À tarde nós abrimos
a tampa da fazendinha e os catalupos já se amontoavam em torno
do amendoim. Vestimos nossas luvas térmicas e começamos
a apalpar-lhes o umbigo, a fim de separar os saudáveis dos
que deveriam ficar em observação ao lado das nossas
camas, durante todo o final de semana (no mínimo). A pobre
Chachee, desengonçada e grudenta, deixou escapar um dos gordinhos
e automaticamente todos os outros se puseram a chorar, enquanto eu
e Cramps segurávamos os recém-nascidos pela coleira
e botávamos Bunny - o Cão Calado -à caça
do catalupo roliço que fugira pela porta afora, em direção
ao moinho.
:: O UNIVERSO VISTO PELO BURACO DA FECHADURA :: por Eduardo Galeano Valéria pede ao pai que vire o disco. Explica que Arroz con Leche vive do outro lado. Diego conversa com seu companheiro de dentro, que se chama Andrés e vem a ser seu esqueleto. Fanny conta que hoje se afogou com
sua amiga no rio da escola, que é muito fundo, e que lá
embaixo era tudo transparente e as duas viam os pés da gente
grande, as solas dos sapatos. Do quarto, Florência me chama e pergunta se sou capaz de tocar o nariz com o lábio de baixo. Sebastián me propõe escapar em um avião, mas me adverte que é preciso tomar cuidado com os sefámoros e as hécile. Na varanda, Mariana empurra a parede, que é para ajudar a terra a girar. Patrício segura um fósforo aceso entre os dedos e seu filho sopra e sopra a chaminha que não se apagará jamais.
Talvez fosse melhor não mudar
nada. Continuariam suas vidas. Tinham suas rotinas, podiam comprar
seus livros, seus CD's ou seus filmes. Podiam sair com suas pequenas.
E além de tudo continuariam amigos. Aliás, eram os melhores
nisso - em ser amigos, vocês sabem.
As inundações do Rio Loire são devidas aos excessos da imprensa e à inobservância do domingo.
:: POR QUE O DR DANIEL LYSONS
SEGURA UM CAULE NA MÃO? :: Por que o doutor Daniel Lysons, D.C.L., M.D., segurava na mão um caule de hermodactylus tuberosis? A primeira coisa que fez Marrast (por algum motivo era francês) foi explorar a superfície do retrato (pintado numa época ruim por Tilly Kettle) à procura de uma explicação científica, críptica ou simplesmente maçônica; depois consultou o catálogo do Courtauld Institute, que se limitava insidiosamente a informar o nome da planta. Era possível que na época do doutor Lysons as virtudes emolientes ou revulsivas do hermodactylus tuberosis justificassem sua presença nas mãos de um D.C.L., M.D., mas não se podia ter certeza e isto, à falta de coisa melhor no momento, preocupava a Marrast. Outra coisa que o preocupava naqueles dias era um anúncio do New Statesman que miscroscópica e enquadradamente dizia: Are you sensitive, intelligent, anxious or a little lonely? Neurotics Anonimous are a lively, mixed group who believe that the individual is unique. Details s. a. e., Box 8662. Marrast começara por meditar sobre o anúncio na penumbra do quarto do Gresham Hotel; junto à janela semi-encostada para não deixar entrar as horrendas silhuetas dos edifícios da calçada oposta de Bedford Avenue e sobretudo o ruído dos ônibus 52, 52A, 895 e 678, Nicole pintava aplicadamente gnomos sobre papel canson e soprava de quando em quando os pinceizinhos. -- É inútil -- dissera
Marrast depois de estudar o anúncio. -- Como eles eu me acho
sensível, ansioso e um tanto solitário, mas é
um fato que não sou inteligente, já que não consigo
compreender a relação entre essas características
e a notícia de que os Neuróticos Anônimos acreditam
na individualidade como algo único no gênero. Deixou passar quatro ou cinco dias, e certa manhã voltou ao Courtauld Institute onde até então o consideravam maluco porque ficava interminantemente diante do retrato do doutor Daniel Lysons e quase não olhava para o Te rerioa de Gauguin. Como quem não quer nada perguntou ao menos cerimonioso dos guardas se a pintura de Tilly Kettle possuía alguma importância que ele, pobre francês ignorante embora escultor, ignorava. O guarda olhou-o com alguma surpresa e consentiu em informar-lhe que, coisa estranha agora que estava pensando, naqueles dias uma porção de pessoas se obstinava em estudar atentamente o retrato, aliás sem resultados notáveis a julgar pelas caras e pelos comentários. A mais insistente parecia ser uma senhora que aparecera com um enorme tratado de botânica para verificar a exatidão da atribuição vegetal, e cujos grunhidos com a língua haviam sobressaltado vários contempladores de outros quadros na sala.Os guardas se alarmavam com esse inexplicável interesse por um quadro tão pouco concorrido até então, e já haviam informado o superintendente, notícia que provocou em Marrast um regozijo mal disfarçado; por aqueles dias estava sendo esperado um inspetor da direção dos museus e fazia-se a contabilidade discreta dos visitantes. Marrast veio a tomar conhecimento, com perversa indiferença, de que o retrato do doutor Lysons tivera mais público aquela semana do que o Bar des Folies-Bergères, de Manet, que era um pouco a Gioconda do Instituto. Já não tinha dúvida de que os Neuróticos Anônimos se haviam sentido tocados no mais vivo de sua sensibilidade, de sua inteligência, de sua ansiedade e de sua (little) solidão, e que a enérgica chicotada postal os estava arrancando à autocompaixão demasiado tangível no anúncio para precipitá-los numa atividade de cujos fins nenhum deles, a começar pelo instigador, fazia a menor idéia. :: O-QUE-FALA-ALTO-E-NÃO-DIZ-NADA:: :: TÁ :: As coisas são boas porque gostamos delas, e não gostamos delas porque são boas. :: TEMA PARA UMA HISTÓRIA
:: Um certo engenheiro decidiu construir um enorme muro através de Petesburgo. Estudou como realizá-lo, não dormiu durante noites a fio, cogitando-o. Gradualmente, formou-se um grupo de engenheiros e foi elaborado um plano para a construção do muro. Decidiu-se construi-lo durante a noite, de fato, construir a coisa toda em uma noite, para que surgisse como uma surpresa para todos. Trabalhadores são convocados. A organização está em marcha. As autoridades locais são tiradas de lado e finalmente chega a noite quando este muro está para ser erguido. A construção do muro é conhecida apenas por quatro homens. Os trabalhadores e engenheiros recebem instruções exatas como a quem, onde colocar e o que fazer. Graças ao cálculo exato, eles conseguiram erguer o muro em uma só noite. No dia seguinte, há uma consternação em Petersburgo. E o próprio inventor do muro está abatido. A que uso este muro se presta, ele mesmo não sabia.
Seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. :: IT'S LAUNDRY TIME! ::
Quem nos resgatará da seriedade? Em cada escola latinoamericana deveria haver uma grande foto de Buster Keaton, e nas festas pátrias o diretor passaria filmes de Chaplin e de Keaton para estimular os futuros cronópios, enquanto as professoras recitariam "A Morsa e o Carpinteiro" ou pelo menos algo de Guido y Spano; por exemplo, a versão em alemão da Nenia, que começa: Klage, klage, Urutaú, Se pudéssemos exilar a palavra sério de nosso vocabulário, muitas coisas se arregalariam", disse Man Ray. Leia aqui o artigo completo deste senhor argentino, com direito a linkezinhos a torto e a esquerdo. ... E também aproveite para ler o poema Jabberwocky (do Lewis Carroll), em latim. (Ora, deixe de tolices.)
Segunda-feira, 8:27. Desesperado, o chefe olha para o relógio
e, já não acreditando que um funcionário chegaria
a tempo de lhe dar uma informação importante para uma
reunião que estava para começar, liga pro dito cujo: - Eles tão me poculano. :: POR QUE É QUE O SR.
CONTENTE TEM UMA FOLHA DE ESTANHO DENTRO DE SEU CHAPÉU? :: >> http://zapatopi.net/afdb.html >> Durante anos, o exclusivo Capacete Defletor de Papel Alumínio auxiliou inúmeros indivíduos a escaparem de todos os estragos do controle da mente. "Desde que comecei a usar meu capacete, todos os meus instintos homicidas cessaram.. embora eu ainda esteja incomodado com os ruídos e as cores..". Aprenda no link como fazer um capacete caseiro de papel alumínio ou estanho. "Descobri também que, além do capacete, pode ser de grande valia usar seus sapatos no pé contrário e entupir seus bolsos de lixo. Obrigado por espalhar a SALVAÇÃO."
>> http://svt.se/hogafflahage/hogafflaHage_site/Kor/hestekor.html (em caso de emergência) é um bom site, também, para aprender o sonzinho da última criatura à direita e ficar recitando por aí. :: VOCÊ PERGUNTA, NÓS
NÃO DAMOS A MÍNIMA :: ??? ¿O canibalismo deveria ser considerado como atenuante num caso de assassinato por haver menos desperdício e melhor aproveitamento da vítima? (Zé, adorável como de costume)
Este Zine é impessoal, objetivo e imparcial. Computadores meticulosamente programados desenvolvem os textos, se emocionam, revisam e publicam a visão neutra e apolítica da coisa toda. O único responsável é a instituição "Da Redação".
## Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque estava na lista de indivíduos manquitolas da lista negra dos Illuminati. Ou então, ou então! Você está recebendo o !!DAMN!! Zine porque foi um dos 139 mil nomes escolhidos entre todos os possíveis do mundo, sorteados em uma grande urna chinesa. Você e Li-Ching-Yang. Caso não queira voltar a receber este monte de bobagens, mande um e-mail para vmbarbara@brfree.com.br, e escreva na linha de assunto: "Me deixem em paz, pelas barbas de Tutatis!". Se quiser que mais vítimas recebam o Zine, também escreva para esse e-mail mandando o endereço dos condenados e o número e senha de suas contas bancárias. Se quiser usar cartão de crédito, basta fornecer o número. (Be afraid. Be VERY afraid.) ## "Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que ri cuidado para que não babe".
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2005
Vanessa Barbara |