O sr. Altair Martins, vencedor da categoria estreante do Prêmio São Paulo de Literatura 2009, não tem umbigo. A informação foi confirmada por fontes ligadas ao escritor e abre caminho para questionamentos sobre a legitimidade de sua candidatura ao galardão. Primeiro: sabe-se que o umbigo é essencial não só em seres humanos, mas também em melões. É do umbigo que vem a flunfa, e é da flunfa que vem Tudo O Mais. Ora, se nosso amigo Altair Martins não possui umbigo, fica invalidado seu ingresso no planeta Terra e, quiçá, no mundo das letras. Em segundo lugar, no ato da inscrição, a editora do referido senhor e o referido senhor em si não se pronunciaram no tocante à carência umbilical do proponente, o que pode se caracterizar omissão de dados e má-fé em sua mais descarada forma.

Acrescente-se o fato de que Altair Martins, escritor, professor e astuto, desdenhou publicamente do cheque a si próprio endereçado, e, portanto, não se julga intimamente merecedor dos 200 mil sestércios que, muito provavelmente, gastou em patos de borracha ou aparelhos de ginástica abdominal. "Vamos quebrar as pernas do bom gaúcho", sugere um de seus opositores, em um momento da mais sã e justificada revolta. Como se não bastasse, na saída do prêmio, o sr. Altair Martins foi encontrado sentado no chão do hall do Museu da Língua Portuguesa em um ato que revoltou os demais concorrentes: comia, ele sozinho, toda uma bandeja de bolinhos de chocolate com cobertura de limão. Minhas senhoras, meus senhores, isso não é coisa que se faça em público. Acaso ele pretendia humilhar-nos a todos, lambendo os dedos e pedindo "mais bolo", a exemplo da princesa gorda de um conhecido game de Playstation 3?

A Promotoria clama, portanto, que o prêmio seja indeferido temporariamente e posto à disposição dos perdedores, que se comprometem desde já a disputá-lo numa justa contenda de cotonetes gigantes. Caso o autor já tenha se utilizado do dinheiro, ficaremos com os patos de borracha e que Deus nos proteja.

 

:: A BETERRABA ::
colaboração involuntária de Antonio Xerxenesky, de Jitterbug , Tom Robbins

A beterraba é o mais intenso dos vegetais. O rabanete é reconhecidamente mais febril, mas o fogo do rabanete é o fogo frio, o fogo do descontentamento, não da paixão. Os tomates são bastante sensuais, entretanto corre pelos tomates uma corrente subterrânea de frivolidade. As beterrabas são extremamente sérias.

 

:: CINE RIO SUL ::
Gregório Duvivier, na piauí de julho

mil novecentos e noventa e oito
anos depois de cristo o cinco meia
nove custava só sessenta e cinco
centavos e às seis passava doug

no canal dois e beakman no jantar
eram seis nuggets para cada um
de sobremesa horas no icequê
e cento e dez mil resultados para

"mulheres gostosas" no altavista
depois sempre sonhar com labirintos
o fluminense os beatles as mulheres

do altavista cair do quinto andar
e acordar com a cara afundada
no travesseiro sujo de benzac.

 

:: SLOGAN ::
da cidade de Piraquara

Aqui o Paraná dá certo.

 

:: MOSES MENDELSOHN ::
mais uma do nosso muso Hebel

Moses Mendelsohn era de religião judaica e contador de um comerciante que, ao que dizem, não inventou a pólvora. Era também muito sábio e devoto, e por isso contava com a estima e o apreço dos homens mais respeitáveis e eruditos. E é muito certo que seja assim, pois não se deve julgar mal a cabeça pela barba que nela cresce. Esse Moses Mendelsohn deu, entre outros, o seguinte exemplo de satisfação com o próprio destino. Certo dia, um amigo foi visitá-lo, deu com ele suando em cima de uma conta difícil, e disse: "É uma pena, meu bom Moses, e é inaceitável que uma cabeça tão inteligente como a sua tenha que ganhar o pão servindo a um homem que não merece lhe servir um copo d'água. O seu mindinho não é mais sabido do que ele inteiro, com todo aquele corpanzil?". Um outro teria ruminado essas palavras, teria jogado a pena e o tinteiro pelos ares e pedido as contas ao patrão no mesmo instante. Mas o sensato Mendelsohn deixou o tinteiro em paz, meteu a pena atrás da orelha, voltou-se tranqüilo para o amigo e disse o seguinte: "Tudo está certo assim como está, como a Providência sabiamente quis. Pois desse modo meu patrão tira bom proveito dos meus serviços e eu tenho do que viver. Mas, fosse eu o patrão e ele, o contador, eu não saberia o que fazer dele".

 

:: ÍNDICE DO SITE DO GLOBO RURAL ::
temas abordados pelos bons homens da televisão

http://globoruraltv.globo.com/GRural/0,27062,LTR0-4372-V,00.html
Veneno de Vespa
Verruga
Vinagre de banana

 

:: DE FLAUBERT A LOUIS BOULHET ::
Croisset, 24 mai. 1855

Hoje à tarde, veio-me um remorso. É preciso de qualquer jeito que aqueles pãezinhos em forma de turbante encontrem seu devido lugar na Bovary. Meu livro ficaria incompleto sem esses turbantes alimentares, já que tenho a pretensão de pintar Rouen.

[...] Eu farei com que Homais seja louco por pães em forma de turbante. Será um dos motivos secretos da sua viagem para Rouen e por sinal sua única fraqueza humana. Ele fará uma pândega, em casa de um amigo da rua Saint-Gervaus. Não tenha medo! eles serão da rua Massacre e serão cozidos num forno, cuja porta será aberta com uma régua!

 

:: PERGUNTA INOCENTE ::

Quando a gente instala a ferramenta de remoção de software mal-intencionado do Windows, ela corre o risco de remover o próprio Windows?

 

:: HOMEM COMUM ::
Philip Roth

Se a gente dava ao meu irmão uma caixa de envelopes, ele conseguia contá-los mais depressa que qualquer um, porque os dedos dele eram muito ágeis e ele contava os envelopes de cinco em cinco. Eu ia à sala dos fundos dar uma olhada, e não dava outra - lá estava ele a se exibir pra Corine, contando envelopes.

 

:: COPACABANA ::
mais um do Gregório Duvivier na piauí

alguns lugares pertencem a tempos
específicos e repousam numa data
determinada como certos becos
de copacabana que moram em mil
novecentos e noventa e três e de
onde pode-se ligar de orelhões
com fichas e comprar revistinhas
do cascão por cinco mil cruzeiros

 

:: ANIVERSÁRIO DA SIMONE ::

Todos perdemos o aniversário da Simone, que não sabemos exatamente quem é, mas confeccionou o seguinte convite:
http://aniversariodasimone.com.br/convite/

 

:: CAVALGADA INSÓLITA ::
mais uma do Hebel

Um homem cavalga seu burrico no rumo de casa e deixa que o filho caminhe ao lado. Vem um passante e diz: "Isso não está certo: o senhor cavalgar e fazer o filho andar; o senhor tem membros mais fortes". Então o pai desmontou do burrico e deixou o filho cavalgar. Vem de novo um passante e diz: "Não está certo, menino, você cavalgar e fazer o pai andar; você tem pernas mais jovens". Então os dois montaram e cavalgaram um tanto mais. Vem um terceiro passante e diz: "Mas que desatino: dois sujeitos em cima de um pobre animal! É de pegar uma vara e derrubar os dois!". Então os dois desmontaram, e seguiram os três a pé, à esquerda o pai, à direita o filho, no meio o burrico. Vem um quarto passante e diz: "Mas que trio curioso. Já não basta dois terem de andar? Não seria mais fácil se um cavalgasse?". Então o pai amarrou as patas da frente e o filho amarrou as patas de trás, passaram entre elas um galho forte que estava à margem do caminho e carregaram o burrico em cima dos ombros.

Assim acaba quem dá ouvidos ao primeiro que vier.

 

:: BESTEIRA ::
Ivan Lessa, em Eles foram para Petrópolis

Menino, eu estou tão nervoso! Jantar hoje no Hilton. Estar na rua depois das 4h da tarde. Ver mais de quatro pessoas. Me dá um frio aqui na boca do estômago que você nem imagina! Vai dar bobagem. Nunca estive na rua depois das 5h da tarde que não tivesse acabado em besteira.

 

:: RESPOSTA ::
de Mario Sergio Conti, na mesma obra

[...] Estou de olho em dois outros tratamentos antitabagísticos. Um usa técnicas afro-brasileiras. Abro o jogo: macumba. O segundo é a novena em devoção a uma daquelas pastorinhas de Fátima. Não lembro o nome da menina. É a que fuma.

 

:: DUAS BOAS NOTÍCIAS ::

Polícia Rodoviária Federal apreende 30kg de cabelo sem nota fiscal
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u577208.shtml

George Solitário, a mais famosa tartaruga de Galápagos, poderá ser pai
http://www1.folha.uol.com.br/folha/bichos/ult10006u598489.shtml

 

:: DIÁLOGO DE SAM E MAX ::

We finally got the tooth.
The whole tooth?
Nothing but.

 

:: MAIS AVÔ NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA ::

[...] Torna-se claro, portanto, que a presença do avô não opera somente como significante na base das canções aqui referidas (apud BIGNOTTO, 2004), mas também atua enquanto subtexto familiar nas entrelinhas das letras. Mesmo em manifestações mais populares, a exemplo de diversas formas de pagode, contamos com o lirismo subjacente do tema-avô, desta vez enquanto pai do pai.

O avô faz a gente enlouquecer
Faz a gente dizer coisas
Pra depois se arrepender

Avô, meu grande avô
Não chegue na hora marcada
Assim como as canções
Como as paixões e as palavras

No folclore escoteiro, há que se mencionar uma modinha popular de tom indiscutivelmente elegíaco:

Bem feioso foi aquele
Que o meu benzinho roubou
Mas eu vou achar um outro
Igualzinho ao meu avô.

Mesmo grandes gênios musicais como João Gilberto não perdem a oportunidade de se queixarem e protegerem o referido antepassado:

Só não poderá falar assim do meu avô
Este é o maior que você pode encontrar

Além disso, na seara do pop, temos uma notável canção-protesto que inaugura a luta pelos direitos do avô diferente: o avô que cospe, o avô com Tourette, o avô que serviu na Coreia e até mesmo o avô sem filhos.

E a gente vai à luta
E conhece a dor
Consideramos justa toda forma de avô

No próximo capítulo, as implicações do tema-avô na MPB ao longo da história. A título de esclarecimento, também estamos trabalhando na troca de "luar" por "muar", como em "Muar do sertão", e de "mulher" por "colher". Os resultados serão divulgados na próxima edição deste periódico.

 

:: PÔ, MARCOS ::
moça no banco da frente do Aclimação 508-L

Se o Marcos comeu meu miojo de tomate, eu mato ele.

 

:: TRECHO COLETADO PELO MEU PAI ::
mas ele não lembra de onde

Eu sabia que Wolfe não era tipo para brincadeiras e que, apesar de sua natural molenguice, era capaz de agir lestamente, quando a mostarda lhe subia ao nariz.

 

:: ASPARGOS ::

Manet vendeu a Charles Ephrussi "Um Feixe de Aspargos" por oitocentos francos. Mas Ephrussi lhe pagou mil francos, e Manet, que era um mestre da elegância e do senso de humor, pintou este aspargo e o enviou com um bilhete: "Tinha um aspargo faltando".

 

 

:: REVOLUÇÃO NO JB ::
Mario Sergio Conti, em op. cit.

Pouco a pouco, mudanças significativas estão sendo introduzidas. Outro dia, por exemplo, o jornal saiu com a data certa na primeira página, algo que não acontecia há oito anos. Demos uma entrevista bombástica com um ex-técnico do Olaria, explicando que o time perdeu o campeonato de 1954 porque foi derrotado em todas as partidas. Nosso leitor foi o primeiro a saber que os franceses perderam a Guerra do Vietnã. A concorrência está tremendo.

 

:: ORAÇÃO ::
Antonio Maria

Rosinha Desossée, me tire desse quarto de hotel e de todas as coisas que entram pela janela; me leve para longe das palmeiras, mais longe e perto das coisas mais macias; me faça esquecer (depressa) os homens ruins — isto é: os que gostam de cebola crua; me ensine, Rosinha Desossée, tudo o que eu não aprendi: a cortar com a mão direita, a usar anel, a tocar piano, a desenhar uma árvore e valsar; e me lembre do que eu esqueci — raiz quadrada, (as mais ordinárias), frações, latim, geofísica e "Navio Negreiro", de Castro Alves; depois, me dê, pelo bem dos seus filhinhos, aquilo que eu não tenho há quase um ano, carinho — de um jeito que eu não sei dizer como é, mas que há, por aí ou, pelo menos, já houve; destelhe a casa, deixe a noite entrar e, juntos, vamos nos resfriar; espirre de lá, que eu espirro de cá... agora, cada um com a sua bombinha, inalação, inalação; lado a lado, sentemos, os dois de perfil para o ventilador; minhas mãos e as suas não são de ninguém, entendido?; se interesse por mim e pergunte o que eu sei, que eu quero exclamar, no mais puro francês: "oh!"..."comment allez vous"? (...) de um jeito ou de outro, me tire daqui, pra Pérsia, Sibéria, pro Clube da Chave, pra Marte, Inglaterra, sem couvert, sem couvert; está vendo o retrato dos meus 20 anos? de lá para cá, cansaço, pé chato, gordura, calvície fizeram de mim essa coisa ansiosa, insegura e com sono, que pede a você, no auge do manso: você, Desossée, não saia esta noite e fique, ao meu lado, esperando que o sono me tome e me mate, me salve e me leve, por amor ao teu andar, assim seja...

 

:: CONSIDERAÇÃO IMPORTANTE ::
O demônio do meio-dia, de Andrew Solomon, colaboração involuntária do dr. André

Ao que parece, a depressão tem estado presente desde quando o homem tomou consciência do próprio eu. Pode ser que a depressão exista antes mesmo dessa época, que macacos e ratos e talvez polvos tenham sofrido da doença antes de os primeiros humanóides acharem seu caminho para as cavernas.

 

:: OUTRA CONSIDERAÇÃO IMPORTANTE ::
do mesmo livro

A ciência resiste a um estudo atento da relação entre a religião e a saúde mental sobretudo por motivos metodológicos. "Em se tratando de meditação ou prece, qual é o padrão apropriado para um teste duplo cego?", pergunta Steven Hyman, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos. "Fazer os pacientes rezarem para o Deus errado?"

 

:: A CIÊNCIA RENDE-SE À FLUNFA ::

Recusando-se a estudar temas menores como os mecanismos neurológicos do pensamento e a cura do câncer, o cientista australiano Karl Kruszelnicki resolveu concentrar seus esforços nos fiapos de tecido que se acumulam no umbigo. Sua pesquisa contou com um universo de 4,8 mil pessoas. Aqui vão os resultados:

- 2/3 das pessoas têm fiapos no umbigo (flunfa têxtil)
- pessoas mais velhas acumulam mais flunfa
- há maior incidência em homens do que em mulheres
- pessoas de pele clara têm fiapos mais claros
- a abundância de fiapos está inexplicavelmente ligada à quantidade de pêlos na pessoa. Muitos ou poucos pêlos diminuem a quantidade de flunfa
- não existe relação com os atributos físicos do portador
- o azul é a cor predominante dos fiapos

 

:: PENSAMENTO DO DIAS ::
colaboração do leitor Rodrigo Dias

Na realidade, as pulgas são pôneis muito pequenos.

 

:: A PIADA FINAL ::

Em que pese a glória terrena e a consagração da crítica, é preciso pagar as contas. Pois que A Hortaliça Empreendimentos Ltda. acaba de diversificar seu leque de atuação, que já é suficientemente disperso e hoje conta com incursões nas áreas de jornalismo, tradução, ficção, quadrinhos, revisão de legendas, conserto de eletroeletrônicos e governança doméstica; a partir de hoje, entramos num ramo promissor: o da confecção de piadas. Mais especificamente, a confecção de piadas de galinha. É favor espalhá-las pelo mundo, a fim de que retornem aos nossos ouvidos contadas pelo porteiro.

P: O que a galinha estava fazendo no telhado da Daslu?
R: Chocando a burguesia.

P: O que a galinha estava fazendo na Clínica de Olhos?
R: Ciscando.

P: O que a galinha estava fazendo no prédio da Eletropaulo?
R: Chocando.