Quatro anos antes, durante a festa de formatura de Franny, no colégio, o seu irmão Buddy profetizara morbidamente, para os seus próprios botões, enquanto ela lhe sorria da tribuna onde estava recebendo o diploma, que a irmã caçula casaria, provavelmente, mais cedo ou mais tarde, com um homem que teria bronquite asmática e levaria o tempo todo tossindo e tossindo.
:: EDITORIAL
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No último dia 3 de maio, o governo do Mato Grosso do Sul divulgou nota oficial anunciando um pacote de providências em combate à "prolongada crise que afeta, em escala nacional, o agronegócio, principalmente o cultivo e exportação de leguminosas". Também o secretário Ivan Wedekin, do Ministério da Agricultura, afirmou que irá liberar R$ 1 bilhão para apoio aos tubérculos -- "contanto que não tenham cabelos", ressaltou, sem temer os violentos apupos da população ou as (pesadas) batatas que voavam em frente às câmeras. Aproveitamos este pequeno espaço de terra, portanto, para arar nossos mais sinceros agradecimentos àqueles que manifestaram apoio (em dinheiro ou espécie) ao nosso labor agrícola, ultimamente tão castigado pela fadiga e pelas raízes brancas. Também gostaríamos de prestar contas aos nossos assinantes que, na semana passada, empastelaram a redação deste jornal com creme de papaia e entraram com um processo na justiça por quebra de decôro e utilização indevida de acentos circunflexos, entre outras acusações muito justas: por exemplo, o fato de que esta é a segunda edição do ano e que nós estamos ficando megalomaníacos. Sim, queridos assinantes, estamos ficando megalomaníacos. Usamos o plural de majestade como se fosse muito justo, já que vamos assumir a administração do Universo dentro de 37 dias (ou seja, é de fato muito justo). Este é um dos motivos pelos quais abandonamos esta horta à sorte do ataque de gafanhotos e da contaminação transgênica: estamos nos preparando para a portentosa quão animada cerimônia de Ascenção aos Céus, que contará com festiva matança de primogênitos e milagres de baixa estirpe (só para impressionar as meninas). Aqueles que acompanham nosso trabalho de candidatura à Onipotência desde os primeiros números deste jornal sabem o que vai acontecer daqui pra frente, quando cruzarmos a reta dos 24. Primeiro virão a Onipotência e a Onipresença - esta última nos dispensará eternamente de tomar o 1744 e o 701-U para ir a qualquer lugar, o que vai deixar o motorista Elvis Negro muito sentido mas irá nos poupar de maiores dores de cabeça com o tráfego. Em seguida, virá a Onisciência, mas só depois que tivermos nos vingado de nossos leitores mais amargos e nossos inimigos mais docinhos (aí, sim, poderemos nos dar ao luxo de alcançar a sabedoria divina). Nossas principais providências estruturais acontecerão ainda no próximo mês: o oceano Pacífico vai se transformar em uma sopa - de letrinhas - e o Atlântico vai virar uma piscina. De bolinhas. As novas edições da Hortaliça poderão ser pescadas, portanto, mas a falta de coerência não poderá ser alvo de reclamações em momento algum -- ou seja, não iremos garantir a verossimilhança e a presença de propósito em nossos escritos, ao contrário do que hoje acontece. As demais modificações relativas à atual forma de gerir a Galáxia estão sendo discutidas com o resto da Trindade (o Pai, o Filho e o Papagaio) durante o período de trainee na Criação, que já começou. Formulários de sugestões e imprecações em geral podem ser encaminhados à Redação (Praça Tito, s/n) até o dia 31 de maio. O Deus atual, aliás, atenderá nesse endereço a partir de junho, quando dará entrada aos papéis da aposentadoria como Todo-Poderoso e se dedicará às artes cênicas. Presentes de aniversário ambiciosos de cristãos tementes a Deus serão naturalmente aceitos e garantirão aos respectivos fiéis um lugar no céu (ou pelo menos um bottom). :: INTERLÚDIO :: Ingrid Bergman: My car is outside. Cary Grant: Naturally. :: PIAZZA V :: Roberto Piva Oswald Spengler tem uma porta no seu tornozelo & nuvens através dele limpando a pele que projeta um velho cachecol marrom em seu olho eu penso pelos seus líquidos compassos de sátiro até um cenário de músculos impedido de esmagar o carvão de vidro verde que aquece a estrela nua de anteontem Oswald Spengler tem uma porta no seu tornozelo batendo até altas horas :: DOS BONS TESTEMUNHOS :: 71 contos, Primo Levi É uma moça
de boa família, o pai dela tem quatrocentas ovelhas e quarenta
vacas. Até agora não me deu filhos, mas é uma
ótima esposa, embora nos dias de umidade se torne hipocondríaca
e beba muita cerveja.
:: HE'S AN EX-CHAPMAN! :: parte do discurso de John Cleese em memória a Graham Chapman, jan 1990 Graham Chapman, co-author of the 'Parrot Sketch,' is no more. He has ceased to be, bereft of life, he rests in peace, he has kicked the bucket, hopped the twig, bit the dust, snuffed it, breathed his last, and gone to meet the Great Head of Light Entertainment in the sky, and I guess that we're all thinking how sad it is that a man of such talent, such capability and kindness, of such intelligence should now be so suddenly spirited away at the age of only forty-eight, before he'd achieved many of the things of which he was capable, and before he'd had enough fun. Well, I feel that I should say, "Nonsense. Good riddance to him, the freeloading bastard! I hope he fries. " And the reason I think I should say this is, he would never forgive me if I didn't, if I threw away this opportunity to shock you all on his behalf. Anything for him but mindless good taste. I could hear him whispering in my ear last night as I was writing this: "Alright, Cleese, you're very proud of being the first person to ever say 'shit' on television. If this service is really for me, just for starters, I want you to be the first person ever at a British memorial service to say 'fuck'!" [...] Bolder and less inhibited spirits than me follow today. Jones and Idle, Gilliam and Palin. Heaven knows what the next hour will bring in Graham's name. Trousers dropping, blasphemers on pogo sticks, spectacular displays of high-speed farting, synchronised incest. One of the four is planning to stuff a dead ocelot and a 1922 Remington typewriter up his own arse to the sound of the second movement of Elgar's cello concerto. And that's in the first half. http://www.youtube.com/watch?v=nBAuPkGGzfQ&search=chapman%20eulogy http://www.geocities.com/fang_club/chapman_memorial.html
!! A
Hortaliça!!
:: DAS BOAS RESPOSTAS :: Fitzgerald, "Os nadadores" "Eu ainda amo você", ele disse, "isso é que é estranho." "Durma, meu repolhinho." :: CASA DE BANHOS E DE BIFES :: O proprietário da Serêa Paulista, homem conscientemente inimigo do verão e incansável antagonista do calor, abrio há tempos, na rua São Bento, uma casa onde encontra-se refrigério para o corpo e para a alma. Por 1$500rs. banha-se o corpo em um oceano de água aromatizada, e fogam-se os calores do espírito com um sorvete. São recebidos, sem distinção, tanto protestantes como cathólicos, jesuítas e atheus. Todos são iguais perante a tabella de preços. :: O MELHOR ENSAIO SOBRE INDIANA JONES :: [...] Nossa gratidão a Harel Calderon por seu ensaio “I’m Goin’ Home to Missouri, Where They Never Feed You Snakes before Ripping Your Heart out”, publicado em [...] :: MOMENTO GRAMATICAL :: por Napoleão Mendes de Almeida Tudo o que - [...] Além de nada explanar do caso particular, essa regra é gratuita e, para condenar a expressão, inteiramente destituída de aplicação. Ao contrário de fazer graçolas em matéria gramatical, deveriam esses chocarreiros estudar um pouco mais de gramática, em suprimento do acanhado poder de raciocínio. [Mais tarde ele chama os gramáticos de truões.] :: NOVÍSSIMA HISTÓRIA DOS HICSOS :: -- O rei Apófis -- longa vida, bem estar e saúde para êle! -- manda-te dizer: Desvia o lago dos hipopótamos que existe a leste da tua cidade, pois êles não me deixam dormir. Dia e noite seu ruído está nos meus ouvidos. [...] O bramido dos hipopótamos é sem dúvida o casus belli mais estranho da história universal. :: A ÚLTIMA, A ÚLTIMA :: Chamfort Those who put together books of quotations are a bit like people who eat cherries - they start with the best ones and end up eating them all. :: INCONSISTÊNCIA :: "Por causa de sua dificuldade em concentrar a atenção, há crianças e adultos que podem tornar-se inacreditavelmente confusos e inconsistentes." Então me deu uma vontade imensa de fazer algum comentário inteligente sobre o fagote, ou de levantar da cadeira durante os arpejos da flauta doce e gritar Polainas ao homem do lado. A mim pouco importava o fato de que a flauta doce não é um instrumento de cordas ou de que eu estava (o tempo todo) de costas para o palco, contanto que o meu comentário fosse perspicaz, refinado, com gosto de cimentcola, tão arguto que o pessoal da fileira da frente colocaria as mãos na barriga por puro deleite. E bateria na pança com a palma das mãos, top top. Então me deu vontade de mascar chiclete e soprar pra cima -- dois ou três de tutti-fruti, soprar até perder o fôlego -- até que eu desistisse de exaustão ou estourasse a bola, impressionando enormemente o homem do lado. Nota: sincronizadamente ao cataplash dos címbalos seria um requisito apreciado, mas não obrigatório. Então me deu vontade de me coçar inteira: coçar a parte de trás da perna, as bordas, o joelho, o ossinho do calcanhar, tirar os sapatos e chegar até a planta do pé, depois dizer que "é dos nervos". Então me deu vontade de estar vestida de arlequim, o olho esquerdo pintado e um chapéu com guizos nas pontas; estar vestida com uma blusa de babados ou uma gola bufante. Então me deu vontade de andar pelos corredores vendendo albatroz, lado a lado com o homem (do lado) que pediria a minha opinião sobre o escândalo do caixa-dois e a evasão de divisas nacionais para a Bolívia, assuntos sobre os quais eu dissertaria utilizando-me de correta flexão do infinitivo verbal (ou gírias escocesas). Mas a platéia inteira já teria saído a essa altura e o homem do lado estaria me esperando passar para poder apagar a luz
Direção, roteiro e figurino: Bem Verão Produções Improváveis. "Para ser lido na maldita hora da noite em que tudo é engraçado -- logo após a hora em que nada faz sentido e antes daquela em que tudo faz sentido" (Stephanie Avari, que realmente mora na rua Paulo da Silva Gordo) ## Você está recebendo !!Witzelsucht!! porque estava na mala direta. Ou então, ou então! Você está recebendo o !Rododendro! porque foi um dos 139 mil nomes escolhidos entre todos os possíveis, sorteados em uma grande urna chinesa. Você e o To Fu, que ganhou o direito de trazer um tufo de nenúfares e furar a fila (desculpe). Caso não queira voltar a receber este jornalzinho, mande um e-mail para hortalica@gmail.com e diga na linha de assunto: "Foi demais para Kudno Mojesic", mesmo que você não seja -- e nem planeje ser -- Kudno Mojesic. ::: www.hortifruti.org :::
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2005
Vanessa Barbara |