Há duas semanas, na avenida Zumkeller, cerca de 5 mil manifestantes (idosos) fecharam o trânsito nos dois sentidos, marchando vagarosamente em meu favor. Parece que esticaram imensas faixas de tecido onde se podia ler: "Não quero morrer em Cordeirópolis", numa clara demonstração de insânia coletiva à luz das mais recentes notícias. É que, há pouco, nossa equipe editorial foi perversamente descontinuada da publicação jornalística onde cultivava quinzenalmente as mais viçosas e selecionadas hortaliças, e que, coincidentemente, provia de sestércios esta que vos escreve e enchia de glórias o pujante bairro do Mandaqui. Nos dias que se seguiram, também a redação d'O Verdugo Soviético entrou em greve como forma de demonstrar solidariedade, se não por corporativismo, no mínimo por interesse (somos nós que lavamos a louça). E há rumores de que, em plena Íris Leonor, o seu Firmo estaria organizando um abaixo-assinado para distribuir nos principais estabelecimentos comerciais da região, sobretudo as imobiliárias, que registraram uma aviltante queda na procura por habitações com jardim. Como se não bastasse, a corregedoria do Estado emitiu uma circular em que reconhece a importância do nosso trabalho, pedindo à Procuradoria Pública a retratação imediata e o ressarcimento de danos morais. Por meio de sua assessoria, a redatora-chefe deste hebdomadário não quis se pronunciar. Apenas disse: "You maniacs! You blew it up! Oh, damn you! God damn you all to hell!". Trata-se da sexta fase do processo de luto. (A fase seguinte tem a ver com docinhos.)
:: PEDIDO :: Se, porventura, algum de nossos equilibrados leitores tiver uma pista da origem dessa misteriosa frase, "Não quero morrer em Cordeirópolis", favor escrever com urgência. Foram 78 edições e ainda não aprendemos a anotar, sem falta, a fonte das coisas que encontramos pelo caminho.
:: ...COISAS COMO ESTA :: Bigodes têm função tátil, e isso acaba com o paradigma de David Hubel e Torstein Wiesel.
:: BARTLEBY E COMPANHIA :: Peter Messent, professor de literatura norte-americana na Universidade de Nottingham, fez sua tese sobre Pynchon e, como é normal, tinha obsessão por conhecê-lo. Após não poucos contratempos, conseguiu uma breve entrevista em Nova York com o autor de O leilão do lote 49. Os anos passaram, e quando Messent já se havia transformado no ilustre professor Messent - autor de um grande livro sobre Hemingway - foi convidado em Los Angeles para uma reunião de amigos com Pynchon. Para sua surpresa, o Pynchon de Los Angeles não era absolutamente a mesma pessoa que havia entrevistado anos antes em Nova York, mas, como aquele, conhecia perfeitamente até os detalhes mais insignificantes de sua obra. Ao terminar a reunião, Messent atreveu-se a expor a duplicidade de personagens, ao que Pynchon, ou quem quer que fosse, respondeu sem a menor perturbação:
:: MAX WEBER DÁ UM CURSO EM SÃO PAULO :: MAKE HAIR E MAQUIAGEM BÁSICA ESTILO PESSOAL EM FOTOGRAFIA DE MODA INTRODUÇÃO À DIREÇÃO DE ARTE PINTURA HOJE: CURSO PRÁTICO E TEÓRICO MOULAGE BÁSICO COMO ENCONTRAR SEU ESTILO MAQUIAGEM PARA ALTA DEFINIÇÃO ÍCONES DE ESTILO DO OSCAR AO TAPETE VERMELHO MERCADOS FUTUROS PARA MODA MASCULINA ALIMENTAÇÃO CONSCIENTE DEGUSTAÇÃO DE BEBIDAS Escola São Paulo
:: ALGUNS DOS MELHORES COMENTÁRIOS AO SPAM ACIMA :: "É um curso sobre a estética protestante" (Antonio Prata)
:: PIAUÍ QUATRO NOVE ZERO :: Dizem que em algum lugar,
:: JUSTIFICATIVA :: Ao longo desses 45 anos, nas raras ocasiões em que se tornava acessível, faziam-lhe [a Emilio Adolpho Westphalen] sempre a mesma pergunta, tão parecida, certamente, com aquela que no México faziam a Rulfo. Sempre a mesma pergunta e sempre, ao longo de meio século, cobrindo o rosto com a mão esquerda, a mesma - não sei se enigmática - resposta: "Não estou disposto".
:: MAIS TRADUÇÕES DE CARDÁPIOS :: Você escolhe o ponto da carne - You choose the meat's point
:: LINK IMPORTANTE :: http://www.lucianapepino.com.br
:: HEBEL, NOSSO MENTOR RENANO :: Mas o episódio decisivo para nós, leitores, sobreveio em 1807, quando Hebel recebeu o encargo de renovar e redigir o almanaque oficial de Baden. Poeta de um livro só, já próximo dos cinqüenta anos, Hebel desempenhará a tarefa com entusiasmo até o ano de 1815, imprimindo ao almanaque um frescor narrativo que logo lhe garantiu enorme sucesso. Rebatizada como O amigo da família renana (Der rheinländische Hausfreund), a publicação chegou a vender quarenta mil exemplares por ano, atraindo leitores além das fronteiras de Baden, bem como a atenção do grande editor Cotta, de Tübingen, que não tardou a encomendar uma antologia das melhores historietas. Publicado em 1811, o livro faria a fama de Hebel: trata-se do Florilégio ou Caixinha de tesouros do amigo da família renana (Schatzkästlein des rheinischen Hausfreundes). Apesar ou, quem sabe, por causa do sucesso obtido, Hebel abandonou a redação do almanaque em 1815, após uma rusga com autoridades católicas de Baden, e só voltaria a assumi-lo em 1819, por um número apenas. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-33002005000200016&script=sci_arttext&tlng=pt
:: UM EQUÍVOCO :: Na guerra dos anos noventa, quando a margem de lá do Reno estava tomada por sentinelas franceses e a de cá por suábios, um francês desocupado gritou para um sentinela alemão: "Filou! Filou!". Isso quer dizer, em bom alemão, "patife". Mas o honesto suábio nem suspeitou da malícia, pensou que o francês perguntava: "Wieviel Uhr?" (Que horas são?), e de bom-grado respondeu: "Três e meia!".
:: GOTAS DE SABEDORIA :: O pato não é mais que uma galinha impermeável.
:: ROC-ECLERC POMPES FUNEBRES ET MARBRERIE :: "Parce que la vie est déjà assez chere!"
:: COMO SE FAZ A BARBA POR CARIDADE :: Um pobre homem de barba cheia e negra entra numa barbearia e, em vez de um pedaço de pão, pede ao patrão que tenha a bondade de lhe fazer a barba, para que volte a ter cara de bom cristão. O barbeiro empunha a pior navalha, pensando: "Vou lá estragar o fio de uma navalha boa por nadica de nada?". Enquanto raspa e retalha o pobre-diabo, que não pode dizer nada, pois o barbeiro trabalha de graça, um cachorro começa a uivar no pátio. O patrão pergunta: "Mas o que tem o Lobo que tanto gane e uiva?". Um fulano diz: "Não sei, não". Um outro diz: "Nem eu". Mas o pobre-diabo debaixo da navalha responde: "Vai ver que também estão barbeando o bicho por amor a Deus".
: HERÓIS DA ABOLIÇÃO :: O sujeito que dá autonomia ao pastel é o Degas.
:: BESTEIRAS CINEMATOGRÁFICAS :: "O melhor filme de pólo aquático já feito!" (Lilian Witte Fibe)
:: ÊXITO FUGAZ :: Deixe seu trompete de lado, porque estou pronta para amar!
:: O PATO-DE-RABO-ALÇADO :: Enquanto Manley se estendia no banco do carro para um cochilo, fui fuçar um pântano das proximidades. Três sujeitos brancos de meia-idade com um bom equipamento me perguntaram se eu tinha visto alguma coisa interessante. “Pouca coisa”, respondi, “além de um bico-roxo.” Os três começaram a falar ao mesmo tempo. “Um bico-roxo?” “Um bico-roxo!” “Onde, exatamente? Mostre no mapa!” “Tem certeza de que era um bico-roxo?” “Você conhece o pato-de-rabo-alçado? Sabe como é a fêmea?” “Era um bico-roxo!” Eu disse que sim, que já tinha visto fêmeas de pato-de-rabo-alçado, que freqüentam o Central Park, e que o que eu tinha visto era outro. Parecia que alguém tinha mergulhado dois dedos na tinta preta e — “Estava sozinho?” “Havia outros?” “Um bico-roxo!” Um dos homens pegou uma caneta, anotou meu nome e me pediu que indicasse a localização do laguinho num mapa. Os outros dois já seguiam a estrada pela qual eu tinha voltado. “E você tem certeza de que era um bico-roxo”, disse o terceiro homem. “Pato-de-rabo-alçado é que não era”, respondi. Um quarto homem saiu de algumas moitas bem atrás de nós. “Estou com um bacurau dormindo numa árvore.” “E esse sujeito viu um bico-roxo”, disse o terceiro homem. “Um bico-roxo! Tem certeza? Você conhece a fêmea do pato-de-rabo-alçado?” Os outros dois homens voltaram correndo pela estrada. “Alguém falou em bacurau?” “Foi, estou com o telescópio apontado para ele.” Nós cinco voltamos para as moitas. O bacurau, adormecido num galho de árvore, parecia uma meia cinza grossa meio embolada. O dono do telescópio disse que o amigo dele que vira aquela ave pela primeira vez tinha dito que era um bacurau-americano, e não um bacurau comum. Mas o trio bem equipado tomou a liberdade de discordar. “Ele disse que era um bacurau-americano? Mas ouviu o canto?” “Não”, respondeu ele. “Mas a área percorrida — ” “Não, a área percorrida é a mesma.” “Mas nessa altura do ano, estando aqui, tudo indica que seja um bacurau comum.” “Procure a listra na asa.” “Comum.” “Sem dúvida, é comum.” Os quatro homens partiram em marcha forçada à procura do bico-roxo, e comecei a ficar preocupado. Minha identificação do pato, que na hora me pareceu indubitável, agora me dava a sensação de ter sido perigosamente apressada, diante daqueles quatro observadores sérios que partiam numa caminhada de vários quilômetros em pleno calor da tarde. Fui acordar Manley. “A única coisa que conta”, disse ele, “é que nós vimos o pato.” “Mas o sujeito anotou meu nome. Agora, se eles não conseguirem ver, vou ficar com má fama.” “Se eles não conseguirem ver, vão achar que os bichos se esconderam no meio dos juncos.” “Mas e se eles virem uns patos-de-rabo-alçado? Pode ser que lá tenha tanto rabo-alçado quanto bicos-roxos, e os rabo-alçados são menos tímidos.” “É mesmo um bom motivo para ficar ansioso”, disse Manley, “se você está à procura de algum motivo de ansiedade.”
:: TÉCNICAS PARA DESINFORMAR UM PUDIM :: 1. Vire a fôrma de ponta-cabeça sobre um prato grande e fundo;
A grande graça de atribuir colaborações a nossos inocentes amigos é que, no futuro, eles irão procurar o próprio nome no Google e serão essas as bobagens que ficarão para a história. Os infelizes colaboradores desta edição foram: a minha mãe, o Paulo, o Emilio, o Antonio, o João, o Reinaldo e o prof. Vanderlei Bagnato.
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2005
Vanessa Barbara |