Nicomancia Esta viçosa edição da Hortaliça começa com a premonição de uma berinjela de patas, impressa a fuligem nas cutículas de uma criança qualquer, passa por uma reportagem da revista Viagem&Turismo ("20 dicas para evitar a geração súbita de bebês em pleno vôo"), segue o itinerário do 701-U e acaba com um palhaço entrando no ônibus, sapatos grandes, a peruca laranja, diante do silêncio dos outros passageiros. Apenas um palhaço cansado, voltando do escritório. Esta louçã Hortaliça de maio não teme a represália de carunchos, não teme o ataque de gafanhotos, apenas crescerá fresca e abundante como os rabanetes de Tara (que na verdade são batatas), como Gunga Din a tocar corneta, pouco lixando para o exército enfurecido dos adoradores da deusa Kali, enfim, uma edição que aconteceu depois que (derrotados) levamos pra casa todos os vídeos da seção de Western, porque era a única que faltava assistir. Uma edição de despedida que sai a cavalo em direção ao pôr-do-sol, enquanto uma criancinha grita "Shane! Shaaaane" durante os últimos dez ponto cinco minutos da película, sem o menor sucesso, uma edição que extermina os índios, os amarelos, o bom, o mau e o feio, os adoradores da deusa Kali, as grávidas, os palhaços e depois ajeita os bigodes, com uma expressão de pouco caso. [sobem os créditos iniciais, música-tema do Lee Van Cleef.] Apaguem os cigarros e tirem suas pistolas do coldre, pois doravante o Mandaqui se tornará terra de ninguém e o Seu Farias irá saquear a escola de balé. Sim, os bons cidadãos devem temer, pois os bravos homens (sic) desta Hortaliça hoje mesmo partirão, destemidos como os pioneiros, para uma terra sem lei onde correm bolas de feno e não há justiça sem sangue. Um deserto com enorme concentração de escória e vilania, xerifes corruptos e moças de péssima índole, para onde é preciso levar fronhas, galochas e um bote inflável (just in case). Chutaremos a porta de inúmeros saloons com nossas botas e atiraremos às cegas apenas para ganhar respeito. Saquearemos escolas de balé, por que não, e esfregaremos fuligem nas unhas das crianças arrancadas das barrigas das mães apenas porque no Leste não existem biscoitinhos da sorte. Daremos à luz em pleno vôo, por puro despeito. Vingaremos a morte de nossos antepassados, ou dos antepassados dos outros, enfim, tocaremos o horror até que não sobre um mexicano em Malakoff. Go West, young man, disseram os pioneiros, and grow up with the country. [sobe locução: Venha para onde está o sabor. Venha para o mundo de Marlboro. Créditos finais.]
Divido a minha vida
Viajar sozinho é duro quando não se é boa companhia.
No último dia 5 de maio, a Anhembi Turismo S.A. (em parceria com a ABS Consultoria e Treinamento em Talentos Humanos S/C Ltda.) organizou a palestra "O futuro da humanidade". Aos ouvintes -- donas-de-casa, empresários, jovens escritores, profetas e pedicuras -- foram distribuídas apostilas sobre metafísica aplicada, astronomia, ecologia, bíblias em miniatura e um episode guide das primeiras temporadas dos Jetsons. Na ocasião, todos puderam medir seus crânios e tirar fotos com os quatro cavaleiros do Apocalipse, um deles [estranhamente] vestido de palhaço. O workshop teve início com uma apresentação do dr. Jimmy Nutto, MBA e Relações Públicas da Gessy-Lever, que fez uma breve explanação sobre a relação entre o departamento de Brancura da companhia e a demanda por roupas mais fofas. "A história do futuro da humanidade se confunde com a história do passado da Mesma", declarou Nutto, citando Bias e os outros sete sábios da Grécia. "No neolítico, já se sabia que o Homo Sapiens Sapiens seria guiado pela fofura da indumentária", como já se podia prever pela lenda da Princesa e a Ervilha. Nutto foi aclamado como gênio e retirado às pressas pelo pessoal da segurança. Segundo os palestrantes que se seguiram (todos -- também estranhamente -- de ombreiras), a Princesa e a Ervilha pode ser tomada como fábula do futuro, à medida que discute a questão das dores lombares e dos legumes enquanto metáfora para a produtividade das empresas no século vindoiro. No final do treinamento, fez-se uma assembléia para discutir o que fazer caso Ele esteja mesmo a caminho ("pareça ocupado" ganhou por cinqüenta votos a um). Em seguida, todos usaram sprays de cabelo com gigantescas quantidades de CFC, para apressar o colapso global.
http://www.scottsmind.com/evil_clown.html
[Do persa pãdzähr, 'antídoto',
pelo ár. bãdzahr, bãzahr.] Concreção que pode ser encontrada no estômago ou nos intestinos do homem ou de outros animais. Pode constituir-se de cabelo (tricobezoar), vegetais (fitobezoar), cabelo e vegetais (tricofitobezoar), ou fragmentos de goma-laca. [É como uma flunfa interna. E, não -- não sei por que alguém engoliria fragmentos de goma-laca. Pelo menos por enquanto.]
An artist must regulate his life. Here is a time-table of my daily acts. I rise at 7.18; am inspired from 10.23 to 11.47. I lunch at 12.11 and leave the table at 12.14. A healthy ride on horse-back round my domain follows from 1.19 pm to 2.53 pm. Another bout of inspiration from 3.12 to 4.7 pm. From 5 to 6.47 pm various occupations (fencing, reflection, immobility, visits, contemplation, dexterity, natation, etc.) Dinner is served at 7.16 and finished at 7.20 pm. From 8.9 to 9.59 pm symphonic readings (out loud). I go to bed regularly at 10.37 pm. Once a week (on Tuesdays) I awake with a start at 3.14 am. My only nourishment consists of food that is white: eggs, sugar, shredded bones, the fat of dead animals, veal, salt, coco-nuts, chicken cooked in white water, mouldy fruit, rice, turnips, sausages in camphor, pastry, cheese (white varieties), cotton salad, and certain kinds of fish (without their skin). I boil my wine and drink it cold mixed with the juice of the Fuschia. I have a good appetite but never talk when eating for fear of strangling myself. I breathe carefully (a little at a time) and dance very rarely. When walking I hold my ribs and look steadily behind me. My expression is very serious; when I laugh it is unintentional, and I always apologise very politely. I sleep with only one eye closed, very profoundly. My bed is round with a hole in it for my head to go through. Every hour a servant takes my temperature and gives me another.
Discovery Kids, o canal que reúne os grandes amigos dos mais pequenos.
O Projeto World Jump Day se baseia numa idéia realmente feliz: se 600 milhões de pessoas no Ocidente pularem ao mesmo tempo no dia 20 de julho de 2006, mais precisamente às 08:39:13 (horário de brasília), a Terra sairá do eixo, passando a fazer um "percurso" maior em torno do sol. Assim, o problema do efeito estufa estaria resolvido, os dias seriam mais longos, sem falar do clima mais homogêneo. Obviamente, já pensamos em algumas opções para burlar o Jump Day ao nosso favor. A idéia é que todos os leitores da Hortaliça se concentrem, sem mexer os braços, no centro da Praça Tito, marco zero do Mandaqui, e pulem às 08:39:10. Ou fiquem saltitando no mesmo ritmo desde as seis da tarde do dia anterior, numa rave pogobólica que causaria danos terríveis à grama. A oposição está autorizada a organizar um movimento de contrapeso e pular no ritmo errado, ou saltar no Sri Lanka e estragar tudo, assim todos perderíamos nosso tempo (ao mesmo tempo) e, aos que protestarem, que lhes ataque o beribéri.
Oi Vanessa,
[...] você pode encontrar todas as respostas no vigoroso "O Livro Negro da Queimada – Aurora e ribalta do maior esporte desde a marcha atlética". De forma resumida, o autor – o antropólogo argentino Desábato – disseca a corrupção que envolvia, desde os primórdios do esporte, os atletas que se deixavam "queimar" – fato que ficou conhecido como "Esquema Corvo", cujas cifras escusas alcançavam a quarta casa da URV efeaganiana. Além disso, a maciça aceitação do público para o esporte vindouro representou um acinte para os cartolas dos esportes mais populares da época (pelota basca, Lig-4 e jaquempô foram os casos mais notórios), que pagavam "laranjas" na imprensa para falarem mal da Queimada. Logo, a população comprou a injúria vendida pelos jornais, organizando-se naquilo que a história registraria como Marcha pela Família com Deus pela Liberdade. Foi isso.
- Quando você trabalha?
[...] Ele inclusive não gostava de jornais, e quando encontrava algum em casa, jogava fora, pela janela, acertando os pedestres. A mãe, que gostava de ler jornais, tinha que escondê-los debaixo de uma compoteira de cristal.
[repórter:] Você acha que pode prejudicar sua carreira internacional indo morar em Vinhedo?
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=729865
O palhaço subiu no 701-U e apareceu no corredor com aqueles sapatões, jogou a pasta de couro no banco dos idosos e remexeu os bolsos em busca de uns trocados. Tinha molhado o bilhete único durante a chuva daquele dia, nas calças apenas uma interminável fila de lenços coloridos atados pela secretária (quanto mais ele tirava, mais descobria novos tons de azul-bebê no espectro das cores frias). O palhaço achou três moedas de dez e duas de cinqüenta que sobrara do troco da cerveja depois do trabalho, mas o cobrador apontou para Tarifa Dois Reais sem tirar o fone do ouvido. O palhaço teve que passar por baixo, desejando ser o contorcionista, enquanto muita gente colocava o walkman no ouvido ou fingia estar cochilando porque (podia estar roubando podia estar matando) certamente ele começaria a pedir. O palhaço se arrastou [contudo todavia] com a pasta de couro através do vão da roleta, sujou os fundilhos, não olhou para ninguém e se sentou no primeiro banco vago. Suspirou alguma coisa, cansado, antes de encostar a cabeça na camada de pó que revestia o encosto do banco. O dia havia sido terrível — o pessoal da firma o culpou por um erro no software de produção, ele teve de assinar um cheque e levar quatrocentos rolos de adesivo pra casa. Também houve um problema financeiro: a funcionária do departamento de folhas-sulfite foi cheirar a flor da lapela do palhaço, apesar das advertências, encharcou-se de uísque e provocou a queda da bolsa (bem na cabeça dele). Na saída, a chuva ainda borrou sua maquiagem, descolou levemente a parte de trás da peruca e arruinou os quatrocentos rolos de autocolante que ele arrastava pela rua de paralelepípedos, para dar de presente à mulher barbada. O palhaço olhava pela janela do ônibus, lamentando ter desperdiçado cinqüenta centavos numa cerveja tão ruim. Uma criança o encarava no ônibus ao lado, grudava o nariz no vidro, dizia nomes muito feios, mas o palhaço não deu bola, se levantou e percorreu o resto do corredor, meio bêbado. Desceu em frente ao shopping. O palhaço pensava naquele sujeito do trem-fantasma, que se afogara na tina dos elefantes porque não conseguia assustar ninguém.
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Este jornalzinho é impessoal, objetivo e imparcial. Computadores meticulosamente programados preenchem formulários, desenvolvem os textos, se emocionam, revisam e publicam a visão neutra da coisa toda. "Para ser lido na maldita hora da noite em que tudo é engraçado -- logo após a hora em que nada faz sentido e antes daquela em que tudo faz sentido" (Stephanie "Eu tenho um cão estranho" Avari, que realmente mora na rua Paulo da Silva Gordo) ## Você está recebendo !!Witzelsucht!! (saúde) porque estava na lista de mala direta dos Illuminati. Ou então, ou então! Você está recebendo o !Rododendro! porque foi um dos 139 mil nomes escolhidos entre todos os possíveis, sorteados em uma grande urna chinesa. Você e o To Fu, que ganhou o direito de trazer um tufo de nenúfares e furar a fila (desculpe). Caso não queira voltar a receber este jornalzinho asseado, mande um e-mail para vmbarbara@terra.com.br, e diga na linha de assunto: "Foi demais para Kudno Mojesic", mesmo que você não seja -- e nem planeje ser -- Kudno Mojesic.
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2005
Vanessa Barbara |