Vocês, hipócritas
de duas caras, por favor, fiquem do lado de fora.
Macacos velhos e de falsos sorrisos, barrigudos, bicudos e lamurientos,
Pescoços duros e cabeças de granito. Piores do que vândalos,
sem dúvida...
Fiquem lá fora, todos os usuários e avarentos...
Mas sejam bem-vindos, e duplamente bem-vindos, todos os nobres cavalheiros
Este é um lugar onde não há impostos
E os ganhos são muitos...
:: SUGESTÃO DE HOJE ::
hmm, parece tão sexy
Teach Your Baby about Leaves.
:: VENDEM-SE INÍCIOS - AQUI ::
confeccionados por robôs velhos e bêbados
"Odeio chinelo de lacinhos!"...
disse o Diácono, furioso.
:: VENDEM-SE INÍCIOS - 2 ::
confeccionados por robôs loucos e escravizados
"Eu tenho band-aids redondos!", gritou a Estátua,
animada, pouco antes de tombar ao chão e vomitar copiosamente.
:: UNIVERSO LENTO ::
por Ovidiu Bufnila, que apareceu aqui de repente e tornou o zine mais...
romeno
Quando as gotas da noite caíram sobre a testa do famoso Magicoon,
a NASA registrou a primeira velocidade em reversão e a China
foi coberta de vapor, os Russos perderam seus submarinos em uma bolsa
virtual e Magicoon o Mágico declarou pela primeira vez o princípio
Daquele que multiplicava Ele Mesmo, perturbando os agentes secretos
e pegando de surpresa os filósofos da escola de Weimar, o presidente
do Nepal viu seu lagarto crescendo e transformando-se em um círculo
mágico e Hoba Buba, o cantor de jazz das Nações
Unidas, conseguiu a oitava mais longa da história da música,
a camada de ozônio transformou-se em um portal estelar e Barishnikoff,
o primeiro físico da Rússia, fez as pazes com Elvin,
o primeiro físico da América, o furacão Gian
Mora paralisou-se em uma formação escultural roubada
dos piratas corsos, a Europa dividiu-se em duas conforme as escrituras
escatológicas inventadas pelos jesuítas, a princesa
Margaret perdeu-se dentro de uma nuvem prateada e membros importantes
da Tin Party viram-se presos em uma pintura de El Salvador, o pôr-do-sol
de Malta disparou em grande velocidade até Bornéu, incendiando
as florestas dos trópicos, Magicoon proclamou-se Príncipe
da Saturação enquanto os físicos alemães
publicavam o Manual Exofísico da Septuagésima passagem
do cometa Bantuliasan, o planeta todo passou por um rápido
processo de reversão e o coro dos oficiais do Kursk também
paralisou-se em uma nota menor, estamos perdendo velocidade, o imperador
japonês teria sussurrado, chamando seu samurai secreto, vagarosamente,
vagarosamente, as palavras espalharam-se, a linguagem perdeu sua cor,
as estátuas racharam-se, os oceanos evaporaram, o satélite
em atividade partiu-se também, o primeiro Som do Universo foi
ouvido de todos os cantos dos padrões energéticos e
os campos magnéticos enrolaram-se em círculo. E então
a Voz dos Políticos foi ouvida.
:: HISTÓRIA BESTA ::
de qualquer maneira, desculpem
João Antonio estava menstruando. Aconteceu logo de manhã.
Ninguém entendeu coisa alguma: João Antonio virou mocinha,
e chamou as amigas pra comemorar. Os adultos compraram refri, as meninas
levaram doce e os meninos, salgado.
João Antonio não sabia o que levar.
:: AFORISMOS ::
do velhinho Bioy Casares
Escribir es agregar un cuarto a la casa de la vida. Está la
vida y está pensar sobre la vida, que es otra manera de recorrerla
intensamente.
:: PREOCUPAÇÃO ::
assuntos pertinentes devem ser levados a público
Eles vêm em ondas, os escritores romenos. Aparecem de repente
e enchem sua caixa de email com romenices e ficção científica.
É o tipo de coisa que vc devia poder optar: desejo conhecer
romenos, escritores ou escritores romenos nos próximos 20 anos
[ ] sim [ ] não e então só então eles
invadiriam a sua sala e falariam sobre os fiordes, terremotos ou anões
ruivos que devem existir lá na terra deles, dos romenos, o
fantástico país especial dos escritores romenos.
Aí a gente tenta responder polidamente sem expressar pavor
[*PAVOR*], e envia a mensagem ao mesmo tempo em que chega uma outra,
vinda de nós mesmos com destino a nós mesmos, que nós
nunca mandamos mas que está ali, sorrindo, como um maldito
romeno deve sorrir, como um maldito romeno deve gargalhar pouco antes
de enlouquecer o mundo com seus emails romenos e carecas, idem.
Eu me pergunto: por que eu.
Então descubro que não é só V. a Triste
Figura Escolhida para integrar o Universo das Coisas Estranhas D´Além-Mar
(apenas $7,99 nas casas lotéricas), e que há milhares,
por que não milhões de pobres almas atormentadas pela
sandice dos escritores romenos, pelas babas e ataques de exclamações
descontroladas dos escritores romenos, os desnorteados psicóticos
escritores romenos, de modo que, embora saibamos a verdade - nunca
nos livraremos desses seres inexplicáveis - tudo pode ser menos
doloroso se nos juntarmos e atacarmos (sem dó)
os escritores guatematelcos.
Até que um dia o mojo seja atingido pela corrente sem sentido
dos escritores apátridas, e então será o fim.
:: WHAT IS FNORD ::
serviços gerais, 240-9000
Fnord is evaporated herbal tea without the herbs.
:: VENDEM-SE INÍCIOS
- 3 ::
confeccionados por robôs pândegos e galhofeiros
"Não te doas de minhas galochas", resmungou a doce
Geneviève, aos soluços.
:: VENDEM-SE INÍCIOS - 4 ::
confeccionados por robôs miseráveis e patéticos
...E as portas do castelo se fecharam lentamente, no mesmo ritmo em
que o Grão-Vizir liberava as correntes que precipitariam a
escrava branca ao calabouço
"Diabos", bradou a dita cuja, que de branca já estava
verde, olhando a extensão de sua poltrona e a quantidade de
bolinhas brancas sobre ela.
:: FRAGMENTOS PARA UM BEST-SELLER
FRANCÊS ::
usem à vontade, particularmente durante o primeiro parágrafo
"Tudo tem gosto de pão",
sentenciou o tenente-coronel, esfarelando nos dentes sujos um figo
gelado e seco.
"Menos esse teco de unha", completou o militar, após
retirar de dentro de seu delicioso figo a unha de porcelana de sua
prima Brunhilde.
ou então: "Você não me leva a sério",
reclamou Bianca, segurando para não deixar escorrer a lágrima
que tanto satisfaria Marcos Paulo.
"Morra", gargalhou Marcos Paulo, cravando lentamente um
punhal de cabo de marfim em sua omoplata, como planejara desde o início
da gravidez de Helène.
"Dindililim, dadada", balbuciou Camille, a garota que queria
ser má.
"Isto é apenas mais um adeus. Prometo", engasgou-se
o vigilante noturno, em menção exagerada como se caísse
morto. ("O sono é primo da morte", pensou a bruxa
de Wisconsin, que achou melhor não causar polêmica)
O velho e sábio e parcialmente louco calmamente puxou seu cutelo,
cortou o pé esquerdo da primeira-dama e o colocou no microondas
por um minuto e meio.
Num ímpeto de carinho, ele mastigou lentamente o cotovelo da
garota, dizendo "falta sal".
:: GAROTA PROBLEMA ::
por Paulo Jimenez, Don Viktor e André Deak
Estavam na melhor fase de suas vidas. Interessante notar, no entanto,
que trata-se de uma fase nunca identificada no momento em que ocorre.
Ou as pessoas lembram-se que “aquela foi a melhor fase da minha
vida”, ou imaginam que “daqui a uns dez anos, aí
sim, será a melhor fase da minha vida”. Bem, o caso é
que é nesse período da vida deles que essa história
se passa.
Em uma de suas paradas pelo Brasil, em seu apartamento duplex, bebericava
algum drink exótico que ele mesmo havia preparado um pouco
antes, cuidadosamente, misturando os ingredientes como se produzisse
alguma poção mágica que lhe dava poderes. Enquanto
sacudia a coqueteleira ao som de algum jazz clássico, sorvia
seu charuto cubano e viajava pela fumaça exalada. A hidromassagem,
ligada, aquecia a água que, dali a poucos instantes, também
receberia seus ingredientes: óleos, champagne, rosas, e o principal
deles, é claro, uma garota.
Como estava só, ainda, quando escutou o som da campainha pensou
que era ela. O porteiro não deixaria subir alguém estranho
sem avisar. Então, vestido de negro, com sua melhor camisa
de seda índia, abriu a porta que dava acesso ao elevador. Não
era ela.
- Cara, tem um corpo no meu porta-malas.
***
A primeira sensação que os dois grandes amigos sempre
tiveram ao se encontrar era de alegria, pelos possíveis e prováveis
bons momentos que teriam. Não foi o que ocorreu daquela vez.
Sua expressão indicava que não estava brincando e o
sangue espirrado na camisa lhe dava um tom mais sério que o
usual.
- Entre.
Háum ditado que diz: “você sabe quando tem um amigo
quando pode contar com ele para se esconder. Mas você só
sabe que tem um verdadeiro amigo quando pode procurá-lo para
esconder um corpo”. Esse era o caso.
- Temos que ligar para o outro também. Ele vai saber o que
fazer.
- Não, não vamos fazer isso! Vai acabar com a vida dele!
Cúmplice vai preso também!
- Mas só ele saberá o que fazer. Só ele pode
nos dar um conselho decente. O liqüidificador jamais agüentaria.
E onde arrumaríamos porcos famintos a essa hora da noite?
***
O melhor deles, o único que não tinha passagem na polícia
(ou, pelo menos, nenhuma que não orgulhasse os outros dois),
estava assistindo O Clube da Luta, de novo, em seu telão gigante.
Where is my mind?, gritava a música enquanto a cidade toda
explodia. Uma de suas partes prediletas. No quarto, duas garotas dormiam,
satisfeitas e semi-nuas. Em sua prancheta, o rabisco do que viria
a ser o desenho delas dormindo, satisfeitas e semi-nuas. Foi nesse
momento em que o telefone tocou.
***
Trinta e seis minutos depois de dois telefones serem colocados no
gancho, abre-se a porta de um elevador numa cidade que dorme. Veio
o mais rápido que pôde, sem saber ainda o que havia acontecido,
mas sabendo que era algo importante – e ruim. Todos aqueles
minutos eram tempo suficiente para que sete tequilas fossem tomadas,
uma banheira fosse esvaziada e um ótimo compromisso cancelado.
Planos mirabolantes já haviam sidos traçados para dar
sumiço naquela garota que habitava o porta-malas, mas nenhum
deles eram sensatos ou mesmo praticáveis. Ácido. Fogo.
Cimento. Terra. Formigas. Quantas histórias já haviam
sido escritas, músicas feitas e filmes rodados sobre pessoas
que tentam esconder outras pessoas mortas? Em todos eles, que se lembrassem,
sempre prendiam o assassino no final.
- O Mistério do Lago. Nesse acho que não. Era francês,
não?
- Holandês. Fizeram uma refilmagem recentemente, com outro final,
mas ficou chato. Eles prendem o assassino.
Eis que o elevador chega. Menos de vinte palavras descrevem ao amigo
a situação tenebrosa em que se encontram. “Morta”,
“porta-malas” e “não sei como aconteceu”
foram algumas expressões utilizadas.
- Porra, carinha! Que merda!
Silêncio. Ele não costumava usar palavrões. O
negócio era sério mesmo.
- Mas não se preocupe. De acordo com a Lei, todos têm
o direito de matar alguém uma vez. Réu primário
não pega nada.
- Mas eu não posso ser réu. Temos que esconder a menina.
Ninguém pode saber que ela morreu, que eu a matei. Senão
morro de qualquer jeito.
Era uma sinuca de bico. Ao final daquelas frases, o sentimento dos
três era aquele mesmo de quando se vê, num jogo de snooker,
a sua bola branca indo para o buraco. A impotência de quem sabe
o que vai acontecer e não se pode evitar.
***
Na garagem do prédio, madrugada pesada, um porta-malas se abre.
- Puta merda.
- Ela é linda.
- Eu sei.
Parecia dormir, inocente e profundamente, como dorme uma criança
satisfeita que sujou-se toda de calda de morango. Seu rosto lembrava
a garota de algum filme noir. Era daquelas pela qual qualquer homem
faz favores impossíveis, difíceis e demorados, apenas
em troca de uma possibilidade remota, seja um sorriso ou uma noite
de amor. Coisas que ela, com certeza, não cedia a muitos –
e talvez a ninguém.
O dono do apartamento, ao volante, acena ao porteiro, que observa
mas não estranha aquele Cadillac rabo de peixe sair com os
três amigos noite adentro.
- Esses sabem se divertir, pensa ele, enquanto a lanterna traseira
vira a esquina.
(continua...)
:: "MERDA", DISSE A MADRE SUPERIORA ::
mais um início subutilizado
"Inveja, inveja, inveja, inveja", repetiu o supervisor de
almoxarifado em gritos guturais e uma torrente de saliva que deixava
claro que estava louco. Parcialmente.
:: CORRESPONDÊNCIA ::
e-mails reais, alcalinos e suspeitíssimos, interceptados por
um inocente nenúfar.
Sabe de uma coisa? Aquilo não foi só uma alusão
a um provérbio anônimo.
Eu fiquei rindo muito por dentro.
Mas por fora continuei séria e triste.
Olha só o que eu andei pensando. A gente podia só falar
archaísmos, doravante. Não, não. A gente podia
não falar nada, a partir de agora, e mostrar ao mundo que nós
somos tão melhores que os outros. Não, não. A
gente podia construir um foguete e colonizar os húngaros e
estocar barras de ouro para conquistar Mercúrio e ...
...tudo correu bem, até que
percebi que conversava há algum tempo com o púlpito
da sala. Que me olhava, compreensivo, e até anotava algumas
coisas (ou fazia desenhos). Púlpito. Se alguém te puxasse
no meio da rua e gritasse, apaixonadamente: "Eu púlpito
por você", então vc:
a) Gritaria BUSH BOMB TERROR NITROGEN LIQUID para eles virem escalando
dos arranha-céus e te salvarem daquela situação,
mesmo que isto signifique a perda de parte do teu cérebro e
alguns testes para a CIA (além de alguns favores culinários).
b) Responderia: "por Zeus, estão esmagando meu cérebro
com um mísero aparador de gramas", e sairia rodando sua
bengala, como o Gene Kelly.
c) Imobilizaria a pessoa em questão com uma chave de fenda
e tiraria suas córneas para dar aos pobres (as suas ou as dela,
tanto faz).
d) Apertaria as extremidades da sua gravata borboleta, lançando,
assim, um jato de ácido nítrico bem na testa de tamanho
audaz.
e) Iria para a página 259 e perceberia, enfim, que tudo não
passava de uma grande farsa.