A Hortaliça

www.hortifruti.org

Pombas!
Edição #010, de 3 de março de 2002.
Com o apoio de: "Muletas Geisenhoffer"
Classificação: coça um bocado

hortalica@gmail.com

 


"Assim, todo mundo ficará contente; e aos que protestarem, que lhes ataque o beribéri"
(Julio Cortázar)

 

EDITORIAL
Vanessa Barbara
 

"O Inferno foi uma idéia nascida em conseqüência de uma indigestão de torta de maçãs". Pensando nisso, largou o livro e olhou para os restos de panqueca na mesa: se eu comesse treze destas aqui de rosbife, reiventaria a noção do Nada? Escreveria um ensaio sobre a expansão do universo em quatro premissas inovadoras? (respira longamente e tosse) O Zine: teria nascido de uma indigestão de farelo de fandangos, de uma porção generosa de cal ou das minhas azuladas pantufas de pelúcia, incomodamente ingeridas entre uma crise de depressão num dia de sol e um acesso de fúria contra os vizinhos que teimam em conversar com o papagaio...?

Sentimentos como o tédio, o ódio e o absurdo são os verdadeiros criadores das coisas inutilmente estúpidas, embora ninguém esteja entendendo o que eu quero dizer com isso, ainda que se abstenham de perguntar que raios mesmo eu quis dizer com isso. Os grandes parâmetros do mundo foram o resultado de um lampejo de - digamos - dor de cabeça aguda, cólica, indigestão, raiva, papas na língua. O que veio junto com eles, depois deles, antes, ao redor, envolvendo cada um, foram apenas grandes bobagens que poderiam ser facilmente questionadas e reinventadas com uma overdose de salgadinhos-bola, coloridos e mascáveis, com cores diferentes e sabores igualmente nauseantes. Na verdade isso tudo era pra fazer sentido, mas no caminho eu fui perdendo a idéia e agora chamo emergencialmente a figura de e. e. cummings para enriquecer meus devaneios e publicar, enfim, uma coisa bonita para a romaria minúscula de interessados.

EM ALGUM LUGAR ONDE NUNCA ESTIVE
e.e. cummings

Em algum lugar onde nunca estive, e felizmente aquém
de qualquer experiência, teus olhos guardam seu silêncio:
em teu gesto mais frágil há coisas que me envolvem
ou que não posso tocar porque estão muito próximas

teu olhar mais leve facilmente me descerra
embora eu me tenha fechado como dedos,
e me entreabres sempre, pétala por pétala, como a Primavera
(por toques habilidosos, misteriosamente) abre a primeira rosa

ou se teu desejo é me fechar, eu e
minha vida nos fecharemos formosa e rapidamente
como quando o coração desta flor imagina
que a neve - cuidadosamente - está caindo em toda a parte;

nada do que podemos perceber neste mundo se compara
ao poder de tua intensa fragilidade; cuja textura
me compromete com a cor de seus países
e me entrega para a morte cada vez que respiro

(nada sei do que te faz tão poderosa
ao me mover; mas algo em mim compreende apenas
que a voz de teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem as mãos tão pequenas.


:: BOCHECHAS ::
por Mário Quintana, servindo o DamnZine desde 1829

Não despertemos o leitor. Os leitores são, por natureza, dorminhocos. Gostam de ler dormindo.

Autor que os queira conservar não deve ministrar-lhes o mínimo susto. Apenas as eternas frases feitas.

"A vida é um fardo"; isto, por exemplo, pode-se repetir sempre. E acrescentar impunemente: "disse Bias". Bias não faz mal a ninguém, como, aliás, os outros seis sábios da Grécia, pois todos os sete, como há seis séculos já se queixava Plutarco, eram uns verdadeiros chatos. Isto para ele, Plutarco. Mas, para o grego comum da época, devia ser a delícia e a tábua de salvação das conversas.

Pois não é bom falar e escrever sem esforço? O lugar-comum é a base da sociedade, a sua política, a sua filosofia, a segurança das instituições. Ninguém é levado a sério com idéias originais.

Já não é a primeira vez, por exemplo, que um figurão qualquer declara em entrevista: "O Brasil não fugirá ao seu destino histórico".

O êxito da tirada, a julgar pelo destaque que lhe dá a imprensa, é sempre infalível, embora o leitor semidesperto possa desconfiar que isso não quer dizer coisa alguma, pois nada foge mesmo ao seu destino histórico, seja um Império que desaba ou uma barata esmagada.


:: MOCINHAS ::
Da Redação

>> Rebeca, "Cem Anos de Solidão" (Garcia Marquez)
"Desde o momento em que chegou, sentou-se na cadeirinha de balanço a chupar o dedo e a observar a todos com seus grandes olhos espantados, sem dar sinal algum de entender o que lhe perguntavam. (...) Não conseguiram que comesse, durante vários dias. Ninguém entendia como não tinha morrido de fome, até que os índios, que percebiam tudo, porque percorriam a casa sem parar, com seus pés sigilosos, descobriram que Rebeca só gostava de comer a terra úmida do quintal e as tortas de cal que arrancava das paredes com as unhas."

>> Maga, "O Jogo da Amarelinha" (Julio Cortazar)
"A Maga ficava triste, apanhava uma folha na calçada e conversava com ela, colocando-a sobre a palma da mão e acariciando-a suavemente".

>> Lili, de Mário Quintana
Lili vive no mundo do faz-de-conta. Faz-de-conta que isto é um avião. Zzzuuu... Depois aterrissou em pique e virou trem. Tuc tuc tuc tuc... Entrou pelo túnel, chispando. Mas debaixo da mesa havia bandidos. Pum! Pum! Pum! O trem descarrilou. E o mocinho? Onde é que está o mocinho? Meu Deus! onde é que está o mocinho? No auge da confusão levaram Lili para a cama, à força. E o trem ficou tristemente derrubado no chão, fazendo de conta que era mesmo uma lata de sardinha.
{Ou então, ou então!}
Lili chamava o sapo de bicho-nenê.


:: A ESMO ::
Citação interessante de Leonardo Dias
Somos apenas atores cumprindo os nossos papéis, mas a você foi dado um script muito interessante.


:: DIAS MÁGICOS ::

Reza a lenda que a época mais festejada no mundo é quando acontece o Festival de Maha Kumbh Mela e os indianos banham-se à beira do rio Ganges. Alguns discordam e dizem que é o Natal, apesar de ser comemorado só no Ocidente e as crianças não acreditarem mais em Papai Noel – só em Jigglypuff, o simpático Pokémon de franjas. Uns terceiros ainda dirão que a data mais comemorada é 14 de junho, o meu aniversário. Ou o Dia da Árvore. Ou 4 de julho. Ou o Dia da Vovó. Há controvérsias.
Eu fico com os dias mágicos. Em 8/8/88, por exemplo, o que você fazia? Houve gente que passou o dia todo com os pés pra cima, namorando o calendário e escrevendo a data por toda parte, incomodando os vizinhos e achando tudo isso o máximo. Com razão.

Tente agora imaginar como deve ter sido 11/11/1111. O único dia verdadeiramente perfeito da História das Histórias. Dizem que quem viveu em 11 de novembro de 1111 vive até hoje, mas se acha tão incrivelmente superior aos outros que não conta pra ninguém. Um ourives ruivinho chegou a enlouquecer nesse grande dia, ao olhar – completamente deslumbrado – para a encantada sucessão de pauzinhos que desfilava à sua frente.

Em 8/8/88, Ana (o nome é fictício, para evitar constrangimentos) provocou pânico e correria na Bolsa de Valores de Tegucigalpa, algo parecido com as liquidações do Mappin ou às piscinas do Espéria em feriado de Carnaval. Ana curtiu pacas todos aqueles números juntinhos e resolveu quebrar, um a um, os relógios da cidade, para que congelassem em 8 de agosto e dessem uma satisfação mais prolongada à mocinha. Houve um caos generalizado e histeria coletiva, mas muita gente adorou a história.


:: CONSELHO DO SÁBIO ::
Ouça, aprenda e viva: o que fazer quando estiver fugindo da polícia.

Você podia viver num... balãããããããão....
(Vovô Simpson)


:: IRMANDADE CATALUPA URGENTE ::
colabore com nossa nobre calça

A IC está recebendo contribuições para ajudar os pobres fiapinhos de polpa catalupa que se perderam nas enchentes -- mande para nós pacotes ou trouxas se você possuir alguns dos seguintes apetrechos:

- dobradiças de titânio para persianas dobráveis
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- varetas em forma de S
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- pelúcia
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- vestidos de chita nas cores: ciano, magenta ou grená
- presilhas com lantejoulas gordinhas
- gordinhas com lantejoulas
- pizzas de chocolate
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- máquinas despolpadeiras com engrenagem de poliuretano

:: APRENDAM, CRIANÇAS ::
por Voltaire, o Risonho (voltaire@fclnet.com.br)

Dir-se-á talvez que, quando se é carregador e caolho, não se deve ficar apaixonado, sobretudo por uma grande princesa, e, mais ainda, por uma princesa que tem dois olhos.


:: A MULHER DA SUA VIDA ::
por LF Verissimo. (colaboração do Zé)

- Oi.
- Oi.
- Eu estava te olhando de longe... Você vem sempre aqui?
- Só quando eu estou com vontade de fazer xixi. Quem te deixou entrar no banheiro das mulheres?
- Entrei escondido queria falar com você.
- Não podia esperar eu terminar primeiro?
- É que eu sou muito ansioso... Não é sempre que se encontra a mulher da nossa vida numa festa de formatura.
- Mulher da vida de quem?
- Da minha vida.
- Que espécie de maluco é você?
- O homem da sua vida!
- Como é que é?
- Sou o cara que nasceu pra casar e ter filhos com você.
- Essa é a sua melhor cantada?
- É sério... vamos conversar.
- Quer fazer o favor de fechar essa porta? Eu ainda não terminei.
- Desculpe. Um homem sabe quando avistou a mulher ideal. Geralmente ela é bonita, sexy, tem gostos refinados e inteligência suficiente para ignorar suas gracinhas. É fina, detesta vulgaridades.
- Me deixa vomitar em paz?
- Achei que você só estivesse apertada.
- O que eu faço no banheiro não é da sua conta..
- Eu me importo com você.
- Socorro, tem um homem aqui dentro.
- Psiuuuuu, não grita, eu só quero saber seu nome.
- Eu tô bêbada demais pra saber meu nome.
- Também estou um pouco tonto, confesso. Viu como a gente combina?
- Sai daqui e fecha essa porta antes que eu te jogue esse balde de lixo na cabeça.
- Algumas pessoas passam a vida toda procurando por um amor perfeito. Alguém que te complete e ajude no que for preciso, faça companhia em todos os momentos.
- Cara, como você é chato.
- Melhorou?
- Não acredito que você me assistiu fazendo aquilo.
- Foi a coisa mais linda que eu já vi.
- Acorda, seu idiota. Eu botei um pão de batata pra fora.
- Eu também adoro pão de batata com tequila.
- Espirrou em você, seu porco.
- Eu não ligo. Seu vômito é o meu vômito.
- O que eu fiz pra merecer um maluco desses atrás de mim?
- Tem coisas que só o destino pode explicar.
- De que planeta você veio? Larga do meu pé, chulé.
- Só você não percebeu que isso tudo não foi por acaso.
- Você me seguiu, eu pedi ajuda, ninguém te tirou do banheiro, eu te dei um banho de bolo de chocolate e cerveja.
- Nosso primeiro encontro...
- Nada disso é um encontro. Sai da minha frente.
- Não posso abandonar a mulher da minha vida.
- Que papo é esse? Deixa-me ver o que colocaram no seu whisky?
- É sério, nunca ouviu falar nisso?
- Whisky com bolinha alucinógena? É claro que sim. Nunca aceite o copo de um estranho.
- Nós somos o casal ideal. Nascemos um pro outro. Sabe quais são as chances disso acontecer numa festa de formatura? Uma em cada 150 milhões.
- Bem menores do que as chances de eu te dar uma porrada.
- Você não faria isso com seu futuro marido.
- Vamos do começo... Um: eu já tenho namorado. Dois: você não faz meu tipo. Três: isso não é uma festa de formatura. É a festa de 15 anos da Maria de Fátima.

O segredo da relação perfeita está na identificação de sua alma gêmea. Geralmente ela é loira, alta e tem um piercing no nariz. Pode também não ser nada disso. Não importa. O grande lance é perceber se essa alma combina com a sua, tem gostos iguais, beijo bom e, de preferência, um cabelo sem gel.

- Quer apostar que nós nascemos um pro outro?
- Ridículo... vou ficar com peso na consciência.
- Por que não tenta? Fala uma cor.
- Preto.
- A ausência de todas as cores... A minha preferida também.
- Que bobagem.
- Um filme.
- "101 Dálmatas".
- O mesmo que o meu... Quer prova mais definitiva?
- Eu nunca vi esse filme na minha vida.
- Roubar não vale.
- Que papinho mais furado... Se toca, eu não fui com a sua cara.
- Última chance. Fala uma música.
- Ai que saco... Qualquer uma do Daniel.
- Daniel? Tem certeza?
- Absoluta.
- Então você tem razão... minha mulher ideal não gosta de música sertaneja.
- É mesmo? E que som ela curte?
- Rock, alguma coisa de Jazz... dependendo do dia, MPB.
- O que tem de errado com Leandro e Leonardo, KLB, é o Tchan?
- Nada, só não é mulher pra mim. De qualquer forma, foi um prazer.

Todo mundo erra. Quem nunca pensou ter encontrado o grande amor e depois descobriu que ele roncava, tinha caspa e não era muito chegado a banho no inverno? Se fosse fácil não teria graça. O importante é não desanimar, e não foi dessa vez, partir pra outra. Tente declamar seu poema predileto em praça pública e espere alguém completá-lo. Se ninguém se manifestar,saia correndo. Podem ter chamado a polícia.

- Espera.
- O que foi?
- Eu também gosto de MPB. Minha mãe ouve Chico Buarque o dia inteiro.Tecnicamente, se eu estou em casa, também ouço.
- Não sei.... Acho que foi um engano.
- Como você pode saber?
- Olhando bem... você é mais alta do que eu imaginava. A mulher da minha vida tem 1, 60 de altura. Foi um prazer.
- Espera, eu estou de salto. Olha só... fiquei mais baixa.
- Você não tem nada a ver comigo.
- Tenho sim.
- Que interesse repentino pela minha pessoa... Até um minuto atrás você queria que eu fosse embora.
- Também não sei o que me deu.
- Você tomou do meu whisky, foi isso?
- Não... quer dizer, não lembro.
- Cadê seu namorado?
- Está na minha frente, com uma coisa esquisita na camisa...
- Que nojo... o que mais você comeu, hein?
- Miojo, antes de sair de casa.
- Eu não posso ser seu namorado, você já tem um.
- Eu menti.
- Só pra me dar o fora? Conseguiu. Tchau.
- Volta aqui, meu amor. Pega uma vodka pra mim.
- Sai de perto de mim, sua louca.
- Só saio daqui casada.
- Socorro.
- Achei o homem da minha vida !!!


:: O MAIÔ VERDE DE MINHA TIA ::
da Redação do DamnZine infiltrada no Reader's Digest

Natal, 1979. Bebê Jonas em primeiro plano, sorrindo com as gengivas para a câmera da mãe Augusta. A prima Ilária, o vovô Aníbal e aquela sujeitinha escandinava que saía com o Hector (aquela, que fugiu com o pasteleiro pelo encanamento da igreja), todos enfileirados e sorridentes, para a lendária foto de Natal. E o que vem a ser essa mancha verde ao lado da bola de pêlos e do Benny o Cão Cego? Ah, querida... (suspirou longamente) é a Tia.

Então, era a Tia. Mais de 20 anos depois, era mais uma vez Natal na casa da bisavó, e Tia Élice estava presente, atacando com voracidade a compota de pêssego e sentando-se comodamente na poltrona com seu belíssimo traje de banho verde. Ninguém mais reparava, não lhe davam mais presentes e sequer sabiam exatamente seu nome. Élice, a Tia (poucos se lembravam de quem ela era parente ou qual era mesmo seu maldito nome, bolas!) não parecia se importar com o fato, e muitos não saberiam que ela prestigiava todas as cerimônias da família se não fosse o escandaloso maiô verde. Se ficava perto da samambaia, passava despercebida: certa vez Bunny o Coelho Calado chegou a mordiscar o umbigo de Tia Élice, por achar que se tratasse de um tímido talo de rúcula.

Um dia receberam a notícia: o prefeito queria se casar com Élice. Até Bonnie - filho do Cão Cego - riu com a notícia, achando que se tratava de uma grande balela, mas era assustadoramente verdadeiro. A Tia passara em frente ao escritório do prefeito, graciosamente voltando da feira, e ele se apaixonou instantaneamente por aquela criatura cheia de pacotes, sacolas, um vaso de gerânios e um maiô verde. Adorável ao extremo, pensava ele.

Peregrinaram a cidade toda perguntando onde morava Tia Élice. Nem o prefeito, nem mamãe Augusta, nem Benny, muito menos a escandinava (que se divorciou do pasteleiro e vivia disfarçada na cidade sob a alcunha de Lília, A Domadora de Pulgas), ninguém sabia onde a Tia morava. Não tinham seu telefone, não tinham o nome completo, não sabiam sequer se ela era da família. Nenhum deles se lembrava de alguma vez ter visto Élice entrando pela porta para a Festa de Natal. Tampouco lembravam de vê-la saindo. O prefeito renunciou ao cargo e saiu pelo mundo a procurar sua insólita musa, mas não foi muito longe porque nunca mais foi visto. A família, apreensiva, vendeu o apartamento da bisavó e adotou o sobrenome de "Mascarenhas Soares", tendo vivido em perfeita harmonia até o dia em que Bunny Calado morreu, subitamente, após trazer nos dentes uma tira de jornal que mostrava o jardim do Palácio do Planalto com uma amoreira exuberante e certa mancha verde escondendo-se atrás da cerca de arame.


:: LIÇÃO TOON ::
Moral da história, da Revista Info

"Excesso de tempo online pode fazer com que uma pessoa seja capaz de se concentrar por apenas 9 segundos, ou o mesmo que um peixe dourado, diz o MIT."

Digno de uma Reader's Digest. [aplausos]


:: CORRESPONDÊNCIA ::
e-mails reais, bisonhos e suspeitíssimos, interceptados por uma inocente afta.

Olá. Feliz Dia do Palhaço.

Por Tutatis, o serviço de Reply desse email é péssimo. Outro dia mandei um email de volta e eles me trouxeram uma pizza de anchovas. Malditos pagãos.

Então, na verdade era tudo uma farsa: você não encontrou a minha casa, eu sei. Eu moro no Sacomã. E você caiu como um patinho. Ou como um naco de pão ázimo na poça de coalhada.

Hm. Primeiro vamos rever a noção do torto e do reto. Ok. Você chegou na Rua A, sim? virou à esquerda, na Farmácia "Que-os-Vermes-Morram-de-Fome". Aí você entrou na Rua B. Olha, olha, e entra na esquina à direita. Na verdade é a segunda esquina, eu acho. É a maior esquina que tem. Onde há uma chinchila gigante. Aí é a Alameda C. Ela mesma. Achou que não ia te reconhecer? E você segue reto, reto e sobe a ladeira grande. A noção do reto, sabe qual é? Então. Aí vai até o fim da ladeira e vai ter uma placa, ou talvez não, mas vai ter uma guarita. E a Praça Tito. Você vai descer a ladeira, que é uma rua bem ventilada, com várias lombadas e pessoas felizes. Algumas não vão estar tão felizes, outras vão estar com gorros e luvas assaltando casas, mas em geral elas são acolhedoras e simpáticas. Aí você segue pelo som e procura uma casa de onde esteja saindo um ruído de bodes enfurecidos. É lá mesmo.

Bata palmas e grite: "CORREEEEIO". E saia correndo. O mais rápido que puder. Não olhe pra trás. No caminho você encontrará algumas estátuas de sal.
Rogue pela proteção de Oimo, o Almeirão.

Eu.

:: VOCÊ PERGUNTA, NÓS NÃO DAMOS A MÍNIMA ::
Questionamentos sadios de uma sociedade doente

??? Por que abreviação é uma palavra tão grande? (Dadá, dias depois)

Na verdade, "abreviação" é uma palavra que pode, sim, ser abreviada. A propósito, eu usei a abreviação de abreviação cerca de 20 vezes até agora nesse Zine. A tão falada abreviação da abreviação é uma palavra hindo-messiânica q compreende ao símbolo Posêidon do alfabeto cirílico. Pode ser oralizada na forma de um cuspe seguido por um som parecido ao de um cachorro estalando no fogo, e é representado por sucessivos espaços em branco, como estes.

 


EXPEDIENTE

Este Zine é impessoal. Computadores-robô meticulosamente programados desenvolvem os textos, se emocionam, revisam e publicam a visão neutra e imparcial da coisa toda. O único responsável é a instituição "Da Redação".


... Para ser lido na maldita hora da noite em que tudo é engraçado (que vem logo após a hora em que nada faz sentido e antes daquela em que tudo faz sentido) - Stephanie A.

Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque (oinc!) estava na lista de indivíduos manquitolas da lista negra dos Illuminati. Ou então, ou então! Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque foi um dos 139 mil nomes escolhidos entre todos os possíveis do mundo, sorteados em uma grande urna chinesa após irregularidades com os indianos (tão parecidos, por mil demônios). Caso não queira voltar a receber este monte de bobagens, mande um e-mail para vmbarbara@yahoo.com, e escreva na linha de assunto: "Me deixem em paz, pelas barbas de Tutatis!". Se quiser que mais vítimas recebam o Zine, também escreva para esse e-mail mandando o endereço dos condenados e o número e senha de suas contas bancárias.

!!DAMN!! Zine - o zine das coisas que foram, das coisas que são o que são, das que não são o que não são e das que poderiam vir a ser o que não foram. Perfeito para forrar o chão de barracas permeáveis e para embrulhar mortadela. Parceiro do tablóide norte-americano "O Sol da Meia Noite", mas não olhe pra trás porque tem um fauno fritando ervilhas nas suas omoplatas. Pois, como disse o profeta: "Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que ri cuidado para que não babe".


God is coming.
Look busy.



2005 Vanessa Barbara