Steve McQueen: Reminds
me of that fellow back home that fell off a ten story building.
/sobe trilha sonora: turururu uáuáuáaa... Estavam os índios e mexicanos balançando os pés em um banco bem alto, numa terra sem lei e água, quando ouviu-se (ao longe) um barulho de cavalos. Eles andavam sem o que fazer na prateleira de western desde que foram realojados para a sessão western-barra-pornô (na Blockbuster, "Interesse Especial"), e já tinham se acostumado a passar o filme todo tricotando em um banco bem alto e guardando os recheios dos biscoitos para mais tarde. Finalmente teriam a oportunidade de se levantar, afastar as pernas com a mão no coldre e morrer de maneira pouco digna. Com a aproximação dos mocinhos da história, até as mulheres sacaram as armas; os velhos fugiram com o carregamento de recheios cremosos alegando instabilidade emocional. O rei de Sião apareceu ao fundo, atrás de uma cerca, e tornou a sumir (sentiu-se deslocado por lá). Os matadores invadiram a fazenda elegantemente trajados com chapéus-coco e luvas antissépticas. Era a vigilância sanitária, que multou-nos em meia pataca pelo site horrível e obrigou-nos a fazer outro, ainda pior, em nome da saúde pública. Ei-lo: www.hortifruti.org. Em tempo: Eli Wallach publicou uma autobiografia de nome O bom, o mau e eu. Que gracinha.
La chair est triste, hélas (a carne é triste, ai
Durante os últimos três ponto oito anos, recebemos inúmeras cartas de nossos queridos leitores reclamando de um problema comum: a carestia de besouros do amendoim em todo o território nacional, a despeito das referências na Hortaliça a esses animaizinhos carinhosos e úmidos. No decorrer de todo esse tempo, não demos a menor bola. Hoje, porém, a piedade bateu à porta de nossas alminhas e percebemos como deve ser triste para uma pessoa (humana) a falta de uma fazendinha de besouros do amendoim dentro do armário, como a que temos aqui na Redação. Há ocasiões em que eles se espalham pela nossa cama, inclusive, para os senhores imaginarem a felicidade e coceira que se apoderam de nossos corpos ao cair da noite. O que estamos tentando dizer, apesar de todos os indícios contrários, é que você -- sim, você -- pode adquirir hoje mesmo o seu próprio bando de besouros do amendoim, armados até os dentes. Basta conversar com este sujeito e ele resolverá o problema: http://www.mercadolivre.com.br/jm/item?site=MLB&id=32270007 O moço também responde perguntas sobre larvas de tenébrio, grilos desidratados, amendoim ("O substrato para a criação do besouro do amendoim, caro colega, é o amendoim") e a composição de proteínas e lipídios do nosso amigo molengo. Lembrando que os coleópteros disponíveis para comercialização imediata têm cascas grossas que dificultam a digestão.
Depois de examinar um texto para publicação, uma editora chinesa enviou a seguinte nota de recusa: "Lemos seu texto com um prazer indizível. No entanto, se publicássemos seu livro, seria impossível editar qualquer obra de padrão inferior. E é inimaginável que nos próximos mil anos vejamos uma igual. Somos obrigados a devolver sua divina composição e implorar-lhe mil vezes que perdoe nossa timidez restrita."
Concerto de Louis Armstrong em Paris, 9 de novembro de 1952. Parece que o passarinho mandão, mais conhecido por Deus, soprou no flanco do primeiro homem para animá-lo e dar-lhe o espírito. Se em vez do passarinho tivesse estado lá Louis para soprar, o homem teria saído muito melhor. A cronologia, a história e demais concatenações, são uma imensa desgraça. Um mundo que tivesse começado por Picasso ao invés de acabar por ele, seria um mundo exclusivamente para cronópios, e em todas as esquinas os cronópios dançariam trégua e dançariam catala, e trepado no poste de iluminação Louis sopraria durante horas, fazendo cair do céu grandíssimos pedaços de estrelas de açúcar e framboesa, para as crianças e os cães comerem. São coisas que a gente pensa quando se está embutido numa poltrona do teatro dos Champs Elysées e Louis vai surgir de um momento para outro, pois esta tarde despencou em Paris como um anjo, isto é, veio pela Air France, e a gente fica imaginando a imensa bagunça na cabina do avião, com numerosos famas munidos de pastas cheias de documentos e orçamentos, e Louis entre eles morto de riso, apontando com o dedo as paisagens que os famas preferem não olhar porque lhes dá enjôo, coitados. E Louis comendo um hot-dog que a aeromoça lhe trouxe para lhe agradar e porque se não traz Louis lhe corre atrás por todo o avião até conseguir que a moça lhe fabrique um hot-dog. Enquanto isto chegam a Paris e embaixo estão os jornalistas, por isso agora estou com a foto de France-Soir e Louis aí rodeado de caras brancas, e sem nenhum preconceito realmente eu acho que nessa foto a cara dele é a única cara humana entre tantas caras de repórteres. Agora veja o senhor como são as coisas neste teatro. Neste teatro, onde uma vez o grandíssimo cronópio Nijinsky descobriu que no ar há balanços secretos e escadas que levam à alegria, dentro de um minuto vai surgir Louis e vai começar o fim do mundo. Por certo Louis não tem a menor idéia que no lugar onde bota os sapatões amarelos pousaram certa vez os escarpins de Nijinsky, mas precisamente o bom dos cronópios está em que nunca se preocupam com o que aconteceu alguma vez, ou se esse senhor na platéia é o príncipe de Gales. Também Nijinsky não se teria importado nem um pouco sabendo que Louis tocaria pistão no teatro dele. Essas coisas ficam para os famas e também para as esperanças, que se ocupam em recolher as crônicas, estabelecer as datas e encadernar tudo com tafilete e lombada de tela. Esta noite o teatro está copiosamente invadido por cronópios que não contentes de transbordarem pela sala e subirem até nas lâmpadas, invadem o palco e se atiram no chão, se amontoam em todos os espaços disponíveis ou não disponíveis, para imensa indignação dos vaga-lumes que ontem mesmo, no concerto de flauta e harpa, tinham um público tão bem-educado que dava gosto, além do que estes cronópios não dão muita gorjeta e sempre que podem se ajeitam por conta própria, não fazendo caso do vaga-lume. Como os vaga-lumes são em geral esperanças, se deprimem sensivelmente diante desta conduta dos cronópios, e com suspiros profundos acendem e apagam as lanternas, o que nas esperanças é um sinal de grande melancolia. Outra coisa que fazem imediatamente os cronópios é porem-se a assobiar e a gritar com grande estardalhaço, reclamando a presença de Louis que, morto de riso, os faz esperar um momento só para se divertir, de modo que a sala do teatro dos Champs Elysées balança como um cogumelo enquanto os cronópios entusiasmados chamam por Louis e uma multidão de aviõezinhos de papel voa por todos os lados e se metem nos olhos e nos pescoços de famas e esperanças que se retorcem indignados, e também de cronópios que se levantam enfurecidos, agarram o aviãozinho e o devolvem com terrível força, graças ao que as coisas vão de mal a pior no teatro dos Champs Elysées. Agora surge um senhor que vai dizer umas palavras no microfone, mas como o público está esperando Louis e este senhor vem plantar-se no caminho, os cronópios estão furiosíssimos e o vaiam de forma veemente, tapando por completo o discurso do senhor a quem se vê somente abrindo e fechando a boca, de modo que parece extraordinariamente um peixe num aquário. Como Louis é um enormíssimo cronópio, causa-lhe pena o discurso perdido, e de repente aparece por uma portinha lateral, e a primeira coisa que se vê dele é o seu grande lenço branco, um lenço que flutua no ar e atrás um jorro de ouro também flutuando no ar e é o pistão de Louis, e atrás, saindo da obscuridade da porta a outra obscuridade cheia de luz de Louis que avança pelo palco, e se acabou o mundo e o que vem agora é total e definitivamente o fim do fim do guaiú. Atrás de Louis vêm os rapazes da orquestra, e aí está Trummy Young que toca trombone como se tivesse nos braços uma mulher desnuda e de mel, e Arvel Shaw que toca contrabaixo como se tivesse nos braços uma mulher desnuda e de sombra, e Cozy Cole que saracoteia sobre a bateria como o Marquês de Sade sobre os traseiros de oito mulheres nuas e fustigadas, e logo vêm outros dois músicos de cujos nomes nem quero lembrar e que estão aí creio que por um erro do empresário ou porque Louis os achou debaixo do Pont Neuf e lhes viu a cara de fome, e além disso um deles se chama Napoleão e isso é um argumento irresistível para um cronópio tão enormíssimo como Louis. Para isto já se desencadeou o apocalipse, porque basta Louis levantar sua espada de ouro, e a primeira frase de When it's sleepy time down South cai sobre a gente como uma carícia de leopardo. Do pistão de Louis a música sai como as fitas faladas das bocas dos santos primitivos, no ar se desenha sua quente escritura amarela, e atrás desse primeiro sinal se desencadeia Muskat Ramble e nós na platéia nos agarramos a tudo o que temos de agarrável, além do que têm os vizinhos, de modo que a sala parece uma vasta sociedade de polvos enlouquecidos e no meio está Louis com os olhos em branco atrás do pistão, com o lenço flutuando numa contínua despedida de algo que não se sabe o que seja, como se Louis necessitasse dizer todo o tempo adeus a essa música que ele cria e que se desfaz no instante, como se soubesse o preço terrível dessa maravilhosa liberdade que é a sua. Por certo que a cada coro, quando Louis eriça o rico de sua última frase e a fita de ouro é cortada como que com uma tesoura fulgurante, os cronópios do palco saltam vários metros em todas as direções, enquanto os cronópios da sala se agitam entusiasmados nas poltronas, e os famas, vindos ao concerto por erro ou porque era preciso ir ou porque custa caro, se entreolham com um ar estudadamente amável, mas naturalmente não entenderam coisa alguma, lhes dói a cabeça que é um horror, e em geral gostariam de estar em casa escutando a boa música recomendada e explicada pelos bons locutores, ou em qualquer parte a vários quilômetros do teatro dos Champs Elysées. Uma coisa digna de se levar em conta é que além da imensa montanha de aplausos que caem sobre Louis apenas terminado o coro, o próprio Louis se apressa a mostrar-se visivelmente encantado consigo mesmo, ri com a grandíssima dentadura, agita o lenço e vai e vêm pelo palco, trocando frases de contentamento com os músicos, todo satisfeito com o que está ocorrendo. Logo se aproveita do fato de Trummy Young ter hasteado o trombone e estar produzindo uma fenomenal descarga de som concentrado em massas metralhantes e resvalantes para enxugar cuidadosamente o rosto com o lenço, e junto com o rosto o pescoço e creio que até o interior dos olhos, a julgar pela forma com que os esfrega. A esta altura dos acontecimentos vamos descobrindo os adminículos que Louis traz para estar como em casa no palco e divertir-se à vontade. Para começar, aproveita a plataforma de onde Cozy Cole semelhante a Zeus profere raios e centelhas em quantidades sobrenaturais para guardar uma pilha formada por uma dúzia de lenços brancos que ele vai pegando um a um à medida que o anterior se converte em sopa. Mas naturalmente todo esse suor sai de alguma parte, e em poucos minutos Louis sente que está desidratado, de modo que aproveita um terrível corpo-a-corpo amoroso de Arvel Shaw com sua dama morena para tirar da plataforma de Zeus um extraordinário e misterioso copo vermelho, estreito e altíssimo, que parece um copo para jogar dados ou o recipiente do Santo Graal, e para beber dele um líquido que provoca as mais variadas dúvidas e hipóteses por parte dos cronópios assistentes, já que não falta quem sustente que Louis bebe leite, enquanto outros rugem de indignação diante dessa teoria e declaram que num copo como esse não pode haver senão sangue de touro ou vinho de Creta, o que vem a ser a mesma coisa com outro nome. Enquanto isso Louis escondeu o copo, tem um lenço fresco na mão, e então lhe dá vontade de cantar e canta, mas quando Louis canta a ordem estabelecida das coisas se detém, não por alguma razão explicável, mas somente porque tem de se deter enquanto Louis canta, e dessa boca que antes inscrevia as bandeirolas de ouro cresce agora um mugido de cervo enamorado, um clamor de antílope contra as estrelas, um murmúrio de besouros na sesta das plantações. Perdido na imensa abóbada do seu canto, fecho os olhos, e com a voz deste Louis de hoje me vêm todas as outras vozes de dentro do tempo, sua voz de velhos discos perdidos para sempre, sua voz cantando When your love has gone, cantando Confessin', cantando Thankful, cantando Dusky Stevedore. E embora eu não seja mais que um movimento confuso dentro do pandemônio perfeitíssimo da sala dependurada como um globo de cristal da voz de Louis, caio em mim por um segundo e penso em trinta, quando conheci Louis num primeiro disco, em trinta e cinco quando comprei meu primeiro Louis, o Mahogany Hall Stomp da Polydor. E abro os olhos e ele está aí, depois de vinte e dois anos de amor sul-americano ele está aí, depois de vinte e dois anos ele está aí cantando, rindo com toda a sua cara de moleque incorrigível, Louis cronópio, Louis enormíssimo cronópio, Louis, alegria dos homens que te merecem. Agora Louis acaba de descobrir que o seu amigo Hugues Panassié está na platéia, e naturalmente isso lhe causa uma alegria enorme, de modo que corre ao microfone e lhe dedica uma música, e entre ele e Trummy Young se arma um contraponto de trombone e trumpete que é como um arrancar a camisa em tiras e lançá-las uma a uma ou todas juntas pelo ar. Trummy Young arremete como um búfalo, com uns saltos e umas quedas que te torcem as orelhas, mas agora Louis se escoa pelos ocos e a gente começa a não escutar mais que o seu pistão, a gente começa a perceber uma vez mais que quando Louis sopra, cada sapo em sua lagoa e aí te quero ver. Depois é a reconciliação, Trummy e Louis crescem juntos como dois álamos e racham de cima a baixo o ar com uma estocada final que nos deixa a todos docemente estúpidos. O concerto acabou, já Louis estará trocando de camisa e pensando no hambúrguer que lhe vão preparar no hotel e na ducha que vai tomar, mas a sala continua cheia de cronópios perdidos no seu sonho, montões de cronópios que procuram lentamente e sem vontade a saída, cada um com seu sonho que continua, e no centro do sonho de cada um Louis pequenininho soprando e cantando.
Detectamos a existência de uma
revista de agronegócios, hortaliças e questões
correlatas chamada - senhoras e senhores - O Sulco: E decidimos anunciar publicamente que não ficaremos magoados se o sr.(a) leitor(a) decidir contratar os serviços de nossa concorrente, que tem um nome bom demais para ser preterida. Uma das matérias se chama "Turismo em volta da árvore". É triste ficar velha e ser passada pra trás.
A caixa postal de hortalica@gmail.com recebeu um currículo no domingo à tarde. Um currículo. "Admiro muito o trabalho de vocês, não sei se precisam de mais alguém para a equipe. Bom, se precisarem, envio meu currículo em anexo. Agradeço desde já a atenção". Verdade. O que nos deu uma idéia péssima: estão abertas as inscrições para o processo seletivo da Hortaliça. Selecionaremos amadores em todas as áreas do conhecimento humano. O emprego consiste em não fazer nada em período integral, ou fazer tudo errado (quatro horas por dia). Os estagiários terão que comprovar incompetência absoluta nas áreas mais importantes da vida prática: manicure, pedicure, cultivo de frutas, coordenação motora, costura, primeiros socorros, higiene infantil, salvamento de fogo, oratória e lógica elementar I e II. Responderão a um questionário de múltipla escolha com ênfase em aritmética e farão um teste psicotécnico junto a palhaços de uma empresa especializada. Oferecemos plano de carreira e assistência psiquiátrica (os médicos precisam da nossa ajuda). Os candidatos devem comparecer na segunda-feira de manhã à praça Tito, s/n, munidos de currículo e uma piada de sua autoria. (Sugestão: O porquinho Ponciano tinha uma perna só, foi se coçar e caiu.)
Cale a boca imediatamente! Ainda vou acabar por amordaçá-lo com uma fralda.
Os desfiles "Espetáculo da Natureza", promovidos pelo estilista brasileiro Guilherme Tavares entre os dias 1 e 3 de outubro, agitaram Milão (Itália). A coleção de Tavares, concebida à base de hortaliças, frutas e legumes, fechou com chave de ouro o “Milão Fashion Salad”, que aconteceu no restaurante Rio's. Tavares utiliza sua experiência de consultor gastronômico para criar roupas exóticas, confeccionadas com produtos naturais. Durante os três dias, vinte modelos estiveram na passarela em trajes "prêt-à-porter" à base de hortaliças, frutas e legumes. Na segunda-feira - último dia do evento – uma modelo com um vestido curto tomara-que-caia branco, com cauda de um metro e meio em nabo chinês, abriu o desfile. Um dos figurinos que causou maior sensação foi um vestido, também tomara que caia, com saia godê em "paiter" de beterraba e gola echarp em lolo rosé (uma qualidade de alface crespa) – uma réplica tropical de um modelito Christian Dior, em homenagem aos 100 anos do estilista francês. O evento O "Milão Fashion Salad" - uma exposição de moda "in natura" - ocupou o restaurante Rio's durante uma semana. Além dos trajes, os visitantes puderam apreciar esculturas gastronômicas que reproduziam pontos turísticos das principais capitais da moda. Entre as obras de Tavares, o público pôde apreciar a "Torre de Piza", esculpida em uma abóbora, a "Torre Eifel" à base de profiterólis, e o "Pão de Açúcar" de croissants. O estilista O carioca Guilherme Tavares revolucionou o conceito de moda com suas criações exóticas. Antes de se lançar no mundo "fashion", ele construiu uma bem-sucedida carreira como chef e consultor gastronômico em restaurantes e hotéis de todo o Brasil. Especialista em saladas e pratos frios, decidiu ampliar sua arte, primeiro criando esculturas em frutas e legumes, até chegar a criação de roupas e acessórios à base de produtos naturais. ** temos imagens em alta resolução.
Acho errado a gente não poder ter sol a hora que quiser. No primário era só ir à papelaria e pedir "um sol, uma Terra e cinco satélites a escolher", e o seu Borges já sabia exatamente quais eram os tamanhos das bolas de isopor. Tritão, a lua de Netuno? Já estou embrulhando. O sr. vai querer o diâmetro equatorial registrado pela classificação de 1942 ou prefere arredondar? Seu Borges tinha na cabeça toda a imensidão interplanetária em escala de 1 para 8 milhões. O problema é que ele não suportava ser subestimado por pessoas de QI mais baixo. Uma vez entrei lá e perguntei: tem cartolina branca?, ao que ele me respondeu: "se eu não tivesse, podia tirar a placa PAPELARIA da frente da loja". Seu Borges tirava chacota da gente com uma facilidade incrível. :: AINDA SOBRE ESSE ASSUNTO :: Menu de opções de um site farmacêutico: PRODUTOS - USO DIÁRIO Desodorantes
Eu já fugi de uma ovelha num campo de futebol, enquanto o resto do time aguardava o término do meu ataque de histeria. Quando pequeno, era atropelado por pneus com certa freqüência, naquelas brincadeiras de rolar objetos cilíndricos ladeira abaixo. Eu não sei o que é um cilindro e perdi o compasso nos primeiros dias de aula. Lembro dos meninos menores de braços cruzados no campo, alguns se sentaram, e eu fugia em círculos de uma ovelha furiosa que balia atrás de mim, sim, furiosa, eu podia ver a maldade nos olhos da lanígera. Lembro do centroavante abaixando o meião e do goleiro tirando um cubo mágico das calças. Lembro do juiz deitado de barriga pra baixo tentando não morrer de rir e dos olhos da ovelha cravados em mim, as batatas das patas tremelicando conforme ela ganhava terreno em minha direção. Alguns jogadores já tinham comprado guaranás em lata quando a ovelha finalmente me derrubou, na meia-lua do campo adversário — segundo testemunhas, me deu umas lambidas. Cansou do meu gosto de medo e foi comer umas gramas. Eu não me lembro de nada. Fui direto para o pronto-socorro aonde me levaram quando fui atropelado por um pneu. Minha mãe apareceu na sala de emergência arrastando os pés, assinou os papéis da minha internação sem olhar e perguntou para o médico o que tinha sido daquela vez. Seu filho fez cocô no quimono, respondeu o instrutor de judô, por isso eu desisti de todos os esportes. Do boliche sobretudo, porque fiz um strike com a minha própria cabeça, antes de ser guilhotinado pelo recolhedor de pinos. :: DA HORTALIÇA :: Eli Wallach: What I don't
understand is why a man like you took the job in the first place,
hum? Why, heh?
Direção, roteiro e figurino: Bem Verão Produções Improváveis.
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2005
Vanessa Barbara |