Os porcos não são fisicamente
capazes de olhar para o céu.
(O leitor que mais admiro é o que não chegou até
a presente linha, continua a viagem por conta própria...)
Hoje não temos editorial porque a observação aí
em cima foi infeliz demais para continuar dando frutos. Além
disso, sonhei ontem que um cidadão camuflado de penas surgia
repentinamente de dentro de um bueiro da Av. Sumaré (sentido
Barra Funda), munido de uma enorme prancheta de plástico, e ia
dando petelecos nos transeuntes desavisados, se (e somente se) eles
estivessem vestindo roupas amarelas. Realmente, um péssimo presságio.
Portanto, ando ocupada comprando uma grande bolha de plástico
para vestir na rua, um escudo medieval e um colete de Míthril
ou de moedas de 1 centavo. Fiquem, portanto, com os nossos brilhantes
redatores, que não têm seus egos inflados porque não
estudam jornalismo, já morreram, nunca existiram ou todo mundo
os acha absurdamente bobos, respectivamente nessa maldita ordem.
Moral da história: Nunca, em hipótese alguma, esconda
coisas em um queijo suíço, sem checar quem está
lá dentro.
Saudações e me desculpem.
:: UM DIA IDEAL PARA PEIXES-BANANA ::
Salinger
-- Senhorita Carpenter, por favor. Eu entendo do riscado. Trata só
de ficar olhando para ver se descobre algum peixe-banana. Hoje está
fazendo um dia ideal para os peixes-banana.
-- Não tou vendo nenhum -- Sybil disse.
-- Isso é compreensível.
Eles têm uns hábitos muito estranhos -- disse o rapaz,
enquanto continuava a empurrar a bóia. A água ainda não
chegava à altura de seu peito. -- Levam uma vida muito trágica.
Você sabe o quê que eles fazem?
Ela fez que não com a cabeça.
-- Bem, eles entram nadando num buraco onde tem uma porção
de bananas. São iguaizinhos a qualquer peixe normal quando entram,
mas mal se vêem lá dentro eles se comportam como uns porcos.
No duro. Já vi um peixe-banana entrar num buraco e comer setenta
e oito bananas -- ele falou. Empurrou a bóia e sua passageira
um pouquinho mais em direção ao horizonte. -- Naturalmente,
depois disso eles ficam tão gordos que não conseguem mais
sair do buraco. Não passam pela porta.
-- Não vamos muito pra longe, não -- Sybil disse. -- O
quê que acontece com eles?
-- O que acontece com quem?
-- Com os peixes-banana.
-- Ah, você quer dizer, depois que comem tantas bananas que não
conseguem mais sair do buraco de banana?
-- É.
-- Bem, sinto muito dizer isso a você, Sybil. Eles morrem.
-- Por quê?
-- Porque pegam a febre da banana. É uma doença terrível.
(...)
:: SENTIMENTOS CONSTRUTIVOS DA REDAÇÃO ::
por John Fante, em "Rumo a Los Angeles".
Eu as odiava, e até parei de
vomitar um momento pra fazer uma pausa e me deleitar com o fato de que
aquele era o maior ódio que já tinha sentido em toda a
minha vida.
:: SONETO PARA UM DIA ENTEDIANTE DE CALOR ::
Apropriação de versos do Mário Quintana
O que mata um jardim é esse olhar
vazio
De quem por ele passa indiferente.
Gatos, homens, aviões, casas, chaminés, árvores...
E o mundo continua girando imóvel como um pião!
A moça, recostada à porteira,
olhava os longes...
A vaquinha Cambraia mugia.
-- As vacas voam devagar
porque elas gostam da paisagem --
E só nos resta, agora, olhar o vôo de uma ave...
(Se ainda sobrou alguma).
As estrelas estão imóveis
e tristes como num mapa sideral.
Nunca estiveram também tão fixos os olhos dos retratos,
Como se fossem apenas fotografias.
O relógio vagarosamente vai meditando o tempo.
O juiz consulta o relógio e as arquibancadas já vão
se esvaziando...
O meu boi morreu...
Quem cortará agora as unhas da minha mão direita?
A vida é um longo, interminável arrastar de correntes
Nós somos as almas penadas deste mundo.
O trem ficou tristemente derrubado no
chão, fazendo de conta que era mesmo uma lata de sardinha.
Pois Nero, durante o incêndio de Roma,
saboreava lenta e gulosamente uma caixa de bombons Rosicler.
Não sabia os nossos nomes, nem as mudanças das cozinheiras.
Não sabia nem queria saber.
O lampião da esquina não dizia nada: ardia de febre.
:: CATARINA ::
da Redação do DamnZine infiltrada no Reader's Digest
Um gato gordamente laranja boiava junto ao teto, e Catarina não
conseguia alcançá-lo. Os dedos, gordinhos, tentavam ao
menos tocá-lo, sentir suas escamas de plástico, o focinho
gelado, o carimbo da Glasslite, mas era tão longe. Abaixo do
gato, outras formas diversas ululavam ao sabor do vento: um queijo de
pelúcia, três ou quatro quadrados azuis, uma bailarina
de cristal, alguns guizos que não a deixavam dormir.
Tio Otterson dispôs os móbiles metodicamente, a uma distância
padrão "Xis", considerando a velocidade da brisa e
a disposição dos espelhos do quarto do bebê. Otterson
seguia rigorosamente os preceitos do Feng-Shui, e nunca sapateava porque
achava ofensivo firmar os pés em ângulos tortos, às
vezes voltados de frente um para o outro, desafiando todas as leis do
bom gosto. Mas voltemos ao adorável bebê Catarina, que
tentava alcançar o móbile laranja como tentava chupar
o dedão dos pés ou morder o próprio rabo.
Naquela tarde, depois que Tio Otterson colocou a bailarina ao lado do
maior móbile quadrado (por causa dos maus fluidos vindos da cômoda
de cerejeira), muita coisa aconteceu em cima do berço. O quadrado
menor chocou-se com um dos guizos e começaram a discutir acaloradamente,
até que a bailarina deu um chute certeiro no guizo de cobre,
tudo balançou perigosamente e bloft!, o quadrado menor espatifou-se
no chão, acordando a lânguida Catarina.
Ela olhou feio para os lados e tentou novamente alcançar o gato
laranja, lá no alto, mas seus dedos só encontraram a bailarina
insolente e um enorme pêlo (que estava passando por ali e ainda
não tinha entrado na história). Catarina deu uma risada
engraçada e soltou o maldito pêlo, que parecia um pedaço
de pena felpuda, um naco de tecido ou apenas um pêlo voador desocupado,
como os outros tantos que flutuam por esse mundo. O pêlo continuou
seu caminho (esperando posteriormente encontrar amigos e formar uma
grande bola de felpo), o bebê ria histericamente, a bailarina
continuava preocupada e o queijo de pelúcia não gostaria
de se manifestar sobre o assunto (desculpe).
Eis que Catarina, num esforço desesperado para alcançar
o maldito Gato Gordo (que já estava irritando os leitores), perde
o equilíbrio e cai do berço. Com outra gargalhada típica,
leva o quadrado menor à boca e descobre que, apesar de pequeno,
ele é grande o bastante para obstruir suas vias respiratórias
até a asfixia total. Junto com o aspecto arroxeado da pele, o
bebê Catarina ganha um espaçoso túnel de luz sinistro
e - enfim - um Grande Gordo Roliço Gato Laranja, que se entediou
do ula-ula dos móbiles, fez uma trouxa de comida enlatada e também
resolveu passar desta para melhor.
:: RAYUELA ::
de Julio Cortazar
Quantas palavras, quantas nomenclaturas para o mesmo desconcerto. Por
vezes, chego a me convencer de que a estupidez se chama triângulo,
de que oito por oito é a loucura ou um cachorro. Abraçado
com a Maga, essa solidificação de nebulosa, penso que
faz tanto sentido fazer um bonequinho com miolo de pão quanto
escrever o romance que nunca escreverei ou defender com a vida as idéias
que redimem os povos.
:: LIÇÃO TOON ::
Moral da história, por Sérgio Praça
Nunca penteie sua lança de forma que ela se pareça com
um cabelo.
:: CORRESPONDÊNCIA ::
e-mails reais, bizarros e suspeitíssimos, interceptados por um
topete alemão
... Tem o Igor Fuser nessa lista!!!!
"Blof"! E eis q ele aparece
, materializado em forma de tatu bolinha, bem aqui na minha frente.
Olhando feio, ainda. Saia deste corpo que não te pertence!!!!!
"Blof!", e ele se vai. Agradecemos ao adoravel Deak pelas
onomatopéias desta edição.
Posso aparecer aí na sua casa,
digamos, agora. Não, não ficaria bem pra uma mocinha recatada
surgir aos borbotões (a palavra deve existir) vestida de pombo,
ainda mais a essa hora da madrugada. Ainda se fosse dia, e não
houvesse pessoas saindo dos bueiros a toda hora, eu até colocaria
meu bico cor-de-laranja, passaria cola na testa e rolaria no colchão
de penas do Vovô Carmelo. Mas acho que amanhã hei de retornar,
aproximadamente quando Capricórnio entrar em junção
com a Nebulosa de Andrômeda e cada um rumar em uma direção
diferente, dada a aceleração variada cada qual partirá
de um local e cairá a N distância, multiplicada pela freqüência
sobre ondulação dividido por Pi Hano ao quadrado, tal
que Hano eh menor ou igual a 8c, senão eles irão se chocar
com o Trem P que parte de U com direção a Galápagos
em velocidade modular...
Afinal, Forrest dizia que a vida é
apenas uma caixa de bombons: pra mim sempre sobra o de figo. Mas a gente
vive guardando aquele rançoso de banana e rum, pros amigos especiais.
Joanetes,
Hilma.
:: ZINE ::
"Não é pra sair, sua besta! É pra você
ler!"
(Mário Rodrigues, para um censor, em 1926)
:: PEQUENA FÁBULA ::
de Franz Kafka
"Ah", disse o rato, "o
mundo torna-se a cada dia mais estreito. A princípio era tão
vasto que me dava medo, eu continuava correndo e me sentia feliz com
o fato de que finalmente via à distância, à direita
e à esquerda, as paredes, mas essas longas paredes convergem
tão depressa uma para a outra que já estou no último
quarto e lá no canto fica a ratoeira para a qual eu corro".
- "Você só precisa
mudar de direção", disse o gato e devorou-o.
:: A MELHOR RESPOSTA - II ::
Ganhou um Kit DamnZine, que felizmente ainda não existe
O que vc faria se encontrasse o Rumpelstilstkin na sua sopa?
(Lívia Moura, BH, vamos publicar que ela é meio doentinha):
"Eu faria o pequenino engolir toda a sopa, exceto batatas e macarronzinhos,
até ele virar uma bolota fofa e inchada que eu usaria como utensílio
anti-stress durante uma semana. Aí eu daria pra ele um guarda-chuvinha
de chocolate, uma bisnaga de amostra de gelol e deixaria ele ir para
casinha dele."
:: A ESMO ::
de André Deak, da sucursal Tito Square.
Faz tempo que eu nem vejo uma maçã verde.
Espero que elas não me vejam também.
:: VOCÊ PERGUNTA, NÓS NÃO DAMOS A MÍNIMA
::
Questionamentos sadios de uma sociedade doente
??? Levando em conta que o pão
sempre cai com a manteiga pra baixo e o gato sempre cai em pé,
se vc jogar um gato com um pão com manteiga amarrado nas costas
o que acontece ? (Hades)
Ele ficará girando no ar infinitamente,
até que o gato morra de gripe com as correntes de ar ou até
que a manteiga evapore (ou infiltre no bichano, criando um híbrido
Felino-Mutante-Margarina), e finalmente você pararia de receber
o DamnZine, uma grande nuvem de gordura vegetal hidrogenada cobriria
os picos das montanhas e pronto, só restarão as abotoaduras
de aço, os publicitários e as malditas baratas.