Ele acordou e havia capim ao redor.
Olhou para o relógio, ainda dava tempo de ir pro inglês.
Depois era preciso passar no bronzeamento artificial. E no escritório.
E na fisioterapia, na hidroginástica, no consultório
dentário, no bandeirante, na terapia, no karatê. Sua
vida era repleta de substantivos, tão vagos quanto seus dedões
do pé, que moviam-se lentamente sob um torpor engraçado.
Dezesseis e cinqüenta e quatro: passar na Helenilde, que era
a moça do Xerox. Ele se levanta, resoluto, e subitamente lembra
que havia capim - capim - ao redor. Caramba. O que estou fazendo de
paletó e meias, em cima de um monte de feno, cercado de vacas
sorridentes?? (N. E.: Churrasco?) O relógio marcava dezesseis
e cinqüenta e quatro, e Helenilde estaria prestes a fechar a
loja, mas que diabos, malditas vacas, saiam daqui.
E como eu palmilhasse vagamente
As bengálicas borboletas adjetivas Um particípio-ponte vai vibrar,
vibrar!! Dança de artigos mexe graciosa
balançantes perninhas. Das lamparinas de rua despedaça-se. Eleva-se rapidamente, varrendo fantásticas
paisagens de frases.
"São Paulo, 19 de abril
de 2002. Meu nome é Silas, tenho 32 anos,
1,78m de altura, 68 quilos, olhos castanhos, testa estreita, sou católico,
sentimental e a favor da democracia. Gosto de poesia expressionista
alemã. Recebi o Zine sem pedir por ele, em uma tarde de abril,
e fiquei estupefato com uma das seções que vocês
teimam em manter toda semana. Aquela dos títulos. Sou redator-júnior
da Seleções do Reader's Digest, onde trabalho
há mais de quarenta anos, e minhas atribuições
na Revista são, respectivamente: trocar as lâmpadas,
polir janelas, contar piadas, tossir, declamar poemas e elaborar bons
títulos. Sim, sou eu o Homem dos Títulos. E fiquei bastante
magoado com sua momice às minhas reportagens investigativas
sobre a Lontra, o fêmur de João, a circulação
linfática e tantos outros assuntos de relevância Nacional,
e, por que não?, humana. Gostaria de saber para onde mando
meu currículo." Mudei-me para a casa dos eruditos
e bati a porta ao sair. Por muito tempo, a minha alma assentou faminta
à sua mesa. Não sou como eles, treinados a buscar o
conhecimento como especialistas e rachar fio de cabelo ao meio. Amo
a liberdade. Amo o ar sobre a terra fresca. É melhor dormir
em meio às vacas que em meio às suas etiquetas e respeitabilidades.
Em Velvet Water, em 1974, "repetidamente, mergulhei a cabeça em um tanque numa tentativa de respirar água. Depois de 5 minutos comecei a tremer e desmaiei". A mais famosa das performances de Chris Burden foi SHOOT, apresentada em Santa Ana, em 1971. "Às 19:45 um amigo me deu um tiro no braço esquerdo. Era uma bala de cobre rifle longo, calibre 22. Ele estava a menos de 5 metros de distância". A bala existe até hoje como relíquia.
... Se pelo menos alguém iniciasse uma guerra, nem precisaria ser justa. Essa paz é tão estagnante.
:: FIM DO MUNDO :: O chapéu voa da cabeça
do cidadão, A tempestade chegou, saltam à
terra
??? Afinal, de uma vez por todas,
o que é a "Corporação" de que vocês
tanto falam? (Silas, Votuporanga-SP)
Este Zine é impessoal. Computadores-robô meticulosamente programados desenvolvem os textos, se emocionam, revisam e publicam a visão neutra e imparcial da coisa toda. O único responsável é a instituição "Da Redação".
Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque (oinc!) estava na lista de indivíduos manquitolas da lista negra dos Illuminati. Ou então, ou então! Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque foi um dos 139 mil nomes escolhidos entre todos os possíveis do mundo, sorteados em uma grande urna chinesa. Você e Li-Ching-Yang. Caso não queira voltar a receber este monte de bobagens, mande um e-mail para vmbarbara@brfree.com.br, e escreva na linha de assunto: "Me deixem em paz, pelas barbas de Tutatis!". Se quiser que mais vítimas recebam o Zine, também escreva para esse e-mail mandando o endereço dos condenados e o número e senha de suas contas bancárias. !!DAMN!! Zine - o zine das coisas que foram, das coisas que são o que são, das que não são o que não são e das que poderiam vir a ser o que não foram. Perfeito para forrar o chão de barracas fajutas e para embrulhar mortadela. Parceiro do tablóide norte-americano "O Sol da Meia Noite", mas não olhe pra trás porque tem um fauno fritando ervilhas nas suas omoplatas. "Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que ri cuidado para que não babe"
|
2005
Vanessa Barbara |