A Hortaliça

www.hortifruti.org

Trocadilhos tolos e conduta absurda
Edição #036, de 13 de outubro de 2002.
Em caso de acidente, chame a brigada de incêndio.
Para aqueles que riem com a mesma cara que engasgam.

hortalica@gmail.com
¿Y si en vez de planear tanto voláramos un poco más alto?

 

"Una pulga no puede picar a una locomotora,
pero puede llenar de ronchas al maquinista."
(Libertad, amiga da Mafalda)

 

EDITORIAL
 

Era um dia como estes daqui, talvez até fosse o Dia da Criança, e os inventores do dicionário estavam bem macambúzios depois de criarem o verbo "vaticinar", o adjetivo "vítreo" e a terrível "vilipendiar". Realmente deprimidos, atiraram-se no sofá e choraram em uníssono (lembrando, com amargura, dos tempos em que criaram o elegante "uníssono", e logo em seguida foram comemorar o feito). Eis que um deles, de repente, levanta-se e exclama qualquer interjeição localizada entre o M e o P; abre um sorisso deste tamanho e vai correndo registrar "velhinho" no grande volume de palavras boas. Trata-se de um vocábulo enrugado, que olha para os lados sempre apreensivo, segurando junto ao corpo um pacote de saco de padaria contendo balas de caramelo. "Velhinho" é uma palavra baixinha, tímida e hesitante, que mexe as mãos enquanto fala.

Pois estes dias a reportagem deste jornalzinho encontrou um representante da espécie no metrô, daqueles que ficam mastigando as bochechas repetidamente e olhando para cima com as pupilas diminutas como um axolote. Alguém chegou perto do pequeno (como alguém ousa se aproximar? vai quebrar) e perguntou a ele como é que se fazia pra chegar na estação Consolação. Ele respondeu "não sei", e a pergunta voltou: "pra onde é que esse metrô vai?", e ele disse: "não sei, não sei", meio impaciente -------- ah, se eu fosse uma velha doida (daquelas que as crianças do bairro atiram pedras na rua e o padre benze quando passa), eu também nunca ia querer saber pra onde vão os metrôs. Nunca, nunca. Vai que eles caem naquela beira do mundo, saem voando de patas abertas, entram numa dimensão paralela e pousam com estardalhaço numa aula de taquigrafia dos anos 60...

Também não ia fazer questão que eles chegassem.


:: ELES CONTROLAM O QUE VOCÊ ESCREVE ::
mais uma fecunda colaboração anônima, coletada por André Deak.

Sempre que pensamos em "caneta", temos uma imagem projetada em nossa mente que diz respeito às canetas BIC. A marca, apesar de investir pouquíssimo em propaganda, fixou uma imagem muito forte diante de tantas outras existentes no mercado.

Você já se perguntou como isso aconteceu ?

Certamente responderá que o uso tornou-se habitual em todos os lugares por ser uma caneta barata, simples e sem grandes complicações. Mas a resposta não é assim tão simples.

Documentos confidenciais encontrados no final de 2001 comprovam um envolvimento direto da NASA com a BIC. Também foram encontrados relatórios oficiais da NASA, onde foram registrados estudos sobre uma possível invasão de sondas extraterrestres no Planeta Terra. Acredite ou não, estamos sendo vigiados há anos sem que possamos perceber.

De fato, conclui-se que as canetas BIC são -- sem qualquer sombra de dúvida -- sondas extraterrestres que nos inspecionam diariamente, desde nossa infância, em casa, na escola, na universidade, nos hospitais, no trabalho, em tudo.

Certamente você está exposto a uma caneta BIC neste exato momento. Olhe ao seu lado: dificilmente num raio de 15 metros não haverá uma sonda.

Agora pense comigo: Ao nascer você é registrado com uma caneta, ao entrar para a escola/universidade também, tudo o que você escreve (desde teses de mestrado em Princeton até longas cartas de amor) é escrito com uma caneta; ou seja, estes seres que nos observam sabem de absolutamente TUDO sobre TODOS.

O verdadeiro significado da marca BIC é: Big Inspekto Center (ou: "Centro de Grandes Inspeções"). No logotipo da BIC notamos um alien tentando esconder atrás dele seu maior segredo: uma caneta que pode contar toda a história de todos os tempos (simbolizado pelo traço preto atrás do alien).

Vejamos agora algumas dicas que nos levam a propor esta idéia:

- As canetas BIC são facilmente encontradas para serem vendidas. Depois que você possui uma, porém, ela sempre aparece em diferentes locais, e você nunca se pergunta se realmente havia deixado onde encontrou.
- Mesmo que você compre apenas uma caneta BIC, certamente encontrará várias no local onde a deixou. Elas se multiplicam rapidamente, sem que possamos perceber.
- Após poucos meses, a caneta que você havia comprado simplesmente desaparece. Isto é facilmente decifrável se pensarmos da seguinte maneira: tudo necessita de energia para sobreviver (o homem, o carro, as plantas, a TV); e, ao acabar esta energia, ela precisa ser reposta. Assim, as sondas BIC têm um período de vida curto, pois, quando ficam totalmente gastas, simplesmente se desintegram para uma possível recarga.

A mensagem que quero deixar é que você tenha muito cuidado ao se deparar com estas canetas-sondas, principalmente com as mais avançadas, vulgarmente chamadas de BIC 4 Cores, BIC 2 CORES ou mesmo a tão temida e perigosa BIC VERDE! Esta última jamais deve ser colocada (presa) em cima da orelha, pois, além de enviar dados e informações sobre você para os alienígenas, consegue influenciar de maneira drástica sua forma de pensar, tornando-o um escravo a serviço das Organizações Bic.


:: (MEDO) ::
por Umberto Eco

O autor deveria morrer depois de escrever. Para não perturbar o caminho do texto.

:: HOMEM COMENDO BIFE ::
por Rodrigo de Haro

Leu jornais
A carta
Olhou o relógio
As unhas
Pediu água da fonte
Sonhou com toldo
Todo flores de corneta
Catarina a louca dos oceanos
Agita com o remo
A terra estremece
Santa
Santa
Aos poucos inteiro comerá o homem
O boi pele e ossos
Peço desculpas ao cão
Tigrado que fita sincopada
Melodia descer
Pelo balcão
Vir apertada enlaçar
O pescoço taurino do homem
Que um bife sentado come
Sem olhar à volta
Para os despojos da guerra
Perene natural
Toda a vida
Na arena a carne sangra
Prato talheres guardanapo
Amassado discretamente
Homem concentrado leu todas
As cartas na biblioteca
Incendiada,
Fita agora o bife coriáceo
Esquecidos murmúrios a fonte
De Aretusa
Na fria revista parisiense contempla
A mulher vestida de narcisos
Agora come o bife
Que lhe servem
Elegantemente
Enquanto a terra estremece
Sacudida pelo pranto.


:: DAMNZINE STANDARD DISCLAIMER ::
discurso-padrão para uma época nada original.

Este produto é feito apenas para uso externo e propósitos educacionais. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência. Contém peças pequenas que podem ser ingeridas por crianças menores de 2 anos. Embalado a vácuo. Baterias não incluídas. Não pode ser vendido separadamente. Garantia até a copa de 2006. Não use enquanto estiver operando veículo automotor ou maquinário pesado. Não é necessário selar. Aprovado pelo Iso 9002. Parte integrante do álbum de cromos autocolantes "Pollyanna". Indicado por cardiologistas. Aplique apenas nas áreas afetadas. Contém glúten. Pode ser forte para alguns usuários Não comedogênico. Dermatologicamente testado. Não beba. Seque ao sol. Mantenha fora do alcance de crianças e animais peçonhentos. Evite contato com olhos e mucosas. Não use os dois lados. Se os sintomas persistirem, consulte seu psicanalista. Não perturbe. Em caso de sensibilização, interrompa o uso. O prazo de validade refere-se ao produto com tampa fechada. Conserve em lugar seco, escuro e sob temperatura ambiente. Após aberto, consumir em até uma semana. Os dados apresentados estão passíveis de modificação sem aviso prévio. Os números são aproximados. Como visto na televisão. Tamanho único. 2% de nicotina. Algumas cores podem se desgastar com o tempo. Não obstrui os poros, não causa acne, não resseca a pele e não contém álcool. Usar somente nas axilas. Agite antes de usar. Em caso de irritação, suspenda o uso e procure orientação médica. Evitar o contato com as partes íntimas do corpo. Não utilizar como protetor solar, máscara facial ou inalador noturno. Após o término, recarregar com o refil. Não responsável por danos diretos, indiretos e conseqüentes de algum defeito, erro ou falha na utilização. Direcionado para uso doméstico. Nunca use sem a presença de um adulto. Não escreva nada abaixo desta linha. Coloque o selo aqui. Assine sem qualquer comprometimento. Proibida a participação de funcionários e de seus parentes. Cuidado com o cão. Promoção por tempo limitado, ligue agora para garantir seu pedido. Mantenha longe de fogo ou líquidos inflamáveis. Os preços não incluem taxas de frete. Não aceitamos moedas canadenses. A reprodução é estritamente recomendável. Não entre sem camisa. Produzido na Zona Franca de Manaus. Venda sob prescrição médica. Fabricado de acordo com as normas do IMetro. Só pode ser vendido com retenção da receita. Não fure, dobre ou destrua. Contém aspartame. Não reflete as opiniões do dono, minhas, da minha companhia, dos meus amigos ou do meu gato. Unix é marca registrada da AT&T. Não me cite nesta frase. Não me cite de maneira alguma. Você pode distribuir este texto livremente, mas não pode ter lucros nele. A não ser que os repasse a algum Instituto de Cegos. As ilustrações são um pouco maiores para mostrar detalhes. Não remova esta nota sob pena de multa da lei. Lave a mão, seque à sombra e não torça. A promoção limita-se à quantidade de peças no estoque. Se alguns defeitos forem detectados, não tente consertá-los: leve a uma assistência técnica. Leia sob seu próprio risco. Cenas fortes. Pode conter materiais explícitos considerados ofensivos. Somente um exemplar por família, por favor. Os bonequinhos são vendidos separadamente. Leia a bula. Não compre caso o lacre de violação estiver rasgado. Não conserve perto de objetos metálicos ou radiativos. Fumar este produto pode ser prejudicial à sua saúde. A melhor forma de prevenção é a abstinência. Não contém conservantes. Se ingerido, não induzir o vômito. Pode ocasionar alguns dos efeitos colaterais mencionados e/ou a morte. A oferta é válida apenas para os meus amigos. Não cobre acidentes por falta de prática, distração, tempestades, incêndios, tornado, tsunami, erupção vulcânica, terremoto, furacões ou outros desígnios de Deus, negligência, voltagem incorreta, uso impróprio ou não-autorizado, antena quebrada ou cabine emperrada, números seriais alterados, radiação eletromagnética de explosões nucleares, vibrações supersônicas, ajustes pessoais não cobertos nesta lista e acidentes devidos a queda de avião, naufrágio, desastre automobilístico, avalanches, desabamentos, areia movediça, tiros (que podem incluir - mas não estão limitados a estes itens - balas de revólver, setas indígenas, lasers, napalm, torpedos, canhões ou emissões de raios-X, raios alfa, gama ou beta, facas, pedras, tamancos etc). Outras restrições podem aplicar-se. Isto suplanta todos os avisos anteriores.


:: RAZÕES PARA VOTAR NO GOVERNO ::
por Millôr Fernandes, Revista Cruzeiro, 1955

1. Porque acho o governo péssimo, mas acho pior ainda a opinião de várias mulheres da minha família que vão votar na Oposição.
2. Porque embora o Governo seja corrupto, e por isso mesmo, sempre se pode conseguir um bom bico na Petrobrás.
3. Porque ainda que o Governo seja horrível pra mim, é pior pro meu vizinho. E eu detesto o próximo.
4. Tirei cara ou coroa e deu esse resultado.
5. Porque a Oposição pretende fazer uma política de trabalho e eu não quero mudar meus hábitos.
6. Porque os cartazes do Governo são mais bem impressos que os da Oposição.
7. Porque eu sou jornalista e no dia em que o País estiver em mar-de-rosas, de que é que eu vou viver?
8. Porque num país desmoralizado e dirigido por um Governo irresponsável, eu, com um pouquinho de esforço posso ser considerado um homem altamente íntegro. Num governo decente, a concorrência é de matar.
9. Porque a Oposição pretende fazer um governo revolucionário e eu detesto revoluções.
10. Porque o chefe da Oposição não me convidou para a última reunião na casa dele e eu fiquei muito magoado.
11. Porque um homem só demonstra seu exato valor face ao sofrimento contínuo.
12. Porque adoro Ditadura.
13. Porque da última vez eu votei contra e não adiantou nada.
14. Porque da última vez eu votei contra e tenho temperamento de pêndulo (ou pendular?)
15. Porque minha cozinheira é uma oposicionista tremenda e eu quero neutralizar o voto dela.
16. Porque minha mulher é contra o Governo, eu também sou, mas acho que um casal deve ser imparcial.
17. Porque cismei.

:: DICIONÁRIO DAS IDÉIAS FEITAS ::
por Gustave Flaubert, em Bouvard e Péchuchet

Otimista -- Equivalente a imbecil.

Orquestra -- Imagem da sociedade; cada qual executa a sua parte, e há um chefe.

Ordem Pública (A) -- Quantos crimes se cometem em teu nome!

Original -- Rir-se de tudo que é original; odiá--lo, injuriá-lo, exterminá-lo, se possível.

Operário -- Sempre honesto, quando não provoca motins.

Ônibus -- Nunca se encontra lugar neles. Foram inventados por Luís XIV. -- "Eu, meu senhor, conheci os triciclos, que só tinham três rodas!"

Ovo -- Ponto de partida para uma dissertação filosófica sobre a gênese dos seres.

Óleo de oliva -- Nunca é bom. -- Deve-se ter um amigo em Marselha que nos remeta um barril de óleo.

Ostras -- Não se pode mais comê-las! Estão caríssimas!


:: SONHO DE PLATÃO ::
por Voltaire (disponível para download em http://www.ebooksbrasil.com/nacionais/ebooklibris.html)

— Na verdade, fizeste um excelente trabalho: dividiste o teu mundo em dois e puseste um grande espaço d'água entre os dois hemisférios, a fim de que não houvesse comunicação entre ambos. Os humanos vão enregelar-se nos teus dois pólos e morrer de calor na tua linha equatorial. Distribuíste prudentemente, pelas terras, grandes desertos de areia, para que os viajantes morressem de fome e de sede. Estou muito satisfeito com os teus carneiros, as tuas vacas e as tuas galinhas; mas, francamente, não vou muito com as tuas cobras nem com as tuas aranhas. As tuas cebolas e alcachofras são excelentes; mas não concebo qual foi a tua intenção ao cobrir a terra de tantas plantas venenosas, a menos que tivesses o desejo de envenenar seus habitantes. Parece-me, por outro lado, que formaste umas trinta espécies de macacos, muito mais espécies de cães e apenas quatro ou cinco espécies de homens; é verdade que deste a este último animal aquilo a que chamas razão; mas, para te falar com toda a sinceridade, essa tal razão é demasiado ridícula e muito se aproxima da loucura. Parece-me aliás que não fazes grande caso desse animal de dois pés, visto lhe haveres dado tantos inimigos e tão pouca defesa, tantas doenças e tão poucos remédios, tantas paixões e tão pouca sabedoria. Pelo que se vê, não queres que fiquem muitos desses animais sobre a face da terra: pois, sem contar os perigos a que os expões, arranjaste de tal modo as coisas que um dia a varíola arrebatará regularmente todos os anos a décima parte dessa espécie e a irmã dessa varíola envenenará a fonte da vida nos nove décimos restantes; e, como se ainda não bastasse, fizeste de modo que metade dos sobreviventes se ocupará em demandas e a outra metade em matar-se. Eles, sem dúvida, muito te ficarão devendo, e fizeste na verdade uma bela obra.

:: SINGRADURA ::
por Jorge Luis Borges. Aula de hoje: metáforas.

O mar é uma espada inumerável e uma plenitude de pobreza.
A labareda se traduz em ira, a fonte em tempo, e a cisterna em clara aceitação.
O mar é solitário como um cego.
O mar é uma linguagem antiga que não consigo mais decifrar.
Em sua profundez, a aurora é um modesto muro caiado.
De seus confins surge o claror, qual nuvem de fumaça.
Impenetrável como de pedra lavrada
o mar persiste diante dos muitos dias.
Cada tarde é um porto.
Nosso olhar flagelado de mar caminha por seu céu:
Última praia macia, celeste argila das tardes.
Que doce intimidade a do ocaso com o mar intratável!
Claras como uma feira as nuvens brilham.
A lua nova enredou-se num mastro.
A mesma lua que deixamos sob um arco de pedra e cuja luz vai enfeitar os salgueiros.
No convés, em silêncio, compartilho a tarde com minha irmã, como um naco de pão


:: LINKS ::
links inúteis para pessoas dispensáveis

- http://www.rizoma.net >> site estonteante, no sentido literal da coisa.


:: ESQUECIDOS ::
por Marcelo Coelho (Noturno)

E os presentes rejeitados: o tambor que foi dado a um menino no dia do aniversário e que por um acaso, por um desentendimento triste entre pessoa e coisa, não fez sucesso; não agradou. Foi desprezado, esquecido, sua solicitação festiva de festões vermelhos e azuis, sua geometria infantil de losangos dispostos pelas bordas, sua palhacice, seu apelo, vim trazer felicidade, nada disso correspondeu a coisa alguma, nenhum som, nenhuma palavra simples, estou aqui, diriam juntos o tambor e o menino, nenhum eco no corpo do coração, nenhuma luz nos olhos, nenhuma alegria se fez.

(Assim, ou o tambor foi trocado por outro brinquedo e a empregada, supondo que tenha sido dela, teve de pegar o ônibus até a loja, explicar o acontecido, pagar com a bolsa a diferença entre o preço do tambor e o de seu substituto mais arrogante e certo: ela que o havia dado retoma-o nas mãos, vira as costas, costas sempre iguais das pessoas que vão embora por não terem sido capazes de trazer contentamento, costas curvadas e simples de quem, afinal, nem estava ligando tanto para o drama de todo o fato mas foi mesmo assim, passo a passo, para longe, carregando consigo o lastro berrante de um fracasso, como um vestido de flores passado de moda, como as roupas caprichadas da menina que se aprontou feliz, sem saber de nada, e recebeu a recusa daquele a quem amava em segredo dentre todos os que compunham a multidão do baile e que no dia seguinte recebeu do amado uma caixa de bombons como desculpa.

Ou então, por piedade às pessoas, não às coisas, o tambor foi aceito como presente. Concedeu-se-lhe este estatuto; foi-lhe carimbado um visto de entrada no mundo; foi-lhe dada uma autorização para existir. Sendo assim guardado no armário junto com os outros brinquedos, mais felizes e mais ricos e de onde, desse armário, escondido, entrevisto entre carrinhos, caixas de jogos, coisas de pilha, continua a brilhar sua cor inútil, seu barulho virtual e vão.

Ou ainda, ou também depois, mais velho, descambado, mais idiota do que nunca poderia ter culpa disso, conheceu, quem sabe, momentos de glória num orfanato, onde crianças rejeitadas se alegram com brinquedos rejeitados, e comemoram tristemente, mas felizes, as brevíssimas e puras festas da miséria.)

:: CORRESPONDÊNCIA ::
e-mails reais, bisonhos e suspeitíssimos, interceptados por um inocente nenúfar.

Se reclamas dos catchups, nem te falo sobre a maionese. Uma antipática massa pastosa e indigesta, contida num tubo encardido cor cinza, bege ou marrom, normalmente cheia de pedaços esquisitos se movendo sem autorização do governo. Pois daqui a exatos 7 dias, quando estima-se que a Terra entrará em conjunção cósmica com Saturno, Gêmeos e SkyLab, uma chuva de meteoritos feitos de massa de maionese soterrará a terra de gosma oleosa - bem na hora em que você estará (inexplicavelmente) sapateando Singin´ In the Rain em cima da mesa de um desses bares suspeitos. Pois cuidado. Construa já seu abrigo anti-nhaca, para não ser pego de surpresa.

Não sei como ocorrerá a transição da pasta de maionese à ditadura dos catchupes aguados, mas deve ter a ver com as placas tectônicas, a peste negra e a profecia de que "o sertão virará maionese, a maionese virará sertão e o mundo será uma grande e ridícula empreitada gastronômica".

Mas não falemos de assuntos tão funestos, você ainda tem alguns dias antes de precisar comprar aquelas botas de andar na neve, pra não ficar preso no chão movediço ou deslizar em creme azedo num dia de sol. Contei essas coisas apenas para ressaltar que sim: a discussão sobre a quantidade e a qualidade da pizza no catchup é superior às demais questões dos ricos banqueiros e das pessoas oprimidas, já que (em última instância) a maionese é a superestrutura que pauta todas as decisões importantes. O poder da gosma maionésica é o motor da história - os conflitos econômicos, guerras e embates políticos são apenas títeres nas mãos da Grande Maionese. Melhor parar por aqui.


:: VOCÊ PERGUNTA, NÓS NÃO DAMOS A MÍNIMA ::
Questionamentos sadios de uma sociedade doente.

??? É verdade que vocês mentem, e os leitores de vocês são todos fictícios? (Pedro Le Minsque, Belo Horizonte).

Sim. Nós gostamos de passar tardes escrevendo a esmo, e remetendo nossos textos para nós mesmos. Aliás, se você também é fictício, não vai se importar de descer um pouco esta página e ser engolido pelo nosso exclusivo vórtex temporal. Grata.


EXPEDIENTE

Este Zine é impessoal, objetivo e imparcial. Computadores meticulosamente programados desenvolvem os textos, se emocionam, revisam e publicam a visão neutra e apolítica da coisa toda. O único responsável é a instituição "Da Redação".


... Para ser lido na maldita hora da noite em que tudo é engraçado (que vem logo após a hora em que nada faz sentido e antes daquela em que tudo faz sentido)
- Stephanie A.

## Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque estava na lista de indivíduos manquitolas da lista negra dos Illuminati. Ou então, ou então! Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque foi um dos 139 mil nomes escolhidos entre todos os possíveis do mundo, sorteados em uma grande urna chinesa. Você e Li-Ching-Yang. Caso não queira voltar a receber este monte de bobagens, mande um e-mail para vmbarbara@brfree.com.br, e escreva na linha de assunto: "Me deixem em paz, pelas barbas de Tutatis!". Se quiser que mais vítimas recebam o Zine, também escreva para esse e-mail mandando o endereço dos condenados e o número e senha de suas contas bancárias. Se quiser usar cartão de crédito, basta fornecer o número. (Be afraid. Be VERY afraid.) ##

"Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que ri cuidado para que não babe".


God is coming.
Look busy.



2005 Vanessa Barbara