A Hortaliça

www.hortifruti.org

Trocadilhos tolos e conduta absurda
Edição #009, de 21 de fevereiro de 2002.
Um oferecimento das: Balas Dimbinho
Nos melhores ermos perto de você
Edição comemorativa de 28 dias
Tiragem: 109 exemplares (a edição passada matou alguns)

hortalica@gmail.com

 

"O meu boi morreu... Quem cortará agora as unhas da minha mão direita?"
(Mário Quintana)

 

EDITORIAL
Vanessabarbara
 

Os porcos não são fisicamente capazes de olhar para o céu.

(O leitor que mais admiro é o que não chegou até a presente linha, continua a viagem por conta própria...)

Hoje não temos editorial porque a observação aí em cima foi infeliz demais para continuar dando frutos. Além disso, sonhei ontem que um cidadão camuflado de penas surgia repentinamente de dentro de um bueiro da Av. Sumaré (sentido Barra Funda), munido de uma enorme prancheta de plástico, e ia dando petelecos nos transeuntes desavisados, se (e somente se) eles estivessem vestindo roupas amarelas. Realmente, um péssimo presságio.

Portanto, ando ocupada comprando uma grande bolha de plástico para vestir na rua, um escudo medieval e um colete de Míthril ou de moedas de 1 centavo. Fiquem, portanto, com os nossos brilhantes redatores, que não têm seus egos inflados porque não estudam jornalismo, já morreram, nunca existiram ou todo mundo os acha absurdamente bobos, respectivamente nessa maldita ordem.

Moral da história: Nunca, em hipótese alguma, esconda coisas em um queijo suíço, sem checar quem está lá dentro.

Saudações e me desculpem.


:: UM DIA IDEAL PARA PEIXES-BANANA ::
Salinger

-- Senhorita Carpenter, por favor. Eu entendo do riscado. Trata só de ficar olhando para ver se descobre algum peixe-banana. Hoje está fazendo um dia ideal para os peixes-banana.

-- Não tou vendo nenhum -- Sybil disse.

-- Isso é compreensível. Eles têm uns hábitos muito estranhos -- disse o rapaz, enquanto continuava a empurrar a bóia. A água ainda não chegava à altura de seu peito. -- Levam uma vida muito trágica. Você sabe o quê que eles fazem?

Ela fez que não com a cabeça.

-- Bem, eles entram nadando num buraco onde tem uma porção de bananas. São iguaizinhos a qualquer peixe normal quando entram, mas mal se vêem lá dentro eles se comportam como uns porcos. No duro. Já vi um peixe-banana entrar num buraco e comer setenta e oito bananas -- ele falou. Empurrou a bóia e sua passageira um pouquinho mais em direção ao horizonte. -- Naturalmente, depois disso eles ficam tão gordos que não conseguem mais sair do buraco. Não passam pela porta.

-- Não vamos muito pra longe, não -- Sybil disse. -- O quê que acontece com eles?

-- O que acontece com quem?

-- Com os peixes-banana.

-- Ah, você quer dizer, depois que comem tantas bananas que não conseguem mais sair do buraco de banana?

-- É.

-- Bem, sinto muito dizer isso a você, Sybil. Eles morrem.

-- Por quê?

-- Porque pegam a febre da banana. É uma doença terrível. (...)


:: SENTIMENTOS CONSTRUTIVOS DA REDAÇÃO ::
por John Fante, em "Rumo a Los Angeles".

Eu as odiava, e até parei de vomitar um momento pra fazer uma pausa e me deleitar com o fato de que aquele era o maior ódio que já tinha sentido em toda a minha vida.

:: SONETO PARA UM DIA ENTEDIANTE DE CALOR ::
Apropriação de versos do Mário Quintana

O que mata um jardim é esse olhar vazio
De quem por ele passa indiferente.
Gatos, homens, aviões, casas, chaminés, árvores...
E o mundo continua girando imóvel como um pião!

A moça, recostada à porteira, olhava os longes...
A vaquinha Cambraia mugia.
-- As vacas voam devagar
porque elas gostam da paisagem --
E só nos resta, agora, olhar o vôo de uma ave...
(Se ainda sobrou alguma).

As estrelas estão imóveis e tristes como num mapa sideral.
Nunca estiveram também tão fixos os olhos dos retratos,
Como se fossem apenas fotografias.
O relógio vagarosamente vai meditando o tempo.
O juiz consulta o relógio e as arquibancadas já vão se esvaziando...

O meu boi morreu...
Quem cortará agora as unhas da minha mão direita?
A vida é um longo, interminável arrastar de correntes
Nós somos as almas penadas deste mundo.

O trem ficou tristemente derrubado no chão, fazendo de conta que era mesmo uma lata de sardinha.
Pois Nero, durante o incêndio de Roma,
saboreava lenta e gulosamente uma caixa de bombons Rosicler.
Não sabia os nossos nomes, nem as mudanças das cozinheiras.
Não sabia nem queria saber.
O lampião da esquina não dizia nada: ardia de febre.


:: CATARINA ::
da Redação do DamnZine infiltrada no Reader's Digest

Um gato gordamente laranja boiava junto ao teto, e Catarina não conseguia alcançá-lo. Os dedos, gordinhos, tentavam ao menos tocá-lo, sentir suas escamas de plástico, o focinho gelado, o carimbo da Glasslite, mas era tão longe. Abaixo do gato, outras formas diversas ululavam ao sabor do vento: um queijo de pelúcia, três ou quatro quadrados azuis, uma bailarina de cristal, alguns guizos que não a deixavam dormir.

Tio Otterson dispôs os móbiles metodicamente, a uma distância padrão "Xis", considerando a velocidade da brisa e a disposição dos espelhos do quarto do bebê. Otterson seguia rigorosamente os preceitos do Feng-Shui, e nunca sapateava porque achava ofensivo firmar os pés em ângulos tortos, às vezes voltados de frente um para o outro, desafiando todas as leis do bom gosto. Mas voltemos ao adorável bebê Catarina, que tentava alcançar o móbile laranja como tentava chupar o dedão dos pés ou morder o próprio rabo.

Naquela tarde, depois que Tio Otterson colocou a bailarina ao lado do maior móbile quadrado (por causa dos maus fluidos vindos da cômoda de cerejeira), muita coisa aconteceu em cima do berço. O quadrado menor chocou-se com um dos guizos e começaram a discutir acaloradamente, até que a bailarina deu um chute certeiro no guizo de cobre, tudo balançou perigosamente e bloft!, o quadrado menor espatifou-se no chão, acordando a lânguida Catarina.

Ela olhou feio para os lados e tentou novamente alcançar o gato laranja, lá no alto, mas seus dedos só encontraram a bailarina insolente e um enorme pêlo (que estava passando por ali e ainda não tinha entrado na história). Catarina deu uma risada engraçada e soltou o maldito pêlo, que parecia um pedaço de pena felpuda, um naco de tecido ou apenas um pêlo voador desocupado, como os outros tantos que flutuam por esse mundo. O pêlo continuou seu caminho (esperando posteriormente encontrar amigos e formar uma grande bola de felpo), o bebê ria histericamente, a bailarina continuava preocupada e o queijo de pelúcia não gostaria de se manifestar sobre o assunto (desculpe).

Eis que Catarina, num esforço desesperado para alcançar o maldito Gato Gordo (que já estava irritando os leitores), perde o equilíbrio e cai do berço. Com outra gargalhada típica, leva o quadrado menor à boca e descobre que, apesar de pequeno, ele é grande o bastante para obstruir suas vias respiratórias até a asfixia total. Junto com o aspecto arroxeado da pele, o bebê Catarina ganha um espaçoso túnel de luz sinistro e - enfim - um Grande Gordo Roliço Gato Laranja, que se entediou do ula-ula dos móbiles, fez uma trouxa de comida enlatada e também resolveu passar desta para melhor.


:: RAYUELA ::
de Julio Cortazar

Quantas palavras, quantas nomenclaturas para o mesmo desconcerto. Por vezes, chego a me convencer de que a estupidez se chama triângulo, de que oito por oito é a loucura ou um cachorro. Abraçado com a Maga, essa solidificação de nebulosa, penso que faz tanto sentido fazer um bonequinho com miolo de pão quanto escrever o romance que nunca escreverei ou defender com a vida as idéias que redimem os povos.

:: LIÇÃO TOON ::
Moral da história, por Sérgio Praça

Nunca penteie sua lança de forma que ela se pareça com um cabelo.


:: CORRESPONDÊNCIA ::
e-mails reais, bizarros e suspeitíssimos, interceptados por um topete alemão

... Tem o Igor Fuser nessa lista!!!!

"Blof"! E eis q ele aparece , materializado em forma de tatu bolinha, bem aqui na minha frente. Olhando feio, ainda. Saia deste corpo que não te pertence!!!!! "Blof!", e ele se vai. Agradecemos ao adoravel Deak pelas onomatopéias desta edição.

Posso aparecer aí na sua casa, digamos, agora. Não, não ficaria bem pra uma mocinha recatada surgir aos borbotões (a palavra deve existir) vestida de pombo, ainda mais a essa hora da madrugada. Ainda se fosse dia, e não houvesse pessoas saindo dos bueiros a toda hora, eu até colocaria meu bico cor-de-laranja, passaria cola na testa e rolaria no colchão de penas do Vovô Carmelo. Mas acho que amanhã hei de retornar, aproximadamente quando Capricórnio entrar em junção com a Nebulosa de Andrômeda e cada um rumar em uma direção diferente, dada a aceleração variada cada qual partirá de um local e cairá a N distância, multiplicada pela freqüência sobre ondulação dividido por Pi Hano ao quadrado, tal que Hano eh menor ou igual a 8c, senão eles irão se chocar com o Trem P que parte de U com direção a Galápagos em velocidade modular...

Afinal, Forrest dizia que a vida é apenas uma caixa de bombons: pra mim sempre sobra o de figo. Mas a gente vive guardando aquele rançoso de banana e rum, pros amigos especiais.

Joanetes,
Hilma.

:: ZINE ::

"Não é pra sair, sua besta! É pra você ler!"
(Mário Rodrigues, para um censor, em 1926)


:: PEQUENA FÁBULA ::
de Franz Kafka

"Ah", disse o rato, "o mundo torna-se a cada dia mais estreito. A princípio era tão vasto que me dava medo, eu continuava correndo e me sentia feliz com o fato de que finalmente via à distância, à direita e à esquerda, as paredes, mas essas longas paredes convergem tão depressa uma para a outra que já estou no último quarto e lá no canto fica a ratoeira para a qual eu corro".

- "Você só precisa mudar de direção", disse o gato e devorou-o.


:: A MELHOR RESPOSTA - II ::
Ganhou um Kit DamnZine, que felizmente ainda não existe

O que vc faria se encontrasse o Rumpelstilstkin na sua sopa?

(Lívia Moura, BH, vamos publicar que ela é meio doentinha): "Eu faria o pequenino engolir toda a sopa, exceto batatas e macarronzinhos, até ele virar uma bolota fofa e inchada que eu usaria como utensílio anti-stress durante uma semana. Aí eu daria pra ele um guarda-chuvinha de chocolate, uma bisnaga de amostra de gelol e deixaria ele ir para casinha dele."

:: A ESMO ::
de André Deak, da sucursal Tito Square.

Faz tempo que eu nem vejo uma maçã verde.
Espero que elas não me vejam também.


:: VOCÊ PERGUNTA, NÓS NÃO DAMOS A MÍNIMA ::
Questionamentos sadios de uma sociedade doente

??? Levando em conta que o pão sempre cai com a manteiga pra baixo e o gato sempre cai em pé, se vc jogar um gato com um pão com manteiga amarrado nas costas o que acontece ? (Hades)

Ele ficará girando no ar infinitamente, até que o gato morra de gripe com as correntes de ar ou até que a manteiga evapore (ou infiltre no bichano, criando um híbrido Felino-Mutante-Margarina), e finalmente você pararia de receber o DamnZine, uma grande nuvem de gordura vegetal hidrogenada cobriria os picos das montanhas e pronto, só restarão as abotoaduras de aço, os publicitários e as malditas baratas.


EXPEDIENTE


Este Zine é impessoal. Computadores meticulosamente programados desenvolvem os textos, se emocionam com eles, revisam e publicam a visão neutra e imparcial da coisa toda. O único responsável possível é a instituição "Da Redação".

 

.. Para ser lido na maldita hora da noite em que tudo é engraçado (que vem logo após a hora em que nada faz sentido e antes daquela em que tudo faz sentido) - Stephanie A.

Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque (loser!) estava na lista de indivíduos manquitolas da mala direta dos Illuminati. Ou então, ou então! Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque foi um dos 139 mil nomes escolhidos entre todos os possíveis do mundo, sorteados em uma grande urna chinesa após irregularidades com os nomes indianos, que são tão parecidos, por mil demônios. Caso não queira voltar a receber este monte de bobagens, mande um e-mail para vmbarbara@yahoo.com, e escreva na linha de assunto: "Me deixem em paz, pelas barbas de Tutatis!". Se quiser que mais vítimas recebam o Zine, também escreva para esse e-mail mandando o endereço dos condenados e o número e senha de suas contas bancárias.

!!DAMN!! Zine - o zine das coisas que foram, das coisas que são o que são, das que não são o que não são e das que poderiam vir a ser o que não foram. Perfeito para forrar o chão de barracas permeáveis e para embrulhar mortadela. Parceiro do tablóide norte-americano "O Sol da Meia Noite", mas não olhe pra trás porque tem um fauno fritando ervilhas nas suas costelas. Pois, como disse o profeta: "Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que ri cuidado para que não babe".


God is coming.
Look busy.



2005 Vanessa Barbara