de hematomas, morto a dentadas uns 15 anos atrás por alguém grisalho e cheio de olheiras, que tomou o lugar dele e ah, vão ver só. E nem quero saber do que o Josias Vizinho
falava, mesmo porque ele caiu acidentalmente da varanda ontem e passou
desta para melhor. E olha que ele mora no primeiro andar. Divirtam-se.
Na Áustria as vaquinhas mugem em alemão. Sim, eu sei. Às vezes é preciso usar frases chocantes para prender o leitor, se não se consegue fazer bons títulos ou não se tem uma figura de alguém pelado. Mas, onde estávamos mesmo? Ah, sim. Esses dias uma impertinente rádio austríaca anunciou ao mundo que anda colocando mensagens subliminares durante a programação de FM. "É um disparate", deve ter dito alguém. "Uma pouca vergonha", declarou a dona-de-casa, esfregando uma tigela e matando uma muriçoca. "Por isso esse país não vai pra frente", disse um empresário, enquanto polia as alpargatas. A notícia provocou tumultos, histeria e corre-corre, até ser devidamente esclarecida. Segundo a declaração, a rádio Energy estaria acrescentando às músicas um som de altíssima freqüência – inaudível para os humanos, mas insuportável para os mosquitos. Assim, os ouvintes estariam livres do cheiro rançoso das pomadas contra picada: bastava deixar o aparelho de som ligado que os bichinhos iriam embora, transtornados. O leitor, por favor, perdoe o partidarismo da cronista, que tem uma simpatia visceral por moscas-da-fruta e batalha pelo direito de livre zunzum da comunidade mosquífera. Temos que admitir, os insetos são uma sofrida categoria: esmagados por louva-a-deus, espremidos por mata-moscas, intoxicados por Rodasol e agora bombardeados por zunidos terríveis. E nem tampar os ouvidos podem, vai lá saber onde ficam as orelhas. Pergunte pra um mosquito. Nem ele deve saber. Isso pra não falar no conteúdo dessas mensagens de alta freqüência. Sim, a partir de agora qualquer um pode inserir frases subliminares no rádio e obrigar o mosquito a virar militante da causa feminista. Ou convencê-lo a virar libélula. Ou então obrigá-lo a picar o presidente na testa. Imagine uma nuvem de moscas raivosas, soltando espumas pelas antenas, dirigindo-se a Brasília pra apoiar a Greve dos Funcionários Públicos. Ou um mosquito-prego distribuindo folhetos contra a Alca. Um Aedes aegypti bebê, em cima de um caixote, defendendo a privatização da Eletropaulo, das Universidades Federais, ou, sei lá, do Governo. Nunca se sabe o que as moscas podem fazer, quando sugestionadas. Talvez alguém erre na freqüência e os insetos entendam que é preciso destruir tudo, e você duvida que eles obedeçam? Com a quantidade de pernilongos em Ubatuba é possível acabar com o Planeta a dentadas. Roendo cada península, uma por uma. Outro erro na freqüência, e o Pentágono dará a localização do botão vermelho às mutucas caninanas, que soltarão um grande zunido em uníssono, rumarão à Casa Branca, e clash, cataplaft, boom. Tudo vai aos ares: culpa dos austríacos. Ou talvez não. Talvez sejam apenas inocentes sons de alta freqüência. Até que um besouro-suco resolva tocá-los de trás pra frente e descubra algumas passagens do Apocalipse, fique revoltado, viaje pelo mundo com uma barba enorme e cartazes de fim do mundo, mas não, não há perigo. Mosquitos preferem ver tevê.
Tentei outros livros na biblioteca. A seção sobre religião era um pé no saco, pra mim. Fui pra filosofia. Encontrei alguns alemães amargurados que me animaram um tempo, mas não passou disso. Tentei geologia e a achei curiosa mas,
finalmente, insubstancial.
Romanos, homens do campo, cidadãos
da Burúndia. Estava eu aqui sentada em forma de tatu-bolinha, cuidadosamente planejando o tempo enorme que disponho para assistir desenho e comer doce, quando pensei "sim, posso incomodar alguém e fazer algo de mal pro mundo!" E adivinha quem eu escolhi!!! Sim, ele mesmo, o grande Esopo. Então me pus a escrever, com meu kit de canetinhas Hidrocor e o papiro que ganhei de Páscoa do meu avô Crítias (o ruivo), quando me lembrei de uma coisa: Esopo não existe mais! Esopo era, na verdade, fruto da imaginação de uma tartaruga malévola, cansada da exploração de que era vítima no mundo selvagem, que resolveu escrever fábulas para o Sindicato. Ou para a Academia. Ganhou dinheiro com isso, virou Rainha da Espanha e coroou Alfredo V, o Coxo, de "Alfredo V, do Balacobaco". Nunca necessariamente nessa ordem. Dessa maneira – visto que não tenho mais amigos desde A Grande Fome de Melado de 1945 e desde o dia em que enviei a corrente de Santo Eurides de Obregon y Obregon para cada um deles (você escapou por um nariz) -, me restou o lânguido, felpudo e adorável Junivando (o nome foi trocado para preservar a integridade do envolvido), que Alá o tenha. Portanto, desejo que você desaperte os suspensórios, relaxe na sua poltrona do Pinóquio, afague o focinho de algum colega de trabalho e faça como César mandou: empreste-me seus ouvidos. Obrigada, devolvê-lo-emos em espécime. Agradecemos por utilizar nossos serviços, até a Páscoa. Tu-tu-tu-tu. A coisa toda é a seguinte. Hoje de manhã estava caminhando pelos corredores da casa quando ouvi um barulho – sim, é o que você está pensando: era ELE, de novo. Sim. Tampe os ouvidos. O grande Balrog cominho estava de volta, rugindo como uma hiena, derramando rancor, maledicência e seiva de alfazema por onde passava. E tinha rendido meus criados! Então eu olhei para o mesquinho Balrog e percebi, na hora, o que deveria fazer: correr. Mas não fui mto longe, porque havia uma parede logo atrás de mim – não tente fazer isso em casa. Então tive um lampejo de sanidade e resolvi cantar e sapatear: a velha música Eu sou um bolinho de arroz, para a qual havia coreografado alguns passinhos de foxtrote. Então comecei a dançar, e a pular, e o Balrog ficou olhando pra mim com seus olhos hirtos e distantes, cheios de pustulência cominha. Eu dançava. E pulava. Parecia o Carequinha tentando animar as crianças. Ele foi se afastando, hipnotizado pela minha canção e trejeitos corporais, quando resolvi prendê-lo no grande lustre de pedras, e agora preciso de sua ajuda. O que faço com um grande Demônio multicolorido, de rabo azul e testa brilhante, que não fala a nossa língua e só diz "Oi" pelos antebraços? (vc sabe, eu nunca falo pelos cotovelos, só pelos antebraços) Bom, por enquanto estou alimentando o bicho com alpiste e uma mistura pegajosa e cortante de Calêndula e suco de tlin-tlones. Mas ele há de se enraivecer e vai escapar, um dia. Então eu não saberei mais entretê-lo e a humanidade estará perdida, nos braços – ou nos antebraços – de Hugolino, o Terrível, aquele que mastigou os filhos na masmorra e acabou condenado a perecer nos círculos do Inferno! (O Balrog tem mesmo um passado terrível) Pense bastante e formule sua resposta até terça-feira. Certifique-se de não mais atender telefonemas de pessoas mancas, do contrário você perderá o direito de passar a existência sempre com medo – e viverá tropeçando, repetidamente, num complô ou num contra-complô, neste nosso pequeno universo de conspirações paranóicas que têm como objetivo apenas continuar conspirando. E respirando, enquanto puderem. Porque essa gente mesquinha, como rotulou o idoso Aristóteles, "mais parece um cesto de amoras". E nós concordamos com ele. Todo poder ao Catalupo. Graciosamente, Ps: Não, não fazemos
idéia do que seria um suco de tlin-tlones. Mas continue pesquisando.
2 de Agosto :: A ESMO ::
:: LIVROS QUE EU DARIA DE PRESENTE
AO RUMPELSTISTKIN ::
Este Zine é impessoal. Computadores meticulosamente programados desenvolvem os textos, se emocionam com eles, revisam e publicam a visão neutra e imparcial da coisa toda. O único responsável possível é a instituição "Da Redação".
... Para ser lido na maldita hora da noite em que tudo é engraçado (que vem logo após a hora em que nada faz sentido e antes daquela em que tudo faz sentido) - Stephanie Avari Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque (loser!) estava na lista de indivíduos manquitolas da mala direta dos Illuminati. Ou então, ou então! Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque foi um dos 139 mil nomes escolhidos entre todos os possíveis do mundo, sorteados em uma grande urna chinesa após irregularidades com os nomes indianos, que são tão parecidos, por mil demônios. Caso não queira voltar a receber este monte de bobagens, mande um e-mail para vmbarbara@yahoo.com, e escreva na linha de assunto: "Me deixem em paz, pelas barbas de Tutatis!". Se quiser que mais vítimas recebam o Zine, também escreva para esse e-mail mandando o endereço dos condenados e o número e senha de suas contas bancárias. !!DAMN!! Zine - o zine das coisas que foram, das coisas que são o que são, das que não são o que não são e das que poderiam vir a ser o que não foram. Perfeito para forrar o chão de barracas permeáveis e para embrulhar mortadela. Parceiro do tablóide norte-americano "O Sol da Meia Noite", mas não olhe pra trás porque tem um fauno fritando ervilhas nas suas costelas. "É bom como pizza de chocolate", declarou nosso leitor Avatar. "Imperdível", segundo o New York Times. "Único!", de acordo com o New York Nicks.
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2005
Vanessa Barbara |