Hoje, excepcionalmente, não haverá Editorial. Um grande pombo laranja inflável interceptou o prédio da Redação e cobriu o sol que nos inspirava. A polícia cercou o local e tenta entender quais são as aspirações da Ave, que olha com desdém para a sala de Redação enquanto mastiga uma velha máquina de escrever. Os repórteres, satisfeitos com a folga inesperada, organizaram uma gigantesca roda de Batata-Quente no pátio central. A secretária de Redação, Chache, teve um acesso de riso e já foi retirada do local. A editora permanece escondida no armário, e não quer realmente falar sobre isso. Uma centena de curiosos se concentra na Praça Tito, gritando "dança! dança!" para o Troço Laranja, e lançando alfinetes coloridos no Grande Pombo. A única manifestação do distinto senhor pombáceo foi um cartaz estendido por ele, onde se lia algo tão vago e nebuloso como: "A.L.L..Y.O.U.R..B.A.S.E...A.R.E..B.E.L.O.N.G..T.O..U.S". Não, não temos medo. A luta segue!
Chega um tempo em que não
se diz mais: meu Deus. Em vão mulheres batem à
porta, não abrirás. Pouco importa venha a velhice, que
é a velhice?
O corpo humano segue outros padrões da natureza. É o que eu observava num livrinho azul cujo título se lia em fonte Times: "O Corpo Humano". Tratava-se de um livro cheio de figuras e setinhas indicadoras dos nomes de cada órgão dentro de cada sistema. O sistema nervoso central, por exemplo, parece uma árvore alta cuja copa fica no topo. O tronco seria a medula espinhal. As pequenas ramificações dos galhos da copa seriam os neurônios e suas sinapses no cérebro. Dentro do meu quarto, deitado na minha cama, eu pensava nisso. Foi então que minha mãe apareceu de repente na porta. Trazia uma notícia desagradável: - Tive de devolver o cachorrinho, filho. Fiquei atônito. Ela continuou. - A filha da mulher que nos deu o filhote entrou em depressão e tomou água sanitária. O motivo é que ela queria o cachorro de volta... - Água sanitária. - É, filho. Não teve jeito. Tive de devolver. Você ficou chateado? O que eu podia dizer? O cachorrinho ganharia o nome de Lulu. Era um vira-lata preto, pequenino. Tinha patas brancas. Era quieto e curioso como eu. Mas eu mal tivera tempo de afeiçoar-me a ele. Tive-o só por meio dia, das dez da manhã às dez da noite. Eu não sentia nada. Mas tive de dizer alguma coisa. - Fiquei. Assim. No passado. Como se eu fosse o mestre da superação. - Mas... água sanitária? Era melhor devolver o cachorro mesmo. Estas últimas palavras foram reconfortantes para minha mãe. Com um peso na alma ela soltou um suspiro e se retirou. Fiquei o resto da noite lendo o tal livro de anatomia. No entanto, decidi consultar também a Enciclopédia Barsa. O sistema era então o urológico. Na Barsa eu observava o formato de grãos de feijão. No livrinho eu notava a semelhança destes com os rins. Foi então que me veio à tona o verdadeiro problema: a tentativa de suicídio. Isto só é observado entre humanos. Tentei lembrar de animais que tentavam cometer suicídio, mas não conseguia pensar em nenhum outro a não ser o homem. Como um estalo, compreendi que o homem é o único animal capaz de ir contra seu instinto de sobrevivência por amor. E todo este pensamento passou por mim como uma brisa rápida. Eu mal conseguia exprimi-lo. Minha fascinação ficou exposta aos ouvidos das paredes do meu quarto assim: - Água sanitária... que loucura! E voltei a perceber semelhanças entre o cérebro e a couve-flor.
Não existe não existe
não existe não existe não existe caramba olha
só quem está aqui na minha janela. Quem precisa de uma
cortina com pompons, uma persiana metálica, um cobertor azul
nas frestas do vento, pra quê todos esses luxos quando se pode
ter uma genuína fada do dente com as mãos grudadas nas
grades da sua janela!? Congela a imagem. Hoje de manhã acordei
e ela estava mordendo o vidro, pedindo pra que eu abrisse. Na verdade
não era ela quem roía a janela, mas as diversas dentaduras
que compôs com os milhares de dentes de leite que rouba diariamente
dos travesseiros das crianças. Ela tem a testa grande, os cabelos
loiros e um olho enorme. Só um. E não tem dentes. Estática,
pede "posso voltar a respirar?". A trilha sonora reaparece,
a brisa continua. Ela quer entrar no quarto, mas eu digo que meus
dentes já se foram há algum tempo. Não, aquele
dente de Tubarão não está comigo, mas posso te
dar o endereço. Não quero seus dentes, olha só,
ela não tem gengiva. Mas enquanto eu dou risada ela já
adentrou o recinto, com seu séquito enfurecido de cáries
medonhas e emburradas, a revistar minhas gavetas procurando um pacote
de bolachas ou um vidro de Cepacol, que, como se sabe, elas adoram.
As cáries, não as gavetas.
A enquete da semana, encomendada pelo Instituto Dona Benta de Receitas Culinárias, ainda está recebendo respostas. A pergunta é: "Qual a primeira coisa que você faria se fosse um livro de receitas?". Mandem suas opiniões para a Rua Saturnino de Brito, 74, ao lado da Praça Tito, ou para vmbarbara@yahoo.com. Colocaremos todas em um papel cheio de números e tipologias, em que adequaremos suas respostas às seguintes categorias: "doentes - 12%", "divertidas - 32%", "sou um livro de receita há 10 anos - 44%", "não cutuquem minhas páginas- 58%" e "prefiro um banho de soda cáustica (deak)". Depois leremos em voz alta numa mesa de diretoria e daremos voltas de contentamento em torno de nosso próprio eixo.
??? Por que os aviões não são fabricados com o mesmo material usado nas suas caixas pretas? (Dadá) Porque o material usado nas caixas pretas é piche. E, se o avião fosse revestido por uma espessa camada de piche, as penas dos pássaros transeuntes grudariam no veículo alado e pronto: os radares iam ficar malucos com a presença de uma grande ave penífera saracoteando de lá pra cá no céu. É um grave problema da indústria aviônica. ??? Se uma palavra estivesse mal escrita num dicionário, como saberíamos? (ele de novo, sempre interessado) Oras. Consultando os redatores do DamnZine. Próximo? ??? Adão tinha umbigo? (ibidem) ??? Como pode o Pato Donald ter sobrinhos se não tem irmãos? (de novo) Donald fez um irmão de argila que se reproduziu por brotamento ou cissiparidade.
Este Zine é impessoal. Computadores-robô meticulosamente programados desenvolvem os textos, se emocionam, revisam e publicam a visão neutra e imparcial da coisa toda. O único responsável é a instituição "Da Redação".
Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque (oinc!) estava na lista de indivíduos manquitolas da lista negra dos Illuminati. Ou então, ou então! Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque foi um dos 139 mil nomes escolhidos entre todos os possíveis do mundo, sorteados em uma grande urna chinesa. Você e Li-Ching-Yang. Caso não queira voltar a receber este monte de bobagens, mande um e-mail para vmbarbara@brfree.com.br, e escreva na linha de assunto: "Me deixem em paz, pelas barbas de Tutatis!". Se quiser que mais vítimas recebam o Zine, também escreva para esse e-mail mandando o endereço dos condenados e o número e senha de suas contas bancárias. !!DAMN!! Zine - o zine das coisas que foram, das coisas que são o que são, das que não são o que não são e das que poderiam vir a ser o que não foram. Perfeito para forrar o chão de barracas fajutas e para embrulhar mortadela. Parceiro do tablóide norte-americano "O Sol da Meia Noite", mas não olhe pra trás porque tem um fauno fritando ervilhas nas suas omoplatas. "Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que ri cuidado para que não babe". All your base are belong to us.
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2005
Vanessa Barbara |